Obtive o contato do Rogério Hetmanek de uma forma bem curiosa. Recebi um e-mail da Helen, que faz parte da Fundação Mokiti Okada (M.O.A), pedindo o telefone do Leivinha, que eu já tinha entrevistado. Passei o contato dele, sendo que ela também havia passado o telefone do Rogério. Não perdi tempo e aproveitei pra me contatar com o ex-ponta na segunda-feira dia 10 e marcando a entrevista na quarta-feira dia 12. Foi uma matéria bem rápida, mas fiquei na Fundação durante três horas, pois conversar com o ex-jogador acabou sendo bem gratificante, porque é dotado de muita inteligência e sabedoria, qualidades essas adquiridas na Igreja Messiânica, da qual ele é o presidente. Confiram a matéria.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu no dia 02 de Agosto de 1948 no Rio de Janeiro e me contava a pouco que começou como na várzea, mas não era propriamente um ponta-direita.
ROGÉRIO HETMANEK: O meu ídolo na época era o Pelé e eu jogava com a 10, começando na posição de meia-esquerda. Posteriormente, no Botafogo-RJ, também joguei como meia nas equipes de Base. Quando abriu uma brecha no time Profissional, foi justamente na ponta. Eu driblava muito, o treinador era o Zagallo e com o apoio do Neca, que também treinava os times de cima, acabei me efetivando na ponta-direita e nunca mais deixei essa posição.
Rogerio com a faixa de campeão carioca juvenil de 1966
FTT: Jogando na ponta-direita no Botafogo, formou uma linha de ataque fantástica, ao lado de Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cesar Caju. Falei sobre essa linha.
ROGÉRIO: Essa linha de ataque realmente marcou época, pois ganhávamos tudo entre 1967 e 1969. Eu sempre cito que foi a única linha que fez parte de uma Copa do Mundo, algo que nem o Santos, na sua época áurea, conseguiu colocar os cinco. Muitos falam que o Gérson já era do São Paulo, mas conhecia a todos nós.
FTT: Por sinal o Gérson formava a ala-direita do Botafogo contigo. Comente sobre esse grande jogador.
ROGÉRIO: O Gérson foi um fora-de-série e era tido por todos nós como o maestro do time, ditando as jogadas, falava muito, ou seja, um treinador dentro do campo. Foi realmente um craque inigualável e não apareceu ninguém igual. Pensamos atualmente que o Ganso pode chegar perto, mas ainda está bem longe.
FTT: Rogério, no Botafogo você foi Bicampeão Carioca e venceu uma Taça Brasil, conquistas muito importantes. Vocês acham que eram tão badalados como o antigo ataque do time, formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo?
ROGÉRIO: Foram duas épocas marcantes no Botafogo. O time sempre esteve presente nas Copas do Mundo, com os jogadores se destacando muito. Entre 1958 e 1962, havia uma Base muito boa do Botafogo e em 70 também, além da Comissão Técnica, oferecendo bastante à Seleção Brasileira.
FTT: Qual era o lateral-esquerdo que te dava mais trabalho?
ROGÉRIO: Provavelmente o Marco Antônio, que jogava no Fluminense, pois foi quem mais enfrentei no Botafogo e Flamengo.
FTT: No final dos anos 60, o Botafogo estava numa grande fase, com praticamente todo o ataque na Copa do Mundo de 1970. Por sinal, você era o ponta-direita titular da Seleção, mas, pouco antes da Copa sofreu uma distensão muscular e acabou saindo do time do Brasil, sendo que continuou na Delegação. Conte sobre esse fato.
ROGÉRIO: Sempre digo que aquela Seleção foi uma das melhores em preparo físico para uma competição. Todos os jogadores que estavam naquela Delegação, viviam o seu auge em condição atlética. Eu já tinha certo reconhecimento no México, porque o Botafogo jogava todo o ano neste país, pois as excursões sempre passavam por lá. Realmente era uma Copa que tinha tudo pra chegar próximo ao Garrincha, revivendo-o, era uma esperança e estava no time ideal. Mas, infelizmente, devido a uma contusão fácil de ser resolvida, pois bastava fazer alongamento e eu não fiz, descobrindo isso somente quando jogava no Flamengo, o que acabou me tirando deste Mundial. Mas como estava entrosado em vários aspectos, houve um movimento do Zagallo e dos jogadores para eu ficasse na Delegação e pudesse atuar como espião junto com o Parreira, que na ocasião era o Preparador Físico. Nós observávamos todos os jogos dos possíveis adversários do Brasil, fazíamos relatórios, juntávamos os jogadores e percebemos que todas as informações que demos ao Zagallo foram aproveitadas, chegando a ganhar os jogos na véspera, neutralizando as jogadas táticas dos times que enfrentávamos e criando as alternativas pra Seleção conquistar vitórias. Foi importante porque, de um certa forma, o que não pude fazer dentro do campo como gostaria, contribuí nessa condição de observador.
Jairzinho, Rogerio e Parreira com a Taça jules Rimet conquistada no Mexico em 1970FTT: Termina 1970, com o Brasil campeão. Começa 71 e você é emprestado ao Santos Futebol Clube, numa troca com o Carlos Alberto Torres, pra disputar o Campeonato Paulista.
ROGÉRIO: Uma fase muito interessante. Quem me trouxe ao Santos foi o Antoninho, que sempre quando nos cruzávamos em aeroportos, ele dizia que eu iria jogar no Santos, o que realmente aconteceu, fazendo um grande esforço para que jogasse no clube. Joguei pouco tempo, porque o Flamengo, sem que eu soubesse, já estava transando a minha ida ao Rio de Janeiro. Acho que joguei apenas uns quatro meses no Santos e voltei ao Rio com o Flamengo comprando o meu passe do Botafogo. Mas no Santos também foi muito importante, excursionei com o time na Europa, jogando com o Pelé, uma pessoa fantástica, sendo que nessa época ele anunciou que não jogaria mais na Seleção Brasileira, havendo uma campanha muito grande contra ele, pois não estava muito em forma, mas conseguiu jogar depois no Cosmos. Nós acompanhávamos, torcendo para que ele continuasse, mas, se fosse hoje, jogaria normalmente. Naquela época, quando o jogador se aproximava dos 30 anos e tivesse qualquer contusão, já achavam que tinha que parar. Atualmente quando se tem 35 anos, o pessoal acha que pode chegar aos 40.
FTT: Você é contratado pelo Clube de Regatas do Flamengo, com uma torcida gigantesca e sempre presente nos estádios. Fale sobre essa participação dos torcedores e atuando ao lado de jogadores como o Zico, Geraldo e tantos outros.
ROGÉRIO: O treinador era o Fleitas Solich e o Flamengo estava em preparação. Costumo dizer que o Botafogo levou um “no hall” muito grande pro Flamengo, porque de repente o Zagallo foi para o clube, junto com o Admildo Chirol, Moreira, Roberto Miranda, Paulo Cesar Caju e eu. A turma que vinha das equipes de Base, como o Zico e o Júnior, acompanhando todo o trabalho que era feito, começando a jogar no time principal. Na minha época, o Zico já funcionava. Tinha também o Doval. Fomos Campeões Cariocas em 1972, contra o Fluminense e joguei na linha de ataque com o Liminha, Doval, Caio Cambalhota e Paulo Cesar Caju.
No Flamengo Rogerio jogou junto do ex companehrio de Botafogo, Paulo Cesar. Dario que acabou se tornando o artilheiro do campeonato e Zico começando a surgir como craque.
FTT: Você também estava na Seleção Brasileira que foi campeã da Taça Independência em 1972.
ROGÉRIO: Estava sim. Foi uma grande conquista, mas não joguei nenhuma partida nesta competição.
FTT: Passada a fase do Flamengo, em 1974 você retorna ao Botafogo, jogando em num time um pouco diferente ao que atuava no final da década de 60, atuando junto com o Marinho Chagas. Como foi o final da carreira no clube que o revelou?
ROGÉRIO: Aí já peguei a fase do Paulo Amaral, que retornava. Estava entrando em forma novamente e achei que não dava mais pra continuar insistindo, a minha cabeça estava a frente do meu corpo, não acompanhava o que queria fazer, sentindo que seria forçar demais a minha natureza, resolvi não insistir e entrar em outras área que já tinha desejo, o que foi uma decisão acertada.
Estela fotografa do blog, Mauricio Sabará e Rogerio com fotos retratando a historia do craque.FTT: Rogério Hetmanek encerra a carreira de jogador de futebol e procura novos caminhos. Hoje é presidente da Fundação Mokiti Okada. Fale do seu início na Igreja Messiânica e como funciona essa Fundação.
ROGÉRIO: Quando parei realmente de jogar futebol, sentia a necessidade de entrar pra faculdade, estudar Direito e posteriormente entrei para o campo da Filosofia, fazendo Pós-Graduação, formando-me como Mestre de Filosofia na PUC de São Paulo. Hoje estou a frente da Fundação Mokiti Okada, desenvolvendo todo o tipo de atividade educacional e artística, além de todas as formas de manifestação relacionadas à saúde, meio ambiente e comida natural sem agrotóxicos. A Fundação é bem ampla, pegando parta da atividade humana, com uma filosofia própria, respeitando a verdade da lei da natureza, algo muito interessante e até inédito, pois não estamos apenas teorizando, mas pragmatizando. Iniciamos também o curso de Teologia na Faculdade Messiânica, sou o vereador dela, estando prestes de introduzir a Pedagogia. É uma atividade que sentimos como importante para a melhoria do mundo, contribuindo efetivamente.
FTT: A Fundação também contribui com alguns shows, como pode ser visto neste cartaz da família do Jair Rodrigues.
ROGÉRIO: Estamos revivendo o Festival da Record, com os 40 anos de fundação da Mokiti Okada, criamos o Festival da Canção Arte da Natureza, colocando com tema mais de 300 canções sobre este tema, com artistas consagrados, que estão participando, com uma premiação também bem interessante, intercalando com o show do Jair Rodrigues com os seus filhos, o Jairzinho e a Luciana Mello, homenageando o Jair por ser o grande vencedor do Festival. Você e sua noiva também estão convidados para este show que acontecerá no Parque do Ibirapuera, no próximo dia 30 de Outubro. Fazemos isso junto com a Secretaria do Meio Ambiente, buscando maior conscientização do ser humano pela natureza e de sua importância. O homem pensa que ele é quem preserva ela, mas não percebe que é a própria natureza que vem preservando a vida dele há muito tempo. A extinção da natureza será antes a extinção do homem, que depende dela. Estamos dando essa consciência e, através da música, que é uma linguagem universal, preparamos esse movimento em respeito à lei da natureza.
FTT: Que bacana, Rogério. Muito obrigado pela matéria, parabenizo-o pelo grande jogador que foi e também por esse belo trabalho feito através da Fundação Mokiti Okada. Cumprimento-o com muita satisfação.
ROGÉRIO: Eu agradeço a oportunidade. Sei que você tem muito interesse em divulgar ao seu publico e pra sociedade em geral.
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.
Entrevistar o Rogério Hetmanek foi muito mais que conversar com um ex-jogador, pois trata-se de uma pessoa extremamente inteligente, com muita sabedoria e consciente nas opiniões sobre as melhorias da relação do ser humano com a natureza. Mesmo a matéria sendo rica em detalhes desde o início, é bem interessante ler as suas respostas finais.
ResponderExcluirA cada dia aumenta a importância e responsabilidade da FTT, além preservar a história do futebol nos coloca diante de novas situações a cada entrevista, por conta das atividades não ligadas diretamente ao esporte bretão, mas que nos ensinam pelo exemplo de dedicação daqueles que antes de tudo são excelentes seres humanos, principalmente se preocupando com a preservação da natureza.Parabéns por mais esta Maurício.
ResponderExcluirRogério Hetmanek marcou época no futebol, e com certeza vai marcar época com este trabalho de conscientização pela natureza através da música.
ResponderExcluirEu digo: Mais uma grande jogada do Rogério.
Tantos e tantos poderiam seguir este exemplo.
Mais uma vez parabéns Maurício e Estela pela entrevista e fotos.
Vocês são os craques das entrevistas.
Que legal esta entrevista e diferente, pois percebe a cultura e inteligência do Rogério.
ResponderExcluirMaurício, tudo bem?
ResponderExcluirDescobri seu site com o Carlos. Estudamos juntos há anos atrás. Se precisar de algum material antigo, tenho um contato muito bom, mande um email que passo pra vc.
E parabéns pelo trabalho.
Abração cara.
Hermes Serigati.
Muito bacana essa entrevista, parabéns !!!
ResponderExcluirMuito legal o blog, parabéns pela iniciativa, depois de uma passada no www.footclassics. blogspot.com para fazer uma visita. Abs.
ResponderExcluirConheci essa pessoa a pouco tempo em Porto Seguro ( Julho2012) e tive o prazer de ouvir suas filosofias e seus conhecimentos profundos sobre o assunto, fiquei maravilhada com tanta inteligencia e sabedoria. Foi um dia marcante pra mim.
ResponderExcluirGostaria de parabenizar o blog por esta iniciativa de entrevistar a pessoa que vestiu com tanto orgulho a camisa da seleçao brasileira, quando podiamos chamar futebol de verdadeiro futebol.
Parabens
Gilvania -Ilheus Bahia
Olá amigos do blog F.T.T., encontrei na internet esta entrevista com o jogador Rogério do Botafogo, e vi ele segurando uma foto dos juniores de 1966, eu sou colecionador de fotos dos jogadores do Fogão de todos os tempos, e gostaria de conseguir uma cópia desta foto juntamente com a escalação deste time, se for possivel me ajudar agradeço muito.
ResponderExcluirMeu E-Mail é "solracsiul1004@hotmail.com". um abraço a todos.
Olá amigos, gostei muito da entrevista do Rogério e gostaria de entrar em contato com ele, pois eu gostaria de saber a escalção daquele time da foto dos juniores, já recebi a cópia da foto, só me falta os nomes daquele time, ficarei aguardando, obrigado.
ResponderExcluirNota: O Dificil é ver o Rogério com a camisa do rival.
Olá, depois de tantos anos, conheço a imagem daquele do qual meu pai se inspirou para me dar o nome e o melhor foi saber que o Rogério hoje é homem de bem!!!
ResponderExcluirAtenção: o Rogério não disse "no hall", ele disse "know how", que numa tradução literal quer dizer "saber como". É uma expressão que significa a posse de determinado conhecimento para fazer alguma coisa. No caso da entrevista, ele opina que ao contratar jogadores e comissão técnica do Botafogo, o Flamengo adquiriu junto os métodos que fizeram o time alvinegro tão vitorioso nos anos 60 e que esses métodos influenciaram os jovens flamenguistas da geração campeã do mundo (Zico, Júnior, entre outros).
ResponderExcluirExatamente, Alexandre Lemos, o correto é "know how". Foi um erro de digitação da minha parte, pois muitas vezes digitava rapidamente os meus textos que ouvia e passava para o word, sendo que vários deles fiz da noite até a madrugada. Provavelmente também deve ter erros de digitação em outros.
ResponderExcluirObrigado pela correção.
Abraço