FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Craque disse e eu anotei - PAULO ISIDORO

Paulo Isidoro foi uma das melhores entrevistas que realizei. Uma pessoa simples, aberta , que vive o futebol até hoje. Ele possui uma escolinha para garotos até 16 anos, fazendo um belissimo trabalho social. Logo que cheguei ao local de treinamento fiquei observando as orientações que Paulo Isidoro passava aos aspirantes a futuros craques. Logo se via que o professor entendia do assunto.
Tão logo terminou o treino ele veio me receber e me consedeu uma entrevista contando detalhes interessantes, jamais contados sobre a seleção brasileira de 82 e o Atletico vice campeão brasileiro de 77.
Confiram toda sinceridade e espontaneidade de Paulo Isidoro.




FTT – FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS – Paulo Isidoro. Você começou na base do Atlético e logo que subiu acabou sendo emprestado ao Nacional de Manaus. Para um jovem , chegou a ficar frustado com esta transferência?

PAULO ISIDORO -  Para mim foi muito bom. O Atlético tinha por costume emprestar jogadores revelados na base para pegarem experiencia e minha ida foi muito oportuna. Fiquei em Manaus um ano e lá amadureci bem.


FTT - Foram outros jogadores do Atlético com você para lá?

PAULO ISIDORO - Foram. O interessante foi isto aí , pois foram outros jogadores e nós conseguimos um melhor entrosamento e tambem amenizar a saudade de casa. Eu por exemplo era muito jovem, nunca tinha ficado tão longe da familia e aí era importante esta amizade que levamos de BH.


FTT - Chegou 1975 e você retornou ao Atlético. Quem te lançou no time principal?
PAULO ISIDORO - Foi o Telê. Ele quando eu estava no junior, antes de ir pra Manaus já tinha falado com a diretoria: "este aí voces podem emprestar para o Nacional para pegar experiencia que quando voltar vai pro time de cima."
Não deu outra. Eu voltei e ele me lançou entre os profissionais.

Atlético 1976 - A base do Galo no time profissional
Em pé:  Paulo Benigno, Barbatana, Vantuir, João Leite, Modesto, Ortiz, Gregório (massagista) e Waltinho (massagista); na fila do meio estão Silvestre, Ângelo, Danilo, Marcio, Flávio, Toninho Cerezo, Dionísio e Getúlio; Sentados: Reinaldo, Marinho, Alfredo, Wallace, Marcelo, Paulo Izidoro, Heleno e Marcinho


FTT – Surgia ali o time mágico de garotos formados na base. Paulo Isidoro, Marcelo, Reinaldo, Danival, Cerezo , Marinho e cia. O que dizer deste time?
PAULO ISIDORO - Olha o que eu tenho a dizer hoje é que tenho muitas saudades. Este time marcou a vida de muita gente. Não só a minha como a de outros jogadores como o Angelo, o Cerezo, o Reinaldo e não apenas nós jogadores. Este time marcou a torcida do Atlético. Você ve que até hoje este time da decada de 70 e muito comentado.
Eu inclusive não entendo porque hoje se revela tão poucos jogadores pois a estrutura é muito melhor do que na nossa época, não falta nada e tem aparecido muito poucos jogadores. O trabalho é bem feito mas não sei o que acontece. Talvez a falta de seuqencia, pois hoje os dirigentes querem imediatismo. Então o jogador sobe, joga uma partida e se não jogar bem na segunda já está fora , não tem a chance de ter uma sequencia.




FTT – Por ironia do destino chegou a final do brasileiro em 1977 e o Atlético sem perder um jogo sequer acabou perdendo nos pênaltis.
Você considerava o time do Galo superior ao do São Paulo?

PAULO ISIDORO - Considerava sim, tanto é que os numeros mostram isto. O Atlético era superior . Nós tinhamos 10 pontos a mais do que eles, tinhamos o artilheiro do campeonato, enfim eramos melhores. 


FTT – E o que faltou para o Atlético mostrar em campo esta superioridade?

PAULO ISIDORO - Olha, o que faltou neste jogo foi humildade do Barbatana que ele não teve. Ele mensoprezou um pouco o time do São Paulo, olhou o time deles muito por cima. Inclusive ele mexeu no nosso meio campo, mudou o jeito do time jogar. O Reinaldo fazia falta? (estava suspenso) Fazia , mas tinhamos totais condições de vencer mesmo sem ele. A meu ver o grande culpado foi então o Barbatana. Ele estava totalmente diferente no dia da final. Uma coisa que nós jogadores costumávamos fazer na concentração era lavar nosso carros. Ele não queria que a gente lavasse e proibiu mais um monte de coisas. Eu acabei discutindo com ele e ele me falou que  eu não iria nem jogar então. Eu retruquei e falei que seu eu não fosse jogar era problema dele. 
Chegou na hora do jogo e ele para mostrar sua autoridade me tirou do time titular.




O time saindo de campo derrotado mas com a mesma união vinda da base. 



FTT – Você acredita que se tivesse atuado com o Marcelo , juntos a historia poderia ser outra? Afinal vocês se conheciam desde os juvenis. Você acabou entrando exatamente no lugar dele.

PAULO ISIDORO -  Com certeza. Foi como você disse: nós nos conheciamos desde os infantis. A gente se entendia bem demais e estávamos jogando todo campeonato juntos. Acabou acontecendo muita coisa na concentração que a gente abafava e resolvia por lá pra não vazar para a imprensa.



FTT – O Atlético começava uma hegemonia em Minas a partir de 78. Foi bicampeão em 79 e você acabou sendo trocado pelo Eder com o Grêmio. O porque desta troca?

PAULO ISIDORO - A troca na época foi muito boa, veio no momento exato da minha carreira. Porque eu já tinha feito tudo de bom , tudo que estava ao meu alcance para servir o Atlético. E naturalmnte todo jogador vive aquela expectativa de uma trasnferencia e em 79 existiu a possibilidade desta troca envolvendo eu e o Eder. Sei que eu estava a fim de sair e o Eder parecia que tambem queria voltar pra Minas e a transação foi boa para os dois lados.

PAULO ISIDORO VAI PARA O GRÊMIO GANHAR TITULOS 


FTT – Bem mas você saiu de um grande time e foi parar em outro. Foi para o Grêmio . Se lembra mais ou menos da escalão deste time? 
Leão, Paulo Roberto, Vantuir, Hugo De Leon e o Casemiro ou Dirceu na lateral esquerda, China ou Vitor Hugo, Paulo Isidoro, Vilson Tadei.Tarciso, Baltazar e Renato Sá ou Odair. Este time do Grêmio era muito forte,atroleva mesmo

FTT - Mas na lateral não era o Nelinho? 
PAULO ISIDORO - É mas o Nelinho ficou pouco tempo com a gente. Acho que só um ano. Aí quando ele saiu começou o Paulo Roberto.







FTT – Campeão gaúcho em 80 e da copa do Brasil e Brasileiro em 1981.
Era um time de mais força ou tinha muita técnica também?

PAULO ISIDORO -  Ele aliava as duas coisas. Primeiro ele tinha muita força pra sair  e depois tinha muita tecnica nas finalizações. Nosso contra ataque era mortal. Nosso time era perfeito nas finalizações. O mais interessante é que os adversarios conheciam nossas jogadas mas não conseguiam parar. Eu era muito rapido e me deslocava muito, o Tarciso tambem era muito rápido e o Baltazar tinha uma colocação impressionante dentro da area. E nós treinávamos muito esta jogada. Hora o Tarciso vinha pela ponta e eu no meio hora ele fechava pelo meio e eu caía na ponta. Nossa equipe então aliava força e tecnica.


FTT – Como era jogar com um xerifão como o Dé Leon?
PAULO ISIDORO - Nossa, era um lider nato. Tinha o Vantuir que chegava mais na força e o De Leon que organizava o time na hora de sair ali de trás. Ele ditava o ritmo do time , juntamente com o Vilson Tadei no meio campo.

Grêmio Campeão Brasileiro 1981 - Newmar, Leão, Paulo Roberto, China, casemiro e De Leon, Agachados: Tarciso, Vilson Tadei, Baltazar, Paulo Isidoro e Odair


Paulo Isidoro contra o Flamengo de Adilio.


FTT - Esclareça para os leitores do blog FTT como é esta sensação , este momento que o jogador vive . Você foi criado dentro do Atlético, torce para o clube e depois foi para o Grêmio. Como você se sentiu ao jogar pelo tricolor gaucho contra o Galo dentro do Mineirão, perante a torcida atleticana? 

PAULO ISIDORO - É a coisa que eu mais gostava. Não era porque eu tinha raiva do Atlético não. Era um desafio onde você tinha que realmente mostrar seu lado profissional. Então você vem com mais força, com mais vontade. Eu acho inclusive que é o grande momento para o jogador mostrar seu lado profissional, de superação. 




A INESQUECÍVEL SELEÇÃO BRASILEIRA DE 1982
FTT – Suas atuações foram tão destacadas que Tele passou a te convocar para a seleção brasileira. Como foi fazer parte daquele grupo que foi chamado para a Copa de 1982 ?

PAULO ISIDORO -  Olha naquele ano que eu fui convocado pelo Telê, não tinha como eu não ir. Eu estava numa fase extraordinaria, estava voando, jogando muito mesmo. Neste ano eu ganhei a Bola de Prata e a Bola de Ouro disputando com o Zico. Eu vou ser sincero. Quando eu fui chamado para fazer parte daquele grupo eu pensei comigo: eu não tenho que ficar cheio de humildade não, eu fui chamado porque eu merecí, pelo que eu venho jogando e sei que tenho meu lugar neste time. E fui em busca do meu espaço pois se eu era o Bola de Ouro que quer dizer o melhor jogador do campeonato, eu sabia que tinha todas as condições de estar ali e não era favor.

Edvaldo, Paulo Isidoro, Tita e Cerezo contra os argentinos no Mundialito do Uruguai em 1980.



FTT – Você foi titular da seleção durante quase toda preparação para a Copa.Notava-se que você ajudava muito a cobrir as subidas de Leandro ao ataque e estava muito bem encaixado no esquema. Porque na hora H, quando começou a copa Tele te colocou na reserva?

PAULO ISIDORO - Olha eu tambem nunca entendi isto. Sei que o Telê Santana me decepcionou muito com isto. Gosto demais do Telê , pois foi ele quem me lançou e tudo, mas nesta parte aí ele foi erradíssimo de não ter me colocado. Porque? Porque o time estava entrosado . O Leandro ia para o ataque numa tranquilidade só pois sabia que eu o cobria. Eu fazía a cobertura do Zico tambem e ocupava os espaços ali. Então eu fiquei muito magoado com minha saída e até hoje eu tenho esta magoa.
Até o Jô Soares entendeu minha importancia na época pois ele ficava com aquela brincadeira de "Coloca ponta Telê!" e depois admitiu que minha participação no time era fundamental.



FTT – Contra a Itália você acha que faltou concentração ?
PAULO ISIDORO - Não. O time entrou como sempre, concentrado e focado na partida. No mundo do futebol acontece coisas como esta que a gente não sabe explicar. Como justificar um time superior com o nosso perder. Mas perdeu e acho que aquele dia , era um dia de Paolo Rossi e de uma Italia vencer aquela partida. Era coisa do destino mesmo e o destino reserva supresas para a gente.

Zico sofre a marcação de Gentile enquanto Paulo Isidoro observa mais atrás.


FTT - Você acha que ouve falhas individuais nesta partida?
PAULO ISIDORO - Não, a equipe errou no posicionamento em dois gols. A imprensa na epoca tentou trasferir a culpa para o passe do Cerezo. Absurdo. Todos erraram.


AGORA QUEM DÁ BOLA É O SANTOS 



FTT - Depois da Copa você foi para o Santos. Como foi esta mudança?

PAULO ISIDORO - Eu me reuni com o Milton Teixeira e ele me disse que precisava ganhar um titulo. Ele me falou que estava me levando pra lá pois eu era um ganhador de tituloss e eu disse que ele estava levando o cara certo. Eu disse a ele que estava a tres anos no sul, estava bem mas foram tres anos de frio e já não estava aguentando mais. Ele me contratou então e me disse que estavam pensando em trazer o Serginho Chulapa mas que tinha receio porque o serginho é muito complicado, poderia trazer problemas. Foi então que eu disse. "Traz o homem que nós vamos fechar este grupo e ele não vai dar problema não. Ele vai se enquadrar pode ter certeza".
Não deu outra. Ele veio, foi artilheiro.


 Serginho Chulapa e Paulo Isidoro comemorando mais um gol santista em 1984.


 Paulo Isidoro e Pita comandando o meio campo do Santos.

FTT - E você cumpriu o prometido ao presidente tambem. Campeões paulistas.

PAULO ISIDORO - Pois é. Fomos campeões paulistas e ainda vice brasileiros. Nosso time era muito bom. Nosso meio era com Dema, Paulo Isidoro ,  Humberto e Pita. 

FTT - A final do campeonato paulista contra o Corinthians você se lembra desta partida?

PAULO ISIDORO - Me lembro por dois motivos. Primeiro porque eu estava fazendo este jogo e foi o falecimento do meu pai e depois porque fomos os campeões. Meu pai estava sendo velado naquela noite do jogo em Belo Horizonte. Eu fui pro jogo assim mesmo e conseguimos um titulo que o Santos perseguia algum tempo. Conseguimos ser campeões.

Santos 1984 - Campeão Paulista - Toninho Oliveira, Rodolfo Rodrigues, Márcio Rossini, Toninho Carlos, Dema e Paulo Róbson; agachados: Lino, Paulo Isidoro, Serginho Chulapa, Pita e Camargo.


FTT - Neste time do Santos tinha ainda o Zé Sergio.

PAULO ISIDORO - Nossa, Zé Sergio jogava demais. Ia pra cima mesmo e levava os laterais. Nós comentávamos entre nós, que este  nosso time era praticamente imbativel. Dentro da Vila então a gente não perdia de jeito nenhum.
(A campanha do Santos foi mesmo espatacular . Foram 38 jogos com 22 vitorias,13 empates e apenas 3 derrotas. Foram 54 gols a favor e somente 19 contra)

FTT - E este time começava simplesmente com rodolfo Rodriguez no gol.

PAULO ISIDORO - Nossa senhora. Rodolfo Rodriguez era brincadeira. Para mim foi o maior goleiro com quem eu tive a oportunidade de jogar. Depois vem o Ortiz no Galo.

FTT - E o Ortiz saiu praticamente expulso do Atlético.

PAULO ISIDORO - Olha esta é uma das maiores magoas que eu tenho . Adoro a torcida do Atlético mas o que eles fizeram com o Ortiz foi covardia, eu não perdoo nunca. Fiquei muito magoado com o que els falaram para o Ortiz. Era um excelente profissional, dedicado, cara de carater.Muitas vezes acontece coisas assim no futebol. O torcedor incoonsequente fala bobagens, lança coisas no ar. Vem a imprensa que gosta de oba oba e acaba com o  jogador.
(Ortiz foi acusado pela torcida atleticana de entregar os dois jogos finais de 77 para o Cruzeiro ajudando o uruguaio Revétria)

A VOLTA PARA O ATLÉTICO EM 1985

FTT -  Você então voltou para o Atlético?

PAULO ISIDORO - Voltei. Eu estav triste em Santos. Não pelo clube e torcedores. É que eu tinha perdido meu pai e eu com minha mãe eramos carne e osso e ela estava sofrendo muito. Eu sentia saudades tambem e resolvi vir embora pra ficar perto da familia.
Voltei para o Atletico em 85 e vencemos o campeonato em 85 e 86 dando uma renovada na carreira.

 Atlético bicampeão mineiro 1986 - João Leite, Elzo, Nelinho, Oliveira, Luisinho e Nena; Agachados: Sergio Araujo, Paulo Isidoro, paulinho, Everton e Edivaldo.


PAULO ISIDORO VAI JOGAR NO VELHO RIVAL  CRUZEIRO


FTT - E quem diria Paulo Isidoro foi jogar no grande rival, o Cruzeiro. Como foi a recepção dos jogadores e da torcida?

PAULO ISIDORO - Fui muito bem recebido, tanto pelos jogadores e dirigentes mas tambem dos torcedores.Foi a maior alegria que eu tive em uma contratação. Não pelo lado financeiro mas a chance de ir jogar no rival, a torcida não tem ideia de como isto é gostoso. Você ser nascido em um clube e depois ir jogar no rival. Eu confesso que não tinha palavras para agradecer a recepção que eu tive no Cruzeiro. Para o meu ego foi muito bom pois era meu sonho, era minha vontade. Lá no sul tambem eu tinha muita vontade de ter jogado no Inter para conhecer como era do outro lado.Só que lá não teve jeito.


FTT -Infelizmente você pegou o Cruzeiro em tempo dificeis?

PAULO ISIDORO - Foi. Eu cheguei em 88 e fiquei até 90. Foi uma decada dificil para o clube mas mesmo assim eu tive a felicidade de ser campeão mineiro em 1990 pelo clube.E nosso time não era ruim não. Tinha o ponta esquerda Edson que foi campeão com o Coritiba, o Balu, Adilson, o Ademir, o Careca que começou arrebentando.


FTT - E neste time você jogou tambem com o Wladimir?

PAULO ISIDORO - Joguei. Puxa, Wladimir era bom demais. lateral com muita força fisica e qualidade tecnica tambem. Excelente!

Paulo isidoro e Bruno na escolinha de treinamentos do ex craque.

FTT - Hoje você tem um filho jogando no junior do Cruzeiro e ele vem se saindo muito bem. Acaba de ser campeão brasileiro sub-20 no RS. Porque jogar no Cruzeiro e não no Atlético?

PAULO ISIDORO - É, na verdade eu tenho tres filhos. Todos eles jogavam na minha escolinha mas os dois mais velhos resolveram parar e só o Fabricio continuou. Aconteceu que fomos fazer um amistoso do meu time contra o Cruzeiro lá na Toca. Fizemos um otimo jogo contra o Cruzeiro, perdemos a partida mas deixamos uma ótima impressão. O Alexandre Gracieli então viu o fabricio se destacando juntamente com o Assis que era outro menino do time. Então ele convidou o Fabricio para fazer um teste no Cruzeiro. Perguntou a ele quem era o pai dele e o Fabricio falou que era o Paulo Isidoro. O diretor veio então falar comigo e perguntou se tinhaalgum problema. Como você fala "não" para um clube como o Cruzeiro e a estrutura que ele tem? Não é porque eu comecei no Atlético que meu filho tem de começar lá.
Hoje ele já está a cerca de 8 anos no Cruzeiro, está no junior agora fazendo um bom trabalho.Eu sempre comento com ele que é dificil esta transição para o time profissional, ainda mais em um clube como o Cruzeiro que só tem craque. Porem falo pra ele fazer bem o trabalho dele que uma hora chega e se não chegar no Cruzeiro para o time que voc~e for vai com uma refrencia de um grande clube.

Paulo Isidoro


FTT - Você acha que o estilo do Ramires parece com o seu ?

PAULO ISIDORO - Acho que parece muito. Se alguem me perguntasse hoje como eu atuava antigamente eu diria para a pessoa ver o Ramires jogar que era igualzinho. Passadas largas, cobrindo ali atrás e chegando na frente fazendo seus golzinhos.O Ramires tem melhorado a cada dia. Fez um golaço outro dia , vem crescendo muito.É um jogador que o treinador pode usar para fazer um quadrado ,liberando um meia.

FTT - Você acredita que os times atualmente poderiam jogar ainda com pontas.

PAULO ISIDORO - Poderiam sim. Claro que não aqueles pontas parados mas voltando pra ajudar na marcação. O time recuperou a bola você abre nas pontas porque vai segurar o lateral deles lá atrás. Jogar com dois pontas abertos é um risco pois pode sacrificar os homens de meio campo mas por outro lado foi como eu disse, vai segurar os laterais do time deles. Eu sou fã do Thiago Ribeiro do Cruzeiro. Jopga como um autentico ponta que cai pro meio e finaliza muito bem. Chuta muito bem em gol. Ele tem facilidade em bater tanto de esquerda quanto de direita. Você ve que ele está disparando a fazer gols no Cruzeiro.

FTT - Você que jogou com tantas feras do nosso futebol, aponte seis ou sete dos maiores jogadores que você viu.

PAILO ISIDORO - Graças a Deus você falou seis ou sete porque se voçe me pede apenas um iria ficar complicado escolher (risadas). Eu começo com Reinaldo que eu sempre admirei muito. O Dirceu Lopes, o Zé Carlos. O Maradona, Zico, Socrates, Cerezo, Luisinho. Era craque demais. Se você começar a lembrar não para mais. No caso do Maradona é diferente porque eu quando ia jogar contra os argentinos eu ficava louco, eu queria ganhar de qualquer jeito. Mas você não pode deixar de reconhecer um cara como o Maradona. É um jogador que entra na lista de craques de qualquer um do mundo.


FTT - Para finalizar qual foi o grande time que você jogou entre todos?

PAULO ISIDORO - Nossa é dificil. Olha o time do Atlético na decada de 70 era brilhante. Eu muitas vezes via torcedores na porta do estadio perguntarem pra mim, Reinaldo e Cerezo de quanto seria o placar naquele dia. Nosso time era muito bom, era muito tecnico.O time do Santos foi muito bom tambem. O Grêmio já era um time mais tarimbado . Não tinha jogador show neste time. Se você for olhar vai ver que não tinha aquele jogador "show" neste time mas a equipe sabia o que queria e pronto. Ia lá e ganhava. Já o Atletico tinha por exemplo o Reinaldo que a gente reverenciava dentro de campo  e muitas vezes a gente pensava: poxa, como que este cara fez isto? O time do Santos tinha o Pita que era um jogador fantástico. Tinha o Zé Sergio, aquele jogador malabarista.


Revista do dia - REVISTA DO FLUMINENSE

Revista que o Fluminense FC lançava para os seus torcedores e socios.Esta é de 1964.

Encontros eternizados - TITE & MILTINHO


O cantor Miltinho de pé assiste ao craque santista Tite tocar piano. Um encontro eternizado nos anos 50.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Craque disse e eu anotei - AMILCAR BARBUY "FILHO"


Um dos momentos mais marcantes do filme do Centenário Corintiano é quando o Senhor Amílcar Barbuy Filho fala sobre o seu pai, que defendeu o Corinthians e o Palestra-Itália. Como admirador do futebol antigo e sabendo que são poucas as pessoas que ainda podem falar da época do Amadorismo, considerei como obrigação prestar uma homenagem à este grande jogador e de uma época onde os jogadores não ganhavam dinheiro, mas jogavam por amor à camisa que vestiam. Através do meu amigo Celso Unzelte obtive o telefone do Senhor Amílcar, que na entrevista mostrou muita lucidez, conhecimento e emoção ao falar de uma época pouco conhecida atualmente. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O seu pai nasceu na cidade de Rio das Pedras no dia 29 de Abril de 1893. Com quantos anos ele veio pra São Paulo?

AMÍLCAR BARBUY FILHO: Ele deve ter vindo pra São Paulo com uns 7 ou 8 anos, porque começou logo jogando num quadro que eu calculo que tenha sido o Infantil, que seria o Esporte Clube Galopino, o primeiro time que ele jogou. Em 1912, com 19 anos, estava no Corinthians. Nestes dez anos (1900 a 1912) passou pelo Galopino, Belo Horizonte (time da várzea) e o mais famoso, que era o Galo da Várzea, o Botafogo do bairro do Bom Retiro. Aliás, os três eram do Bom Retiro.



FTT: O seu pai quando criança tinha algum time de futebol que torcia, já que quando o Corinthians surgiu em 1910, ele já era um jovem de 17 anos?
AMÍLCAR: Ele não tinha pra quem torcer, mas tinha pra quem jogar. Eu já nasci corintiano, meu pai não, ele se tornou corintiano.

FTT: Ele jogou um bom período no Botafogo do Bom Retiro, que era um time muito forte da várzea na época.
AMÍLCAR: Isso. Era o Galo da Várzea, muito famoso, brigão, arruaceiro e foi fechado pela polícia. Este fechamento é que tornou a ida de muitos jogadores para o Corinthians.

O time do primeiro campeonato em 1914:Fulvio, Casemiro do Amaral, Casemiro Gonzalez: Police, Biano e Cesar; Arisitides, Peres, Amilcar, Dias e Neco.


FTT: Quem eram estes jogadores, alem do seu pai?

AMÍLCAR: Que eu me lembro dele ter dito eram o César Nunes (irmão do Neco). Os outros eu não lembro. Mas devem ter ido uns seis ou oito para o Corinthians.

FTT: O Senhor Hermógenes, irmão do seu pai, foi quem desenhou os primeiros símbolos do Corinthians.

AMÍLCAR: O meu tio desenhou os três primeiros símbolos do Corinthians. Ele era desenhista gráfico, coisa que eu fui também. Então ele fez aquele primeiro, sem o círculo, o segundo já com o círculo e o terceiro e talvez o quarto. Depois quem complementou o escudo foi um pintor famoso, conhecido como Rebolo, que por sinal jogou nos segundos quadros do Corinthians.



FTT: O que o seu pai dizia ao Senhor do início dele no Corinthians? Em 1913 disputou pra entrar na Liga para participar do Campeonato Paulista.

AMÍLCAR: Aí ele já estava presente. Disse que foi muito difícil porque naquela época futebol era de gente de classe alta, sendo que eles eram varzeanos.

FTT: Em 1913 o Corinthians passou a fazer parte do futebol paulista e no ano seguinte foi campeão pela primeira vez, com o seu pai jogando como centroavante. A linha de ataque era Américo, Peres, Amílcar, Aparício e Neco. O que o seu pai dizia do Neco, que é um dos grandes jogadores da história do Corinthians?
AMÍLCAR: Quem levou o Neco para o primeiro quadro do Corinthians foi o meu pai, porque ele vendo-o jogar nos quadros inferiores achou que ele teria grandes possibilidades. Um dos irmãos dele já jogava, que era o César Nunes. Então isso levou o meu pai (que era capitão e técnico) a escalar o Neco nos primeiros quadros, o que foi uma decisão certa. Ele tinha uma cara de mau, mas meu pai disse que aquela história do cinto que ele tirava pra bater nos adversários e nos juízes não é tão verdadeira. Ele não era ruim assim.


FTT: Em 1915 o Corinthians não disputou o campeonato, sendo que seu pai, como alguns outros jogadores, foram emprestados pra outros clubes. E coincidentemente neste ano o Amílcar participou da primeira partida da história do Palestra-Itália, vitória de 2 a 0 contra o Savóia.

AMÍLCAR: Savóia de Votorantim. Jogo feito em Sorocaba, no Castelões.


FTT: A partir daí o seu pai passou a ter uma ligação com o Palestra?

AMÍLCAR: Ele sempre teve porque como oriundi italiano tornou-se sócio do Palestra-Itália, por um dever de italianismo. Isso fez com que participasse deste famoso primeiro jogo.

FTT: Depois o Corinthians voltava a ser campeão em 1916, época inclusive que eu pai começou a jogar na Seleção Brasileira, disputando o Sulamericano da Argentina.

AMÍLCAR: Em 16 ele não era o capitão da Seleção, que era o Lagreca. O capitão era também o treinador. Mas nos anos subsequentes ele foi o capitão.

 Corinthians campeão paulista de 1916.

FTT: De 1917 pra 1918 o seu pai começou a jogar como centromédio (atual médio-volante), posição da qual ele começou a se destacar muito. Na época o grande centromédio era o Rubens Salles. O que pai falava dele? Foi uma referência para ele?

AMÍLCAR: Jogava muito futebol, influenciando o estilo de jogo do meu pai.


FTT: Como jogava o seu pai?

AMÍLCAR: Ele era muito técnico, um posicionamento perfeitíssimo, bem calmo, não se afobava com as jogadas, chute certeiro, cabeçada mais certeira ainda, pois se ele metesse a testa ela, a bola ia direto pro gol. Mesmo jogando como centromédio, manteve as características de atacante.

O primeiro confronto entra as equipes das 2 maiores torcidas do País, também foi o primeiro confronto interestadual do Timão. O jogo aconteceu em 1º de dezembro de 1918, e o Corinthians saiu-se vitorioso por 2 x 1 com gols de Neco e Amilcar para o Timão, e Carlos Araújo para o Flamengo.


FTT: Em 1918 aconteceu a construção do primeiro estádio do Corinthians.

AMÍLCAR: De que meu pai participou, aplanando o terreno. Todos eles, o Neco, meu pai e outros jogadores. Foram os artesões do campo, que era na Ponte Grande.

FTT: 1919 foi o ano que seu pai esteve presente na Seleção Brasileira no primeiro título importante, que foi o Sulamericano, conquistado em Maio no estádio das Laranjeiras. Existe um jogo, pouco antes das finais contra o Uruguai, com o Brasil enfrentando a Argentina, ganhando por 3 a 1, com o seu pai fazendo um gol antológico.

AMÍLCAR: Foi antológico. Ele falava sempre o jogo contra a Argentina estava muito duro, pois se ficasse no 0 a 0, quem disputaria o título com o Uruguai seriam os argentinos. A virada começou com o meu pai percebendo que o goleiro argentino sempre que pegava a bola chutava em direção ao half-esquerdo dele. Uma, duas, três, vezes. Numa das vezes que o goleiro pegou a bola batendo ela até o limite da área e chuta em direção ao médio-esquerdo. Meu pai se antecipou ao médio, mata a bola com o goleiro no limite da área, ainda vagaroso, pois achava que a jogada estava morta, com o Amílcar pegando a bola e marcando exatamente aquele que o Senhor Edson não conseguiu marcar, do meio-de-campo. Esse gol renovou o ânimo dos brasileiros, tanto que terminou o jogo em 3 a 1. O goleiro da Argentina era o famoso Isola.

 Seleção Brasileira campeã do Sulamericano em 1919. Primeiro titulo internacional de nossa seleção.

 Lance da final no estadio das Laranjeiras entre Brasil x Uruguai pelo Sulamericano de 1919.


FTT: Veio a final, contra o Uruguai. No primeiro jogo, um empate por 2 a 2, com gols de Neco. Depois houve a última partida da qual o Brasil ganhou por 1 a 0, gol de Artur Friedenreich.

AMÍLCAR: Estavam muito cansados, disputando a prorrogação. Graças à Deus e ao Friedenreich ficaram com o campeonato.


FTT: Já que falamos de Friedenreich, que é considerado um dos grandes craques do futebol brasileiro em todos os tempos, o que o seu pai dizia deste fabuloso centroavante?

AMÍLCAR: Fabuloso centroavante é o termo técnico, jogava muito, oportunista, estava sempre presente na hora certa pra terminar uma jogada. Era um goleador e um jogador bastante técnico. Aliás, praticamente todos os jogadores desta época eram muito técnicos, porque senão não chegariam em cima.


FTT: O time do Brasil Campeão Sulamericano de 1919 era formado por Marcos, Píndaro e Bianco; Sérgio, Amílcar e Fortes; Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo Silveira

AMÍLCAR: Eram todos grandes jogadores, gostava de todos eles. Tinha o Petronilho de Brito, irmão de Waldemar de Brito, um portentoso. Outro grande jogador era o Feitiço.

 Mauricio Sabará e Amilcar Barbuy Filho com a camisa que Amilcar jogou o Sulamericano ,inclusive com as manchas de jogo, sem ser lavada. Uma reliquia de valor inestimavel.


FTT: Depois da grande conquista do Sulamericano de 1919, levando o futebol brasileiro a ser levado à sério pela primeira vez, porque antes não tinha o espaço que tem nos jornais. Dizia-se, inclusive, que nos jornais outros esportes como o cricket eram páginas maiores que o futebol.

AMÍLCAR: Podemos dizer que com o título de 1919, o futebol nasceu realmente no Brasil.

 Seleção Brasileira em 1922.


FTT: Os anos 20 começaram, sendo que a nova meta do seu pai e de todo o time do Corinthians é ser novamente campeão. Não consegue em 1920 e 1921. Surge 1922, quando se comemorava o primeiro Centenário da Independência do Brasil, ganhando o título vencendo o forte Paulistano na final por 2 a 0. O que significou esta conquista ao seu pai e à todos os jogadores?

AMÍLCAR: Este título pra ele tornou-se muito importante porque além dele, tinha também vencido o outro Sulamericano neste mesmo ano. Só que depois do Campeonato do Centenário tiveram problemas, com o meu pai saindo do Corinthians, sendo ainda campeão em 1923, mas já estava de saída.

 Amilcar Barbuy com a camisa da seleção brasileira.


FTT: O seu pai foi jogar no Palestra-Itália. O Senhor sabe o motivo da saída dele?
AMÍLCAR: Teve um motivo muito forte. O meu pai era extremamente honesto e amoroso ao quadro que ele jogava. Quando eles construíram o estádio do Corinthians na Ponte Grande, o meu avô, pai do meu pai, se tornou concessionário de um bar. Em 1922, um daqueles diretores que todo quadro tem, que só deseja nepotismo e prejudicar os outros pra ajudar os amigos em benefício próprio, sendo que nem sei o nome deste diretor, pois meu pai nunca quis me falar, tirou o bar do meu avô. A reação do meu foi também sair do Corinthians. O Palestra-Itália já era um grande rival e meu pai era sócio dele por ser filho de italianos.

FTT: No Palestra-Itália ele foi Bicampeão Paulista em 1926 e 1927, acumulando a função de capitão e técnico, o que já fazia no Corinthians. Como foi a passagem dele no Palestra?

AMÍLCAR: Pra diretoria do Palestra-Itália ele foi bem vindo, porque era um grande jogador, duas vezes Campeão Sulamericano, um cartaz a mais para o Palestra. Assim ele foi levando até 1930, quando começou a se tornar técnico já remunerado, porque passou a treinar o Antarctica Futebol Clube. No Antarctica ele levou diversos jogadores para o futebol, como o nosso Jaú e o Petronilho, que marcava gols de bicicleta antes de Leônidas.

Time palestrino em 1929: Em pé a partir da esq. Serafini, Heitor, Bianco, não identificado, Xingo, não identificado, Amílcar, não identificado ; agachados: Nascimento, Lara, não identificado , Ministrinho, não identificado, Pepe, não identificado, Russo e Osses. O jogo foi nas Laranjeiras, mas o rival era o Botafogo.



FTT: Fale um pouco da passagem dele pela Seleção Paulista.

AMÍLCAR: Em 1929, por exemplo, tem a primeira página de uma Gazeta Esportiva, cujo título está como Generalíssimo da Vitória. Ele já era considerado com idade boa pra não jogar e dizem que foi um espetáculo em campo.


FTT: Em 1929 o seu pai ainda foi Campeão Brasileiro de Seleções, estando prestes a encerrar a carreira no Palestra-itália no ano seguinte. Já em 1931 aconteceu a primeira grande leva de jogadores do futebol brasileiro para o exterior, mais precisamente pra Itália, no time da Lazio.

AMÍLCAR: Começou praticamente no final de 1930, por imposição do Senhor  Benito Mussolini, que praticamente o dono da Lazio, pedindo ao Senhor Luiz Fabbi, que foi inclusive quem marcou o primeiro gol da história do Corinthians, que contratasse jogadores que aprimorassem o quadro da Lazio. Ele levou perto de oito ou nove  jogadores, como Del Debbio, Pepe, Seraphini, Tedesco, Rato, De Maria, Filó e os dois Fantoni de Belo Horizonte (Ninão e Nininho). Isso fez começar um grande êxodo de jogadores brasileiros, que aliás foram os primeiros a serem exportados, no que ocasionou um fato muito interessante depois que eles embarcaram pra Itália, que não era de avião, mas de navio, levando 13 dias. O Mappin Stories tinha uma loja na Rua 15 de Novembro, com vitrines enormes, sendo que  numa dessas eles colocaram a foto da Seleção Brasileira, fazendo com que o povo arrebentasse a vitrine rasgando esta fotografia como uma revolta à esta ida para a Itália. O que ocasionou esta ida para o futebol italiano foi uma declaração do meu pai dizendo que, infelizmente, eles estavam indo embora porque os clubes daqui se apropriavam de todo o dinheiro, não repassando pra benefício dos jogadores. Na Itália começaram como profissionais, ocasionando o nascimento do Profissionalismo do futebol aqui no Brasil em 1933.

A grande Lazio de 1931/32 tambem chamada de BrasiLazio pela grande quantidade de jogadores brasileiros e pelo tecnico Amilcar Barbuy. O time a partir da esquerda: 
Fantoni II (Nininho no Brasil) , Spivach, “Filò” Guarisi, Serafini, “Pepe” Rizzetti, Sclavi, Del Debbio, De Maria, Mattei II, Fantoni I (Ninão no Brasil) e “Ratto” Castelli. Completavam o plantel: Bonadeo, Tognotti, Mattei III, Pardini, Furlani, Malatesta, Tedesco e La Roma Iezzi.
O tecnico era Amilcar Barbuy.



FTT: Foi nesta ocasião que seu pai voltou ao Brasil e trabalhando como treinador. O que ele dizia desta passagem pela Itália? Foi algo importante na carreira dele?
AMÍLCAR: Sim, porque ele se aprimorou como técnico de futebol, inclusive eu tenho a tarjeta dele como treinador da Lazio. Os jornais italianos começaram a elevar a Lazio aos píncaros, que era um quadro fabuloso e chamado de Brasilazio. Dificilmente a Lazio jogou inteira, porque sempre havia jogadores machucados. No final de 1931, com a falta de jogadores, a Lazio dependia de um jogo contra o Bari e, se perdesse, iria pra Segunda Divisão. Não haviam jogadores pra substituir, fazendo com que o Senhor Amílcar entrasse em campo, sendo que os comentários fora “que a vitória da Lazio dependeu inteiramente dele”.


FTT: Teve um jogador da Lazio que veio a falecer, que foi o Nininho, que jogava no Palestra-Itália de Belo Horizonte, o atual Cruzeiro.

AMÍLCAR: Era um excepcional jogador que morreu bestamente, depois de uma bolada no nariz que infeccionou, morrendo depois.

Lazio anos 30 - A partir da esquerda : Fantoni II (Nininho)  , Ferraris IV e Viani.


FTT: Na Itália tentou-se formar um time que muitos jogadores acabaram se machucando, não indo muito pra frente como se esperava. Seu pai acabou retornando ao Brasil, trabalhando no Atlético Mineiro, novamente treinou o Corinthians, as duas Portuguesas paulistas e o São Paulo.

AMÍLCAR: O São Paulo jogava no campo do Antarctica, na rua da Mooca. Aí eu ia junto com ele, assistindo muitos jogos do São Paulo lá, apesar de ser corintiano, mas vi jogar o King, Remo e Zarzur.

Camisa original de jogo da seleção brasileira anos 10/20 e carteira de atleta do Sport Club Corinthians de Amilcar Barbuy


FTT: Quais foram os jogadores que o Senhor viu jogar que mais te agradaram?

AMÍLCAR: O trio final do Corinthians formado por José, Jaú e Jarbas, uma muralha, com o José húngaro. Gostava do Brandão, que jogava na mesma posição do meu pai, sendo levado por ele ao Corinthians quando jogava na Portuguesa de Desportos. No ataque gostava muito do Lopes, Servílio  e Teleco. Um que era excepcional, muito comentado pelo Celso Unzelte, era o ponta-esquerda Carlinhos, um fantástico driblador.
No Palestra-Itália tinha o Pepe, Seraphino, Heitor e Bianco, que jogou no Corinthians. Era a turma que eu gostava.

FTT: O seu pai chegou a comentar sobre algum jogador que lembrava o estilo dele?
AMÍLCAR: O Brandão foi o que mais se aproximou do estilo dele. Inclusive ele chamava o meu pai de mestre.



FTT: E o Senhor não teve vontade de ser jogador de futebol?

AMÍLCAR: Comecei a jogar futebol, cheguei até o Juventus, mas me machuquei em uma partida. Naquele tempo o treinador do Juventus era o Eugênio Vanni. Isso foi mais ou menos entre 42 e 43. Machuquei o cotovelo e o Profissionalismo terminou. Jogava no gol, depois comecei a jogar como Amador no Indiano, no colégio da Glória (Cambuci), jogando com o Homero que jogou no Juventus, Ypiranga e Corinthians. O De Maria também foi do Ypiranga.

FTT: O Senhor lembra bem do time corintiano dos anos 50, com Cláudio, Luizinho e Baltazar?
AMÍLCAR: O Cláudio Christovam de Pinho praticamente fez o Baltazar, porque era o Cláudio centrar e ele marcar de cabeça. Já o Luizinho Pequeno Polegar fazia o diabo em campo e sentava na bola.

FTT: Tinha na época um jogador que atuava na mesma posição do seu pai, como médio-volante, que era o Roberto Belangero. O seu pai gostava do estilo dele?
AMÍLCAR: Jogava junto com o Goiano. O estilo era parecido, bem técnico. O Roberto sempre foi assim. Meu pai apreciava muito o jogo dele.

Amilcar Barbuy  



FTT: Pra finalizar, como foi o reconhecimento do Corinthians e do Palmeiras ao seu pai depois que ele encerrou a carreira?

AMÍLCAR: Infelizmente do Corinthians é mágoa, porque nunca fizeram pro meu pai o que ele fez por eles. Agora no Palmeiras eram outras águas, sendo que meu pai foi enterrado com a camisa do Palmeiras em 1965.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.

FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.