FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Craque disse e eu anotei - NARDO

Consegui o telefone do Nardo através do meu amigo jornalista Celso Unzelte. Ele ficou muito feliz por ter sido lembrado e deu a entrevista para o blog FTT com muita satisfação e emoção. Confiram a matéria.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Como foi o seu começo no Corinthians?
NARDO: Comecei em 1947 como infantil e fui campeão juvenil em 48. Passei pra profissional de 49 pra 50. Na época a linha era formada por Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário. Eu era reserva do Batata (Baltazar), que era o maior ídolo da época. Quando ele ia pra Seleção Brasileira, eu pegava o lugar dele. Joguei poucas partidas no time campeão de 51.

Corinthians anos 50 : Cabeção, Homero, Idário, Touguinha, Julião e Rosalém. Agach:  Cláudio, Luizinho, Baltazar, Nardo e Colombo


FTT: Como jogava esta linha que fez 103 gols?
NARDO: O ponta-esquerda Mário era o maior driblador que tinha em São Paulo, nunca vi ninguém igual pra driblar. Depois apareceu o Canhoteiro, mas o Mário era mais habilidoso. Ele não queria fazer gols e, quando fazia, dizia que errou, sendo que todos queriam fazer. Cláudio, Luizinho e Roberto Belangero eram os que armavam o jogo. O capitão era o Cláudio, que mandava no time do Corinthians e até no presidente Alfredo Ignácio Trindade, pois tinha uma personalidade extraordinária. O Trindade veio depois do presidente Fló Júnior. Na época o técnico era o José Castelli (Rato) e depois veio o Oswaldo Brandão.


Claudio, Luizinho, Carbone, Mario e Baltzaar - O ataque dos 100 gols em 1953.


FTT: Em 52 você foi emprestado para o Comercial. Fale sobre esta passagem.
NARDO: O presidente era o Rafael Oberdan de Nicola e ele contratou o Dino, Gino e eu. O ataque era Alcir, Gino, eu, Dino e Esquerdinha. Tinha também o Cavani, Pascoal e Lamparina. O Clóvis e o Alan jogaram no Corinthians.


FTT: Como foi a sua passagem pelo futebol italiano?

NARDO: Sinceramente eu não fui feliz, correspondi pouco ao que eles pretendiam na Juventus. A mãe da minha esposa estava doente e resolvemos voltar. Casei em 55, no mesmo ano que fui pra Itália, após o título do IV Centenário.
Mauricio Sabará e Nardo com a faixa da Juventus, clube que defendeu na Italia.


NARDO VAI PARA O RIVAL PALMEIRAS














FTT: Em 56 você veio para o Palmeiras. Fale desta época. Você atuou com o Waldemar Fiúme e o Mazzola?

NARDO: Joguei com eles. Depois teve a linha de 59, quando fomos campeões, com Julinho, Américo, Chinesinho e Romeiro. Tinha também o Ênio Andrade, Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Zequinha, Aldemar e Geraldo Scotto. O Aldemar, que veio do Santa Cruz, era o maior marcador do Pelé, não dava nenhum pontapé.


Nardo o pequeno Mauro Betting e o lendario
goleiro palmeirense Oberdan Cattani


FTT: Mas, antes deste título de 59, houve um jogo histórico do Palmeiras, que foi uma derrota de 7 a 6 para o Santos no Rio-São Paulo de 58. Inclusive você marcou um gol nesta partida. Foi o jogo da sua vida?

NARDO: Não foi. Tive muitas partidas mais vibrantes, como a do gol do Romeiro em 59, sendo campeão em cima do Santos de Pelé. Foi uma melhor de três. No primeiro jogo foi 1 a 1, o segundo 2 a 2 e, no terceiro, ganhamos por 2 a 1 de virada. Vencemos o ataque que tinha Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. O baixinho Pagão era um fora-de-série.

59 - Djalma Santos, Valdir, Valdemar Carabina, Aldemar, Zequinha e Geraldo Scotto.
Agach Julinho Botelho, Nardo, Américo Murolo, Chinesinho e Romeiro.

FTT: Vocês percebiam que o Pelé, antes da Copa do Mundo de 58, já seria esta fera?
NARDO: Ele teve o dom de Deus. Não aparece mais ninguém igual. Jogue contra Puskas e Pedernera, vi jogadores fora-de-série, mas como o Negão nunca apareceu. Foi um escolhido por Deus.

FTT: Houve algum jogador que te influenciou e que você queria imitar?
NARDO: Tinha o Zizinho que era armador, sendo que eu era atacante. Teve muitos jogadores. Não cheguei a ver o Leônidas jogar, pois era muito pequeno, mas sei que foi um fora-de-série. Havia o Pagão, que era muito habilidoso.

FTT: Quem foi o seu grande marcador?
NARDO: Teve muitos. O São Paulo tinha Bauer, Rui e Noronha. O Mauro Ramos de Oliveira foi o maior beque-central que vi jogar, era um craque, tinha muita categoria e habilidade impressionante.

FTT: Como foi o título do Super Campeonato de 59?
NARDO: Foi muito importante, porque vencemos o time do Pelé, que era o maior jogador do mundo. Vencer eles foi motivo de muita alegria. O Palmeiras também tinha uma grande equipe.
O reporter Reali Junior com o microfone da TV Record,
logo a seguir Geraldo Scoto abraçando Nardo,
e Julinho sendo abraçado.

FTT: Você também jogou na Portuguesa?
NARDO: Joguei entre 61 e 62. Atuei com Servílio (filho do Bailarino), Sílvio, Jairzinho, Félix, Nélson, Ditão, Hermínio, Jutis, Vilela. O time da Portuguesa era muito bom. Eram jogadores que já eram formados para serem craques. O único grosso era eu (risos...). No Corinthians eu era reserva do Baltazar, o que era muito orgulho pra mim, porque foi o maior cabeceador que vi jogar, pois era o Cabecinha de Ouro, subia e marcava os gols.


FTT: Qual destas duplas você se entendeu mais: Cláudio e Luizinho ou Julinho e Américo?

NARDO: Cláudio e Luizinho. Um capitão como o Cláudio nunca mais aparecerá. Grande batedor de faltas, era bom em tudo, mandava no time, escalava a equipe, um jogador fora-de-série.

FTT: O que você tem achado do Corinthians e do Palmeiras nestes últimos anos?
NARDO: Caíram muito em questão de time. O futebol de hoje é bem diferente do que se jogava na minha época. Antigamente eram 5 atacantes, sendo que hoje é matemático, com 3 ou 2.

8 comentários:

  1. Parabéns, Maurício!

    Mais uma bela página reescrita aqui neste 'blog-revista', pra ficar registrada na história do nosso futebol.
    A forma emocionada como Nardo comenta e enaltece seus companheiros... da admiração que sente ao se referir ao Pelé, tanto como ídolo quanto adversário em campo; eu achei que ele acabou se escondendo atrás de uma modéstia tão grande (coisa rara, atualmente) que sobre Ele mesmo, pouco revelou. Por isso ele merece: "O Craque disse e eu anotei" - NARDO (parte II) (:

    Um abraço!

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  2. Sabará, impressão minha ou antigamente o futebol era movido por mais emoção?
    A gente nota um respeito e admiração dos atletas não só pelos companheiros de clubes que atuaram, mas tb pelos adversários e toda a entidade.
    Sem querer, mas sendo, saudosista... show de bola!!!

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  3. A entrevista com o Nardo foi uma das que mais me agradaram. Ele ficou muito agradecido por ter sido lembrado, já que está prestes a completar 80 anos. Além de entrevistado, passei a considerá-lo também como um novo amigo, assim como a Dona Helena, a sua esposa. Agradeço pelos comentários da Ladyneide e do Cleverson. Realmente o Nardo, como boa parte dos jogadores do passado, sabem enaltercer os companheiros e adversários. Época esta onde a rivalidade só existia mesmo dentro do campo, sendo que fora eram amigos. Cleverson, o futebol do passado realmente era movido por mais emoção. Eu faço estas entrevistas com grande satisfação e faria até mais, só lamentando que muitos da época do Nardo não estejam mais vivos para entrevistá-los. Na semana seguinte que entrevistei o Nardo, fiz outra entrevista com o ex-goleiro Cabeção, do qual respondeu com muita lucidez ao que perguntei. Em breve também estará publicada no blog. Gosto tanto de fazer isso, que até entrevistaria jogadores de outras cidades e estados. Abraço a todos!

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  4. Que maravilha de entrevista,coisas que aconteceram antes mesmo de eu nascer,isto é uma aula de história,isto é FTT

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  5. Quanta felicidade deve ter sido para Nardo que só jogou no meio de feras desde o Corinthians jogando ao lado de Baltazar, Claudio, Luizinho, Mario, Belangero, Gilmar passando depois no Palmerias de Djalma Santos, Geraldo Scotto, Julinho Botelho, Chinesinho e Zequinha.
    Sua humildade em relatar os fatos é digna de um grande profissional.

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  6. A última pergunta feita pelo Mauricío sobre qual dupla ofensiva ele se indentificou mais (Luizinho e Cláudio ou Américo e Julinho Botelho), mostra como nosso país era farto de craques nessa época . Julinho teve mais vizibilidade do que o Cláudio, mais o próprio Nardo ao meu ver deixou lúcido que o capitão do ataque dos 100 gols de 51 foi tão bom quanto o maior ponta depois de Garrincha . Disse ainda que Mário era o maior driblador de São Paulo, sendo que nessa época tínhamos jogadores como Canhoteiro com também caracteristícas de driblar . Realmente um belissíma entrevista .

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  7. O futebol, era mais esporte, hoje virou um comercio, com apostas, e os jogadores viraram, junto aos tecnicos, dirigentes, mercenarios, todos, infelizmente todos. Só na varzea ainda se encontra o autentico futebol, isto é, esporte.. Vejam o estrago que produziu o Andrews Jennings, denunciando a corrupta FIFA, Comebol, Federações, mas ninguem está preso.. Todos soltitos da silva, na 5 avenida, vivendo a custas do torcedor idiota, que ainda vai a campo.

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  8. Um pedido que havia esquecido: seria possivel publicar nas reportagens, o nome do pais dos jogadores, seu peso, altura, etc, um perfil completo, é possivel ?

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