FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sábado, 21 de maio de 2011

O Craque disse e eu anotei - AIRTON PAVILHÃO

As entrevistas da FTT até agora foram feitas por Bruno Steinberg e Mauricio Sabará. Hoje recebemos com grande prazer a materia feita no Rio Grande do Sul pelo Celso. Começou a colaborar e com o pé direito pois se trata de um dos maiores zagueiros da historia do futebol brasileiro e talvez o maior na historia do Grêmio. Estamos falando de Airton Pavilhão.


Ao procurar Aírton para esta entrevista, não lidamos com assessores de imprensa, não precisamos marcar horário na agenda e não esperamos horas ao telefone para falar com um intermediário. Dirigimo-nos ao estádio Olímpico numa tarde de sexta-feira e, a alguns poucos metros dele, batemos palmas em frente a uma casa (não por acaso) azul e, após passarmos três longas e inesquecíveis horas na companhia de Aírton, o nosso Aírton, o maior zagueiro da História do Rio Grande do Sul,  ainda fomos convidados para, no dia do próximo jogo do Grêmio, passarmos ali para conversar um pouco mais. Enquanto isso, deixamos aos leitores o resultado da conversa daquela tarde.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - O senhor começou no Força e Luz, um time que era conhecido por revelar jogadores para a dupla, e ali ficou de 1949 a 1954. Naqueles tempos, o clube chegava a complicar para a dupla Gre-Nal?

AIRTON - Não chegava a tanto. Quem complicava mesmo era o Cruzeiro, que tinha um excelente time.  Mas o Força e Luz revelava, sim, muitos jogadores bons, que atraíam a atenção da Dupla. Foi o que aconteceu comigo. Em 1954 eu fui para o Grêmio, em troca de um pavilhão do antigo estádio da Baixada, mais 50 mil cruzeiros.

FTT - E daí veio o apelido…

AIRTON - Exatamente. O Grêmio estava tentando montar um time forte para enfrentar o Inter, que ganhava tudo naquela época e tinha jogadores como Larry, Bodinho, Chinesinho, Oreco e outros. O nosso  treinador na época era o seu Osvaldo Rolla, o Foguinho, que  me tirou da posição de centromédio, onde eu comecei, e me pôs na de zagueiro. Esse meu período como centromédio do Força e Luz foi muito bom, porque quem joga nessa posição precisa desenvolver o passe, o posicionamento e a visão de jogo, e foi o que aconteceu comigo. Estes fundamentos foram muito úteis quando eu comecei a jogar de zagueiro. Na época, o titular era o Ênio Rodrigues, e o seu Rolla, pra eu entrar, pôs ele para o lado do campo.


FTT - Na época, quem eram as principais forças do futebol gaúcho?

AIRTON - Além de Grêmio e Inter, tínhamos o Renner, Cruzeiro, Aimoré, Pelotas, o Brasil de Pelotas e vários outros. Naquela época, o Campeonato gaúcho era muito forte. Se perdesse um ponto, perdia o campeonato. Não podia perder a linha de jeito nenhum. Para mim, era mais difícil que o campeonato brasileiro de hoje. Hoje todos os craques vão embora e antes não era assim, todos ficavam por aqui.

FTT - O senhor cresceu numa época em que o Inter era mais poderoso do que o Grêmio, não?

AIRTON - Sim, o Inter não perdia para ninguém. Era o time do Tesourinha! Mas eu, felizmente, nunca joguei contra ele. Quando ele estava no Inter eu ainda era muito guri, e quando ele veio para o Grêmio eu estava começando e ele prestes a encerrar a carreira, então nunca nos enfrentamos.

Airton Pavilhão jogando contra o eterno rival, o Internacional.


FTT - Antigamente, a diferenciação entre as duas torcidas era maior do que hoje, não?

AIRTON - Sim, era mais clara. O Inter era mais povão e o Grêmio era mais elitista.

FTT - Quando começou a disputar jogos contra equipes de fora?

AIRTON - Quando o Grêmio começou a ganhar títulos estaduais, começamos a jogar contra o Santos, o Botafogo e outros clubes do centro do país pela antiga Taça Brasil, que reunia os campeões estaduais. O Grêmio começou a jogar fora,  jogamos no Rio, São Paulo e em outros lugares. Depois, passamos a fazer excursões, que era uma coisa que os clubes brasileiros faziam muito na época. Fomos pra Europa e o time começou a plantar uma sementinha para ser famoso. Ganhamos de todo mundo na Grécia, jogamos na Rússia, Alemanha…..

FTT - Numa das excursões que o Grêmio fez pela Europa, jogou contra o Real Madrid. Como foi marcar Puskas?

AIRTON - Quando entrei em campo  e eu vi aquele baixinho pegar com o pé esquerdo de um jeito diferente e eu disse, “bah, esse canhoto é bom”. Não deu outra: ele acabou com o jogo e perdemos para eles. O Real Madrid naquela época era quase imbatível. Perdemos também para a seleção da Rússia lá e eu não me conformei. Solicitei que o Grêmio trouxesse os russos para cá, para a revanche, e aí ganhamos deles.

Em pé: Orlando, Ênio Rodrigues, Ortunho, Henrique, Élton e Aírton Pavilhão. Agachados: mascote gremista, Marino, Gessy, Juarez, Milton e Vieira.



FTT - Em 1959, o Grêmio foi o primeiro clube estrangeiro a vencer o Boca em La Bombonera. O senhor estava lá. Como foi aquele jogo?

AIRTON - Bom, primeiro é importante falar que o Boca era uma equipe excepcional. Eles tinham o Rattin, um centromédio espetacular, um dos melhores jogadores do mundo na época. Na entrada do estádio era uma festa , papel picado, eles cantando “Boca, Boca”……..era a primeira vez que eu via uma festa daquelas. Eu saí do jogo surdo, o ouvido ficava zumbindo! Era um terror. Não estava acostumado com aquilo, porque o jogo aqui no Brasil era calmo. Quem venceu o jogo para nós foi o Gessi, que tinha passado no vestibular para odontologia e chegou para o jogo meio “alto” (risos). Mas ele jogava muito, muito!

FTT - Como se sente sendo reconhecido nas ruas?

AIRTON - O que me emociona é ver alguém dizer que o pai falava muito de mim, ou um homem, já adulto, me agradecendo por ter feito o pai dele tão feliz. A minha auto-estima vai lá em cima. É maravilhoso saber que eu fiz tanta gente feliz. Esses dias, eu estava sentado e de repente passa um guri de 10 anos e grita “E aí, Pavilhão?” (risos). Um guri de dez anos! Apesar disso, eu acho que o Rio Grande do Sul é um estado que não tem memória. O único jogador que entrevistam sou eu. Eu fico louco com isso.  Alcindo, Florindo, Alberto, onde estão? Não dão o devido valor pros jogadores antigos. Tu paras de jogar e pronto, morreu. O único que lembram sou eu e isso me faz sentir mal. O Alcindo jogou Copa do Mundo, o Alberto foi convocado para a seleção….foram tantos. Mas felizmente eu sempre sou reconhecido, o que gera também situações engraçadas.Às vezes o Grêmio perde e eles passam ali brabos, e eu estou ali quieto. Eles dizem “tu também és culpado” e eu digo “Eu? Eu parei há quarenta anos! (risos).





FTT - Como foi enfrentar o Pelé?

AIRTON - Olha, marcar o “negrão” no mano a mano era brabo. Mas ele nos respeitava muito. Agora, quando o Inter foi campeão da Libertadores, ele disse que eles conheciam mais o Grêmio, por causa dos jogos na Taça Brasil. Uma característica do Pelé é que ele era forte e objetivo, não era tipo  o Ronaldinho que fica driblando para lá e para cá. Ele pega a bola e partia para cima, não ficava dando driblezinho à toa. O Ronaldinho….(risos) Eu queria marcar o Ronaldinho!

FTT - Porque?

AIRTON - Porque ele dribla muito. É muito mais fácil de marcar o Ronaldinho que o Pelé.  Esses dribles para o lado que ele fica fazendo dão oportunidade do defensor tirar a bola dele. Só toma drible do Ronaldinho quem é bobo. Eu gostava de jogar com aquele jogador que driblava na minha frente, pois esse é mais fácil. O complicado é quem é forte e vai direto pro gol. Esses são os mais dificeis. Já o Garrincha era diferente, era driblador mas também era objetivo e, diga-se de passagem, muito gente fina, estive com ele na Seleção.Nunca joguei contra ele, mas era mais fácil que o Pelé, com certeza. É que nem a cobra e o sapo. A cobra não ataca. Quem tenta fugir é o sapo. Era isso que eu tentava fazer.

FTT - O senhor estudava seus adversários?
AIRTON - Sempre que podia, eu assistia a jogos para saber como é que os caras jogavam. Esse cara do Inter, D´Alessandro, por exemplo, ele é canhoto e entra pela direta. Se eu assistisse os jogos dele, saberia que o melhor era esperar ele tocar a bola. Assim, ele nunca passaria por mim.

A classe na hora de dominar a bola. Parece que colava a seus pés.


FTT - Acha que os zagueiros cometem hoje erros que não cometiam na sua época?

AIRTON - Claro. Cometem erros bobos. Por exemplo, os gols de cabeça os zagueiros de hoje tomam a todo momento. E sabe porque? Porque ficam empurrando o cara. Quem entra pro gol? A bola. Eles não marcam a bola. Eu não quero saber do jogador, eu quero a bola. E eu fiz sempre isso. O Grêmio, na minha época, não tomava gol de cabeça. O segredo é olhar para a bola, é só seguir em direção a ela. Eu falo isso na TV e eles ficam loucos. Eu queria fazer uma entrevista assim: eu no meio e todos os ‘entendidos’ fazendo perguntas. Não precisa ser jogador para ser treinador, mas é como o pessoal fala, só manda quem sabe fazer. Se não teve a prática, não tem como. E eu tive. Sempre quis fazer o melhor e ser diferente dos outros. Uma vez joguei contra o Pelé e sem querer trombei nele -  ou melhor, ele trombou no meu corpo -  e aí quem ganhou fui eu, que era mais alto e forte. Ele caiu, e eu disse “tudo bem, negrão”?. E ele “tudo, Airton, não se preocupe porque eu sei que você não precisa disso”. Quase me arrepio quando lembro disso!


AIRTON PAVILHÃO É O PRIMEIRO EM PÉ A DIREITA NA SELEÇÃO BRASILEIRA.


FTT - Que homenagem!

AIRTON - Uma senhora homenagem. Como eu disse,  sempre fiz questão de ser um jogador diferente dos outros. Os treinadores às vezes me  mandavam bater, mas eu sempre desobedecia. Tu, por exemplo, se fores ser advogado, não podes ser qualquer um, tens de ser o melhor advogado. Eu pensava: se eu tenho a chave da porta, porque vou arrombar? Se eu machucasse algum jogador eu ficava com vergonha, porque significava que eu não podia com ele. Eu sempre quis fazer o melhor de mim e ser o melhor de todos, e isso valia para o Grêmio também. Se na minha equipe um  amigo meu errasse eu dizia “sinto muito, gosto de ti, mas tu vai sair do time” e eu dizia pro treinador, esse aí não dá. Para teres uma idéia, eu fiz 125 gols na minha carreira. E olha que a gente jogava quase sempre só no domingo e muito pouco na quarta. Senão ia fazer muito mais gols. Todo ano eu era o melhor jogador do campeonato. Aí parei de disputar, porque era sempre o melhor.  Aí fui me convencendo que eu era realmente o melhor. E que era bom mesmo.

FTT - Depois de alguns confrontos com Pelé, chegou a ser pretendido pelo Santos, não é?

AIRTON - Sim. Joguei 3 meses emprestado para o Santos. Só que acabei querendo voltar, porque tinha medo de avião e o Santos viajava muito pelo mundo. A linha deles era Durval, Coutinho, Pelé e Pepe. Não tinha como perder com esses aí. E ainda tinha o resto do time, que também era excepcional.

FTT - Sem contar a famosa jogada que o senhor fazia, levando a bola para a linha de escanteio e, de “Charles”, atrasando-a para o goleiro…

AIRTON - Sim, e pior é que tinha centroavante que ficava brabo comigo por causa da jogada, queriam dar em mim! O centroavante Almir Pernambuquinho era um deles. Por isso, eu queria marcar o Edmundo, Ronaldinho e esses que são mais debochados. Esses aí, eu levava lá no cantinho e fazia a jogada! (risos)



FTT - Quem foi o maior treinador que o senhor teve ?

AIRTON - Osvaldo Rolla. Esse sabia de tudo. Ele foi fantástico. Conhecia muito de tática. O seu Rolla  gostava muito do time da Hungria em 1954 e aplicava o mesmo no Grêmio. Colocou só zagueiro grandão lá atrás e fez todos participarem do jogo. Mas eu também jogava o meu jogo independente dos treinadores. Se o treinador me dissesse para fazer isso ou aquilo, eu ouvia e dizia “sim senhor” – e não fazia. Ia jogar o meu jogo. Se ele dizia “ Airton , não vai cabecear”,  eu dizia “sim senhor”,e eu ia. E s e fizesse o gol, ele não tinha do que reclamar! (risos)

FTT - Como foi a sua passagem pela seleção?

AIRTON - A primeira foi no Panamericano de 1956, quando fomos campeões. Depois, cheguei a ser convocado para ir à Copa de 62.


FTT - Foi o único jogador de um clube de fora do eixo Rio-São Paulo a ser convocado.

AIRTON - Sim, isso mesmo. O problema é que, num treino, fiz a jogada de “Charles” e o Aimoré Moreira, treinador do Brasil naquele ano, ficou com medo, não gostou e eu fui cortado. Além disso, o jogador gaúcho nunca conseguia espaço. Muito raramente nos davam chance.

FTT - Acha que se tivesse jogado no centro do país teria tido mais visibilidade?

AIRTON - Sem duvida. Hoje eu penso que deveria ter ido para fora. Acho que comigo aconteceu como naquela história do barco, em que o cara está se afogando, pede ajuda para Deus, passam vários barcos, ele continua pedindo ajuda e, de repente, ele morre e Deus diz “rapaz, eu te ajudei, te mandei vários barcos e não aproveitaste nenhum!”. Foi o que aconteceu comigo. Ele me disse, vai lá para ser o melhor do mundo e eu fiquei no Rio Grande do Sul. Não por causa do dinheiro. O resto queria me ver e não me viu. Aí eu não posso culpar Deus, pois eu é que não aproveitei. Quando eu vejo um  jovem me agradecer por eu ter feito o pai dele tão feliz, eu penso sempre que eu tinha mais coisa para dar. Eu podia ter dado mais de mim. Eu poderia ter feito mais gente feliz.

FTT - O senhor acha que os centroavantes hoje são muito supervalorizados?

AIRTON - Acho, pelo menos os que jogam aqui. Antes, todos os bons jogavam aqui. Hoje, os jogos me enjoam. Assisto meio tempo e me enjoa. Eles só jogam para o lado, e eu quero jogo para a frente. Viu o jogo do Gremio ontem? O único que põe o time para a frente é o Rochemback. Eu fazia como ele, era o homem surpresa. O Grêmio é interessante, joga bem um jogo, joga mal um mês. Aquele time anos 60 jogava bem quase todo jogo. A gente quando errava ficava louco. Joãozinho, Volmir, Alcindo, era incrível o que aquele time fazia. E nós éramos bem balanceados, tínhamos um ataque muito bom e uma defesa muito bem organizada. É como se diz: um ataque ganha jogo, mas uma boa defesa ganha campeonato.

O livro em homenagem a Airton Pavilhão
FTT - As condições eram piores na sua época?

AIRTON - Muito piores. A bola era mais pesada, o campo era pior, e a torcida queria te matar. Quando a gente jogava no interior,os torcedores rivais queriam acabar com a gente! A gente comia pó para chegar em Bagé, porque não era asfaltado. Tudo era mais difícil.

FTT - Como avalia os zagueiros de hoje?

AIRTON - Olha, o Lucio é o melhor, mas, como eu disse, os zagueiros de hoje não têm o mesmo nível da minha época. Hoje todos jogam com líbero, com volantes, com jogadores fazendo cobertura. Na minha época não era assim. Zagueiro que é bom para mim, é o bom no mano a mano. É raro encontrar um assim. Nunca gostei de jogar com libero. Era vergonha para mim. É uma maneira de eu dizer que eu não tenho condições.


FTT - Dos zagueiros que jogaram em sua época, com quem o senhor gostaria de ter feito dupla?

AIRTON - Ah, tem vários. No Inter tinha o Florindo, que era um jogador fora de série. O pessoal da  minha época era incrível. Nilton Santos era incrível, Djalma Santos era melhor ainda. O Bellini era diferente, era mais durão. Eram vários.



FTT - O senhor mora em frente ao Olímpico, jogou toda a vida no Grêmio, tornou-se um símbolo do clube……já pensou em como vai ser quando ele for destruído?

AIRTON - Olha, nem quero pensar (risos). Nem sei como vai ser. Vou ficar muito, mas muito triste. Todos os campos em que eu joguei acabaram.  Aquele campinho do Força e Luz, onde eu comecei,  foi desmanchado; o do Cruzeiro, a mesma coisa; o Eucaliptos, do Inter, onde joguei tantas vezes, também. O Olimpico era último estádio desses antigos que tinha sobrado. Todos foram embora. Todos terminaram. O seu Hélio Dourado não queria que o estádio fosse destruído. Aliás, eu mesmo, nos anos 70, ajudei o Sr. Dourado e fazer a campanha para buscar tijolo, para a torcida construir o estádio, porque a verdade é que o Olímpico foi construído pela torcida do Grêmio. E hoje querem construir um novo…..tanta coisa por um ou dois jogos da Copa……

FTT - Tinha boa relação com o pessoal do Inter?

AIRTON - Tinha. E eles tinham uma relação de amor e ódio comigo. Vou lhe contar uma emoção que eu senti. Era um Grenal , jogo duro, e eu estou lá atrás como zagueiro e nós estamos atacando lá na frente, na área deles. De repente, olho para a torcida e eles começam a me vaiar, e eu disse “o jogo está lá, olhem para o jogo!”. Naquele momento, eu pensei, “deixaram de ver o jogo para prestar atenção em mim. Eles realmente me amam”.

FTT - A diferença de salário era muito grande do Santos para o Grêmio?

AIRTON - Ah, pagavam muito mais. O Santos pagava muito melhor. Mas não era pelo salário que eu quis ir para lá, e sim para me tornar mais conhecido, para me apresentar para mais gente, para que mais pessoas me vissem. Era muito difícil se tornar conhecido jogando aqui, naquela época. E o nosso jogador, aqui do Rio Grande do Sul,  para aparecer é brabo.O Gremio quando é campeão do mundo dizem que foi sem querer, e o Flamengo, quando ganha, fazem um carnaval. O Everaldo foi para a seleção para ser reserva. Era melhor que o Marco Antonio. Mas vou dizer: nenhum dos dois era melhor que o Ortunho.


FTT - A relação que os senhores tinham com o clube antigamente era diferente da que se vê hoje?

AIRTON - Eu acho que o jogador tem que ter dois amigos para entrar em campo, o juiz e torcida. Se ela gostar de ti, tudo bem. Hoje é tudo diferente, porque o salário é outro, os valores são outros……..e, como eu disse, eu pessoalmente nunca liguei tanto para dinheiro. Sabe do que eu tenho raiva? De homem velho, político, que quer cada vez mais dinheiro. O que dá depois? Briga de família. Tenho nojo de político ladrão. Se eu ganhar 5 mil, ganhar um bom carro, boa casa ,um bom emprego, já me chega. Se eu quiser mais, já me começa a incomodação. Nunca sabe se quem se aproxima, se aproxima por amizade ou por interesse. Então, eu vejo essa diferença, os jogadores de hoje ganham milhões e têm uma vida muito diferente da que a gente tinha, e isso reflete na relação com a torcida. Mas tem uma coisa que eu noto de diferente na torcida.  Hoje as pessoas saem do jogo e não estão rindo, estão apreensivas, nervosas, irritadas. Antes, as pessoas saíam rindo do jogo.


Encontros Eternizados - Roberto Dinamite & Erasmo Carlos

Um dos maiores craques na historia do Vasco e atual presidente do clube recebe o abraço de Erasmo Carlos, um ilustre torcedor vascaino.

Revista do Dia - Mamchete Espórtiva 1957


Mazzola na capa da Manchete Esportiva de 1957, um ano antes da Copa do Mundo da Suecia.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Craque disse e eu anotei - BUIÃO

Agendei a entrevista com Buião em sua empresa de onibus na cidade de Vespasiano. Empresario de sucesso começou o seu negocio com o dinheiro da transação da venda do Atlético para o Corinthians.
Pude notar o sucesso de sua empresa e da amizade com os funcionarios. Lá nos contou detalhes de sua carreira.
Confiram.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Você começou a jogar no Atletico pouco antes da inauguração do Mineirão. Você preferia jogar no Independencia com a torcida mais proxima ou em um estadio gigantesco e moderno como o Mineirão?
BUIÃO - O Independencia tráz muitas saudades por ter a torcida ali pertinho da gente. Mas era bom quando se estava ganhando porque quando o time perdia era muita pressão , torcida nervosa. Agora o Mineirão trouxe bem mais condições, um gramado maior e melhoreo que davam toda possibilidade do jogador mostrar seu melhor futebol.


Buião, Santana, Edgar e Ronaldo Drummond
FTT - Em 1967 o Atlético formou um grande ataque com você, Amauri Horta, Lacy, Ronaldo e Tião. Quem você destacaria dentre estes?
BUIÃO - O time todo pois o nosso forte era o conjunto que vinha jogando junto a muito tempo. Pegamos porem o Cruzeiro nesta epoca que era realmente uma maquina com Dirceu Lopes, Tostão e os demais. Mas o Atlético era forte tambem. Nós chegamos a ficar cinco pontos na frente do Cruzeiro e acabamos perdendo toda vantagem em apenas uma semana.



FTT - E neste campeonato de 67 teve aquele jogo historico em que o Atlético vencia por 3x0 até os 15 minutos do segundo tempo e o Cruzeiro acabou empatando em 3x3.
BUIÃO - Me lembro bem deste jogo e me marcou muito. Está engasgado até hoje. Porque nós estávmos ganhando de 2x0 , Tostão se machucou e saiu e ainda o Procopio tinha sido expulso . O time deles com 10 jogadores e no momento em que fizemos o terceiro gol. aquela empolgação toda e fomos comemorar com a torcida. O juiz então autorizou o reinicio do jogo com alguns jogadores ainda fora. Natal foi lá e diminuiu. Veio então a empolgação deles e logo depois Natal fez outro gol, eles empataram e não perdemos ainda de sorte porque eles mandaram uma bola na trave no ultimo minuto de partida. Nós ficamos chateados porque era o nosso ano, estávamos com folga na frente do campeonato e acabamos perdendo. Depois nas finais que foram jogadas em janeiro de 68 o Cruzeiro acabou vencendo as duas partidas por 3x1 e 3x0.



FTT - E o Lacy?
BUIÃO - O Lacy era um dos mais badalados do grupo. Vinha jogando muito bem e aliava  velocidade e tecnica.


FTT - Fale um pouco das caracteristicas de como você jogava para os mais novos que não tiveram a oportunidade de te ver jogar.
BUIÃO - Eu era um ponta veloz, driblador que procurava sempre a linha de fundo para tentar os cruzamentos . Esta aliás era caracteristica dos pontas da epoca como o Natal, Jairzinho, Tião, Cafuringa, Hilton Oliveira, Rogerio. Então os pontas naquela epoca procuravam servir aos atacantes.




FTT - E como eram os duelos contra o Neco do Cruzeiro?
BUIÃO - Quando me perguntam quais os laterais que eu tinha mais dificuldade em passar digo que foi o Neco. Ele era baixinho,parrudo, ninguem dava nada por ele mas marcava muito bem, sem dar pancada e jogando bola. Eu encontrava muitas dificuldades quando jogava contra ele.

Buião x Neco - Grandes duelos nos clássicos



   
FTT - E como era trabalhar com o Fleitas Solich?
BUIÃO - Eu trabalhei com ele no Atlético e depois no Flamengo. Era aquele treinador paraguaio tipo paizão. Tranquilo e amigo.

FTT - Foi seu melhor treinador?
BUIÃO - Tive grandes treinadores como o Oswaldo Brandão, Yustrich, Dino Sani, o Lula.

BUIÃO É VENDIDO AO CORINTHIANS


FTT - Você foi então vendido ao Corinthians. Como foi esta transferencia?
BUIÃO - Foi uma passagem importante na minha vida. Eu era idolo no Atletico, vinha bem mas surgiu o Vaguinho que tambem vinha entrando e atuando bem. O Corinthians então procurou o Atlético e os diretores me disseram que precisavam fazer dinheiro. Ofereceram muito dinheiro e logicamente o clube não tinha como me segurar. Eu não queria ir, vieram aqui em Vespasiano buscar meu pai e coversarm com ele tambem. O diretor do Atletico disse queeu poderia ir e se não desse certo estariam de portas abertas pra mim voltar. Então eu resolvi ir jogar no Corinthians. Acertei com eles pra ganhar 10 vezes mais do que eu ganhava.  Cheguei a São Paulo no sabado de manhã e na quarta feira teria um clássico Corinthians x Santos, este seria meu primeiro jogo.

1968 - A partir da esq: Oswaldo Cunha, Ditão, Diogo, Luis Carlos Galter, Edson Cegonha e Maciel.
Agachados: Buião, Paulo Borges, Flavio Minuano, Rivelino e Eduardo


FTT - E faziam 11 anos que voces não venciam o Santos.
BUIÃO - Pois é e exatamente neste meu primeiro jogo quebramos este tabu. Foi uma grande alegria de todos os jogadores e com uma vitoria destas me animei no Corinthians.

FTT - E este tabu incomodava os jogadores do Corinthians mais antigos?
BUIÃO - Ahh incomodava e muito. A diretoria queria acabar com isto e trouxeram o Paulo Borges do Bangu, o Eduardo do America , e eu do Atletico. Era o Todo Poderoso Corinthians. E esta partida nos marcou muito , tanto é que qualquer livro que sai contando a historia fala desta partida, da quebra do tabu. Meu nome está marcado na historia do clube.

"06 de março de 1968, há  43 anos, portanto, um clássico alvinegro entre Corinthians e Santos, no Pacaembu, entrou para a história. Ficou conhecido como o jogo da “Queda do Tabu”, pois o Corinthians não vencia seu rival, em jogos pelo Campeonato Paulista, entre 1957 e 1968. Mais precisamente, desde 03 de novembro de 1957, quando a equipe de Parque São Jorge conquistou a Taça dos Invictos ao obter o empate no último minuto da partida que acabou 3 a 3. Foi o primeiro jogo de  Pelé contra o Corinthians. A ausência de vitórias perdurou até 10 de dezembro de 1967. Foram ao todo 22 jogos pelo Campeonato Paulista."

A súmula do jogo
CORINTHIANS (SP) 2 X 0 SANTOS (SP)
Data: 06/03/1968
Campeonato Paulista
Local: Estádio do Pacaembu / São Paulo (SP)
Árbitro: Roberto Goycochea (Argentina)
Renda: NCr$ 153.390,50
Gols: Paulo Borges (58′) e Flávio (76′)
CORINTHIANS: Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luís Carlos Galter (Clóvis) e Maciel; Édson Cegonha e Roberto Rivellino; Buião, Paulo Borges, Flávio Minuano e Eduardo
Técnico: Lula

SANTOS: Cláudio, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Joel (Oberdã) e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho, Pelé e Edu
Técnico: Antoninho



FTT - Como é para um jogador esta historia de tabu sem vencer um time a longo tempo ou quando seu time enfrenta um contra outro  no qual geralmente se dá mal historicamente. O jogador sente isto mesmo que passe anos?
BUIÃO - Muito jogador fala que não tem nada a ver mas no fundo tem. Porque fica aquela marca, aquela expectativa de ganhar. Todos pensando que hoje vai ser finalmente nosso dia. Chega na hora do jogo e a gente joga meio travado. Tenta um lance e não dá certo e você começa a pensar, será que hoje não é nosso dia novamente? Será que vamos perder? É uma pressão muito grande que a gente sofre.

FTT - Mas o Corinthians tinha um grande time com bons jogadores.
BUIÃO - Puxa era um timaço. Tinhao Diogo no gol, o Luis Carlos e o Ditão, o Edson Cegonha, Paulo Borges, o Flavio Minuano, o Eduardo era muito forte. Depois que nós ganhamos na quarta feira do Santos, no domingo ganhamos tambem do palmeiras. Aí nós pensavamos: agora vai e acabava que sempre dava algo errado. A diretoria contratava e todos jogadores que chegavam já vinham cheios de pressão sabendo que os titulos não estavam vindo.

FTT - Como jogavam você e Paulo Borges quando atuavam juntos pois ambos eram pontas direitas?
BUIÃO - Bem, o Paulo Borges chegou primeiro que eu no Corinthians. Chegou emprestado por tres meses pelo Bangu e com o passe fixado em um milhão. Como o Corinthians não ia ficar com ele me contrataram. Porem ele fez um dos gols naquela quebra do tabu contra o Santos e a torcida do Corinthians junto com a diretoriaa fez uma campanha para arrecadar este dinheiro e acabaram comprando o Paulo Borges pelo um milhão pedido. A campanha foi um sucesso e com isto aconteceu que eles queriam colocar tanto eu como ele para jogar pois custamos caro ao clube. Deslocaram então o Paulo Borges para o meio campo e eu fiquei na ponta direita. Enquanto o time vinha bem estava tudo uma maravilha. Depois o time teve uma queda e eu fiquei na reserva e Paulo Borges voltou para a ponta. Revezavamos em quase todos os jogos.


Buião e Paulo Borges


FTT - Pois se em 68 voces tiveram esta alegria mas em 69 uma tragedia com as mortes de Lidu e Eduardo. Como a noticia chegou aos jogadores do Corinthians?
BUIÃO - A convivencia de nós jogadores é diaria e acabamos formando uma familia. Me lembro que tinhamos jogado em Sorocaba e aí voltamos para São Paulo e eu voltei para a concentração onde eu morava e o Lidu tambem morava lá. Nós estavamos liberados e o Lidu me chamou para ir comer uma pizaa e eu disse que não ia porque estava cansado e iria dormir. Eles foram e na volta aconteceu esta tragedia.
Ali nós perdemos não apenas dois grandes jogadores mas dois grandes amigos. O plantel todo ficou muito abatido e entrou em decadencia. Eu passei inclusive a jogar de ponta esquerda no lugar do Eduardo. Sei que foi um grande trauma para todos jogadores.

Buião e Lidu. Grandes amigos separados por um acidente


Ademir da guia e Buião

Seleção Paulista de 1969 - A partir da esq. : Eurico, Leão, Baldocchi, Dé, Dias e Dudu -Agachados: Buião, Terto, Leivinha, Paraná e Ademir da Guia  

BUIÃO NO FLAMENGO

FTT - Do Corinthians você foi para o Flamengo. Como foi a transferencia?
BUIÃO - Eu estava emprestado a Ferroviaria de Araraquara e me ligaram pedindo para reapresentar no Corinthians porque eu ia para Porto Alegre jogar no Inter. Depois surgiu a opção de ir para o Flamengo. Eu fiquei na duvida pois o Inter formava um grande time mas eu acabei escolhendo o Rio a Porto Alegre. Todo mundo quer jogar no Flamengo e comigo não foi diferente. Mas acabou que foi uma decisão muito errada porque o Flamengo não estava numa grande fase e o Inter estava.


FTT - E se adaptou logo ao futebol carioca?
BUIÃO - Me adaptei mas o Flamengo é que não vivia um momento bom. Quem comandava o futebol no Rio era o Fluminense e o Botafogo principalmente que era chamado inclusive de Selefogo por causa do grande numero de jogadores que cederam a seleção campeã em 70 como o Jairznho, Paulo Cesar , Rogerio, Roberto . Neste campeonato de 1971 o Botafogo estava cinco pontso a frente do Fluminense e acabou perdendo o campeonato pra eles. Mas o Flamengo estava mal.

FTT - Você jogou neste Flamengo com o paraguaio Reyes. Era um bom zagueiro ?
BUIÃO - Quem não conheceu pode ter certeza que se tratava de um grande zagueiro. Jogava demais. Tinha um estilo parecido ao do Gamarra. Era um paraguaio espetacular , tanto como jogador como pessoa.


Em pé: Murilo, Ubirajara Alcantara, Reyes, Washington, Tinho e Tinteiro.
Agachados: Buião, Liminha, Roberto Miranda, Fio e Caldeira.

FTT - Na inauguração do estadio Morenão (Pedro Pedrossian) em Campo Grande você fez o gol inaugural . Se lembra desta partida?
BUIÃO - Como são as coisas. Eu fui emprestado  pelo Corinthians ao Flamengo e acabei fazendo o primeiro gol na nossa vitoria por 3x1 exatamente sobre o Corinthians.

FTT - Fazer um gol no seu ex-clube teve algum sabor diferente?
BUIÃO - Não tem diferença não. Apenas fica a vontade de mostrar um bom futebol e que podia ser util mais nunca tive aquele espirito de vingança.

TROCA DE RUBRO NEGROS - AGORA O ATLÉTICO PR
 

FTT - No Atletico PR você tambem escreveu seu nome na historia. Fez o primeiro gol do clube em campeonatos brasileiros.
BUIÃO - É engraçado isto. O Corithians estava com muitos jogadores e eu recebi a proposta do Atletico Paranaense. Pensei : poxa no Paraná só tem dado Coritiba não sei como vai ser jogar por lá. Um diretor do Corinthians me falou que eu me daria muito bem lá e acabei indo. Cheguei e fui muito bem recebido por todos. Teve então este jogo contra o Ceará que eu fiz o gol e para falar a verdade nem sabia disto. Fiquei sabendo apenas a alguns anos atrás quando um jornal de Curitiba soltou a materia que o Atletico estaria completando os 1000 gols em campeonatos brasileiros e eu fiz o primeiro deles.
(No dia 2 de setembro de 1973, em Fortaleza (CE), marcou contra o Ceará o primeiro gol do Clube Atlético Paranaense num Campeonato Brasileiro)

Atlético paranaense em 1973  - A partir da esq. Claudio Deodato, Zico , Gainete , Di , Sérgio Lopes e Almeida . Agachados :Buião, Orlando, Sicupira, Didi e Torino


































FTT - Você chegou a jogar ao lado de Sicupira?
BUIÃO - Joguei. Sicupira era um jogador habilidoso, inteligentíssimo, tinha muita visão de jogo. Ele vinha de trás com a bola e tinha muita qualidade. Cobrava bem faltas tambem.
(Sicupira é o maior artilheiro do Atletico PR com 131 gols)

POR QUATRO MESES NO GRÊMIO 

FTT - E você chegou a jogar no Grêmio tambem?

BUIÃO - Joguei . Cheguei lá em 72 para a disputa do campeonato brasileiro . Fomos eu e o Picasso. 


FTT - Com quem você jogou neste time do Grêmio?

BUIÃO - Peguei o Ancheta, Espinosa, Everaldo, Loivo e o Oberti um argentino. Fiquei lá quatro meses e voltei para o Corinthians que era dono do meu passe. Só que eu tinha me dado tão bem no futebol paranaense que resolvi voltar pra lá. Acabei ficando por lá 10 anos.

BUIÃO CONQUISTA O UNICO TITULO NA HISTORIA DO COLORADO


FTT - No Paraná você acabou sendo campeão pelo Colorado em 80. A partida final não terminou.

BUIÃO - É , a partida não terminou. Aquele jogo foi interessante porque na quarta feira jogaram Pinheiros e Cascavel e o Cascavel fez um resultado de 4x0. Nós teriamos que fazer pelo menos 4x0 tambem em Curitiba para o Colorado ser campeão. O time deles acho que já sabiam que não aguentariam a pressão e já vieram preparados para o "cai cai". O nosso treinador era o Claudio Duarte que jogou  no Inter e no dia do jogo na concentração tinham faixas e cartazes espalhados por todos os lados com dizeres como : voces são homens ; voces são capazes ; e frases de estimulo. Estavamos doidos para entrar em campo logo e ganharmos aquele titulo. Então nós fizemos dois gols e o tecnico dele fez logo duas substituições para queimar logo e não poder fazer outras . Aí o juiz expulsou um, depois o outro e fomos para o intervalo vencendo por 2x0. Pensamos que a gente ia ganhar o jogo facil. Chegou o segundo tempo e caiu mais um e eles ficaram sem numero suficiente para continuar. Depois foram declarados na justiça os dois campeões mas nós disputamos a Taça Ouro(serie A) e eles a Taça de Prata como se fosse hoje a serie B.

Gol de Jorge Nobre na final inacabada de 1980.

FTT - Você é mesmo um predestinado pois é o unico titulo paranaense do Colorado e você estava lá.

BUIÃO - Eu costumo dizer que eu sou o maior "pé frio" que existe (risos). Na minha epoca do Atlético tinha aquele timaço do Cruzeiro. Fui para São Paulo e peguei o Corinthians naquela fila. Fui para o Rio e o Flamengo tambem estava mal. Em Curitiba só dava Coritiba. Então realmente eu peguei os times em momentos dificeis. Mas eu fico feliz porque por onde passei deixei uma imagem muito boa, boas recordações.

FTT - Porque o apelido de Boca Negra ?

BUIÃO - Eu tambem nunca soube ao certo mas parece que era por causa de um indiozinho que eles tinham como mascite que tinha uma boca negra.



FTT - O Colorado tinha muita torcida?

BUIÃO - Na verdade o Colorado veio de uma fusão como o Atlético tambem. Nasceu da junção do Ferroviario , Britania e um outro lá (Palestra Italia). Então vieram os torcedores destes times . Eles diziam que a maior torcida era do Cortiba mas a do Atlético eu acho que era mais empolgada. Em terceiro vinha a torcida do Colorado.

Bruno e Buião
FTT - Mesmo já tendo parado na epoca,como você recebeu a noticia da fusão do Colorado com o Pinheiros surgindo o Paraná?

BUIÃO - Eu achei que não precisava desta fusão porque os times do Paraná eram bem estruturados. O Pinheiros tinha um grande patrimonio, o proprio Colorado tambem tinha. Eles falavam que tanto o Pinheiros como o Colorado tinham torcidas pequenas mas eu acho que eram tradicionais. Eu acho que precipitaram um pouco porque era a historia do futebol paranaense que estavam tirando. Eram times que tinham uma bela historia.


FTT - E como fizeram na epoca com os jogadores vindos dos dois times para formar o Paraná?

BUIÃO - Juntaram a diretoria dos dois clubes e escolheram os atletas. A diretoria era e é dividida até hoje com diretores do Colorado e Pinheiros e em muitas coisas eles não se acertam. Tem que ter um da ala de lá outro da ala de cá. É meio complicado isto.

 Buião contra seu ex clube - Na foto recebendo uma biblia do goleiro do Atlético, João Leite.

FTT - E o Colorado tinha um bom time?

BUIÃO - O Colorado tinha grandes jogadores. Tinha o Levir, o Edu irmão do Zico, Jorge Nobre, Tião Marçal, Joel Mendes era o goleiro, Valtencir aquele lateral esquerdo que morreu inclusive em um jogo lá, era muito bom. Tinhamso um diretor que tinha muita visão e ele sempre trazia jogadores que jogaram em São Paulo, no Rio em Minas. Tinha o Humberto Ramos , o Carlos Alberto Rodrigues.Era uma equipe forte.


FTT - Aponte cerca de sete dos maiores jogadores que você viu em campo.

BUIÃO - Eu joguei com grandes jogadores e tenho medo de ser injusto com alguns. Foi como eu disse, fui muito feliz na minha carreira jogando ao lado de tanta gente boa. Mas cito aí Dirceu Lopes, Tostão, Zico, Falcão, Piazza, Rivelino com quem joguei . Agora tem um jogador que eu não me canso de falar dele é o Dirceu Lopes. Era diferenciado mesmo. Eles consideram o Pelé o melhor do mundo porque ele era perfeito e o Dirceu Lopes era baixinho e não cabeceava bem mas no resto fazia tudo com perfeição.

FTT - Você hoje tem uma bem sucedida empresa de onibus em Vespasiano. O investimento veio com o dinheiro conquistado no futebol?
BUIÃOFoi. Consegui juntar um bom dinheiro e principalmente graças a minha venda do Atlético para o Corinthians. Na epoca foi uma das transações mais caras do futebol brasileiro. Investi nos onibus e deu certo.


FTT - Você acha que muitos jogadores antes dos anos 70 que passam dificuldades hoje em dia foram porque não souberam investir direito, não tiveram orientações ou porque recebiam mal ?
BUIÃONa verdade na epoca recebiamos muito menos do que hoje em dia mas não ganhavamos mal para os padrões. O que acontece é que muitos não tinham orientação nenhuma e gastavam o dinheiro. Hoje os jogadores possuem empresarios e outras pessoas que lhes auxiliam a administrar o dinheiro.

FTT - Você tem algum clube em especial no seu coração?
BUIÃO Tenho, o Atletico. Foi lá que comecei minha carreira pçrofissional e devo tudo a ele.

Reportagem:  Bruno Steinberg