FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Craque disse e eu anotei - TURCÃO

Gosto de todas as entrevistas que faço, mas confesso que tenho uma satisfação maior quando o entrevistado é um jogador bem antigo, pois terei a oportunidade de ouvir histórias de uma época que existem poucos que ainda possam contar, além de dar uma oportunidade para que os jogadores sejam lembrados, principalmente em um país onde a memória é tão desvalorizada. Turcão, junto com Oberdan Cattani (o meu primeiro entrevistado para o Blog), são os únicos remanescentes do Palmeiras da década de 40. Consegui o seu contato por e-mail através de um diretor palmeirense. Contatei-me com o ex-jogador na quarta-feira, dia 23/11/2011 e marcamos a entrevista para o dia seguinte. Com 85 anos, tem uma memória e lucidez formidáveis, concedendo-me uma maravilhosa matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O senhor nasceu no dia 24 de Maio de 1926 no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Quando criança já jogava futebol?
ALBERTO CHUARI (TURCÃO): No meu tempo a molecada jogava na rua e as vezes aparecia um campo qualquer e íamos jogar lá. Depois de certo tempo apareceram muitos campos, que também foram acabando com os prédios que eram construídos.

FTT: Já torcia por algum time nessa época?
TURCÃO: O mais engraçado de tudo é que joguei no Palmeiras e São Paulo. Quando moleque falava que torcia pro Corinthians. Meu irmão brigava comigo, dizendo que tinha que torcer pelo Palmeiras. Não era tão corintiano, mas falava porque ouvia falar dele.

FTT: Pelo que soube, começou a jogar no Ypiranga.
TURCÃO: Tinha o senhor Carlos Paeta, que era oficial da Light. Ele percorreu os campos de futebol pra procurar quem gostasse praticar futebol e tentar jogar no Ypiranga. Viu-me jogando no Ás de Ouro, da Vila Mariana e me convidou. Eu só treinava no Ypiranga, pois eles não me deixaram jogar. Fui treinar no Palmeiras, jogando como Juvenil e depois virei titular.

FTT: Isso foi em 1942, quando começou a jogar no Palmeiras.
TURCÃO: Até antes, desde 1940, quando tinha uns 15 anos.

FTT: Profissionalizou-se no Palmeiras em 1945.
TURCÃO: Foi praticamente neste ano que tornei Profissional. Mas desde 1944 já jogava um jogou ou outro.

FTT: Na sua época de Palmeiras haviam grandes jogadores, como Oberdan Cattani, Eduardo Lima, Waldemar Fiúme, Caieira, Zezé Procópio e Og Moreira. Fale sobre esses jogadores, Turcão.
TURCÃO: Meu amigo, você falou de nomes que se jogassem hoje, Nossa Senhora! O Oberdan, no tempo dele, era considerado o melhor goleiro da América e, talvez, até do mundo, um fora-de-série. Os outros jogadores, como o Zezé Procópio e o Lima, eram extraordinários. Quando começo a lembrar, não paro de falar (risos!).

PALMEIRAS 1947 - Oberdan Cattani, Tulio affini, Turcão, Caieira, Waldemar Fiume, Zezé Procopio, Oswaldinho, Lula, Arturzinho, Lima e Canhotinho

FTT: Em qual posição o senhor jogava nessa época?
TURCÃO: Comecei como lateral-esquerdo pra ter chance de jogar. O que gostava mais era atuar como zagueiro-central. Quando apareceu a oportunidade, agarrei e não saí mais.

FTT: Já que o senhor jogava como lateral-esquerdo e zagueiro-central, além dos jogadores do Palmeiras que citei, enfrentou grandes jogadores dos times adversários. Citarei alguns: Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva (todos do São Paulo) e Servílio (Corinthians).
TURCÃO: Luizinho era um monstro de jogador, advogado da Caixa e jogava um futebol maravilhoso. O Sastre, de tão bom que era, não deixou o Yeso Amalfi jogar, que também jogava muito e quando foi jogar na França, deixou os franceses de boca aberta, sendo que aqui não jogava muito por causa do desse argentino, que era algo fora do comum. Marquei o Leônidas, era extraordinário, super ligeiro, se você bobeasse um segundo estava perdido, fazia gols de bicicleta, quando dominava a bola tinha que estar junto, senão era gol. Joguei contra o Servílio, cheguei a dar um pontapé nele, que não gostou e reclamou comigo, mas também jogava muito bem.

FTT: Começa 1947 e nesse ano o Palmeiras é Campeão Paulista. Já tinha sido em 1944, com o São Paulo sendo Bi em 1945/46 e 1948/49, ou seja, eram os grandes times da década. Na final do Paulistão de 47, o Palmeiras enfrenta o Santos na Vila Belmiro, vencendo por 2 a 1 e nesse jogo Turcão faz um famoso gol, praticamente o do título.
TURCÃO: Esse gol foi quase do meio-de-campo. A bola vinha cruzando, corri e resolvi chutar, batendo com toda a minha força, atravessou o campo todo, sendo que o goleiro estava um pouco adiantado, quis voltar e ela entrou. Ganhamos o jogo por 2 a 1.

FTT: Foi um título muito comemorado pelo senhor e companheiros.
TURCÃO: Eu era um garotinho, tinha 21 anos e ainda fiz um gol. Fui carregado em triunfo e um sujeito meteu mão no meu pescoço, arrancando a minha corretinha de ouro. Tentei pegá-lo, mas ele conseguiu fugir. Estive em um Jornal e pedi que ele devolvesse. Foi devolvida e está com o meu filho até hoje.

FTT: Em 1948 enfrentou os melhores times da época, o River Plate e o Torino. Como jogavam os fabulosos jogadores do River, que tinha nomes como Di Stefano e Labruna?
TURCÃO: Muñoz, Moreno,  Pedernera, Labruna e Lostau. Era duro jogar com esses caras! Não quero nem lembrar, porque me sinto mal (risos!). Marquei o Muñoz, ponta-direita do River Plate. Nós ganhamos do Boca Juniors aqui e perdemos do River lá.
 Turcão,  o segundo da esquerda para a direita, entre Lula e o tecnico Cambon, depois, Neno, Lima, Canhotinho, e  Arturzinho, em Janeiro de 1947, um dia antes do jogo com o Boca Juniors da Argentina em que ouve empate de 2x2.

FTT: O Palmeiras é novamente Campeão Paulista em 1950, jogando no time o Jair Rosa Pinto e o Rodrigues, formando uma grande ala-esquerda. Fale da final, do Jogo da Lama, contra o São Paulo, com o time sendo campeão já em 1951.
TURCÃO: Choveu, o campo estava horroroso, tanto é que quando o Aquiles fez o gol, a bola estava parada na lama e ele chutou de primeira. O time do Palmeiras também era muito bom. Dava gosto jogar nessa época.

FTT: Em 1951 acontece uma grande surpresa na sua carreira, porque parece que o senhor queria um aumento salarial e não lhe foi concedido.
TURCÃO: Com o término do Campeonato Paulista, coincidentemente acabou o meu contrato. Todo o mundo estava ganhando bem, acima de 20 mil. O próprio Sarno, que era lateral-esquerdo, renovou com esse salário. O senhor Mário Frugiuele, que Deus o tenha, não quis me pagar este valor. Eu disse que era Campeão Juvenil, Amador e duas vezes como Profissional. Ele disse que seria 8 mil. Pedi um pouco mais, falando que o Sarno havia me contado que recebeu 20 mil e ele não gostou dele ter contado, mas falei que sabia porque éramos amigos. Falou pra eu ir para minha casa, que resolveria no dia seguinte. Na mesma noite vendeu o meu passe ao Guarani de Campinas.

FTT: Jogou pouco tempo no Guarani.
TURCÃO: Fiquei um mês. Logo em seguida o São Paulo foi me buscar. Cheguei a fazer um gol de falta em um clássico contra o Palmeiras.

TURCÃO VAI PARA O SÃO PAULO


FTT: Nessa sua fase de São Paulo, perguntarei sobre alguns jogadores que atuaram contigo, como Mauro Ramos de Oliveira, De Sordi, Alfredo Ramos, Bauer e Teixeirinha, sendo que os dois últimos enfrentaram quando jogava no Palmeiras.
TURCÃO: O Mauro era algo fora do comum, grande jogador e pessoa, um amigo que todos gostavam, morreu precocemente com câncer, craque extraordinário e elegante, altamente técnico, mas não gostava do apelido de Martha Rocha, já que a mulherada era fã dele. Já o De Sordi jogava na mesma posição que eu, como lateral-direito, tanto é que fiquei muitas vezes fora do time com ele jogando, pois atuava muito bem, comigo na reserva e aceitava por saber que melhor. Alfredo Ramos é muito tímido, não dá entrevistas, mas também era um extraordinário jogador e grande amigo. Naquele tempo as amizades eram muito boas. Até hoje sou amigo do Oberdan Cattani e dos jogadores do Palmeiras só sobraram ele e eu. Acho que o Aquiles também está vivo, mas é mais recente. Bauer enfrentei e depois joguei junto, na Copa do Mundo de 1950 foi chamado de Monstro do Maracanã, pra você ter idéia como ele jogava bem e formou com o Ruy e Noronha uma linha-média sensacional. O Teixeirinha, que se chama Elísio dos Santos Teixeira, era chamado de Português, era muito bom, só que depois veio o Canhoteiro e ele perdeu a posição.

FTT: Qual é a sua lembrança do título paulista de 1953?
TURCÃO: O Poy e o De Sordi jogavam muito. Joguei de lateral-esquerdo e o Alfredo Ramos como quarto-zagueiro. O time era excelente e quase não perdeu pra ninguém, como o Palmeiras de 1947, que praticamente ganhou de todo o mundo. Já o São Paulo de 1954/55 decaiu um pouco.

FTT: Agora falarei novamente dos adversários da sua época de São Paulo. O Palmeiras tinha uma linha de ataque que jogavam o Lima, Liminha, Humberto Tozzi, Jair e Rodrigues. Já o Corinthians jogava com Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário. E a Portuguesa atuava com Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão.
TURCÃO: A linha do Palmeiras foi muito boa, tanto que fui campeão com alguns desses jogadores em 1950. O ataque da Portuguesa era duro de enfrentar, ganhava dos grandes, atrapalhava a nossa vida, mas perdia pro Nacional da Comendador de Souza. Marquei o ponta-direita Julinho Botelho e ele dava muito trabalho. Os dois baixinhos, Cláudio (que eu marcava) e Luizinho, jogavam muito bem. Já o Mário ponta-esquerda era muito habilidoso pra driblar.

FTT: O Dino Sani comentava que o senhor passava bem a bola. Comente também sobre ele.
TURCÃO: Quando ele começou no Palmeiras, briguei com a diretoria do clube porque vendeu ele pro XV de Jaú. Acabou se tornando um dos melhores jogadores do mundo, jogando depois na Argentina e Itália. Eu era Profissional e o menino despontava nos Amadores, dizia que ele era craque e daria muito gosto no Palmeiras.

FTT: Inicialmente ele era meia e depois passou a jogar como volante, rivalizando com o Roberto Belangero do Corinthians nessa posição.
TURCÃO: Jogava como meia e depois virou apoiador no São Paulo, com ele deslanchando de vez. O Roberto Belangero também era um extraordinário jogador. Se você quiser falar mais, ficará cansado de ouvir sobre tantos jogadores bons (risos!).

FTT: Citarei agora um ponta-esquerda que chegou ao São Paulo em 1954, que foi dado ao senhor a incumbência de marcá-lo no primeiro treino dele. Pelo seu sorriso já sabe que estou falando de José Ribamar de Oliveira, o Canhoteiro.
TURCÃO: Quem trouxe ele pro São Paulo foi o Wilson, antigo zagueiro do Vasco, que pediu pra mim não jogar tão duro, já que o menino era magrinho. Começou o treino, sendo que na primeira bola passou por mim parecendo que eu nem existia. Na segunda, terceira e quarta a mesma coisa. Resumindo, pra não falar muito, quando acabou o treino, o Wilson veio me agradecer, dizendo que ele seria contratado e eu falei pra contratar mesmo, pois tomei um baile de um jogador que se tornou um fora-de-série. Infelizmente não tinha juízo.
 São Paulo 1956 - Vice Paulista. Em pé: Desconhecido - Vicente Feola (técnico) - Riberto - Sarará - Bonelli - Turcão - Alfredo Ramos e Mauro. Agachados: Maurinho - Lanzoninho - Gino - Dino Sani e Canhoteiro.

FTT: Já que citei o Canhoteiro, falarei agora do Mané Garrincha, que o senhor também enfrentou.
TURCÃO: Marquei o  Garrincha também. Só pegava moleza (risos!).

FTT: Falarei agora de alguns grandes dribladores e o senhor me diz quem achava que era o melhor: Mário (ponta-esquerda do Corinthians), Luizinho Pequeno Polegar, Canhoteiro ou Garrincha?
TURCÃO: O Mário era muita frescura, driblava muito bem, mas dava muita chance aos adversários, pois me lembro de uma passagem dele quando jogava no Vasco contra o São Paulo, que ele driblou todo o mundo, parou a bola em cima da linha do gol, sendo que o zagueiro Savério tirou ela dele, com isso ele não queria ir pro vestiário, porque o Flávio Costa estava esperando-o na porta por não ter marcado, querendo o técnico bater nele. Já o Canhoteiro atacava mais. O Luizinho era habilidoso e produtivo, diferente do Mário, pois fazia as coisas muito bem feitas. Acho que o Garrincha foi o melhor driblador de todos, era muito difícil de marcar e ninguém conseguia tirar a bola dele.
Mauricio Sabará e Turcão coma foto dos tempos de São Paulo


FTT: Falaremos agora de uma passagem importante da sua carreira, quando jogou na Seleção Brasileira, atuando apenas em uma partida, pela Taça Bernardo O’Higgins de 1955. Chegou também a jogar pela Seleção Paulista?
TURCÃO: Cheguei a jogar na Seleção Paulista. Pela Brasileira foi mais emoção do que ação, porque não esperava jogar. O técnico disse que jogaria, em vez do De Sordi. Nós ganhamos o jogo e a Taça. Foi uma alegria fora do comum. Antes treinei pra jogar, mas o Flávio Costa me cortou depois de dois treinos, fazendo com que não participasse da famosa Copa do Mundo de 1950.

FTT: Em 1956 o senhor parou de jogar devido à um problema no joelho, quanto tinha 30 anos. No ano seguinte o São Paulo é Campeão Paulista, trabalhando como auxiliar técnico de Bela Guttmann.
TURCÃO: A contusão foi porque o argentino Bonelli caiu em cima do meu joelho em um treino. Pra mim não houve nenhum técnico como o Bela Guttmann, porque ele dava fundamentos, o que não vejo hoje, pois não se sabe cruzar uma bola.
Turcão hoje em dia e  com a foto dos tempos de tricolor.


FTT: Depois do título teve uma rápida passagem pelo Santa Cruz, jogando somente quatro partidas.
TURCÃO: Fiquei um mês no Santa Cruz, ganhei um torneio lá e recebi 150 mil. Eles me dispensaram. Me reapresentei no São Paulo, sendo que o diretor Manuel Raimundo disse não me querer mais no clube, falando que daria quatro ordenados para que eu fizesse  o que quisesse. Uns três times me procuraram, mas não quis mais.

FTT: Por sinal nessa época é que estava surgindo o Santos de Pelé, que jogava também o Pagão e o Pepe.
TURCÃO: Não peguei esses caras, graças a Deus. Chega de sofrimento (risos!).

FTT: Citarei também alguns jogadores do Rio de Janeiro para o senhor comentar, como de Heleno de Freitas (só enfrentou na época de Palmeiras), Ademir de Menezes e Zizinho.
TURCÃO: Tive a honra de jogar uma vez contra o Heleno. Enfrentei também o Ademir. Zizinho era um monstro de jogador, sendo que depois do Flamengo e Bangu, jogou no São Paulo, sagrando-se Campeão Paulista em 1957. Outro jogador formidável foi o Waldemar de Brito, um dos Deuses do futebol.


FTT: Fale agora do seu final de carreira profissional, quando trabalhou em empresas como a Kibon e Ki-Refresco.
TURCÃO: Parei de jogar por te me machucado, tinha um rendimento com umas casas, recebendo os meus aluguéis e dava pra viver. Um dia estava jogando bocha  e encontrei um amigo, Moacir Serrone, que perguntou o que eu estava fazendo. Disse que ninguém me arrumava emprego. Ele disse pra mim ir para a Kibon, pois lá iria trabalhar. Apresentei-me de camisa esporte e de barba pra fazer, já que estava tão decepcionado da vida. Falou pra mim: “O que você veio fazer aqui, pedir emprego barbudo desse jeito e de camisa esporte? Volte pra sua casa e coloque uma gravata”! Saí correndo, fui em casa (morava à um quarteirão da Kibon), tomei um banho, fiz a barba e coloquei a gravata. Quando retornei, disse “agora sim”! Apresentei-me ao senhor Manuel de Oliveira, amigo de infância, que era o gerente, dizendo-me que começaria a trabalhar no dia seguinte. Minha vida mudou da água pro vinho.

FTT: O senhor jogou em dois grandes clubes, que foram o Palmeiras e São Paulo. Quando os times jogam, tem preferência por algum, ou torce por ambos?
TURCÃO: Preferência não tenho. Gosto do Palmeiras porque comecei lá e do São Paulo, onde praticamente terminei. Fui muito bem tratado no Guarani e Santa Cruz. Torço para que esses quatro clubes sejam felizes.


ENTREVISTA: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Encontro eternizado - Ataque do Real Madrid anos 60

Santiago Bernabeu Stadium. Os 5 atacantes do lendario Real Madrid - Canario, Del Sol, Di Stefano, Puskas e Gento. O tecnico era Miguel Munoz.

Revista do dia - PLACAR 1985

 A capa da revista Placar de 31 de Maio de 1985 trás os cracaços Socrates e Zico na capa.
Aqui vai nossa homenagem ao Doutor que infelizmente nos deixou esta semana. Obrigado por tudo Dr. Socrates.

domingo, 13 de novembro de 2011

O Craque disse e eu anotei - BALTAZAR (por Batata filho de Baltazar)

Através do meu amigo jornalista Celso Unzelte obtive o telefone do Batata, filho do famoso centroavante Baltazar, o Cabecinha de Ouro. A entrevista foi realizada no Clube Esportivo da Penha, onde me reencontrei com o Carlos Botelho, filho do Julinho, que também entrevistei para o Blog Futebol de Todos os Tempos (FTT). Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O seu pai nasceu em Santos no dia 14 de Janeiro de 1926, começando a jogar profissionalmente no Monte Alegre, em 1943.
CARLOS ALBERTO DA SILVA (BATATA): Exatamente, primeiro no Monte Alegre, depois no Jabaquara, indo depois pro Corinthians, onde jogou praticamente toda a carreira e no final dela atuou no Juventus da Mooca.

FTT: Quando criança ele tinha como referência o Leônidas da Silva, na questão de posicionamento na área, agilidade e saltar para cabecear?
BATATA: Pelos comentários da família na época, sim.

FTT: O seu pai chamava-se Oswaldo Silva e, quando ele começou a jogar futebol, não era conhecido como Baltazar, que por sinal era o nome do irmão dele.
BATATA: Isso mesmo, o irmão era bem conhecido na vila e ficou aquela história do irmão do Baltazar e o nome ficou pra ele mesmo.
Jabaquara 1945 - A ártir da esq. Doca, Baltazar, Bahia, Leonardoo e Tom Mix.


FTT: Em 1944 ele é contratado pelo Jabaquara, jogando em um ataque que tinha Alemãozinho, Baltazar, Bahia e Tom Mix. Foi quando ele começou a se destacar?
BATATA: Na época era um time excelente, fazendo com que o Corinthians se interessasse e o contratasse no final de 1945. No início ele era meia-direita (Servílio jogava como centroavante) e quando o Luizinho subiu para o time de cima (1949), passou a jogar no comando do ataque.

FTT: No primeiro Torneio Rio-São Paulo oficial (1950), com o Corinthians sendo campeão, o Baltazar acabou sendo o artilheiro da competição, marcando 9 gols, chamando a atenção do técnico Flávio Costa para que ele fosse convocado pra Seleção Brasileira. Na Copa do Mundo jogou as duas primeiras partidas, contra o México no Maracanã (4 a 0) e com a Suíça no Pacaembu (2 a 2), marcando um gol em cada jogo. Ele ficou chateado por não ter jogado entre os titulares as outras partidas do Mundial?
BATATA: Não, ele nunca se deixou levar pelo outro lado. Era tranquilo, pacato e sereno, portanto foi algo que não influenciou em nada.



 
FTT: Em 1951/52 o Corinthians é Bicampeão Paulista, surgindo, talvez, o ataque mais famoso da história do clube, com Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário, que marcou 103 gols no Paulistão de 51. O que o seu pai falava desta linha?
BATATA: Encontrei uma vez com o Cláudio no Parque São Jorge e ele comentou comigo que “não tinha jogada ensaiada, metia a bola e o seu pai estava lá”. Era assim, eles se davam muito bem dentro e fora do campo, facilitando as jogadas.


FTT: O Baltazar tinha uma frase muito legal, dizendo que “nunca fui muito bom com a bola nos pés, mas com a cabeça ‘nem Pelé’ era melhor do que eu”. Isso também se deve aos cruzamentos precisos do Cláudio Cristovam de Pinho.
BATATA: Não o vi jogar, pois nasci em 1955, mas pude ver em fotos que a minha mãe tinha em arquivos, que a impulsão dele era extraordinária, sempre passando os zagueiros, algo incrível, muito difícil pará-lo quando bem posicionado.




FTT: Os defensores adversários diziam que, “para pará-lo, era somente com socos e pontapés”.
BATATA: Inclusive ele teve o maxilar quebrado algumas vezes devido a essas jogadas, pois, quando saltava, os zagueiros já metiam o cotovelo nele. Mas era difícil, porque o meu pai saltava muito bem.
FTT: Ele era constantemente convocado pra Seleção Brasileira, sendo Campeão Panamericano em 1952, disputou o Sulamericano no ano seguinte, venceu o Campeonato Brasileiro de Seleções em 52 pela Seleção Paulista e foi o artilheiro das Eliminatórias da Copa do Mundo, ou seja, era o grande centroavante brasileiro na época. No Mundial da Suíça ele estreou contra o México (5 a 0), marcando um gol. Na segunda partida, enfrentou a Iugoslávia. Só não participou do jogo com a Hungria, em que o Brasil foi eliminado.
BATATA: São grandes lembranças que ele tinha. Se é na época atual, talvez fosse mais difícil fazer os gols que fazia naquele tempo, pois hoje o zagueiro abraça, se joga em cima, o que não havia tanto quando o meu pai jogava futebol.
Primeiro gol marcado pelo Brasil na Copa de 1954 foi feito por Baltazar.

FTT: Depois da Copa do Mundo ele foi Campeão Paulista do IV Centenário (tinha vencido também o Rio-São Paulo em 1953). No ano de 1957 o Baltazar foi vendido ao Juventus da Mooca, mas não se destacando mais como o Cabecinha de Ouro, pois havia marcado 267 gols em 409 partidas no Parque São Jorge, tornando-se o segundo maior artilheiro da história corintiana (Cláudio é o primeiro). O seu pai achava que já estava prestes a encerrar a carreira?
BATATA: Ele sentia que já estava na hora de parar, pois ficou pouco tempo no Juventus. O auge dele foi no Corinthians



FTT: Em 1971 o Baltazar era o técnico do Corinthians no Campeonato Brasileiro, realizando, por sinal, uma boa campanha, tendo o Rivellino no time.
BATATA: A equipe era muito boa. Se eu não me engano eles perderam uma partida para o Cruzeiro em Belo Horizonte por 1 a 0, fazendo com que ele saísse do cargo. O pessoal gostava muito do meu pai. A experiência foi boa, treinou outros clubes, mas não gostava muito dessa função.

FTT: Vamos falar agora um pouco de você, pois afinal de contas também foi jogador de futebol, jogando como lateral-esquerdo. Chegou a treinar nas Equipes de Base do Corinthians?
BATATA: Comecei a jogar no Corinthians em 1968 nas Categorias de Base do Sr. José Castelli (Rato), completei todo aquele ciclo de jogador Infantil, Juvenil e Aspirante. Terminei a minha carreira como jogador Amador do Palmeiras, onde me profissionalizei, indo depois pro São Bento de Sorocaba em 1977, fui vendido ao Botafogo do Rio em 79 e mais tarde rodei o Brasil.


FTT: Você era muito cobrado por ser filho do Baltazar?
BATATA: Fui sim, porque comecei a jogar na frente. A cobrança foi muita e acabei caindo pra ponta-esquerda. Quando fui para os Juvenis do Corinthians, o Julinho Botelho me levou pro Juvenil do Palmeiras, sendo que lá me colocaram pra jogar como quarto-zagueiro e o treinador era o Godê. Fomos Campeões Paulistas Juvenis e me dei bem na posição. Mas a maior parte dos meus jogos foi como lateral-esquerdo.

FTT: Jogou também na Seleção Brasileira Amador.
BATATA: Joguei no Torneio de Cannes em 1973/74.
Batata filho de Baltazar por quem tem grande orgulho tambem tentou a carreira como jogador de futebol.

FTT: E a passagem no Botafogo, talvez o time mais importante que jogou como Profissional?
BATATA: Sem dúvida, na época o presidente era o Charles Borer, com o Botafogo se refazendo há alguns anos e os pagamentos estando em dia. Foi uma experiência boa, pois o time era muito bom, contando com jogadores como o Mendonça, Renê (que era do Vasco), Dé, Manfrini, Perivaldo, Renato Sá e Marcelo (hoje é treinador do Coritiba).

FTT: Fale do seu primo, o Gérson, que faleceu prematuramente com 29 anos, em 1994. Foi um centroavante revelado pelo Santos, sendo campeão da Taça São Paulo de 1984 e com passagens muito boas pelo Atlético Mineiro e venceu a Copa do Brasil de 92 pelo Internacional-RS. Qual é a sua recordação deste grande atacante?
BATATA: Era uma pessoa maravilhosa, um cara muito tranquilo, sossegado e sempre na dele. Isso pegou toda a família de surpresa. Foi uma perda prematura, lamentável e muito triste

Batata e Mauricio Sabará

FTT: Obrigado pela entrevista, Batata. Parabenizo você, o seu primo Gérson e, principalmente, o Baltazar, provavelmente o maior centroavante da história do Corinthians junto com o Teleco. Anos atrás foi feito um busto no Parque São Jorge em sua homenagem ao lado das estátuas do Cláudio e do Luizinho, algo bem merecido. Ele era um jogador tão popular, que foi feita uma marchinha em sua homenagem. Você me disse saber que foi composta pelo Alfredo Borba (1952/53), mas não sabe a letra completa, que na época quem cantava era a Elza Laranjeira. Não sou cantor, mas com a sua permissão, a cantarei, pois conheço a música inteira.


GOL DE BALTAZAR
GOL DE BALTAZAR
SALTA O CABECINHA
UM A ZERO NO PLACAR
O MOSQUETEIRO NINGUÉM PODE DERROTAR
CARBONE É UM ARTILHEIRO ESPETACULAR
CLÁUDIO, LUIZINHO E MÁRIO
JULIÃO, ROBERTO E IDÁRIO
HOMERO, OLAVO E GILMAR
SÃO OS ONZE CRAQUES QUE SÃO PAULO VAI CONSAGRAR
GOOOLLL!!!



REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Encontros eternizados - PAOLO MALDINI & CESARE MALDINI

Paolo Maldini e Cesare Maldini segurando a Taça dos Campeões da Europa xonquistada pelo Milan. Ambos jogaram e foram campeões jogando pelo clube italiano. O detalhe é que são pai e filho .

Revista do Dia - Manchete Esportiva 1978

O encontro dos dois maiores idolos nas historias de Vasco da Gama e Flamengo. Roberto Dinamite e Zico em 1978.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O craque disse e eu anotei - ROGERIO

Obtive o contato do Rogério Hetmanek de uma forma bem curiosa. Recebi um e-mail da Helen, que faz parte da Fundação Mokiti Okada (M.O.A), pedindo o telefone do Leivinha, que eu já tinha entrevistado. Passei o contato dele, sendo que ela também havia passado o telefone do Rogério. Não perdi tempo e aproveitei pra me contatar com o ex-ponta na segunda-feira dia 10 e marcando a entrevista na quarta-feira dia 12. Foi uma matéria bem rápida, mas fiquei na Fundação durante três horas, pois conversar com o ex-jogador acabou sendo bem gratificante, porque é dotado de muita inteligência e sabedoria, qualidades essas adquiridas na Igreja Messiânica, da qual ele é o presidente. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu no dia 02 de Agosto de 1948 no Rio de Janeiro e me contava a pouco que começou como na várzea, mas não era propriamente um ponta-direita.
ROGÉRIO HETMANEK: O meu ídolo na época era o Pelé e eu jogava com a 10, começando na posição de meia-esquerda. Posteriormente, no Botafogo-RJ, também joguei como meia nas equipes de Base. Quando abriu uma brecha no time Profissional, foi justamente na ponta. Eu driblava muito, o treinador era o Zagallo e com o apoio do Neca, que também treinava  os times de cima, acabei me efetivando na ponta-direita e nunca mais deixei essa posição.
 Rogerio com a faixa de campeão  carioca juvenil de 1966
FTT: Jogando na ponta-direita no Botafogo, formou uma linha de ataque fantástica, ao lado de Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cesar Caju. Falei sobre essa linha.
ROGÉRIO: Essa linha de ataque realmente marcou época, pois ganhávamos tudo entre 1967 e 1969. Eu sempre cito que foi a única linha que fez parte de uma Copa do Mundo, algo que nem o Santos, na sua época áurea, conseguiu colocar os cinco. Muitos falam que o Gérson já era do São Paulo, mas conhecia a todos nós.



FTT: Por sinal o Gérson formava a ala-direita do Botafogo contigo. Comente sobre esse grande jogador.
ROGÉRIO: O Gérson foi um fora-de-série e era tido por todos nós como o maestro do time, ditando as jogadas, falava muito, ou seja, um treinador dentro do campo. Foi realmente um craque inigualável e não apareceu ninguém igual. Pensamos atualmente que o Ganso pode chegar perto, mas ainda está bem longe.

FTT: Rogério, no Botafogo você foi Bicampeão Carioca e venceu uma Taça Brasil, conquistas muito importantes. Vocês acham que eram tão badalados como o antigo ataque do time, formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo?
ROGÉRIO: Foram duas épocas marcantes no Botafogo. O time sempre esteve presente nas Copas do Mundo, com os jogadores se destacando muito. Entre 1958 e 1962, havia uma Base muito boa do Botafogo e em 70 também, além da Comissão Técnica, oferecendo bastante à Seleção Brasileira.

FTT: Qual era o lateral-esquerdo que te dava mais trabalho?
ROGÉRIO: Provavelmente o Marco Antônio, que jogava no Fluminense, pois foi quem mais enfrentei no Botafogo e Flamengo.

FTT: No final dos anos 60, o Botafogo estava numa grande fase, com praticamente todo o ataque na Copa do Mundo de 1970. Por sinal, você era o ponta-direita titular da Seleção, mas, pouco antes da Copa sofreu uma distensão muscular e acabou saindo do time do Brasil, sendo que continuou na Delegação. Conte sobre esse fato.
ROGÉRIO: Sempre digo que aquela Seleção foi uma das melhores em preparo físico para uma competição. Todos os jogadores que estavam naquela Delegação, viviam o seu auge em condição atlética. Eu já tinha certo reconhecimento no México, porque o Botafogo jogava todo o ano neste país, pois as excursões sempre passavam por lá. Realmente era uma Copa que tinha tudo pra chegar próximo ao Garrincha, revivendo-o, era uma esperança e estava no time ideal. Mas, infelizmente, devido a uma contusão fácil de ser resolvida, pois bastava fazer alongamento e eu não fiz, descobrindo isso somente quando jogava no Flamengo, o que acabou me tirando deste Mundial. Mas como estava entrosado em vários aspectos, houve um movimento do Zagallo e dos jogadores para eu ficasse na Delegação e pudesse atuar como espião junto com o Parreira, que na ocasião era o Preparador Físico. Nós observávamos todos os jogos dos possíveis adversários do Brasil, fazíamos relatórios, juntávamos os jogadores e percebemos que todas as informações que demos ao Zagallo foram aproveitadas, chegando a ganhar os jogos na véspera, neutralizando as jogadas táticas dos times que enfrentávamos  e criando as alternativas pra Seleção conquistar vitórias. Foi importante porque, de um certa forma, o que não pude fazer dentro do campo como gostaria, contribuí nessa condição de observador.
Jairzinho, Rogerio e Parreira com a Taça jules Rimet conquistada no Mexico em 1970


FTT: Termina 1970, com o Brasil campeão. Começa 71 e você é emprestado ao Santos Futebol Clube, numa troca com o Carlos Alberto Torres, pra disputar o Campeonato Paulista.
ROGÉRIO: Uma fase muito interessante. Quem me trouxe ao Santos foi o Antoninho, que sempre quando nos cruzávamos em aeroportos, ele dizia que eu iria jogar no Santos, o que realmente aconteceu, fazendo um grande esforço para que jogasse no clube. Joguei pouco tempo, porque o Flamengo, sem que eu soubesse, já estava transando a minha ida ao Rio de Janeiro. Acho que joguei apenas uns quatro meses no Santos e voltei ao Rio com o Flamengo comprando o meu passe do Botafogo. Mas no Santos também foi muito importante, excursionei com o time na Europa, jogando com o Pelé, uma pessoa fantástica, sendo que nessa época ele  anunciou que não jogaria mais na Seleção Brasileira, havendo uma campanha muito grande contra ele, pois não estava muito em forma, mas conseguiu jogar depois no Cosmos. Nós acompanhávamos, torcendo para que ele continuasse, mas, se fosse hoje, jogaria normalmente. Naquela época, quando o jogador se aproximava dos 30 anos e tivesse qualquer contusão, já achavam que tinha que parar. Atualmente quando se tem 35 anos, o pessoal acha que pode chegar aos 40.


FTT: Você é contratado pelo Clube de Regatas do Flamengo, com uma torcida gigantesca e sempre presente nos estádios. Fale sobre essa participação dos torcedores e atuando ao lado de jogadores como o Zico, Geraldo e tantos outros.
ROGÉRIO: O treinador era o Fleitas Solich e o Flamengo estava em preparação. Costumo dizer que o Botafogo levou um “no hall” muito grande  pro Flamengo, porque de repente o Zagallo foi para o clube, junto com o Admildo Chirol, Moreira, Roberto Miranda, Paulo Cesar Caju e eu. A turma que vinha das equipes de Base, como o Zico e o Júnior, acompanhando todo o trabalho que era feito, começando a jogar no time principal. Na minha época, o Zico já funcionava. Tinha também o Doval. Fomos Campeões Cariocas em 1972, contra o Fluminense e joguei na linha de ataque com o Liminha, Doval, Caio Cambalhota e Paulo Cesar Caju.
 No Flamengo Rogerio jogou junto do ex companehrio de Botafogo, Paulo Cesar. Dario que acabou se tornando o artilheiro do campeonato e Zico começando a surgir como craque.

FTT: Você também estava na Seleção Brasileira que foi campeã da Taça Independência em 1972.
ROGÉRIO: Estava sim. Foi uma grande conquista, mas não joguei nenhuma partida nesta competição.

FTT: Passada a fase do Flamengo, em 1974 você retorna ao Botafogo, jogando em num time um pouco diferente ao que atuava no final da década de 60, atuando junto com o Marinho Chagas. Como foi o final da carreira no clube que o revelou?
ROGÉRIO: Aí já peguei a fase do Paulo Amaral, que retornava. Estava entrando em forma novamente e achei que não dava mais pra continuar insistindo, a minha cabeça estava a frente do meu corpo, não acompanhava o que queria fazer, sentindo que seria forçar demais a minha natureza, resolvi não insistir e entrar em outras área que já tinha desejo, o que foi uma decisão acertada.
Estela fotografa do blog, Mauricio Sabará e Rogerio com fotos retratando a historia do craque.

FTT: Rogério Hetmanek encerra a carreira de jogador de futebol e procura novos caminhos. Hoje é presidente da Fundação Mokiti Okada. Fale do seu início na Igreja Messiânica e como funciona essa Fundação.
ROGÉRIO: Quando parei realmente de jogar futebol, sentia a necessidade de entrar pra faculdade, estudar Direito e posteriormente entrei para o campo da Filosofia, fazendo Pós-Graduação, formando-me como Mestre de Filosofia na PUC de São Paulo. Hoje estou a frente da Fundação Mokiti Okada, desenvolvendo todo o tipo de atividade educacional e artística, além de todas as formas de manifestação relacionadas à saúde, meio ambiente e comida natural sem agrotóxicos. A Fundação é bem ampla, pegando parta da atividade humana, com uma filosofia própria, respeitando a verdade da lei da natureza, algo muito interessante e até inédito, pois não estamos apenas teorizando, mas pragmatizando. Iniciamos também o curso de Teologia na Faculdade Messiânica, sou o vereador dela, estando prestes de introduzir a Pedagogia. É uma atividade que sentimos como importante para a melhoria do mundo, contribuindo efetivamente.

FTT: A Fundação também contribui com alguns shows, como pode ser visto neste cartaz da família do Jair Rodrigues.
ROGÉRIO: Estamos revivendo o Festival da Record, com os 40 anos de fundação da Mokiti Okada, criamos o Festival da Canção Arte da Natureza, colocando com tema mais de 300 canções sobre este tema, com artistas consagrados, que estão participando, com uma premiação também bem interessante, intercalando com o show do Jair Rodrigues com os seus filhos, o Jairzinho e a Luciana Mello, homenageando o Jair por ser o grande vencedor do Festival. Você e sua noiva também estão convidados para este show que acontecerá no Parque do Ibirapuera, no próximo dia 30 de Outubro. Fazemos isso junto com a Secretaria do Meio Ambiente, buscando maior conscientização do ser humano pela natureza e de sua importância. O homem pensa que ele é quem preserva ela, mas não percebe que é a própria natureza que vem preservando a vida dele há muito tempo. A extinção da natureza será antes a extinção do homem, que depende dela. Estamos dando essa consciência e, através da música, que é uma linguagem universal, preparamos esse movimento em respeito à lei da natureza.

FTT: Que bacana, Rogério. Muito obrigado pela matéria, parabenizo-o pelo grande jogador que foi e também por esse belo trabalho feito através da Fundação Mokiti Okada. Cumprimento-o com muita satisfação.
ROGÉRIO: Eu agradeço a oportunidade. Sei que você tem muito interesse em divulgar ao seu publico e pra sociedade em geral.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Revista do Dia - MINAS ESPORTIVA


A Revista Minas Esportiva trazia em sua capa de Dezembro de 1943 o meio campo Nogueirinha. Ele havia conquistado o primeiro titulo do clube com o novo nome de Cruzeiro neste ano.

Encontros eternizados - PAULINHO VALENTIM & CARRIZO

Encontro dos anos 60 com o lendario goleiro do River Plate Amadeo Carrizo e o maior goleador pelo Boca Juniors dos clássicos entre os dois times, o brasileiro Paulinho Valentim.

sábado, 8 de outubro de 2011

O craque disse e eu anotei - JULIÃO

Desde quando comecei as minhas entrevistas, sempre tive interesse em entrevistar o Julião, por ser um dos remanescentes do time corintiano da década de 50. Obtive o contato do filho dele (Antonio de Assis Souza Julião) através do Blog do Silvinho (http://blogdosilvinho.wordpress.com/2009/04/12/2808/). A entrevista foi mais um bate-papo, puxando assunto com ele através do que eu conheço do Corinthians desta época, além também dos outros clubes que ele atuou. Quem também participou da matéria foi o seu filho, que também foi jogador de futebol. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu em Piracicaba no dia 11 de Abril de 1929. Lembra-se de quando começou a gostar de futebol, se já torcia por algum time e quais eram os jogadores que admirava?
ANTONIO ELIAS JULIÃO: Nasci em Piracicaba. Comecei a jogar no Clube Atlético Piracicabano, onde eu era Amador, jogando em um time da roça. Desde garoto já era corintiano. Fui fã do Teleco e Servílio. Gostava também do Brandão e do Dino Pavão, pois eram todos negros como eu (risos). Quando vim para o Corinthians, todos eles, inclusive o Jango, já tinham parado.

FTT: Chegou ao Corinthians em 1950. E no ano seguinte conseguiu ser Campeão Paulista depois de dez anos, sendo que a linha-média era formada por Idário, Touguinha e Julião.
JULIÃO: Eu era o titular e o Roberto Belangero na reserva. O meu estilo de jogo, no início, era técnico, mas depois de uma fratura na perna, mudei a minha forma de jogar, passando a ser mais viril. Da mesma forma que o Idário e o Goiano, eu batia muito, mas éramos viris. O Roberto já era um jogador bem técnico, sendo que jogou também muitas partidas em 1951. No ano seguinte, quando fomos Bicampeões Paulistas, ele já era o titular e eu jogava mais atrás, como lateral-esquerdo. Sempre fui um jogador bem defensivo.
Campeão Paulista de 1951 - Idário, Touguinha, Lorena, Cabeção, Julião, Murilo e o Técnico Rato. Agachados: Claudio, Luizinho, Baltazar, Jackson e Carbone


FTT: Você participou daquela excursão à Europa, em 1952, sendo que, a partir dela, o Corinthians estabeleceu o recorde brasileiro de partidas internacionais sem perder, um total de 32 jogos. Tem lembranças desta excursão, onde jogaram na Turquia, Dinamarca, Finlândia e Suécia (http://www.youtube.com/watch?v=692RAsjMWfw)?
JULIÃO: Foi a primeira excursão do Corinthians à Europa. O time foi muito bem, perdendo apenas no jogo de estréia, contra o Besiktas, da Turquia.
Idario, Touguinha e Julião

FTT: Falarei de alguns nomes da época pra você comentar. O que achava de jogadores como o Cláudio, Luizinho, Baltazar, Mário e do presidente Alfredo Ignácio Trindade?
JULIÃO: O Cláudio Cristovam de Pinho era um excelente ponta-direita, o nosso chefe e batia muito bem as faltas; Luizinho costurava os adversários, driblava bem e acabava com o jogo; Baltazar era o Cabecinha de Ouro, saltava mais que os zagueiros, com o Cláudio centrando e ele cabeceando; o ponta-esquerda Mário era o bailarino, que driblava como ninguém; e o presidente Alfredo Ignácio Trindade exigia que ganhássemos os jogos, pois era bem bravo.

FTT: Em 1954 você foi emprestado para o Linense e não foi Campeão Paulista do IV Centenário da cidade de São Paulo.
JULIÃO: Fui bem em Lins. O Linense não estava muito bem, então acabei indo pra lá para ajudar. Dei sorte, o time não foi rebaixado, me trataram muito bem lá e no ano seguinte retornei ao Corinthians.
Julião jogou no Linense em 1954.


FTT: Começa 1955, com o Corinthians acabando de ser Campeão Paulista, você retorna ao time e jogando mais dois anos. Depois é contratado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, tendo a honra de jogar com o seu irmão, o Benedito Julião. Gostou dessa nova fase? Fale também do clássico Come-Fogo entre o Comercial e o Botafogo.
JULIÃO: O Benedito era zagueiro-central e eu jogava como lateral-esquerdo, quarto-zagueiro (quando formava a zaga com ele) e de médio-volante. Havia o Come-Fogo contra o Comercial, que era um clássico forte e não havia favorito.

FTT: Como você jogou muito na lateral-esquerda, perguntarei de um jogador que sofreu muito a sua marcação, o Julinho Botelho.
JULIÃO: Cheguei a marcá-lo bastante. Ele era muito bom.
Botafogo RP 1957 -  Digão, Tarciso, Tiri, Guina, Antonio Julião e Machado. Agachados : Laerte, Silva, Antoninho, Henrique e Géo


FTT: E o Garrincha também?
JULIÃO: Também. Tanto ele, como o Julinho, eram infernais.

FTT: Fiquei sabendo da sua esposa que você também marcou o Pelé.
JULIÃO: Quando ele estava começando, mas foi mesmo na época do Botafogo. Eu tentava (risos). Tinha que marcá-lo duro, senão ele marcava muitos gols.

FTT: Lembra-se também de ter jogado no Jaboticabal?
JULIÃO: Também joguei. Acho que encerrei a carreira nele ou no Botafogo de Ribeirão Preto. Fiquei pouco tempo neste clube, uns três ou cinco meses, ou seja, uma passagem bem rápida pelo Jaboticabal. Parei de jogar em 1962.

FTT: Depois você foi treinador do Botafogo de Ribeirão Preto.
JULIÃO: Fui sim. Uma boa experiência.


FTT: Na Seleção Brasileira jogou apenas uma partida, no dia 24 de Janeiro de 1956, derrota por 4 a 1 para o Chile, jogo válido pelo Sulamericano do Uruguai, quando você ainda era jogador do Corinthians.
JULIÃO: Foi muito bom. O Brasil era representado nesta competição por uma Seleção Paulista e o Oswaldo Brandão foi o nosso técnico.

FTT: Você acompanha o Corinthians atualmente?
JULIÃO: Não muito, mas estou sempre no Parque São Jorge.

FTT: Gostou daquela homenagem feita pelo Movimento Pró-Corinthians, quando completou 80 anos, ganhando inclusive uma camisa com o seu rosto estampado nela?
JULIÃO: Gostei muito e fiquei bem emocionado.
Julião com Mauricio Sabará segurando uma foto dos seus tempos de idolo corinthiano



FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Agora falarei com o filho do Julião, o Antonio de Assis Souza Julião, que foi quem me ajudou a conseguir o contato com o pai. Curiosamente também era jogador de futebol. Você nasceu em 1952, quando o Julião estava excursionando com o Corinthians na Europa.
ANTONIO DE ASSIS SOUZA JULIÃO: Correto, ele estava, se não me engano, na Suécia. Havia dois recém-nascidos naquele time, que eram os filhos do Julião e do Rodolfo Carbone. Quando voltaram, as crianças já tinham quarenta dias. O filho do Carbone é conhecido como Nenê.

FTT: Como foi a relação com o seu pai como jogador de futebol? Chegou a vê-lo jogar?
ANTONIO DE ASSIS: Mesmo sendo muito novo, cheguei a vê-lo jogar no Corinthians. Morávamos na Rua São Jorge número 575. Naquela época não havia a Marginal Tietê. Nos dias dos jogos do Corinthians, com três anos de idade, já descia pra lá, todo mundo me conhecia no Parque São Jorge, via os jogos e tenho boas recordações. Quis ser jogador de futebol, porque queria ser igual ao meu herói, querendo imitar o meu pai. Mas o vi jogando mais no Botafogo de Ribeirão Preto.
Corinthians nos anos 50 - Alan, Idário, Julião, Gilmar, Olavo e Roberto Belangero . Agachados estão Cláudio, Luizinho, Rafael, Paulo Pedra e Zezé


FTT: Além do seu pai, você tinha outro ídolo no futebol?
ANTONIO DE ASSIS: Os próprios companheiros do meu pai e, indubitavelmente, o Pelé.

FTT: Nunca jogou no Corinthians?
ANTONIO DE ASSIS: Minha carreira começou no Corinthians, indo treinar nos Juvenis. Os outros garotos ficavam brincando comigo, dizendo que estava lá porque o meu pai havia jogado no clube. Resolvi ir pra outro time, pra provar que sabia jogar. Passeis pelos Juvenis do Juventus, uma temporada na Portuguesa de Desportos e fui contratado pelo Palmeiras, onde me profissionalizei.

FTT: Curiosamente foi reserva do lateral-direito do Eurico, na segunda Academia do Palmeiras.
ANTONIO DE ASSIS: Exato. Inclusive na decisão de 1974, morávamos ainda na Rua São Jorge e era uma briga pra sair de casa depois da vitória por 1 a 0. A coisa ficou difícil lá no pedaço (risos).

FTT: Chegou a jogar partidas por este time?
ANTONIO DE ASSIS: Joguei algumas partidas amistosas e, se não me engano, enfrentei o Jorge Wilsterman, da Bolívia, pela Libertadores da América, curiosamente numa Sexta-Feira da Paixão. Foi uma passagem boa, ficando lá por quatro anos. Cheguei a ser emprestado ao Pontagrossense do Paraná.
Julião, Antonio Julião (filho) e Mauricio Sabará


FTT: Como você era conhecido lá?
ANTONIO DE ASSIS: Era Julião mesmo. Tem algumas matérias dos jornais da Gazeta Esportiva da época, contando sobre este fato de ter jogado nos dois Parques, o São Jorge e o Antarctica. Foi um tempo muito bom.

FTT: O time do Palmeiras realmente era uma Academia?
ANTONIO DE ASSIS: Sim, um time muito regular e pra conseguir uma vaga ali era muito difícil. O nosso treinador era o Oswaldo Brandão, que também treinou o meu pai no Corinthians da década de 50. Inclusive ele comentava que era muito mais fácil o futebol na época dele do que no tempo que comecei a jogar, pois o preparo físico já era mais acirrado, os espaços no campo eram mais diminutos e hoje ainda é mais difícil.

FTT: Tinha também o irmão do seu pai, já falecido, que também foi jogador de futebol.
ANTONIO DE ASSIS: Correto, o Benedito Julião, falecido em 1972, por causa de um problema renal, acabou partindo.
Na foto aparece Julião jogando no Botafogo RP ao lado do ex companheiro Olavo do Corinthians


FTT: Ele formou a zaga do Botafogo de Ribeirão Preto com o seu pai.
ANTONIO DE ASSIS: Jogava de beque-central e meu pai às vezes como quarto-zagueiro. Batiam até na mãe se passasse pela frente (risos).

FTT: A sua mãe comentou que você estudou com o Sócrates.
ANTONIO DE ASSIS: Quando morava em Ribeirão Preto. Ele estudava Medicina e eu me formei em Administração de Empresas.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.