Em 1958, o Renascença, time de uma fábrica de tecidos, que só se dedicava às categorias básicas, deu a Gerson dos Santos, ex-zagueiro do Cruzeiro e do Botafogo, a incumbência de montar seu primeiro time profissional.
Com poucos recursos, o treinador armou uma equipe mesclada de veteranos vindos dos grandes clubes da cidade e de juvenis da casa.
Com poucos jogadores no elenco, Gerson dos Santos treinava entre os reservas. Nesse dia, precisando de um companheiro de zaga, ele pediu ao treinador dos juvenis, Vicente, pra indicar mais um juvenil.
Como era feriado de 7 de setembro, Procópio estava na arquibancada do Estádio dos Eucaliptos e foi convocado para a missão.
"Eu era atacante, mas topei porque não podia perder a chance. E o melhor foi que eu e o Gerson paramos os titulares, que tinham Sabu e Lazzarotti, ex-cruzeirenses, Gaia e Zuca, ex-americanos."
O primeiro desafio profissional de Procópio foi marcar Ubaldo, ídolo da torcida do Atlético-MG.
"Os zagueiros colavam no Ubaldo e ele, muito rápido, desvencilhava-se e partia sozinho pro gol. Eu fazia diferente. Deixava ele dominar a bola pra dar o bote. E ainda costumava driblá-lo, antes de sair jogando. Ele perdia a confiança e não incomodava mais…"
DO RENASCENÇA PARA O CRUZEIRO
Da Renascença para o Barro Preto
Felício Brandi, presidente do Cruzeiro, que andava à procura de um marcador para centroavante alvinegro, entusiasmou-se com a descoberta do beque do Renascença e o contratou em 19fev59:
"Felício pagou 36 mil cruzeiros pelo meu passe e eu assinei por 7 mil mensais. Antes, avisei que sentia fortes dores no pé esquerdo e não tinha certificado militar. Era insubmisso por não ter me apresentado ao Exército devido à morte do meu avô. Felício pediu ao Dr. Renato Zuppo pra cuidar do assunto militar e fui dispensado por ser arrimo de família. O problema no pé era mais simples. Estava fraturado e eu não sabia, pois o Renascença não tinha departamento médico. Quando me curei da fratura, apareceu uma distensão que me deixou parado mais três meses. Os cornetas não perdoaram. Diziam que eu era do time do come-e-dorme. Sorte que Felício confiava em mim."
Em 1960, Procópio conquistou seu primeiro título profissional, o Campeonato Mineiro de 1959. Mais uma vez, fazendo nome em cima de Ubaldo.
No turno, o Cruzeiro venceu por 2×1 e os dribles sobre o centroavante se repetiram. Depois do jogo, Ubaldo atribuiu o baile à chuva e ao gramado pesado.
Procopio com Cesar Maluco
Em sua primeira passagem, formou zaga com Nilsinho, Massinha e Cléver nas conquistas dos estaduais de 1959 e 1960. Foi para o São Paulo em 1961, mas voltou ao clube em 1966, durante a disputa da Taça Brasil, quando fez dupla com William na conquista do título nacional.
Cruzeiro 1960 - Josué, Procopio, Massinha, Nilsinho, Amaury e Clever
Agachados: Nono, Rossi, Emerson , Elmo e Hilton Oliveira
PROCOPIO E MASSINHA
A zaga perfeita
Procópio era um profissional sério, esforçado e, -por que não dizer?-, fominha.
"Eu saia das aulas na Escola de Direito e nem passava no Hotel Financial, onde morava. Ia diretamente pro Barro Preto bater bola com o Massinha, meu companheiro de zaga, que morava debaixo das arquibancadas do Estádio JK. Devo a ele a capacidade de pegar de primeira qualquer bola, o que, tanto servia pra rebater quanto pra marcar gols. Massinha era um beque vigoroso, capaz de dar um toco de cabeça pra impedir um chute do atacante, como eu vi num jogo em Vitória. Além de corajoso, ele tinha estopim curto. Num jogo contra o Siderúrgica, após ser chamado de macaco, ele meteu o dedo na cara de Silvestre e avisou: ‘Tá bom, agora você vai pro pau da goiaba!’ Silvestre sumiu. Qualquer um afinava quando o Massa ficava bravo. Nós formamos uma boa zaga: ele dava o combate direto, eu saia jogando."
Procópio se comove com a simplicidade do velho camarada:
"Massinha era generoso, disponível para os amigos, mas perdia a paciência à toa. Não aceitava desaforos. Em 1967, fomos a Caracas jogar contra o Deportivo Itália, pela Libertadores, e eles estava lá, em fim de carreira. Na metade do 2º tempo, Aírton Moreira mandou o massagista Leopoldino, amigo do Massa, dar instruções ao time pra jogar pela esquerda. Massinha ficou uma fera e botou o Leo pra correr. Mandar o time explorar sua falta de fôlego, era uma traição que o velho amigo cometia."
PROCOPIO NO SÃO PAULO
Apos ser tricampeão mineiro pelo Cruzeiro, Procopio foi para o São Paulo. Jogou por lá durante um ano mas voltou para Belo Horizonte para se casar com Mariam irmã de William que foi seu companheiro de zaga por tato tempo.
A VOLTA PARA MINAS, DESTA VEZ NO ATLETICO
Casado Procopio foi jogar no rival. Jogando no Atletico com seu companheiro de zaga e cunhado, William conseguiram ser campeão mineiro de 1962 . Jogou até 63 somando 60 partidas pelo clube e 2 gols.
PROCOPIO NO FLUMINENSE
"Procópio jogou de espora e penacho como um Dragão de Pedro Américo."
A imagem que Nelson Rodrigues usava para incensar os heróis do Fluminense ajustava-se ao estilo imponente de Procópio Cardozo Neto.
E ficou perfeita na crônica do dia seguinte ao Fla x Flu, pelo Torneio Rio-São Paulo, em 22 abril de 1964, em que Procópio fez o gol de empate aos 41 do 2º tempo:
"O Flamengo vencia por 1×0 quando desarmei o centroavante Aírton, lancei o Carlos Alberto Torres e fui pro ataque. Nosso lateral foi à linha de fundo, cruzou e eu peguei a bola de primeira, ainda no ar."
Fluminense 64: Carlos Alberto Torres. Altair. Oldair. Procópio. Castilho e Nonô.
Agachados:Santana (massagista). Edinho. Denilson. Amoroso. Joaquinzinho e Mateus
PROCOPIO NO PALMEIRAS 1965-66
Neste periodo formou uma defesa espetacular com Djalma Santos, Procopio, Djalma Dias e Ferrari.
Na inauguração do Mineirão esteve presente no gramado se revezando com Valdemar.
As escalações de Palmeiras representando o Brasil e do uruguai.
Brasil [Palmeiras]Valdir de Moraes (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Valdemar (Procópio); Julinho (Germano), Servílio, Tupãzinho (Ademar Pantera), Ademir da Guia e Rinaldo (Dario).UruguaiTaibo (Fogni); Cincunegui (Brito), Manciera e Caetano; Nuñes (Lorda) e Varela; Franco, Silva (Vingile), Salva, Dorksas e Espárrago (Morales).
SALDANHA SOBRE PROCOPIO
Em 1968, numa mesa-redonda da TV Belo Horizonte, João Saldanha também confessou sua admiração pelo becão:
"Procópio joga no meu time."
Poucos jogadores podem se orgulhar de elogios tão definitivos dos dois maiores cronistas esportivos do país.
A VOLTA AO CRUZEIRO
Em 1966, Procópio voltou ao futebol mineiro. Ficou pouco tempo no Atlético e foi recontratado por Felício Brandi. No Cruzeiro, ele repetiu o tri de 59/60/61, participando de três -66, 67, 68- dos cinco títulos da Academia Celeste nos anos que se seguiram à inauguração do Mineirão.
"O time era extraordinário, mas tinha pouca força física. Eu e o William é quem garantíamos a integridade dos meninos peitando os adversários que apelavam para os pontapés
Campeão brasileiro
Nessa ocasião, Procópio ganhou seu maior título, a Taça Brasil de 1966:
"Tem gente que não aceita, mas a verdade é que fomos campeões brasileiros. Pra disputar a Taça Brasil, era preciso ser campeão estadual. O Cruzeiro jogou 22 partidas antes das 8 da Taça, propriamente dita. E decidiu o título com o Santos, pentacampeão brasileiro e o melhor time do mundo."
Depois dessa decisão, a rivalidade com O Santos explodiu. Os times começaram a ser comparados. Muita gente dizia que o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes estava tomando o lugar do decadente time de Pelé & Cia.
O Santos passou dez anos sem vencer o Cruzeiro desde os 4×2 de 1958, em que Zizinho vestiu a camisa azul. E só conseguiu quebrar a escrita com um 2×0 em 13out68. Foi um dia fatídico para Procópio.
"O jogo estava quente. Pelé, Darci Menezes (zagueiro) e Murilo (lateral-esquerdo) andavam às turras. Eu avisei ao José Mário Vinhas que, se a violência do Santos não fosse punida, o jogo não acabaria bem. O juiz não tomou atitude e o Pelé, que estava entrando duro em todas as jogadas, me chutou o joelho quando eu tentava passar a bola ao Murilo. A rótula foi parar no meio da coxa. Foi uma dor tão forte, que desmaiei. Dr. Neylor Lasmar me levou para o Hospital das Clínicas. Fui engessado e viajei deitado no piso do avião no voo de volta a Belo Horizonte. Na chegada, me levaram para o Hospital Felício Rocho. Meu joelho parecia uma bola. Fui operado, imediatamente. E a imprensa decretou o fim da minha carreira."
Cinco anos, um mês e treze dias…
Somente Procópio e sua mulher, Mariam, acreditaram na recuperação. Estavam certos. Cinco anos, um mês e treze dias depois, em 26 de novembro de 1973, o beque retomou sua carreira jogando contra o Vasco, no Maracanã.
"Machuquei a duas semanas do vencimento do contrato, que não foi renovado. Gastei minhas economias no tratamento. Foram três anos e meio de terapia no Hospital Arapiara e quase vinte meses pra consolidação da cura e recuperação física e técnica. No jogo de volta, perdemos por 3×1, mas dividi os prêmios de melhor em campo com o Perfumo. E olhe que tivemos correr atrás dos garotos Dé e Dinamite. Joguei mais dois anos e parei, em 1975, pra iniciar a carreira de treinador."
Para muitos é tido como o melhor beque da história azul.
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