FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Encontros eternizados - ZICO & ROBERTO DINAMITE


Dois craques do nosso futebol, fazendo a alegria das crianças. Zico andando de bicicleta enquanto Roberto dá um empurrãozinho.

Revista do dia - REVISTA DO ESPORTE 1966


Revista do Esporte de 4 de Julho de 1966 com so dois jogadores do Fluminense na capa. O volante Denilson e o lateral esquerdo Altair.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Craque disse e eu anotei - DORVAL

Quem me passou o telefone do Dorval foi o Wilsinho, o meu último entrevistado até então. A entrevista foi realizada em um campo no bairro de Congonhas, onde Dorval passa os seus ensinamentos. Foi uma matéria que tive muita satisfação de realizar, pelo jogador que foi e pelos craques com que jogou, principalmente o rei Pelé.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu no Rio Grande do Sul. Na década de 40, um menino que começava a jogar futebol, tinha o ponta Tesourinha do Internacional como referência?

DORVAL: O Tesourinha foi um dos maiores pontas-direitas do futebol brasileiro, eu o admirava muito, gostava de vê-lo jogar, sendo que depois ele foi para o Grêmio e foi uma legenda do futebol gaúcho e brasileiro.

FTT: O início de carreira no Força e Luz.

DORVAL: Comecei nos Juvenis do Grêmio. Depois havia um treinador conhecido como Ênio, que jogou no gol do Grêmio e que treinava o Força e Luz. Levou eu e mais quatro jogadores. Começamos a disputar p Campeonato Gaúcho.

 Mauricio Sabará e Dorval na escolinha do ex craque santista.


FTT: Qual é a sua lembrança na época que jogava no Força e Luz? O futebol gaúcho era muito bom nesta ocasião, pois enfrentava times como o Inter que tinha Larry, Bodinho e Chinesinho, além do próprio Grêmio com o Aírton Pavilhão que veio do Força e Luz.

DORVAL: O Aírton veio pra o Grêmio em troca da arquibancada e foi um grande jogador. Os campeonatos eram muito difíceis.

FTT: Como aconteceu a sua transferência para o Santos Futebol Clube?

DORVAL: Vieram muitos jogadores pra cá, como o Ênio Andrade e o Raul Klein para a Portuguesa. Tinham bons jogadores em Porto Alegre, sendo que representamos o Brasil no Pan-Americano do México. Eu também fui convocado, mas acabei dispensado porque era muito novo pra aquele Pan-Americano em que se sagraram campeões. O empresário Arnaldo Figueiredo nos levou pra São Paulo para fazer um teste. Ofereceram-me para o Corinthians, ele havia telefonado, disse que estava tudo certo, mas não aconteceu porque o juvenil Bataglia estava subindo. O Flamengo também não aceitou, pois não precisava de ponta-direita. Ele ligou para o Santos, que também não precisava, mas fui fazer um teste. Graças a Deus fui bem e o técnico Lula pediu a minha contratação.







FTT: Isso foi mais ou menos no final de 1956. Mas parece que no inicio de 57 você teve uma rápida passagem pelo Juventus da Mooca.

DORVAL: Fui emprestado para o Juventus e disputei o Torneio de Classificação. Fiz um bom campeonato e outras equipes se interessaram, mas tive que voltar pro Santos, pois era emprestado, consegui me firmar como titular e graças a Deus dei continuidade nesta minha passagem pelo Santos.

FTT: Quando você voltou para o Santos em 57 participou de uma grande linha de ataque, no caso você, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. O que você tem a dizer sobre este ataque do Santos?

DORVAL: Foi uma linha fantástica que fez mais de 120 gols. O Jair Rosa Pinto estava em final de carreira, mas era um jogador que lançava muito bem. O Pagão foi um fantástico jogador de futebol. Tive a felicidade de jogar com estes monstros sagrados do futebol brasileiro. O Pepe numa fase muito boa. E o próprio Pelé no início de carreira.
Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe . Um ataque arrasador em 1957.


FTT: O seu primeiro foi o Campeonato Paulista de 1958, com um Pelé endiabrado marcando 58 gols. Foi depois da Copa do Mundo, quando ele já tinha sido consagrado como o Rei do Futebol. Vocês já percebiam que ele era esta fera?

DORVAL: Já percebíamos porque quando ele chegou, nós já íamos pra praia e víamos. Quando o Pelé chegou, ele jogava com os reservas junto comigo e o Pepe, pois o ponta-esquerda titular era o Tite, sendo que dávamos muito trabalho para o time principal que tinha o time campeão de 56 com Manga, Helvio e Ramiro. O Pagão e o Coutinho eram dois grandes centroavantes que davam muito trabalho.



FTT: Havia na ocasião o PPP com Pagão, Pelé e Pepe.

DORVAL: Eram muito famosos. Foi muito bacana participar deste ataque.

FTT: Em 1958 o Santos foi Campeão Paulista. Chega 59 e agora ele conquista o Brasil, vencendo outro titulo importante, que é o Rio-São Paulo. Como foi este torneio enfrentando os grandes times do Rio, alem dos de São Paulo?

DORVAL: O Torneio Rio-São Paulo era muito importante no futebol brasileiro, sendo que hoje não existe mais. Também tinha o torneio de Seleções que ajudava muito o jogador a ir pra Seleção Brasileira. No Rio-São Paulo enfrentávamos grandes clubes do futebol brasileiro com timaços como o Flamengo, Botafogo e Fluminense, todos com grandes jogadores. Quando o Santos jogava estes clássicos, enchia o Maracanã, pois todos queriam ver Mané Garrincha, Pelé, Coutinho, Mengálvio, Pepe, Zito, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Foi um torneio muito bacana.

Santos 1959 - Lalá. Getulio. Ramiro. Pavão. Zito e Mourão Agachados: Dorval. Afonsinho. Jair da Rosa Pinto. Pelé e Pepe


FTT: Em 59 também foi o ano que você foi pela primeira vez convocado pra Seleção Brasileira para o Sul-Americano. Você ficou emocionado por ter  sido chamado pelo Vicente Feola, sabendo que fez um bom trabalho?
DORVAL: Fiz um bom campeonato em 58. Fui eu, Mané Garrincha e Joel, os ponteiros que estavam em alta. Infelizmente eu não fui pra Copa do Mundo, não sei bem o porquê, pois os jornais diziam que eu era o melhor ponta-direita do Brasil depois do Mané Garrincha, sendo que não fui pra Suécia e nem pro Chile. Mas foi uma alegria muito grande ter participado de uma Seleção Brasileira que tinha grandes jogadores. Ser reserva de Garrincha é uma honra, que pra mim foi o maior fenômeno brasileiro depois de Pelé, jogador fantástico que deixou muitas saudades, aquele futebol-arte que se jogava antigamente.

Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro; Agachados Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe


FTT: Os anos 60 começavam e é justamente ai que começa a grande fase da história do Santos, com aquele ataque que todos conhecem e citam como o maior ataque da história do futebol, com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Como este ataque se entrosava tão bem, era uma coisa que acontecia ou vocês ensaiavam para desse tão certo?

DORVAL: Foi muito importante ter jogado com Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, além do Zito e do Mauro. Foi um entrosamento muito rápido, porque joguei no Santos durante muito tempo, nos entendíamos, parecia que conversávamos um com o outro dentro do campo, era muito importante a amizade que tínhamos dentro e fora, ajudando a ser o ataque que foi. Jogávamos muito na Europa, fizemos grandes jogos lá contra grandes times do futebol europeu e ficávamos as vezes quatro meses fora do Brasil.

FTT: A década de 60 começa e vem uma grande sequência de títulos, talvez nunca conseguida por nenhum outro time. Vocês foram Penta-Campeões da Taça Brasil em 61, 62, 63, 64 (que você estava no Racing) e 65. Era o Campeonato Brasileiro da época. Como vocês conseguiram ficar vencendo este título seguidamente, sendo que na época tinha o Botafogo de Garrincha, Didi, Quarentinha, além do próprio Palmeiras que também tinha um esquadrão formidável?

DORVAL: Nós tivemos uma fase fantástica porque, como já falei, era uma união onde tínhamos amizade e respeito um pelo outro, criando aquele ambiente gostoso dentro do campo e nos entendíamos conversando fora, o que foi muito importante pra nós e para o Santos Futebol Clube. Conseguimos este monte de títulos porque sempre jogávamos juntos e um conhecia o outro. Hoje em dia se joga cinco partidas juntos. Nós sempre jogávamos juntos e esta sequência era muito boa para o Santos.


 Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, quase uma rima poética


FTT: Você, como ponta-direita, enfrentou grandes laterais-esquerdos. Houve algum ou alguns que te deram mais trabalho?

DORVAL: Tinha o Geraldo Scotto, do Palmeiras, que era muito bom. O Nílton Santos, do Botafogo, que foi um fantástico lateral-esquerdo, um fenômeno. Teve também o Ari Clemente do Corinthians. Mas os mais duros eram o Geraldo Scotto e o Nílton Santos, era duro passar por eles, uma briga boa.

FTT: Fale dos confrontos do Santos contra o Corinthians, que eram muito equilibrados, com o Corinthians ficando praticamente durante mais de dez anos sem vencer o Santos em partidas válidas pelo Campeonato Paulista.

DORVAL: O Corinthians tinha um bom time, com grandes jogadores, mas infelizmente quando jogavam contra o Santos, não sei o que havia com eles, eles tremiam. O time do Santos era fantástico, pois não só o Corinthians tremia como outros.







FTT: Vamos falar agora das maiores conquistas do Santos, o Bi da Libertadores e do Mundial em 62/63. Quais são as suas lembranças destas duas fantásticas conquistas?

DORVAL: É uma lembrança muito boa porque foi o primeiro time brasileiro a ser campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes. Foi um torneio bom, com grandes times. Hoje em dia não vemos mais os times que enfrentávamos, como Nacional e Peñarol, forças máximas do futebol uruguaio. Na Argentina tinha o Boca Juniors, River Plate, Independiente e Racing, grandes potências do futebol argentino. Havia o Colo Colo e o Universidad do Chile, que hoje não estão mais na Libertadores, sendo que o futebol deste torneio caiu bastante. Times que representavam o seu país não representam mais atualmente, pois não são mais a potência que eram antigamente.

FTT: Mas a grande partida do Santos que todos comentam foi a final de 62, com os famosos 5 a 2 contra o Benfica.
DORVAL: Este jogo foi fantástico. Aqui nós ganhamos de 3 a 2 e perdendo um monte de gols, com eles jogando bem. Chegamos em Portugal e eles já estavam vendendo ingresso para o próximo jogo, pois achavam que iam ganhar. Deram azar por mexerem com a gente. Quando eles abriram os olhos, já estava 5 a 0 pra nós. O Pelé neste jogo parece que estava com o diabo no corpo. O time jogou certinho, bem armado, pois o Santos já estava acostumado a jogar contra os grandes times europeus, o estádio estava lotado, todos aplaudindo a nossa equipe sem saírem após a partida. Foi algo fantástico.

 Dorval é o sexto maior artilheiro na historia do Santos FC com 198 gols.


FTT: Em 67 você foi jogar o Campeonato Paulista pelo Palmeiras.

DORVAL: O Palmeiras tinha um monte de jogadores que já estavam em final de carreira, como o Servílio e o Tupãzinho. O Ademir da Guia e o César estavam começando, que foram grandes jogadores e amigos, tenho até hoje amizade com eles. O time do Palmeiras estava um pouco decadente e quando cheguei ele não estava numa fase boa. Infelizmente não deu certo, mas tentamos.

FTT: Depois do Palmeiras você foi para o Atlético do Paraná, sendo Campeão Paranaense em 70.
DORVAL: Isso. Joguei com o Zé Roberto e Nílson Dias. Teve uma turma de São Paulo que foi jogar lá, como o Djalma Santos. Foi também um grande clube que joguei por quatro anos. Teve também o Sicupira que jogou depois no Corinthians, grande jogador que atualmente é repórter.

 Atletico PR 1970 - Hidaldo, Zico, Julio, Hermes, Alfredo e Vanderlei. Agachados: Dorval, Sicupira, Sergio Lopes, , Toninho e Nilson.


FTT: Depois do Atlético uma rápida passagem pela Venezuela e no SAAD.

DORVAL: O SAAD que é atualmente o São Caetano. Foi uma época gostosa. É um time que estava começando a despontar no futebol brasileiro. Jogaram lá o Joel, Coutinho e eu. Foi uma passagem curta, mas bem gostosa, com uma amizade muito grande com o pessoal de lá.

FTT: Terminada a carreira, o Santos ainda teve alguns títulos. O que você achou desta geração com o Robinho e Diego e atualmente o Neymar e o Ganso?

DORVAL: Foi uma geração boa, porque o Santos tem uma Categoria de Base muito boa. O Robinho é um fantástico jogador que despontou no Santos junto com o Diego que também é muito bom, como o Elano. Hoje estão despontando o Ganso e o Neymar, que também são grandes jogadores. Esperamos que eles dêem muitas alegrias pra nós. Hoje o jogador joga dois anos no Santos e já vai embora pra Europa, não jogando dez anos como jogávamos. É muito difícil querer que eles façam um grande sucesso aqui no Brasil, porque o Neymar já era pra estar na Europa e não foi. Mas no ano que vem irá, porque o Santos não conseguirá segurar a pressão, pois é um excepcional jogador. Esperamos que ele dê muitas alegrias para o Santos e faça um bom futebol na Europa.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro