FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O Craque disse e eu anotei - DARIO

Quem me passou o telefone do Dario foi o Getulio, meu ultimo entrevistado. Agendei a entrevista já imaginado que seria talvez a mais descontraida de todas as entrevistas realizadas até hoje. E não deu outra. Foram duas horas de um bate papo super descontraido com um cara que trasnborda alegria.
Confiram a historia de Dadá Maravilha, Dada Peito de Aço, Dadá Beija Flor ou simplesmente Dario.

FTT - Como o Atlético te descobriu no Campo Grande?
DARIO -
Olha, eu devo muito da minha carreira a um bebado.
O Atlético foi ao Rio para contratar o Carlinhos que jogava no São Cristovão. Eles jogaram no sabado.O Carlinhos foi o melhor em campo e o São Cristovão ganhou de 1 x 0 com  um gol dele.O diretor do Atletico gostou muito e fechou com ele. Só que na saida, um bebado indagou o diretor atleticano perguntando porque ele estava levando o Carlinhos pra Minas. E ele respondeu dizendo que precisava de um goleador no time e o levaria para Belo Horizonte. O bebado então caindo pelas tabelas disse a ele que pra fazer gols ele deveria levar então o Dario do Campo Grande e não o Carlinhos . O bebado começou a segurar na perna do dirigente que chamou um PM e lhe disse que o bebado estava sendo inconveniente .O policial então falou com o diretor. Vamos fazer um acordo. Que tal o senhor voltar aqui no Maracanã amanha que tem rodada dupla e ver o Dario jogar. Ele é bem ruim mas faz gol mesmo.
O diretor então saiu e depois de um tempo já se preparava para ir embora quando o proprio Carlinhos falou com ele: olha eu se fossse você , ia amanhã ver o Dario pois nós jogamos contra eles , perdemos de 3x1 e os tres gols foram dele. Ele joga a bola na na frente e não dá pra ver nem a placa .
Nós iamos jogar na preliminar do Fla Flu contra o Bonsucesso . O senhor Gradim , nosso treinador chegou para mim e disse que precisava de mim na partida e eu fui. Ganhamos de 4 com 4 gols meus. A torcida pedindo pra lançar no "9" porque ninguem me conhecia .
O diretor do Atletico estava lá e no final foi no vestiario. Perguntou se eu queria jogar no Atletico e eu surpreso falei que topava. Ele disse que eu era muito magro e eu falei que me desse o que comer que eu ia dar a eles muitos gols. Ele me disse se eu sabia o que estava falando e eu respondi que confiava em mim e que ele acreditasse tambem.E fui para o Atlético.
 


FTT - Chegou no Atlético e foi logo jogando ?
DARIO -
Eu fiquei um ano e pouco na reserva  até a chegada do Yustrich. Ele me disse que ninguem me queria, que iam me emprestar mas não arranjaram nenhum clube. O que eu pensava disto. Eu pedi a ele que me desse chance para treinar de verdade porque eu me sentia isolado por todos , exceto pelo Lola que me ajudava. Eles me colocavam pra treinar faltando 5 minutos, ninguem me dava bola e eu ficava com esta fama de perna de pau.Yustrich então falou que eu ia treinar. Chegou no treinamento ele deu a escalação com o 9 sendo o Dario. Os jogadores falaram com ele pra jogar com 10 mas não colocar este perna de pau no time deles. O tecnico disse que ele ia jogar pois ficou sabendo que ele fazia gols no Rio de Janeiro e queria ver ele atuar aqui. No primeiro tempo do coletivo 2x0 para os reservas com dois gols meus. O Yustrich chegou perto de mim e falou: menino você até que não é tão ruim assim não. Eu falei: quer ver isto mudar me coloca no time titular. Ele me perguntou se eu não era meio mascarado e eu disse que apenas confiava em mim. Ele me trocou com o Vaguinho. Naquela epoca não tinha este conforto de hoje em dia e nós trocamos de camisa, aquela camisa suada. O time titular virou pra 3x2 com tres gols meus.
Acabou o treino o sr. Yustrich reuniu os jogadores e me perguntou se queria falar algo para eles. Eu disse que sim e desabafei. Disse a eles que eu iria ser um dos maiores jogadores de Minas , a torcida iria ficar com calos nas mãos de tanto bater palma e eu iria colocar o feijão no prato deles.Cansei de ser humilde, ser humilhado e a partir de hoje sou um doido. Os jogadores ficaram olhando um pra cara do outro.
Eu passei a jogar no time titular e fui artilheiro do mineiro (1969) com 29 gols.

Atletico em 1968 - A partir da esq. Humberto Monteiro, Vânder, Vanderlei, Djalma Dias, Mussula e Cincunegui e agachados Vaguinho, Amaurí Horta, Dario, Oldair e Tião




FTT - E alem de ser artilheiro em 1969 foi tambem em 70, 72 e 74?
DARIO - É , eu sou o maior artilheiro na historia do campeonato mineiro.

FTT - Em 1969 outra grande alegria. O Atletico vence a Seleção Brasileira com um gol seu.
DARIO - Nossa e que alegria. Nesta epoca eu estava fazendo gols de todo jeito e comecei a botar nome neles. A imprensa então correu para mim e queria saber como iria se chamar o  gol,contra a seleção brasileira. Eu disse a eles que não colocaria nome desta vez em respeito a historia desta seleção e dos jogadores que ali estavam. Eram as "Feras do Saldanha". eu disse que estava feliz em colaborar , treinar contra eles.
A imprensa acabou cutucando o Saldanha e perguntaram a ele porque não me convocava. Ele foi muito infeliz e disse que eu não jogava nada e tinham pelo menos 10 centroavantes melhores do que eu na epoca. Eu respondi a imprensa que a seleção estava invicta até então porque não tinha jogado contra o Dadá; O Saldanha ficou sabendo e marcou o jogo.
Naquele dia eu joguei demais. Corri muito e infernizei a defesa deles. Eu fiz um gol e o Amaury outro. O Medici pegou o jatinho e veio ver o jogo. No final perguntaram pra ele o que tinha achado da partida. Ele disse que quando o Dario pegava na bola, ninguem pegava ele. Falou que era o melhor atacante do Brasil. Aí a imprensa pegou isto e foi no Saldanha. Lá falaram que até o presidente queria ver o Dadá na seleção. Ele respondeu: ele escala o minsiterio e eu escalo a seleção. A imprensa já não gosta de fofoca e voltou no presidente dizendo a resposta do Saldanha. Imediatamente o Medici mandou tirar ele e que iria cair todo mundo. Aí deu aquela confusão e o Zagallo assumiu, me convocando e mais outros quatro jogadores






FTT - Pelé, Carlos Alberto e Gerson tinham poder de decidir coisas ali dentro da seleção?
DARIO
- Não tinham não. O Zagallo tinha comando, ele impunha respeito e seu modo de falar mostrava personalidade e dava confiança na gente.

FTT - Quando voltaram da Copa, você, Fontana, Piazza e Tostão desembarcaram em Belo Horizonte. Como foi a recepção?
DARIO
- Nossa eu não acreditava. Ficava me beliscando para ver se era verdade. Parece que todas as pessoas sairam de suas casas e foram para a rua comemorar. Foi muito emocionante desfilar entre tanta gente.



FTT - Qual treinador viu potencial no seu futebol e investiu em você?
DARIO -
Foi o Gradim. Ele disse que eu era ruim mas corria muito e se soubesse aproveitar isto eu faria muitos gols. Me fez treinar mais de 100 cabeçadas por dia e inevitavelmente eu tinha de ficar bom. Depois o Yustrich aprimorou algumas coisas. Me deu confiança. Teve ainda o Telê em 70. Ele me disse que era para mim treinar acertar passes de 2 metros sem errar que já estava muito bom porque de 20 metros era impossivel. (Nesta hora eu dei gargalhadas). E eu passei a ser um dos que menos errava passes nos jogos mas porque? Porque só dava passes curtos, não dava de curva, não enfeitava o pavão e só jogava facil. Eu dizia: não sei fazer e não vou inventar.

FTT - Desde a inauguração do Mineirão o Cruzeiro havia conquistado todos os campeonatos. Foi penta. A pressão devia ser grande por parte da torcida atleticana. Como foi finalmente desbancar aquele time e conquistar o mineiro de 1970?
DARIO -
Olha, eu nem sei se deveria falar o que eu vou falar, mas a verdade é que eu cheguei a ficar anestesiado em jogo do Atletico contra o Cruzeiro vendo o time deles jogar. Eu entrava no campo e ficava babando vendo o Dirceu Lopes jogando. Não só ele mas o Natal, Evaldo, Raul, Piazza, Tostão. Os caras eram de outro planeta. Teve um lance que não me esqueço. O Dirceu Lopes pegou a bola no meio campo e eu fui entrar nele. Foi quando ele enfiou a bola debaixo das minhas pernas e eu caí sentado.Depois ele driblou o Vanderlei , o Vantuir e chutou na trave. Eu dei graças a Deus porque não foi só eu que fui driblado (risos) senão iam dizer que foi culpa minha porque tomei debaixo das pernas. O Cruzeiro vencia por 1x0 com gol de Rodrigues e eu subi numa bola de cabeça com o Fontana e empatei a partida no finzinho do primeiro tempo. No segundo eu fiz mais um e finalmente vencemos o Cruzeiro por 2x1. Depois ganhamos outros jogos e fomos campeões mineiros.
Dario comemorando com os jogadores do Atletico o primeiro titulo mineiro na era Mineirão, em 1970.

FTT - Você enalteceu aqui aquele time do Cruzeiro dos anos 60. Era um time cadenciado, de toque de bola , a bola de pé em pé enquanto o Atlético jogava na velocidade de seus pontas fossem o Vaguinho, Tião ou Romeu e você correndo no miolo da area. Você acha que seria o mesmo Dadá se tivesse jogado naquele time do Cruzeiro ao invés do Atlético?
DARIO -
Acho que não. Aliás prefiro nem entrar muito no merito desta questão pois adoro o Evaldo, o considero um atacante excepcional e que se completava com Tostão e Dirceu Lopes. se deslocava muito e tinha toques rapidos. Agora eu seria muito importante  para o Cruzeiro, nem digo como titular , mas talvez um reserva de luxo. Porque o Cruzeiro era um time de muito toque mas quando pegavam um time que distribuia porrada, dificultava para o Cruzeiro.E nestas horas eu poderia entrar pois eles tinham jogadores extrordinarios para cruzar na area e na area com Dadá não tinha pra ninguem.

FTT - Teve algum ponta com quem você se entendia melhor, que os cruzamentos era perfeitos?
DARIO -
O jogador que mais me completou foi o Tião "Cavadinha". Me desculpem a modestia mas eu vi duplas sensacionais como Reinaldo e Marcelo, Tostão e Dirceu Lopes mas dupla para fazer gols igual Dadá e Tião nunca existiu e nem vai existir no futebol mineiro. Depois eu peguei no Internacional o Valdomiro. Eram estilos diferentes pois o Tião cruzava pra mim no decimo quinto andar, onde só eu ia e não tinha perdão. Já o Valdomiro cruzava rapido e eu tinha de acompanhar e fazer o queixo no ombro. Então eu juntei as duas coisas. A impulsão que era de 90 parado , que é altura para jogador de volei pular e a velocidade para acompanhar as jogadas.

Dario e Tião "Cavadinha". Um completava o outro. Tião cruzava e Dadá colocava pra dentro das redes.


FTT - O Atlético campeão brasileiro em 1971 teve pelo menos tres grandes lideres em campo: Vanderlei Paiva, Oldair e Vantuir. Mas na hora do vamos ver mesmo quem era o grande lider deste time, aquele que empurrava os jogadores a vitoria?
DARIO -
Foi até bom você falar pois o Oldair é um cara que eu tenho uma enorme admiração. Outro dia eu escrevi numa cronica minha para o jornal que o Atletico não precisa de reinaldo, nem Cerezo, nem Dario. O Atletico precisa de um Oldair. O grande capitão da equipe. Ele tinha ascendencia sobre a gente . Tinha vez que eu ia lá pra trás pensando em ajudar e ele me dava cada esporro. Vai lá pra frente , seu lugar é lá. Ele tinha um poder sobre todos os jogadores, organizava o time.

Dario e Oldair


FTT - Este time do Atlético de 1971 foi o melhor que você jogou?
DARIO -
Não digo que foi o melhor porque o Atletico do Reinaldo foi fantastico (75/80) . Olha se for olhar tecnica o time do Reinaldo foi muito melhor. Agora se você falar em raça, eficiencia e amor a camisa nunca houve um time igual ao nosso. A torida gritava Galo e a gente corria feito louco em campo. Teve jogo em que o Humberto Monteiro trombou com o Lola de tanta vontade que foram na bola.

Dario fazendo de cabeça o gol mais importante da historia do Atletico. No Maracanã venceu  o Botafogo por 1x0  conquistando o campeonato brasileiro de 1971.

FTT - Qual a sensação que você sentiu quando fez aquele gol no Maracanã dando o titulo ao Atlético?
DARIO - Não há palavras para descrever o que eu senti. É como eu sempre digo. Não fiz o gol mais bonito mas fiz o gol mais importante na historia do Atletico. Isto ninguem me tira.


DADÁ AGORA É RUBRO NEGRO


FTT - Como foi sua ida para o Flamengo em 1973?
DARIO -
Olha, eu cheguei no Flamengo e vi que tinham varios jogadores cheios de vaidade, que faziam questão de tocar de curva, jogar pra torcida; E eu não acompanhava estes lançamentos porque batia de canela. E os caras não facilitavam meu trabalho. Nós teriamos um jogo contra o Bangu e precisavamos vencer por pelo menos 5x0 para entrar em condições de brigar pelo titulo contra o fluminense. O Zagallo chegou e falou que nosso time não estava fazendo gol e coisa e tal. Eu então falei que os caras estavam dando passes de efeito e eu batia de canela mesmo. Agora se lançarem normnal tem gol.Voces olham quantos gols eu tenho no campeonato? Um gol e o artilheiro já tem oito.Agora lancem pra mim que eu vou ser artilheiro do campeonato .Conclusão. No jogo com o Bangu os caras tocaram direito e eu fiz 5 gols e nós vencempos por 8x0.

Jogo: Flamengo 8 x 0 Bangu
Competição: Campeonato Carioca - 2º Turno
Data: 19/07/1973
Estádio: Maracanã
Time: Renato, Moreira, Chiquinho, Fred, Rodrigues Neto, Liminha, Zé Mario, Doval, Dario, Paulo Cesar e Arilson.
Gols do Flamengo: Dario(5), Doval(3) e Paulo Cesar.
Público: 17.863
Flamengo 1973 - A partir da esq. Renato, Moreira, Fred, Chiquinho, Liminha e Rodrigues Neto; 
agachados estão Vicentinho, Paulo Cesar, Dario, Doval e Arílson

Chegamos a final , o Fluminense chegou a fazer 2 x 0 eu fiz dois gols  empatando a partida mas  eles fizeram mais dois e venceram por 4x2. Eu ainda fui o artilheiro do campeonato com 15 gols.

Ficha Técnica: Fluminense 4 x 2 Flamengo.
Motivo: Decisão do Campeonato Carioca de 1973.
Data: 22/08/1973.
Local: Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro).
Árbitro: José Favilli Neto (SP).
Renda: Cr$ 970.501,00.
Público: 74.073 pagantes.
FFC: Félix; Toninho, Bruñel, Assis e Marco Antônio; Carlos Alberto "Pintinho", Kléber e Marquinhos; Dionísio, Manfrini e Lula. Técnico: David Ferreira, o "Duque".
CRF: Renato; Moreira, Chiquinho Pastor, Fred e Rodrigues Neto; Liminha, Zico e Paulo Cézar; Vicentinho (Arílson), Dario e Sérgio. Técnico: Zagallo.
Gols: Manfrini aos 40', Toninho aos 45', Dario aos 70' e aos 78', Manfrini aos 80' e Dionísio aos 82'.


FTT - E nesta epoca do Flamengo você viu surgir um jogador chamado Zico.
DARIO
- O Zico já mostrava que iria ser fora de serie. Teve um dia que iamos jogar contra o Goiatuba en Goias e ele me falou. Dadá o tanto de gols que você fizer eu vou fazer.Eu falei com ele :menos né garoto, menos. Chegamos lá e vencemos por 6x2 e cada um fez tres gols. Ali ele mostrou a sua personalidade mesmo tão novo. Poucos dias depois nós fomos jogar na Africa e empatamos o jogo em 4x4 com dois meu e dois dele e ele matou a pau nesta partida. Aí eu falei: Zico tem que ser titular. Que fique Doval e Zico, Dadá e Zico mas ele tem que ser titular.
(Flamengo 4 x 4 Seleção do Zaire - 22/02/1974)

A partir da esq. Renato, Moreira, Fred, Tinho, Liminha e Rodrigues Neto. Agachados: Rogério, Paulo Cesar caju, Dario, Zico e Marquinhos.

 Dario contra o Vasco pelo campeonato carioca de 1973.


A VOLTA PARA O ATLÉTICO


FTT - Saiu do Flamengo e voltou para o Atlético. Porque a saida?
DARIO -
O Zagallo chegou para mim e disse que via que eu não estava tão satisfeito no clube e que o Atlético estava me querendo. Se eu queria sair. Eu disse que sim e voltei para o Atlético.

FTT - E no Atlético para variar foi artilheiro.
DARIO -
Pois é, cheguei no Atlético em 74 com o campeonato já adiantado e o Roberto Batata era o artilheiro com 10 gols. Eu falei que não tinha problema que eu ainda iria pega´lo; Acabei sendo artilheiro com 24 gols.



UM DOS MELHORES MOMENTOS NA CARREIRA NO SPORT RECIFE

FTT - Do Galo para o Sport. Foi um grande momento em sua carreira.
DARIO -
Olha. não dá para explicar minha fase no Sport. Eu fiz 99 gols em um ano e dois meses. Quebrei todos os recordes lá. Quebrei o recorde mundial de gols em uma unica partida quando fiz 10 gols no Santo Amaro. Fiz gol de todo jeito. Faziam 13 anos que o Sport não vencia o campeonato pernambucano e fomos campeões.



FTT - E você foi artilheiro dois anos seguidos .
DARIO -
Fui. Em 1975 eu fiz 32 gols e em 76 fiz 30 gols.
Eu estava muito bem lá, era idolo da torcida mas ai o Inter fez uma proposta irrecusavel. Ofereceu o Ramon que já tinha jogado no Santa Cruz e era um grande artilheiro e mais uma boa quantia em dinheiro.

Givanildo e Dario antes de um classico entre Santa Cruz e Sport.


FTT - Você jogou nos tres grandes de Pernambuco. Com qual você teve mais identidade?
DARIO - Olha, eu fiz um bom campeonato no Nautico, fomos vice campeões , no Santa Cruz tambem mas o meu aproveitamento no Sport foi espetacular. Fomos campeões depois de longo tempo qeu o time não ganhava e minha identificação coma torcida foi grande.


INTERNACIONAL CAMPEÃO GAUCHO E BRASILEIRO


FTT - O que dizer deste Inter ?
DARIO -
Olha ele foi considerado o melhor time dos anos 70 e então você imagina.Um timaço.


Internacional 1976 - A partir da esq. Manga, Claudio, Figueroa, Vacaría, Marinho Peres e Falcão.
Agachados: Valdomiro, Jair, Dario, Caçapava e Lula




FTT - Você jogava em um time com muita qualidade tecnica, mudou alguma coisa no seu jeito de jogar?
DARIO - O time era fantastico. Tinha o Figueroa, o Falcão que para mim foi um dos maiores jogadores que conheci. Se mandassem um tiro no seu peito ele dominava e deixava cair suave no gramado. Marinho Peres, Carpegianni. Mas tinha dois pontas rapidos, o Lula e principalmente o Valdomiro com quem eu me entendia muito bem.

Gol de Dario virou rotina no Inter.

FTT - No gol do titulo do Inter contra o Corinthians em 76 você parou no ar?
DARIO -
Parei!................mas parei só 14 segundos (nesta hora eu não resisti, parei a entrevista e rolei de rir). O meu normal era 15.




FTT - Grenal era um jogo especial para você?
DARIO -
Era. Eu decidi varios grenais. Quando eu cheguei a imprensa veio me provocando falando que quem mandava em Porto Alegre era o Alcindo do Grêmio. Eles tinham ganhado o ultimo jogo por 3x1 . Alcindo tinha deitado e rolado neste jogo. E então eu disse que se preparassem porque o reinado dele tinha acabado. No proximo grenal eu decidi e sempre  fazendo aquelas palhaçadas com a imprensa , promovendo o espetaculo.


FTT - Falando nesta sua irreverencia, nas brincadeiras que sempre fazia me diga uma coisa. Esta alegria não escondia um pouco da trsiteza que você carregava da sua infancia ou era uma forma de compensar e alegrar meninos que no momento passavam o que você passou?
DARIO -
A sua pergunta foi muito inteligente  e eu vou tentar dar uma respotsa inteligente. O que quero dizer , é que no fundo era mesmo uma revolta minha.Eu não tinha muitas condições , sempre fui muito humilhado, principalmente quando entrei para o futebol profisional. Logo que eu cheguei para o Atletico , só pra você ter uma ideia, minha ex esposa pegou um taxi e o motorista  falou com ela: vem cá, você gosta de futebol? Ela falou que gostava. O motorista então falou: pois é, o Atletico contratou um jogador ai mas o cara é ruim demais. Se eu ver ele passando na rua passo com o carro por cima dele.
Aí quando ela chegou em casa, ela falou isto comigo chorando. Eu chorei tambem e fiquei revoltado.Foi aí que resolvi mudar tudo. Falei comigo mesmo que a partir daquele dia eu iria ser "doido". Fui na televisão e falava que ia ser o maior jogador de Minas, prometia gols, dava nome a eles. No começo era uma forma de me extravasar, mas depois vi que estava alegrando as pessoas com aquilo. A imprensa adorava aquilo, pois todo mundo estava acostumado com o feijão no prato e eu coloquei o estrogonofe. A imprensa do Brasil inteiro passou a me ligar querendo saber se iria ter gol e qual seria o nome.


FTT - Voltando a falar no Inter você acredita no trabalho que está se iniciando do Falcão como treinador ? Não acha perigoso ex idolos assumirem papeis de  treinadores ou presidentes dos clubes?
DARIO -
Não! Não é não. Sinceramente, acho que ele vai se dar muito bem. Primeiro que está todo mundo torcendo por ele, os colorados se uniram em torno dele e o astral então é totalmente diferente, é favoravel ao seu trabalho. E ele é de fino trato com os jogadores, respeita os atletas, educado e tenho certeza que os jogadores vão morrer por ele. Alem do que tem uma identidade com o clube. Veja bem, é comum no meio do futebol um jogador menosprezar um tecnico perguntando para um companheiro :onde este cara jogou? E alguem vai ter coragem de questionar o Falcão sobre seu passado? Então ele tem o respeito dos comandados.


FTT -  Contra qual zagueiro você travou seus maiores duelos?
DARIO -
A foi o Luiz Pereira. Ele era demais. Ganhou muito Motoradio em cima de mim. Me deu até balaõzinho.
Teve o Perfumo tambem que era extraordinario , era craque mas quando eu jogava na frente adeus, não tinha pra ele.
Agora teve um que no dia em que eu jogava contra ele até tremia. O Leonidas do Botafogo. Rapaz o que ele me deu de caneta e balãozinho , acabava comigo.
Agora como jogador e homem quem eu tenho a maior admiração é o Piazza. É um dos melhores amigos que tenho e foi um jogador sensacional que jogava para o clube.

Dario dando trabalho a Ancheta, Cejas e Beto Fuscão no Grenal


FTT - Você não ficou no Atletico tantos anos como outros jogadores, talvez somando , uns cinco anos. Nos outros clubes ficou em media dois anos em cada um. Porque esta paixão pelo Clube Atlético Mineiro?
DARIO -
Vou tentar te responder sutilmente, já que sua pergunta não é facil. Olha, eu cheguei no Atletico como um ilustre desconhecido e foi lá que eu fiquei famoso. Tanto que quando se fala no Dadá, os caras associam a minha imagem ao Atletico. O clube me lançou para o mundo.
Dadá e a torcida do Atletico no Maracanã - paixão de um pelo outro

FTT - Você notava uma diferença no tratamento da torcida do Atletico em relação as outras para com você?
DARIO -
Não. Fui idolo no Bahia, no Sport mas o que ficou marcado mesmo foi no Atlético e Inter pois conquistei brasileiros nestes clubes. A torcida do inter me adora tambem. Sou muito querido em Porto Alegre. Eu costumo dizer que sou bigamo pois amo tanto o Atlético como o Inter.



FTT - Teve algum clube que faltou para você jogar ?
DARIO -
A minha maior frustração é não ter jogado no Corinthians. Eu vou ser sincero, com todo respeito que eu tenho ao Atletico, Flamengo e Internacional que muito me honraram vestir estas camisas mas se eu jogasse no Corinthians e fizesse estes gols que eu fiz aqui eu teria um prestigio perto de Pelé. Porque um gol pelo Corinthians, a midia é muito maior.

Dario campeão no Bahia 1981.


FTT - Foi destino, coincidencia ou porque você jogou praticamente só em  times de massas ? (Flamengo, Atlético, Inter, Bahia, Sport, Santa Cruz, Coritiba)
DARIO -
Não foi apenas coincidencia. O pessoal, os dirigentes falavam que meu estilo se associava a estes clubes.Falavam que o Dadá só joga em time de massa e eu acabava explodindo nestes clubes mesmo. Eu por exemplo já escutei que tentaram levar meu nome para o São Paulo e Santos mas falavam que eu não tinha o perfil do clubes.O mesmo do Fluminense.

Bruno e Dadá Maravilha


FTT - E como sempre pergunto a todos entrevistados, aponte aqui cerca de sete daqueles que foram os maiores jogadores que você viu jogar.
DARIO -
Lola. Jogava demais , pena que não levou a carreira tão a serio. Reinaldo. Falcão, minha nossa que categoria. Tostão, Dirceu lopes, Piazza. Edu eu era fã dele. Valdomiro , Zico, Leonidas o zagueiro. Pelé e Garrincha estão em outro patamar.

Revista do dia - GAZETA ESPORTIVA

Oreco , lateral esquerdo do Corinthians na capa da Gazeta Esportiva de 1964.

Encontros eternizados - DIDI & JUSCELINO KUBISTCHEK

Didi recebe os cumprimentos do presidente Juscelino Kubistchek pela conquista da Copa do Mundo de 1958.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Craque disse e eu anotei - IVAIR

Através de um dos meus entrevistados, o Mário Américo Netto, obtive o telefone do Ivair. Tive uma conversa rápida com ele por telefone, aceitando de imediato. A matéria foi feita no clube União Operária, próximo da ponte da Vila Maria. O Príncipe mostrou muito conhecimento sobre a sua carreira e deu esta entrevista de forma muito franca. Confiram a matéria.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Como surgiu o apelido de Príncipe?
IVAIR: Este apelido começou em um jogo do Santos contra a Portuguesa. Naquele tempo não trocávamos as camisas após as partidas. Como eu fiz os três gols na vitória por 3 a 2, o Pelé na saída me deu a camisa e disse que “se eu respeitasse o futebol e as pessoas, seria o Príncipe”. No momento estavam presentes os cronistas Orlando Duarte e Eli Coimbra. E foi aí que o apelido pegou.

 Neste dia Pelé deu a Ivair o apelido de "Principe" devido a sua belissima  exibição.


FTT: Houve muitas cobranças em cima de você? Foram positivas ou achou que a pressão era muito grande em cima de um apelido tão forte como o do Rei Pelé?
IVAIR: O apelido foi bom, repercutiu muito bem na minha carreira. Até hoje muitos me chamam de Príncipe, Ivair ou sabiá.

FTT: Como começou a sua carreira? Parece que foi nos Infantis da Portuguesa em 1957.
IVAIR: Vim de Bauru com dois anos pra São Paulo. Fui indicado por um diretor da Portuguesa, sendo que naquela época nem havia a categoria de Infantil, pois minha idade não chegava (tinha 12 anos de idade), então comecei a treinar lá. Ele tinha um filho que se chamava Edmundo, que jogava na ponta-esquerda da Portuguesa, então me levaram pra Lusa para treinar. Passei a conviver com o Félix, Djalma Santos e Brandãozinho. Fui crescendo lá dentro.


FTT: Você teve alguma referência no seu início de carreira?
IVAIR: Eu gostava muito do Servílio. Depois comecei a disputar jogos profissionais e passei a gostar do Pelé e do Zizinho. Comecei a copiar algo deles. Mais tarde passei a conviver com o Pelé, então foi mais fácil tirar algo dele. Meu pai sempre falava que copiar as coisas boas não é “falta de atitude”, mas sim “ter atitude”, porque as coisas boas é que devem ser guardadas.

FTT: Sua estréia nos Profissionais da Portuguesa foi em 1962, em uma partida que vocês empataram em 1 a 1 com a Prudentina na Rua Javari. E tem uma história que quando você fez o gol, ficou tão emocionado, que até desmaiou em campo.
IVAIR: Eu acho que desmaiei por causa da bola que era muito grande, sendo que o gol foi de cabeça. Como cabeceei e fiquei caído, pensaram que eu estava emocionado. O único que descobriu que eu estava desmaiado foi o Servílio. Não foi por emoção, mas sim pela bola... risos!

 Portuguesa 1965 - A partir da esq. Augusto,Vilela, Félix, Ditão, Amaro, Edilson.
Agachados estão Almir, Ivair segurando a bola, Aloisio, Nair, Marcio.


FTT: O que você tem a dizer desta sua passagem pela Portuguesa? Afinal de contas você jogou na Lusa de 1962 a 1969, praticamente toda a década de 60.
IVAIR: Eu só acho que a Portuguesa tem que tomar mais cuidado com os seus ex-jogadores, porque nem todos gostam da Lusa. Ela tem um defeito muito grande da diretoria, da qual eles não respeitam aqueles que fizeram o estádio, porque a Portuguesa existe hoje por causa dos ex-atletas. A única coisa que eu queria é que prestassem mais atenção.

FTT: Na época que você jogava na Portuguesa nem tinha o estádio Oswaldo Teixeira Duarte, o Canindé. Onde eram os jogos da Lusa? Havia algum campo que vocês mandavam?
IVAIR: A Portuguesa mandava os seus jogos no Pacaembu, na Rua Javari ou no campo do Nacional. Quando comecei, a Lusa tinha algo muito bom que o Santos têm hoje, que era a renovação. Por isso que atualmente o Santos está em alta, porque no meu tempo quando subi para o time de cima, vieram mais sete, que foram o Paulinho, Aírton, o goleiro Aguinaldo (que depois jogar no Santos), Zé Maria, Marinho Peres, Ulisses e Rodrigues. Vieram muitos jogadores, sendo que o Santos atualmente os copia muito bem.

 Ivai foi capa de diversas revistas esportivas nos anos 60 . Aqui na Gazeta Esportiva.


FTT: A Portuguesa era conhecida como um clube que revelava muitos jogadores.
IVAIR: A base era boa, coisa que não acontece hoje. Você atualmente olha o time da Portuguesa e vê um e nada. O Santos tem muito mais torcedores por causa das categorias de baixo. Os garotos sabem que é muito mais fácil jogar em cima, porque é o top do futebol. A Portuguesa deveria levar a sério as categorias de base.

FTT: Nesta sua época havia um goleiro que você era o carrasco dele, que o Valdir Joaquim de Moraes do Palmeiras.
IVAIR: O Valdir de Moraes era muito amigo meu. Quando eu jogava contra o Palmeiras, sabia faria uns dois gols. Se tivermos muita sorte contra um clube, sabemos o que vai acontecer. Tinha muita sorte contra o Valdir. E foi um grande goleiro

FTT: Na década de 60 havia zagueiros muito bons, como o Djalma Dias, Mauro, Calvet, Valdemar Carabina e Roberto Dias. Houve algum zagueiro que te deu mais trabalho?
IVAIR: Eu tinha um problema sério com o Djalma Dias e com o Roberto Dias. O ruim para o atacante é quando o zagueiro joga na direção daquilo que você quer, que é a bola. Bom para o atacante é quando o zagueiro joga no seu corpo e te batendo. Este garoto, o Neymar, como ele gosta quando o cara vem pra bater. Então estes jogadores que citei jogavam com o objetivo que eu tinha, que era a visão da bola. Eles eram craques. Quando a defesa joga querendo mais te bater do que jogar, é melhor para o atacante.




FTT: Houve algum atacante que você se entendeu mais?
IVAIR: Me entendia bem com o Servílio e o Leivinha. Na Seleção Paulista fui bem com o Pelé. Quando joguei no Canadá me entendia bem com o Eusébio, que era o meu compadre.

FTT: Houve um jogo famoso em 1964 entre a Portuguesa e o Santos. Parece que foi a final do Campeonato Paulista, com o Santos ganhando da Lusa e sendo campeão naquele ano.
IVAIR: Nós fomos pra Vila Belmiro jogar contra o Santos. Eles jogavam pelo empate e era a final do campeonato. Não é que demos azar, pois o time jogou muito bem, mas tivemos um problema com o Armando Marques, que nos prejudicou bastante, fiquei chateado porque ganharia um carro fusca. Perdemos por 3 a 2, que foi uma das melhores coisas que fiz no futebol.

Ivair ouve conselhos de Pelé



FTT: Foi o momento mais importante da sua carreira?
IVAIR: Por incrível que pareça tive muitos bons momentos na Portuguesa, pois também foram vários contra o Palmeiras. Na minha carreira tive muitas felicidades como jogador. Sempre respeitei os meus contratos e naquele tempo a diretoria da Lusa respeitava os jogadores. Não é que hoje não respeita, mas na minha época eu era muito feliz na Portuguesa.

FTT: Você falou de grandes momentos na Portuguesa e grandes partidas. Porque você fez apenas um jogo pela Seleção Brasileira em 1966, pouco antes da Copa do Mundo, numa vitória de 1 a 0 contra o País de Gales?
IVAIR: Eu já tinha sido convocado para a Copa das Nações. Fui convocado em 1963, 64, 65 e 66 (sempre na reserva). Havia disputado o Campeonato Paulista de 1965 como centroavante e na Seleção eu fui como ponta-esquerda, pois haviam grandes jogadores como o Tostão e o Servílio na posição. Fui puxado pra ponta-esquerda, disputando a posição com o Edu, Rinaldo e Paraná, autênticos pontas-esquerdas, diferente de mim. Acabei não gostando e me entristeci bastante. Quando saí da Seleção falei que não queria mais ser convocado, pois não iria. Convocaram-me para uma posição que não estava tão acostumado a jogar. Havia sido vice-artilheiro do Campeonato Paulista como centroavante. Joguei em várias posições do ataque, como meia-direita e esquerda. Gostava mesmo era de jogar


 Portuguesa 1968 - A partir da esqu. Orlando, Ulisses, Marinho, Guaraci, Zé Maria e Augusto; 
agachados vemos Mário Américo, Leivinha, Paes, Ivair (sentado sobre a bola), Lorico e Rodrigues.


O PRINCIPE AGORA É DO CORINTHIANS

FTT: Em 1969 você sai da Portuguesa e vai para o Corinthians. Qual foi o motivo da sua saída?
IVAIR: O meu presidente era o Gregório Marques. Ele se reuniu comigo, com o Leivinha e o Zé Maria, falando que tinha que começar a negociar os jogadores pra construir o estádio. Eu não queria sair da Portuguesa porque estava bem, além de terem me dado tudo que eu não tinha. Fui vendido para o Corinthians por 970 mil, sendo o segundo jogador mais caro do Brasil, pois o primeiro foi o Paulo Borges, que custou 1 milhão, vendido para o mesmo clube. Só saí da Lusa porque eles precisavam, sendo que o Leivinha saiu logo em seguida para o Palmeiras, Zé Maria foi pro Corinthians e mais tarde o Ratinho foi para o São Paulo.

 Em pé a partir da esquerda : Pedrinho, Dirceu Alves, Ditão, Luis Carlos Galter, 
Diogo e Miranda.  Agachados: Ivair, Buião, ? , Tião e Suingue.


FTT: Você saiu de um clube que tinha pressão e foi pra outro que talvez tivesse mais pressão ainda, pois desde 1954 não era Campeão Paulista, ficando dois anos no Corinthians, estreando no Robertão, pouco depois do falecimento do Lidu e Eduardo. Como foi a chegada no Corinthians, sentiu a pressão e achava que daria pra quebrar o tabu?
IVAIR: Saí da Portuguesa para o Corinthians porque o Dino Sani era o treinador. Eu tinha estado junto com o Dino na Seleção Brasileira. Quando cheguei lá encontrei com o Rivellino, que também era meu amigo, de família mesmo. Fui familiarizado para o Corinthians. O meu primeiro jogo foi contra a Lusa e empatamos em 2 a 2, com dois gols meus. O Aymoré Moreira, desde os tempos da Portuguesa, gostava de me colocar como ponta-esquerda, foi contratado pelo Corinthians. Naquela altura não aceitava mais jogar nesta posição, conversei com ele e fui transferido para o Fluminense. No início eu aceitava jogar como ponta-esquerda porque não tinha nome.

 Corinthians 1970 - A parti da esq. Fogueira, Ado, Ditão, Dirceu Alves, Luis Carlos Galter e Miranda. Agachados: Paulo Borges, Ivair, Benê, Rivelino e Aladim.


1971 IVAIR VAI PARA O FLUMINENSE

FTT: Chega 1971, você sai do Corinthians e é contratado pelo Fluminense, onde faz uma bela carreira, sendo Campeão Carioca em 71 e 73. O que você tem a dizer desta passagem?
IVAIR: Foi bom. Muitos pensam que eu digo isso porque fui campeão, mas foi mais pelo o que o Fluminense me proporcionou. O Zagallo era meu amigo, estávamos juntos na Seleção Brasileira. Encontrei o Parreira como preparador físico, que também era amigo meu. Lá foi bom por causa das amizades e pelo o que aconteceu na minha carreira.

FTT: Por sinal em 1971 você era um dos titulares do Fluminense. Teve o gol do Lula na final contra o Botafogo, que houve muita discussão da parte dos botafoguenses. Você lembra o clima desta partida?
IVAIR: O Botafogo jogava pelo empate e tinha um time muito bom, com Jairzinho, Roberto, Paulo Cesar Caju e Afonsinho. Se o Fluminense empatasse, perderia o título. Fomos para o jogo. Realmente vencemos por 1 a 0, mas até nós jogadores achamos que o gol não foi lá essas coisas, porque o Marco Antônio fez falta no Ubirajara sofreu mesmo uma falta.

Ivair no tricolor   



 Fluminense Campeão carioca 1971 - A partir da esq. Oliveira, Félix, Denilson, Galhardo, 
 Assis e Marco Antonio. Agachados: Cafuringa, Didi, Flavio, Ivair e Lula.


FTT: Teve também 1973, mas você já era reserva neste time.
IVAIR: Fui mais reserva porque vinha de muitas contusões e foi nesta época que operei o joelho. Chega uma hora que a contusão te atrapalha. Depois me firmei, fui para o Paysandu e a carruagem voltou a funcionar bem, tanto que fui para fora do Brasil.

FTT: Antes disso, uma curiosidade da minha parte, pois em 1973 você foi campeão pelo Fluminense e coincidentemente em São Paulo a Portuguesa era campeã, um título do qual você buscou durante muito tempo. Como você recebeu este título da Lusa, ficou feliz ou até triste por não tê-lo conseguido?
IVAIR: Naquele tempo que eu fui campeão pelo Fluminense em 1973, com a Portuguesa sendo campeã junto com o Santos, gostei muito, porque a Lusa tinha uma equipe e diretoria muito boas. Hoje ela é um time pequeno e tem tudo pra ser grande. Tudo que acontece de bom pra ela, eu gosto, pois fiquei lá durante muito tempo, me trataram bem, como também no Corinthians, Fluminense e Paysandu, portanto sempre torço pelo melhor pra eles.

Ivair atualmente segurando a foto dos seus tempos de Fluminense


FTT: Além destes clubes citados, também teve o América-RJ, que você teve uma rápida passagem.
IVAIR: Fiz um contrato de três meses no América, porque já tinha um time do Canadá que havia me procurado. O time deles era muito bom, com o Edu (irmão do Zico) na meia-esquerda e o Tarciso como ponta-direita. Tive passagens boas no futebol e não tenho o que reclamar.

FTT: Você falou da sua passagem pelo exterior. Começou no Toronto, do Canadá, jogando com Eusébio e Cruyff.
IVAIR: Joguei com o Eusébio, Cruyff, Neeskens e muitos outros. Joguei com vários jogadores importantes. O meu treinador era iugoslavo. Este time era bom, jogávamos contra o Cosmos de Pelé, Mifflin e Carlos Alberto Torres. Minha passagem pelo Canadá foi ótima e adorei por eles terem me dado um pouco de vantagens na América.

 Mauricio Sabará e Ivair com um quadro dos seus tempos de Corinthians

FTT: A sua estréia parece que foi, inclusive, contra o Cosmos de Pelé.
IVAIR: A coincidência minha com o Pelé é muito grande, começando pela cor. Quando ele foi para os Estados Unidos, o primeiro jogo dele foi contra o meu time do Canadá, o Toronto Metros, do qual nós ganhamos por 3 a 1. A minha equipe foi tirar fotografia com ele. O Pelé ainda estava bem, dava até pra voltar a jogar no Brasil e na Seleção Brasileira.

FTT: Por sinal ele parou de jogar na época certa, no auge.
IVAIR: Eu acho o Pelé muito inteligente. Alguém o aconselhou pra fazer isso na hora certa. Quando falou que ia parar, fez o certo na vida dele, cresceu lá fora porque a América ajuda você a crescer.

FTT: Depois do Canadá você teve algumas passagens por outros times dos Estados Unidos e resolveu encerrar a carreira. Como foi este término?
IVAIR: Sempre fui inteligente, porque copiei o meu pai que não sabia ler e escrever, mas era o meu filósofo. Quando ele começava a falar, você pensava que tinha feito uma universidade dos Estados Unidos. Preocupei-me muito com o meu encerramento de carreira. Não sou como outros jogadores que encerram e ainda acham que estão jogando. Teve uma festa no Canadá e achei que tinha encerrado. Como eu tinha aberto uma escola de futebol no Brasil, da qual eu sou o pioneiro destas atividades, nesta época o governador Laudo Natel , sendo o Caio Pompeu de Toledo o seu secretário. Isso foi em 1984. Comecei a trabalhar como professor. Não senti nada no meu encerramento porque fiz do futebol a minha profissão e não a minha vaidade, pois se fizesse isso, sentiria bastante.


FTT: Finalizando, citarei dois grandes jogadores da Portuguesa de Desportos. Um, quando atuava, você já não estava mais na Lusa. E o outro, que jogava na década de 90 e nos deixou em 1994. Bom, você já sabe que estou falando do Enéas e do Denner.
IVAIR: Foram, pra mim, dois grandes jogadores. O Enéas, quando subiu, eu já tinha saído da Portuguesa. Já o Denner foi meu jogador, pois fui campeão com ele, porque era treinador da Lusa, puxei o Sinval e o Tico para os Juniores, já vendo a qualidade deles. Quando foram campeões da Taça São Paulo senti muito a saída deles, pois o Denner foi meu jogador. Já o Enéas era muito amigo meu. Eles tinham um futuro muito grande. Foi uma grande satisfação treinar o Denner, pois lembrava o Pelé e poderia chegar ao nível dele. Infelizmente teve aquela fatalidade, mas, pra mim, foi um dos maiores jogadores que vi jogar.

Ivair com a foto da seleção paulista da qual fez parte.







REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.