FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O craque disse e eu anotei - ROGERIO

Obtive o contato do Rogério Hetmanek de uma forma bem curiosa. Recebi um e-mail da Helen, que faz parte da Fundação Mokiti Okada (M.O.A), pedindo o telefone do Leivinha, que eu já tinha entrevistado. Passei o contato dele, sendo que ela também havia passado o telefone do Rogério. Não perdi tempo e aproveitei pra me contatar com o ex-ponta na segunda-feira dia 10 e marcando a entrevista na quarta-feira dia 12. Foi uma matéria bem rápida, mas fiquei na Fundação durante três horas, pois conversar com o ex-jogador acabou sendo bem gratificante, porque é dotado de muita inteligência e sabedoria, qualidades essas adquiridas na Igreja Messiânica, da qual ele é o presidente. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu no dia 02 de Agosto de 1948 no Rio de Janeiro e me contava a pouco que começou como na várzea, mas não era propriamente um ponta-direita.
ROGÉRIO HETMANEK: O meu ídolo na época era o Pelé e eu jogava com a 10, começando na posição de meia-esquerda. Posteriormente, no Botafogo-RJ, também joguei como meia nas equipes de Base. Quando abriu uma brecha no time Profissional, foi justamente na ponta. Eu driblava muito, o treinador era o Zagallo e com o apoio do Neca, que também treinava  os times de cima, acabei me efetivando na ponta-direita e nunca mais deixei essa posição.
 Rogerio com a faixa de campeão  carioca juvenil de 1966
FTT: Jogando na ponta-direita no Botafogo, formou uma linha de ataque fantástica, ao lado de Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cesar Caju. Falei sobre essa linha.
ROGÉRIO: Essa linha de ataque realmente marcou época, pois ganhávamos tudo entre 1967 e 1969. Eu sempre cito que foi a única linha que fez parte de uma Copa do Mundo, algo que nem o Santos, na sua época áurea, conseguiu colocar os cinco. Muitos falam que o Gérson já era do São Paulo, mas conhecia a todos nós.



FTT: Por sinal o Gérson formava a ala-direita do Botafogo contigo. Comente sobre esse grande jogador.
ROGÉRIO: O Gérson foi um fora-de-série e era tido por todos nós como o maestro do time, ditando as jogadas, falava muito, ou seja, um treinador dentro do campo. Foi realmente um craque inigualável e não apareceu ninguém igual. Pensamos atualmente que o Ganso pode chegar perto, mas ainda está bem longe.

FTT: Rogério, no Botafogo você foi Bicampeão Carioca e venceu uma Taça Brasil, conquistas muito importantes. Vocês acham que eram tão badalados como o antigo ataque do time, formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo?
ROGÉRIO: Foram duas épocas marcantes no Botafogo. O time sempre esteve presente nas Copas do Mundo, com os jogadores se destacando muito. Entre 1958 e 1962, havia uma Base muito boa do Botafogo e em 70 também, além da Comissão Técnica, oferecendo bastante à Seleção Brasileira.

FTT: Qual era o lateral-esquerdo que te dava mais trabalho?
ROGÉRIO: Provavelmente o Marco Antônio, que jogava no Fluminense, pois foi quem mais enfrentei no Botafogo e Flamengo.

FTT: No final dos anos 60, o Botafogo estava numa grande fase, com praticamente todo o ataque na Copa do Mundo de 1970. Por sinal, você era o ponta-direita titular da Seleção, mas, pouco antes da Copa sofreu uma distensão muscular e acabou saindo do time do Brasil, sendo que continuou na Delegação. Conte sobre esse fato.
ROGÉRIO: Sempre digo que aquela Seleção foi uma das melhores em preparo físico para uma competição. Todos os jogadores que estavam naquela Delegação, viviam o seu auge em condição atlética. Eu já tinha certo reconhecimento no México, porque o Botafogo jogava todo o ano neste país, pois as excursões sempre passavam por lá. Realmente era uma Copa que tinha tudo pra chegar próximo ao Garrincha, revivendo-o, era uma esperança e estava no time ideal. Mas, infelizmente, devido a uma contusão fácil de ser resolvida, pois bastava fazer alongamento e eu não fiz, descobrindo isso somente quando jogava no Flamengo, o que acabou me tirando deste Mundial. Mas como estava entrosado em vários aspectos, houve um movimento do Zagallo e dos jogadores para eu ficasse na Delegação e pudesse atuar como espião junto com o Parreira, que na ocasião era o Preparador Físico. Nós observávamos todos os jogos dos possíveis adversários do Brasil, fazíamos relatórios, juntávamos os jogadores e percebemos que todas as informações que demos ao Zagallo foram aproveitadas, chegando a ganhar os jogos na véspera, neutralizando as jogadas táticas dos times que enfrentávamos  e criando as alternativas pra Seleção conquistar vitórias. Foi importante porque, de um certa forma, o que não pude fazer dentro do campo como gostaria, contribuí nessa condição de observador.
Jairzinho, Rogerio e Parreira com a Taça jules Rimet conquistada no Mexico em 1970


FTT: Termina 1970, com o Brasil campeão. Começa 71 e você é emprestado ao Santos Futebol Clube, numa troca com o Carlos Alberto Torres, pra disputar o Campeonato Paulista.
ROGÉRIO: Uma fase muito interessante. Quem me trouxe ao Santos foi o Antoninho, que sempre quando nos cruzávamos em aeroportos, ele dizia que eu iria jogar no Santos, o que realmente aconteceu, fazendo um grande esforço para que jogasse no clube. Joguei pouco tempo, porque o Flamengo, sem que eu soubesse, já estava transando a minha ida ao Rio de Janeiro. Acho que joguei apenas uns quatro meses no Santos e voltei ao Rio com o Flamengo comprando o meu passe do Botafogo. Mas no Santos também foi muito importante, excursionei com o time na Europa, jogando com o Pelé, uma pessoa fantástica, sendo que nessa época ele  anunciou que não jogaria mais na Seleção Brasileira, havendo uma campanha muito grande contra ele, pois não estava muito em forma, mas conseguiu jogar depois no Cosmos. Nós acompanhávamos, torcendo para que ele continuasse, mas, se fosse hoje, jogaria normalmente. Naquela época, quando o jogador se aproximava dos 30 anos e tivesse qualquer contusão, já achavam que tinha que parar. Atualmente quando se tem 35 anos, o pessoal acha que pode chegar aos 40.


FTT: Você é contratado pelo Clube de Regatas do Flamengo, com uma torcida gigantesca e sempre presente nos estádios. Fale sobre essa participação dos torcedores e atuando ao lado de jogadores como o Zico, Geraldo e tantos outros.
ROGÉRIO: O treinador era o Fleitas Solich e o Flamengo estava em preparação. Costumo dizer que o Botafogo levou um “no hall” muito grande  pro Flamengo, porque de repente o Zagallo foi para o clube, junto com o Admildo Chirol, Moreira, Roberto Miranda, Paulo Cesar Caju e eu. A turma que vinha das equipes de Base, como o Zico e o Júnior, acompanhando todo o trabalho que era feito, começando a jogar no time principal. Na minha época, o Zico já funcionava. Tinha também o Doval. Fomos Campeões Cariocas em 1972, contra o Fluminense e joguei na linha de ataque com o Liminha, Doval, Caio Cambalhota e Paulo Cesar Caju.
 No Flamengo Rogerio jogou junto do ex companehrio de Botafogo, Paulo Cesar. Dario que acabou se tornando o artilheiro do campeonato e Zico começando a surgir como craque.

FTT: Você também estava na Seleção Brasileira que foi campeã da Taça Independência em 1972.
ROGÉRIO: Estava sim. Foi uma grande conquista, mas não joguei nenhuma partida nesta competição.

FTT: Passada a fase do Flamengo, em 1974 você retorna ao Botafogo, jogando em num time um pouco diferente ao que atuava no final da década de 60, atuando junto com o Marinho Chagas. Como foi o final da carreira no clube que o revelou?
ROGÉRIO: Aí já peguei a fase do Paulo Amaral, que retornava. Estava entrando em forma novamente e achei que não dava mais pra continuar insistindo, a minha cabeça estava a frente do meu corpo, não acompanhava o que queria fazer, sentindo que seria forçar demais a minha natureza, resolvi não insistir e entrar em outras área que já tinha desejo, o que foi uma decisão acertada.
Estela fotografa do blog, Mauricio Sabará e Rogerio com fotos retratando a historia do craque.

FTT: Rogério Hetmanek encerra a carreira de jogador de futebol e procura novos caminhos. Hoje é presidente da Fundação Mokiti Okada. Fale do seu início na Igreja Messiânica e como funciona essa Fundação.
ROGÉRIO: Quando parei realmente de jogar futebol, sentia a necessidade de entrar pra faculdade, estudar Direito e posteriormente entrei para o campo da Filosofia, fazendo Pós-Graduação, formando-me como Mestre de Filosofia na PUC de São Paulo. Hoje estou a frente da Fundação Mokiti Okada, desenvolvendo todo o tipo de atividade educacional e artística, além de todas as formas de manifestação relacionadas à saúde, meio ambiente e comida natural sem agrotóxicos. A Fundação é bem ampla, pegando parta da atividade humana, com uma filosofia própria, respeitando a verdade da lei da natureza, algo muito interessante e até inédito, pois não estamos apenas teorizando, mas pragmatizando. Iniciamos também o curso de Teologia na Faculdade Messiânica, sou o vereador dela, estando prestes de introduzir a Pedagogia. É uma atividade que sentimos como importante para a melhoria do mundo, contribuindo efetivamente.

FTT: A Fundação também contribui com alguns shows, como pode ser visto neste cartaz da família do Jair Rodrigues.
ROGÉRIO: Estamos revivendo o Festival da Record, com os 40 anos de fundação da Mokiti Okada, criamos o Festival da Canção Arte da Natureza, colocando com tema mais de 300 canções sobre este tema, com artistas consagrados, que estão participando, com uma premiação também bem interessante, intercalando com o show do Jair Rodrigues com os seus filhos, o Jairzinho e a Luciana Mello, homenageando o Jair por ser o grande vencedor do Festival. Você e sua noiva também estão convidados para este show que acontecerá no Parque do Ibirapuera, no próximo dia 30 de Outubro. Fazemos isso junto com a Secretaria do Meio Ambiente, buscando maior conscientização do ser humano pela natureza e de sua importância. O homem pensa que ele é quem preserva ela, mas não percebe que é a própria natureza que vem preservando a vida dele há muito tempo. A extinção da natureza será antes a extinção do homem, que depende dela. Estamos dando essa consciência e, através da música, que é uma linguagem universal, preparamos esse movimento em respeito à lei da natureza.

FTT: Que bacana, Rogério. Muito obrigado pela matéria, parabenizo-o pelo grande jogador que foi e também por esse belo trabalho feito através da Fundação Mokiti Okada. Cumprimento-o com muita satisfação.
ROGÉRIO: Eu agradeço a oportunidade. Sei que você tem muito interesse em divulgar ao seu publico e pra sociedade em geral.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Revista do Dia - MINAS ESPORTIVA


A Revista Minas Esportiva trazia em sua capa de Dezembro de 1943 o meio campo Nogueirinha. Ele havia conquistado o primeiro titulo do clube com o novo nome de Cruzeiro neste ano.

Encontros eternizados - PAULINHO VALENTIM & CARRIZO

Encontro dos anos 60 com o lendario goleiro do River Plate Amadeo Carrizo e o maior goleador pelo Boca Juniors dos clássicos entre os dois times, o brasileiro Paulinho Valentim.

sábado, 8 de outubro de 2011

O craque disse e eu anotei - JULIÃO

Desde quando comecei as minhas entrevistas, sempre tive interesse em entrevistar o Julião, por ser um dos remanescentes do time corintiano da década de 50. Obtive o contato do filho dele (Antonio de Assis Souza Julião) através do Blog do Silvinho (http://blogdosilvinho.wordpress.com/2009/04/12/2808/). A entrevista foi mais um bate-papo, puxando assunto com ele através do que eu conheço do Corinthians desta época, além também dos outros clubes que ele atuou. Quem também participou da matéria foi o seu filho, que também foi jogador de futebol. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu em Piracicaba no dia 11 de Abril de 1929. Lembra-se de quando começou a gostar de futebol, se já torcia por algum time e quais eram os jogadores que admirava?
ANTONIO ELIAS JULIÃO: Nasci em Piracicaba. Comecei a jogar no Clube Atlético Piracicabano, onde eu era Amador, jogando em um time da roça. Desde garoto já era corintiano. Fui fã do Teleco e Servílio. Gostava também do Brandão e do Dino Pavão, pois eram todos negros como eu (risos). Quando vim para o Corinthians, todos eles, inclusive o Jango, já tinham parado.

FTT: Chegou ao Corinthians em 1950. E no ano seguinte conseguiu ser Campeão Paulista depois de dez anos, sendo que a linha-média era formada por Idário, Touguinha e Julião.
JULIÃO: Eu era o titular e o Roberto Belangero na reserva. O meu estilo de jogo, no início, era técnico, mas depois de uma fratura na perna, mudei a minha forma de jogar, passando a ser mais viril. Da mesma forma que o Idário e o Goiano, eu batia muito, mas éramos viris. O Roberto já era um jogador bem técnico, sendo que jogou também muitas partidas em 1951. No ano seguinte, quando fomos Bicampeões Paulistas, ele já era o titular e eu jogava mais atrás, como lateral-esquerdo. Sempre fui um jogador bem defensivo.
Campeão Paulista de 1951 - Idário, Touguinha, Lorena, Cabeção, Julião, Murilo e o Técnico Rato. Agachados: Claudio, Luizinho, Baltazar, Jackson e Carbone


FTT: Você participou daquela excursão à Europa, em 1952, sendo que, a partir dela, o Corinthians estabeleceu o recorde brasileiro de partidas internacionais sem perder, um total de 32 jogos. Tem lembranças desta excursão, onde jogaram na Turquia, Dinamarca, Finlândia e Suécia (http://www.youtube.com/watch?v=692RAsjMWfw)?
JULIÃO: Foi a primeira excursão do Corinthians à Europa. O time foi muito bem, perdendo apenas no jogo de estréia, contra o Besiktas, da Turquia.
Idario, Touguinha e Julião

FTT: Falarei de alguns nomes da época pra você comentar. O que achava de jogadores como o Cláudio, Luizinho, Baltazar, Mário e do presidente Alfredo Ignácio Trindade?
JULIÃO: O Cláudio Cristovam de Pinho era um excelente ponta-direita, o nosso chefe e batia muito bem as faltas; Luizinho costurava os adversários, driblava bem e acabava com o jogo; Baltazar era o Cabecinha de Ouro, saltava mais que os zagueiros, com o Cláudio centrando e ele cabeceando; o ponta-esquerda Mário era o bailarino, que driblava como ninguém; e o presidente Alfredo Ignácio Trindade exigia que ganhássemos os jogos, pois era bem bravo.

FTT: Em 1954 você foi emprestado para o Linense e não foi Campeão Paulista do IV Centenário da cidade de São Paulo.
JULIÃO: Fui bem em Lins. O Linense não estava muito bem, então acabei indo pra lá para ajudar. Dei sorte, o time não foi rebaixado, me trataram muito bem lá e no ano seguinte retornei ao Corinthians.
Julião jogou no Linense em 1954.


FTT: Começa 1955, com o Corinthians acabando de ser Campeão Paulista, você retorna ao time e jogando mais dois anos. Depois é contratado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, tendo a honra de jogar com o seu irmão, o Benedito Julião. Gostou dessa nova fase? Fale também do clássico Come-Fogo entre o Comercial e o Botafogo.
JULIÃO: O Benedito era zagueiro-central e eu jogava como lateral-esquerdo, quarto-zagueiro (quando formava a zaga com ele) e de médio-volante. Havia o Come-Fogo contra o Comercial, que era um clássico forte e não havia favorito.

FTT: Como você jogou muito na lateral-esquerda, perguntarei de um jogador que sofreu muito a sua marcação, o Julinho Botelho.
JULIÃO: Cheguei a marcá-lo bastante. Ele era muito bom.
Botafogo RP 1957 -  Digão, Tarciso, Tiri, Guina, Antonio Julião e Machado. Agachados : Laerte, Silva, Antoninho, Henrique e Géo


FTT: E o Garrincha também?
JULIÃO: Também. Tanto ele, como o Julinho, eram infernais.

FTT: Fiquei sabendo da sua esposa que você também marcou o Pelé.
JULIÃO: Quando ele estava começando, mas foi mesmo na época do Botafogo. Eu tentava (risos). Tinha que marcá-lo duro, senão ele marcava muitos gols.

FTT: Lembra-se também de ter jogado no Jaboticabal?
JULIÃO: Também joguei. Acho que encerrei a carreira nele ou no Botafogo de Ribeirão Preto. Fiquei pouco tempo neste clube, uns três ou cinco meses, ou seja, uma passagem bem rápida pelo Jaboticabal. Parei de jogar em 1962.

FTT: Depois você foi treinador do Botafogo de Ribeirão Preto.
JULIÃO: Fui sim. Uma boa experiência.


FTT: Na Seleção Brasileira jogou apenas uma partida, no dia 24 de Janeiro de 1956, derrota por 4 a 1 para o Chile, jogo válido pelo Sulamericano do Uruguai, quando você ainda era jogador do Corinthians.
JULIÃO: Foi muito bom. O Brasil era representado nesta competição por uma Seleção Paulista e o Oswaldo Brandão foi o nosso técnico.

FTT: Você acompanha o Corinthians atualmente?
JULIÃO: Não muito, mas estou sempre no Parque São Jorge.

FTT: Gostou daquela homenagem feita pelo Movimento Pró-Corinthians, quando completou 80 anos, ganhando inclusive uma camisa com o seu rosto estampado nela?
JULIÃO: Gostei muito e fiquei bem emocionado.
Julião com Mauricio Sabará segurando uma foto dos seus tempos de idolo corinthiano



FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Agora falarei com o filho do Julião, o Antonio de Assis Souza Julião, que foi quem me ajudou a conseguir o contato com o pai. Curiosamente também era jogador de futebol. Você nasceu em 1952, quando o Julião estava excursionando com o Corinthians na Europa.
ANTONIO DE ASSIS SOUZA JULIÃO: Correto, ele estava, se não me engano, na Suécia. Havia dois recém-nascidos naquele time, que eram os filhos do Julião e do Rodolfo Carbone. Quando voltaram, as crianças já tinham quarenta dias. O filho do Carbone é conhecido como Nenê.

FTT: Como foi a relação com o seu pai como jogador de futebol? Chegou a vê-lo jogar?
ANTONIO DE ASSIS: Mesmo sendo muito novo, cheguei a vê-lo jogar no Corinthians. Morávamos na Rua São Jorge número 575. Naquela época não havia a Marginal Tietê. Nos dias dos jogos do Corinthians, com três anos de idade, já descia pra lá, todo mundo me conhecia no Parque São Jorge, via os jogos e tenho boas recordações. Quis ser jogador de futebol, porque queria ser igual ao meu herói, querendo imitar o meu pai. Mas o vi jogando mais no Botafogo de Ribeirão Preto.
Corinthians nos anos 50 - Alan, Idário, Julião, Gilmar, Olavo e Roberto Belangero . Agachados estão Cláudio, Luizinho, Rafael, Paulo Pedra e Zezé


FTT: Além do seu pai, você tinha outro ídolo no futebol?
ANTONIO DE ASSIS: Os próprios companheiros do meu pai e, indubitavelmente, o Pelé.

FTT: Nunca jogou no Corinthians?
ANTONIO DE ASSIS: Minha carreira começou no Corinthians, indo treinar nos Juvenis. Os outros garotos ficavam brincando comigo, dizendo que estava lá porque o meu pai havia jogado no clube. Resolvi ir pra outro time, pra provar que sabia jogar. Passeis pelos Juvenis do Juventus, uma temporada na Portuguesa de Desportos e fui contratado pelo Palmeiras, onde me profissionalizei.

FTT: Curiosamente foi reserva do lateral-direito do Eurico, na segunda Academia do Palmeiras.
ANTONIO DE ASSIS: Exato. Inclusive na decisão de 1974, morávamos ainda na Rua São Jorge e era uma briga pra sair de casa depois da vitória por 1 a 0. A coisa ficou difícil lá no pedaço (risos).

FTT: Chegou a jogar partidas por este time?
ANTONIO DE ASSIS: Joguei algumas partidas amistosas e, se não me engano, enfrentei o Jorge Wilsterman, da Bolívia, pela Libertadores da América, curiosamente numa Sexta-Feira da Paixão. Foi uma passagem boa, ficando lá por quatro anos. Cheguei a ser emprestado ao Pontagrossense do Paraná.
Julião, Antonio Julião (filho) e Mauricio Sabará


FTT: Como você era conhecido lá?
ANTONIO DE ASSIS: Era Julião mesmo. Tem algumas matérias dos jornais da Gazeta Esportiva da época, contando sobre este fato de ter jogado nos dois Parques, o São Jorge e o Antarctica. Foi um tempo muito bom.

FTT: O time do Palmeiras realmente era uma Academia?
ANTONIO DE ASSIS: Sim, um time muito regular e pra conseguir uma vaga ali era muito difícil. O nosso treinador era o Oswaldo Brandão, que também treinou o meu pai no Corinthians da década de 50. Inclusive ele comentava que era muito mais fácil o futebol na época dele do que no tempo que comecei a jogar, pois o preparo físico já era mais acirrado, os espaços no campo eram mais diminutos e hoje ainda é mais difícil.

FTT: Tinha também o irmão do seu pai, já falecido, que também foi jogador de futebol.
ANTONIO DE ASSIS: Correto, o Benedito Julião, falecido em 1972, por causa de um problema renal, acabou partindo.
Na foto aparece Julião jogando no Botafogo RP ao lado do ex companheiro Olavo do Corinthians


FTT: Ele formou a zaga do Botafogo de Ribeirão Preto com o seu pai.
ANTONIO DE ASSIS: Jogava de beque-central e meu pai às vezes como quarto-zagueiro. Batiam até na mãe se passasse pela frente (risos).

FTT: A sua mãe comentou que você estudou com o Sócrates.
ANTONIO DE ASSIS: Quando morava em Ribeirão Preto. Ele estudava Medicina e eu me formei em Administração de Empresas.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.