FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Craque disse e eu anotei - EULLER

Pensei em algum jogador que pudesse de alguma forma homenagear o America MG que completa no proximo dia 30 de Abril 100 anos da sua fundação. A entrevista da semana deveria ser com um jogador que fez historia no clube. Após pensar em alguns nomes , notei que ninguem melhor do que Euller para ser o entrevistado. Foi campeão mineiro com o América no inicio de sua carreira. Jogou tambem em outros grandes clubes brasileiros e voltou para encerrar sua carreira no clube onde começou. Na inauguração do Estadio Independencia fará tambem o seu jogo de despedida dos gramados. A nossa homenagem aos torcedores do América através de um idolo eterno: EULLER.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Você surgiu nas categorias de base do America, um clube tradicionalmente revelador. Foi uma boa leva de jogadores que subiram.
EULLER – Foi sim. Subiram da minha época o Gilson goleiro, o Estevam lateral direito, o Leley zagueiro,  o Gutemberg, o Guiba e eu.


FTT – O America sempre teve um trabalho forte de base pois pouco antes subiram o Palhinha e o Ronaldo Luiz.
EULLER – Foi, eles subiram pouco antes de mim. O America sempre teve um bom trabalho de base porque diferente dos outros clubes que quando necessitam de um zagueiro ou de um meia, tem recursos financeiros para poder buscar. O América não tendo este recurso recorre a base para compor o seu elenco. Tem times que contratam dois ou três para a mesma posição e o America acaba dando chances aquele jogador  da base e assim foi comigo, Palhinha, Ronaldo Luiz, Fred, Alessandro, Wagner, Irenio, Denis, Gilberto Silva e por ai vai.

Euller fazendo um gol contra o Atletico em 1993.
                                                                                                                                                                                FTT - O America foi vice campeão mineiro em 92 e campeão em 93. 
EULLER – Foi o resultado de uma boa sequencia de três anos. O America formou um bom time , um grande elenco. Em 92 America e Cruzeiro se equivaliam, times muito iguais, mas o Cruzeiro tinha um jogador que estava fazendo a diferença naquele ano, o Renato Gaucho. E eles acabaram vencendo. Já em 93 fomos coroados com o titulo.




FTT - O tecnico era o Pinheiro. Era um bom treinador?
EULLER – Pinheirão, velho Pinheiro (semblante e sorriso de carinho de Euller). Rapaz, aquele era um paizão, Muitas vezes ele optava por uma tarde de conversa a dar um treino. A gente ria muito, era uma preleção bem descontraída. O jogador ficava muito a vontade. Ele unia o grupo como poucos.

FTT - Neste seu inicio de carreira ficou quanto tempo no America?
EULLER – Na primeira passagem foram seis anos, de 88 a 93


EULLER REENCONTRA OS AMIGOS PALHINHA E RONALDO LUIZ NO SÃO PAULO

FTT - Você se destacou e acabou sendo vendido ao São Paulo. Lá reencontrou um amigo, o Palhinha.
EULLER – Exatamente! Eu joguei com ele aqui no America, foi uma fase boa e depois chegando ao São Paulo me encontrei com o Palhinha e Ronaldo Luiz.

FTT – E ter um velho conhecido ajuda na ambientação.
EULLER – Muito. O Ronaldo Luiz então me ajudou demais. Ele morava no CT e eu também e então nossa proximidade foi muito importante para minha integração ao grupo



FTT – E como foi esta passagem pelo São Paulo?
EULLER – Foi muito boa. Eu tive o privilegio de ter o Tele Santana como técnico que aliás foi muito mais do que um técnico. Ele foi um pai para mim. Fosse dentro de campo ou fora dele seus conselhos sempre me ajudaram muito. O futebol começava a querer acabar com os pontas e o Tele acreditou em mim e eu jogava nas duas pontas com ele. Ele me fez aprimorar a forma de jogar de dentro para fora ou de fora para dentro, participando mais do jogo.


FTT - 1994. Oitavas de finais da Libertadores. São Paulo x Palmeiras. Se lembra desta decisão onde só um seguiria em frente? (0x0 e SP 2x1)
EULLER – No primeiro jogo era para ter ficado uns 7x1 para o Palmeiras. O Zetti pegou tudo neste dia e nos salvou. . No segundo jogo, muito emocionante e de afirmação para mim. O Palmeiras tinha uma verdadeira seleção , era o time para conquistar a Libertadores , o campeão brasileiro e nós conseguimos reverter isto. Eu fiz os dois gols e me afirmei pra valer naquele jogo.

 

FTT - Voces chegaram a final da Libertadores e tinham tudo para conseguir o tricampeonato. Venceram apenas por 1x0 e perderam nos penaltis. O time entrou nervoso ?
EULLER – Não. A primeira coisa é que o jogo foi muito amarrado e nós fomos muito prejudicados pelo arbitro. O Velez não quis jogar e foi só cera, cera, cera. E eles sabem fazer isto como ninguém e conseguiram o que queriam. Nós ficamos mais preocupados em discutir com o arbitro e tirou o nosso foco. Nos pênaltis o Palhinha foi infeliz e acabamos perdendo.


FTT - Você cobrou um dos penaltis?
EULLER – Cobrei o quarto e converti.

FTT – Um goleiro como o Chilavert acostumado a pegar pênaltis pesa para o cobrador numa hora destas ?
EULLER – No caso do Chilavert o diferencial que vejo foi que ele estudou melhor a nossa forma de cobrar os pênaltis. Você vê que ele vai em todas as bolas e ainda por cima cobrou e fez o gol dele.



EULLER VAI PARA O ATLÉTICO E TEM ESTRÉIA DE GALA

 FTT – Você foi então para o Atletico. Se lembra do jogo de estreia ?
EULLER – Foi um amistoso com o Flamengo que comemorava o seu centenário. O Atletico apresentando o Taffarel, o Paulo Roberto Costa , Gutemberg e eu como novas contratações . Eu consegui fazer o gol da vitoria e logo no grande rival o Flamengo. O Mineirão com 100 mil torcedores e então teve aquele laço imediato da torcida do Atletico comigo. Foi assim por todo tempo que eu estive no Atletico.
Video com as estreias de Taffarel, Paulo Roberto e Euller faznedo o gol decisivo.

Ficha tecnica



ATLETICO 3X2 FLAMENGO
Data: 8 de fevereiro de 1995.

Local: Belo Horizonte, MG.

Estádio: Mineirão.

Público: 51.987 pagantes.

Competição: Amistoso.

Árbitro: Marco Antônio Cunha, MG.

Expulsões: Gutemberg e Fabinho.

ATLÉTICO: Taffarel; Paulo Roberto Costa, Luis Eduardo, Hélio Pescara e Paulo Roberto; Carlos, Gutemberg e Éder (Darci); Euller, Renaldo e Reinaldo Rosa (Zé Carlos) - Tec: Levir Culpi.

FLAMENGO: Adriano; Charles Guerreiro (Gustavo), Jorge Luis, Aguinaldo e Branco; Fabinho, Marquinhos e Nélio (Fábio Baiano); Sávio, Mazinho (Rodrigo Mendes) e Romário - Tec: Vanderlei Luxemburgo.

GOLS: Reinaldo Rosa (18'), Sávio (32'), Paulo Roberto (33'), Jorge Luis (74') e Euller (88').

Euller é o ultimo agachado a direita

FTT – Pouca gente se lembra mas o Ezio jogou no Atletico e você jogou com ele.
EULLER – Jogou e foi muito bem. Foi um bom parceiro e ele tinha como ponto forte o cabeceio. A gente combinava antes qual a melhor maneira para cruzar,posicionamento e ele conferia.




EULLER É DO VERDÃO


FTT – O Palmeiras é o seu destino em 1997. O time vai bem vence o seu grupo na fase final e pega o Vasco ganhador do outro grupo. O Vasco por ter feito melhor campanha jogava pelo empate e foi o que ocorreu. Dois empates em 0x0. O Vasco era mais time ?
EULLER – O Palmeiras foi uma situação em que eu tinha acabado de renovar meu contrato com o Atlético. Nem queria sair do clube pois estava bem. Foi quando o Paulo Cury (presidente do Atletico) me chamou e disse que precisava me vender para o Palmeiras. Disse que precisavam fazer dinheiro, fazer caixa. Então eu fui conversar com o pessoal da Parmalat no hotel e pouco antes desta conversa eu recebi uma ligação do Felipão. Ele disse: “estou preparando o meu time para o ano que vem e conto com você neste planejamento.” Acabei acertando com eles e começamos um trabalho que acabou dando bons frutos. Sobre a final de 2000 foi muito equilibrada e o maior erro que vejo foi ter tirado o jogo do Parque Antarctica e ter levado para o Morumbi.

FTT – Já em 99 a conquista da Libertadores da America.
EULLER – Todo treinador e jogador tem um objetivo que é vencer a Libertadores. Se torna o maior titulo na sua carreira. Um momento marcante e inesquecivel. Foi o objetivo atingido, uma meta que Felipão traçou, o trabalho recompensado.

FTT - Mas as partidas finais contra o Deportivo Cali foram durissimas?
EULLER - Extremamente dificil. Jogo por igual. O interessante é que as duas equipes jogavam em um esquema tático igual e o Felipão não abria mão da sua tática no inicio do jogo. Depois ele mudou colocando o Evair e eu e deixou o time muito ofensivo e rápido. E deu certo. Vencemos o jogo mas tivemos que encarar uma decisão por penaltis e aí o Marcos brilhou novamente. No final sobrou eu e o Zapata , eu fiz e o Zapata chutou para fora. Aí foi só comemorar.
 


FTT - Nos conte como foi eliminar o arquirival Corinthians numa quartadefinal do maior torneio da America?
EULLER - Poxa você estando em um clube onde se elimina numa Libertadores o seu maior rival é tudo.

FTT - E no ano seguinte novamente e ainda por cima com Marcos defendendo o penalti do Marcelinho Carioca (rindo)
EULLER - Aí é perfeito! (gargalhada)



FTT - Como era a forma de jogar quando atuavam você e o Paulo Nunes juntos ?
EULLER - No inicio quando estávamos disputando tres competições, que eram o paulista ,a Copa do Brasil e a Libertadores, sempre tinha um como titular. Sempre atuavamos com um atacante de velocidade que era ou eu ou o Paulo Nunes e sempre com um atacante de area que podia ser tanto Oseias quanto o Evair. O Felipão sempre fazia este revezamento. Agora quando precisava mudar o sistema de jogar ele colocava o Paulo Nunes de um lado e eu no outro. Ficava sempre um centro avante na area e vinham de trás o Zinho e o Alex.


EULLER VAI PARA O VASCO  O MELHOR TIME EM QUE JOGOU

FTT – Em 2000 você foi para o Vasco.
EULLER – Só para registrar a minha ida para o Vasco foi uma aposta para que eu pudesse atuar ao lado do Romário. Eu tinha comigo que a minha característica de jogar poderia casar com a do Romario. Achava que poderíamos nos dar muito bem. Quando meu contrato acabou com o Palmeiras eu tive varias propostas de outros clubes, inclusive da Europa. Recisei todas. Recusei uma que o meu empresário, o Alemão queria me bater. (risos). Mas era um desejo que eu tinha de jogar ao lado do Romario e na seleção brasileira. Quando surgiu a proposta então não pensei duas vezes e fui. 



FTT - E o Vasco era um timaço.
EULLER – Eu cheguei no Vasco e encontrei uma equipe realmente diferenciada. Eu vou te dizer uma coisa, foi a melhor equipe que eu joguei. Tendo jogadores específicos para cada posição e craques que sabiam o que fazer com a bola.

FTT – Você e o Juninho Pernambucano tinham algum tipo de sinal ou jogada combinada ?
EULLER – Olha o time tinha varias jogadas ensaiadas. A começar pelo Elton. A saída rápida com a mão que já nos  proporcionava um contra ataque .Ele saía com as mãos como ninguém, lançava lá no meio sem dar chutão. Esta bola sempre passava ou em mim ou no Juninho Paulista. Eu abria de um lado e ele do outro. E nós armávamos os contra atques pois éramos velozes. Já quando o Juninho Pernambucano recebia a bola, ele olhava para mim , eu fingia que corria em direção a ele mas ele não me lançava a bola ali. Lançava atrás e já sabia onde correr. O Juninho Pernambucano era aquela jogador que enfiava a bola, que lançava, que distribuía o jogo. Já o Juninho Paulista era quem carregava, levava a bola até o ataque. Eu usava de muita velocidade pela ponta e o Romario que era muito fácil jogar com ele.



FTT – Romario foi seu maior parceiro?
EULLER – Foi meu melhor parceiro. Eu não tinha a menor dificuldade em fazer a jogada pelo lado e lançar para ele. Sabia se desmarcar do zagueiro como ninguém. Ele tinha aquela jogada em que fingia que ia na bola na frente e dava um passo para trás. Então eu já sabia e era só lançar no segundo pau que ele estava livre.


FTT – Você jogou com dois grandes armadores, o Cesar Sampaio no Palmeiras e o Juninho Pernambucano no Vasco. Fale um pouco dos estilos de cada um.
EULLER – O Cesar Sampaio já era um jogador experiente, que sabia muito bem o que fazer com a bola, ditava o ritmo. O Juninho Pernambucano estava começando mas mesmo assim você já via seu potencial em distribuir o jogo.




FTT – Na semifinais do Brasileiro você foi fundamental nos jogos contra o Cruzeiro. Na primeira partida no Rio você fez os dois gols do empate por 2x2 e no  jogo de volta no Mineirão estava 1x1 quando você desempatou no segundo tempo.
EULLER - O primeiro jogo foi em São Januario e venciamos por 2x0 com dois gols meus e o Cruzeiro acabou empatando. Sabíamos que não seria facil mas o Vasco era um time que sabia o que fazer. Sabiamos a hora de acelerar, a hora de segurar, quando tranquilizar a partida e acostumadas a lidar com determinadas situações e esta era uma. Nós na segunda partida contra o Cruzeiro sabiamos onde poderiamos ganhar o jogo. Foi justamente onde eu fiz o gol.

FTT - Foi em cima do Cleber usando sua velocidade?
EULLER - Não em cima do Cleber mas nas costas do Sorin. O Sorin era aquele jogador peladeiro, que estava na area, correndo mas não era um lateral. O Cruzeiro jogava com uma linha de quatro mas ele não era lateral. E por mais que você coloque o Cleber para fazer a cobertura ou o volante estando ali já dificulta. Porque tinhamos eu e o Romario. O zagueiro já tinha que se preocupar com o Romario e então tinha a opção de jogada comigo. Então nós optamos por jogar ali e foi assim que saiu a jogada do nosso gol de desempate. Eu recebi a bola e já dei um tapa nela tirando o Cleber da jogada. Na velocidade eu sabia que iria ganhar e foi dito e feito.

FTT - No final da partida o Romário  fez o gol , o terceiro do Vasco.
EULLER - Foi, o Romario ainda fez o gol dele, aliás o primeiro que el fez no Mineirão. Até então ele nunca tinha feito um gol no estadio.


FTT - Você jogou no Vasco de 2000 a 2002 e foi uma peça importante no esquema tático da equipe, especialmente empregando a sua velocidade, que foi uma característica na sua carreira. Como você usou dela naquele jogo histórico em 2000 quando o Vasco virou o jogo de 4x3 sobre o Palmeiras na extinta Copa Mercosul?
EULLER - Foi aquilo que eu disse que nossa equipe sabia o momento certo de atacar, o momento certo de defender e este jogo nos pegou de surpresa. O Palmeiras entrou a 1000, fez um primeiro tempo perfeito, nos deixando atônitos. Na verdade não era para ser só 3x0 porque nós tomamos um "chocolate" e poderia ter sido 4 ou 5 tranquilamente para eles. Nós descemos então para o vestiario pensando o que tinha acontecido.

FTT - E o que foi conversado no vestiario?
EULLER - Primeiro o silencio. Aquela coisa de um olhar para o outro e não entender o que estava acontecendo, nada estava dando certo. Era apenas o segundo jogo do Joel porque o primeiro foi aquele no Mineirão . Ele tentou então nos motivar porque viu que todos estávamos em silencio. Usou a motivação do que qualquer esquema até porque pela equipe que nós tinhamos, não dava para cobrar muito esquema tático pois a equipe era muito tecnica. O diferencial foi na subida para o campo onde nós olhamos um para o outro e falmos: "isto não pode ficar assim. Nosso time não é time para ser goleado pelo Palmeiras. Eu não aceito e o outro tambem disse que não aceitava  e mais o outro e falamos vamos mudar isto e pode contar comigo". Sei que subimos para o campo motivados e arrepiados. Não pensávamos na virada queriamos pelo menos amenizar aquela goleada. porem no decorrer do segundo tempo fomos vendo poderiamos entrar para a historia. tanto que quando fizemos o primeiro (1x3) eu fui lá no banco e falei para o Eurico: "todo mundo nos ajudando porque nós vamos virar esta partida". Nós vimos que isto poderia acontecer. Quando o Junior  Baiano foi expulso nós não tivemos dificuldades. Continuamos atacando, jogando melhor. Então esta partida realmente tem uma historia. Não foi uma virada qualquer. Foi uma virada em cima de uma grande equipe e numa final de competição sulamericana. O jogo ficou marcado na hisitoria.


Video especial do Esporte Espetacular contando a historia desta partida.


FTT - Foi a partida mais emocionante de sua vida?
EULLER - Uma delas. Teve um Palmeiras 4x2 Flamengo em que eu fui o protagonista fazendo dois gols no final, classificando o Palmeiras. Aquilo passou a seer usado como video motivacional. Hoje ele é usado na internet como video motivacional. O Felipão sempre usava na Libertadores antes das partidas  este video mostrando que tudo é possivel.

Está aí o video que é mesmo de arrepiar.


FTT - Aponte os sete maiores jogadores que você viu jogar.
EULLER - Primeiro o Taffarel. Top para mim e pena que não temos mais goleiros como ele. Goleiro sem firula, bem posicionado , calmo. Taffarel com uma mão segurava a bola. Leandro lateral do Flamengo foi maravilhoso. Romario foi fantastico. O proprio Zico que eu vi jogar. Hoje temos o Messi e Neymar destruindo. Alex foi outro craque.

FTT - E qual lateral foi o mais dificil de passar por ele?
EULLER - Olha para ser sincero lateral mesmo, nenhum. Eu tive dificuldades com um jogador, um zagueiro que foi o Juan do Flamengo. O Juan tinha velocidade e por mais que você desse um tapa na bola ele no minimo chegava junto com você. Ele tinha recurso e velocidade e por isto ele foi o que foi. Eu procurava muito forçar jogadas em cima daqueles zagueiros violentos que batiam porque quase sempre eles acabavam levando cartão amarelo e muitas vezes o vermelho.


FTT - Você voltou para o clube onde iniciou sua carreira. O que é o America para você?
EULLER - O América é uma  vida. A chance aos 17 anos de jogar no profissional dada pelo Jair Bala, subi com 19, fiz meu primeiro contrato como profissional, conquistei meu primeiro titulo como profissional. Eu fiquei ao total 12 anos no America nas duas passagens. Hoje dificilmente um jogador fica seis ou sete anos em um clube. Esta geração de idolos dos clubes está acabando. Voltei para o America em 2006 com o objetivo de voltar com o America para a elite do futebol.. Tanto que quando cheguei minha conversa era sobre o planejamento e eu estava incluido neste planejamento . Independente se fosse dentro ou fora do campo eu iria ajudar o América. Não poupei esforços para isto e por isto foi um privilégio muito grande subir com o America para a primeira divisão do futebol brasileiro.

FTT - Você acha que com a inauguração do Independencia e mais o Shopping o América está no caminho certo ou falta algo importante para se reerguer de vez?
EULLER - O America começa a criar uma raiz não apenas para chegar na elite mas sobretudo para se manter lá em cima. Porque você chegar não é tão dificl como você permanecer na primeira divisão. A maior dificuldade que eu vejo para o América é de fazer novos torcedores. O torcedor é o maior patrimonio do clube. Ele é a alma e sem ele o clube morre. Este é o grande desafio do América hoje. Tem uma grande estrutura no Ct? Tem . Precisa melhorar? Precisa. A comçear pelo seu gramado que precisa mudar, adaptar aos gramados dos estadios. Porque não dá para você treinar em um gramado e jogar em outro. Precisa fazer os alojamentos porque hoje não tem mais espaço para jogador treinar de manhã e a tarde ser liberado para ir pra casa e muitos não vão. Vão para o shopping andar, comer coxinha, alimentação desbalanceada. Então algumas coisas precisam melhorar para se manter forte na elite. A estrutura do Shopping vai ajudar na parte financeira que é muito importante e o estadi pode se tornar uma grande arma desde que se consiga formar torcedores e esta torcida apoiar os jogadores. O torcedor no estadio é muito importante porque o jogador se motiva, se desdobra, se esforça mais um pouco.


FTT - Chegou o dia do seu jogo de despedida. Junto com a inauguração do Independencia. Nesta altura do campeonato ainda dá aquele friozinho na barriga?
EULLER - Acho que vai dar sim. Eu ainda não senti mas com certza no momento eu vou me emocionar porque é uma vida, um sonho meu de encerrar minha carreira com a camisa do América este clube que eu tenho tanto carinho. Junto a isto um jogo pelo Centenario do clube e a reinauguração do estadio. Ficou perfeito. Posso dizer que Deus foi  muito bom para mim e eu tenho sempre que agradecer a Ele por tudo que fez em minha vida, em minha carreira e poder estar fechando com chave de ouro .


FTT - Você está falando de Deus e não podemos deixar de lembrar da sua dedicação e fidelidade desde o seu começo de carreira. Sempre se mostrou um evangelico convicto. Você enfrentou muitas restrições por isto, pela sua escolha?
EULLER - Não somente tinha preconceitos como ainda tem. Muitas barreiras, muitas restrições. Não é facil dentro do clube de você receber apoio da maioria. Sempre tem aquela "gracinha", aquele que não te apoia, que te dás as costas só porque você é evangelico. Muitos jogadores só querem ficar falando de muleheres e baladas e como você é evangelico eles te excluem de certas conversas. Então é tudo  isto, não é facil. Porem eu graças a Deus  por onde passei dei bons testemunhos. Não é pelo muito falar mas simpelo agir que vale muito mais.

FTT - Filho do Vento . Como surgiu este apelido?
EULLER - Foi o Milton Naves, radialista da Radio Itatiaia . Foi um jogo do América e ele foi muito feliz em um gol que eu fiz usando de muita velocidade e foi quando ele falou "um gol do Filho do Vento". Hoje é uma marca conhecida por todos, uma marca minha regsitrada. Agradeço a Deus por ter iluminado a ele neste dia e ter surgido este apelido.


Entrevista : Bruno Steinberg

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Craque disse e eu anotei - RICARDINHO

A entrevista com Ricardinho foi bem ao estilo dele atuando. Fiquei no seu encalço por quase tres meses e varios imprevistos aconteceram. Não desistí , corri atrás e no final o resultado valeu muito a pena. Ricardinho nos fala do futebol nos anos 90 uma época de grandes times e grandes conquistas do futebol brasileiro. Ele é nada menos do que o recordista em titulos conquistados em toda historia do Cruzeiro. Confiram aqui um pouco do que Ricardo Alexandre dos Santos, o Ricardinho,  fez nos gramados do Brasil e do mundo.


FTT - Você foi para o Cruzeiro em 94. Chegou a jogar ao lado de Ronaldo?
RICARDINHO – Joguei. Eu fui para o Cruzeiro em 92 ainda no juvenil. Fiquei dois anos jogando na base e quando o Ronaldo veio do São Cristovão ele veio também para o juvenil. Me lembro que estavam naquele time eu, Ronaldo, o Belleti, o Rodrigo Posso goleiro, Donizeti Amorim também jogava. Quando terminou o ano eu, Ronaldo e Belleti subimos direto para o profissional, nem passamos pelo Junior. Nos treinos do meio de semana já jogávamos contra os reservas do profissional .

FTT - No jogo de despedida de Ronaldo, contra o Botafogo , foi você inclusive quem entrou no lugar dele.
RICARDINHO – Foi, eu estava no elenco e não sabia se iria jogar. Sabiamos que o Ronaldo sairia no meio do jogo mas ninguém imaginava quem iria substitui-lo.O Sr. Enio me mandou ficar “pilhado” e ligado porque eu poderia entrar no jogo. E eu acabei entrando no lugar do Ronaldo.

FTT - Ali nos treinos já dava para notar o potencial de Ronaldo então com 17 anos ?
RICARDINHO – Já dava para notar que ele era diferenciado.. Pela velocidade que ele tinha, os dribles , como ele ocupava os espaços. Já era uma promessa que não tinha como dar errado.



FTT - E você teve naquele time do Cruzeiro de 94 tres grandes volantes jogando juntos: Ademir, Douglas e Toninho Cerezo.O que representaram estes jogadores para você?
RICARDINHO – Aprendi muito. Eu estava no elenco com este pessoal e via muitos detalhes. O Cerezo após os treinamentos me orientava muito, me dizia como bater na bola. Falava sobre visão de jogo e que eu deveria saber usar as duas pernas porque um bom armador tem de saber usar bem tanto a direita como a esquerda. Eu dei muita sorte em pegar um pessoal como este. O Douglas muito experiente também, com um passe muito bom e então foram muito importantes para mim.

FTT – Toninho Cerezo foi um dos maiores volantes que você viu jogar ?
RICARDINHO – Com certeza. Um cara diferenciado que dava dois toques apenas na bola e mudava o jogo. Uma visão de jogo sensacional e dificílimo jogar como ele . Dava dois ou três toques na bola e resolvia toda uma jogada em que outros carregavam a bola um tempão.

Douglas, Nonato, Cerezo agach. Zelão e Ademir


FTT - Você gostava mais de jogar como volante ou como armador (segundo volante)
RICARDINHO – No começo de carreira jogava mais atrás como volante , mais defensivo, até mesmo porque você está tentando se encaixar no time sem arriscar demais. Porem eu era meia e o Sr. Enio me orientou a jogar de segundo volante porque o meia joga de costas e eu jogaria de frente.Ele dizia que eu tinha habilidade e velocidade para sair para o jogo de frente e me colocou ali para jogar vindo de trás, de frente.

FTT - Copa do Brasil de 1996. Cruzeiro x Palmeiras. No Mineirão empate de 1x1. No jogo de volta em SP logo aos 5 minutos Luizão faz o gol palmeirense.  Voces precisavam agora de um milagre. Fazer dois gols no time  de Cafu, Cleber, Junior, Amaral, Djalminha, Rivaldo, e Luizão. Foi a vitoria da união contra o melhor time?
RICARDINHO – Foi um jogo muito difícil até mesmo pelo momento que o Palmeiras vivia. O time deles tinha pelo menos seis jogadores da seleção brasileira naquela época , eles tinham empatado por 1x1 com a gente no Mineirão , Luxemburgo era o treinador, o time do Palmeiras estava completo e ninguém imaginava que nós pudéssemos reverter isto . A imprensa também já dava como certa a conquista palmeirense e nós éramos tratados como os “azarões”.. Mas a gente vinha bem na Copa do Brasil. Mas como você falou, tomamos um gol logo com 5 minutos e contra uma equipe como aquela do Palmeiras era para desestabilizar qualquer equipe adversária. Nós conseguimos colocar os pés no chão, tentamos controlar a partida e acabamos fazendo um gol. Aí eles viram que se fizéssemos um gol seriamos campeões e ficou aqueke jogo meio travado. Fizemos o segundo gol e aí não tinha mais jeito.

Time campeão da Copa do Brasil em 1996



FTT – Foi talvez a maior festa de titulos na historia de Belo Horizonte.
RICARDINHO – Olha eu cheguei em Belo Horizonte e nunca vi nada igual.Nem na Libertadores, nem em titulo nenhum. A cidade parou para receber os jogadores. Foi impressionante. Acho que estava engasgado na garganta dos torcedores.

FTT - Falando na Libertadores em 97 voces conquistaram o bi. O time havia perdido tres partidas seguidas e precisava vencer praticamente todos os seus jogos seguintes. Eliminou o Grêmio nas quartas e teve um duelo dificilimo com o Colo Colo nas semifinais. (0x1 em BH e 2x3 no Chile). Venceu na decisão por penaltis.
RICARDINHO – Como você disse, começamos muito mal a Libertadores. Foi quando o Paulo Autuori reuniu o grupo e nos fechamos para dar uma virada. Vencemos o Grêmio em Porto Alegre e daí a equipe começou a crescer e ganhar confiança e nos classificamos. Nas semifinais fomos para o jogo contra o Colo Colo em uma partida dificilma. Pressão da torcida, as dimensões do campo muito menores do que a do Mineirão, o time deles corria demais. Tinhamos perdido em BH e precisávamos vencer lá. Começamos bem, conseguimos tomar conta do jogo e vencemos por 3x2. Fomos para os pênaltis e tínhamos o Dida que era fantástico no gol. Chegou a minha vez de cobrar e aquela sensação de responsabilidade, de ter de fazer porque se você erra compromete todo um trabalho. Estar numa semifinal de Libertadores que é uma coisa dificilma, eu fui feliz na cobrança , meus companheiros também e chegamos a final.


FTT - Na final com 100 mil pessoas no Mineirão um jogo durissimo contra o Sporting Cristal. Voces estavam nervosos ou o time deles é que surpreendeu?
RICARDINHO – É foi verdade, não jogamos bem. O primeiro jogo nós jogamos bem melhor lá no Peru. Chegou aqui no Mineirão com tudo a nosso favor, contra uma equipe peruana acho que isto deixou a gente com aquela obrigação de vencer. O gol não saia e o time deles quase fez um com o Dida fazendo uma defesa impressionante. Foi um jogo tenso e no final saiu o gol do Elivelton com o goleiro deles ajudando um pouco. Cruzeiro campeão.

FTT - Chegou a decisão do mundial em Toquio. Jogadores que lutaram pela conquista da Libertadores ficaram de fora. Você acha que foi um erro da diretoria contratar Bebeto, Gonçalves e Donizete somente para a disputa desta final ?
RICARDINHO – Foi muito ruim. O que aconteceu foi que no segundo semestre o Cruzeiro tinha caído de produção, o Palhinha tinha saído mas nós tínhamos ainda uma base forte . Trocaram o treinador e acabou tendo alguns conflitos , inclusive com o Gottardo se desentendendo com o Nelsinho Baptista . Perto da competição contrataram quatro jogadores. Se tivessem contratados eles seis meses antes seria bom inclusive para os jogadores que vieram e para o elenco todo. Evitaria este conflito que foi criado. A gente saiu daqui dividido e sem saber o time que iria disputar a decisão. Você pega do outro lado, um time que é o campeão da Europa, todo estruturado. No nosso time o Wilson Gottardo nem viajou (era o capitão na Libertadores), o Nonato saiu do time, o Marcelo Ramos também. Então chegamos lá sem motivação realmente. Expectativa de que poderíamos ganhar mas a partida não foi boa para nós. Se a equipe não estiver unida fica difícil em qualquer situação.

Wilson Gottardo o capitão ergue a Taça Libertadores em 97



FTT – O Cruzeiro conquistou o tricampeonato mineiro em 98 mas acabou perdendo tres finais importantes no mesmo ano. O que faltou a este time?
RICARDINHO – É este time jogava muito bonito, tinha um toque de bola certinho e a marcação muito boa. Não sei se foi um erro nosso mas entramos para ganhar todos os torneios. No primeiro semestre misturava jogos do campeonato mineiro e da Copa do Brasil, depois do Brasileiro junto com a Mercosul. Acho que se tivéssemos preparado para uma ou duas competições teríamos vencido. Perdemos um pouco o foco. Acreditamos que podiamos ganhar todos ao invés de escolher um ou dois.




FTT - Levir Culpi errou quando na terceira e ultima partida das finais do Brasileiro contra o Corinthians entrou com apenas dois atacantes e o time precisando vencer? Marcelo Ramos e Alex Alves na reserva não foi um erro?
RICARDINHO – Olha eu penso que o Levir queria segurar o jogo  para tentar vencer no final. Talvez tenha sido o pensamento dele, eu não sei. Mas o Levir é um treinador muito inteligente , um cara sensacional. Eu vi poucos treinadores unir um grupo como ele. Agora acontece. As vezes ele pensa uma coisa mas não anda como ele pensou.



FTT – Enio Andrade e Levir Culpi são dois grandes treinadores. Fale um pouquinho da maneira deles trabalharem.
RICARDINHO – O Enio Andrade é aquele treinador que te olha e sabe o seu perfil todinho, Conhece o seu potencial , o seu futebol. Ele é diferente, excepcional. Agora o Levir Culpi pratcamente foi quem me deu a oportunidade real de jogar, que acreditou em mim. Um cara que me ensinou não a jogar futebol mas outras coisas na minha vida. Estrutura familiar, como lidar com dinheiro. Foi um cara fundamental na minha vida no inicio. Eu o tenho até hoje como exemplo e uso como exemplo para muitos jogadores que estão começando no futebol. Dificilmente você vai ver um treinador fazer o que ele faz.


FTT – Este time de 98 do Cruzeiro era uma grande equipe. Dida, Marcelo Djian, Wilson Gottardo, Gilberto, Ricardinho, Djair, Valdo, Marcelo Ramos, Muller, Elivelton, e Fabio Junior começando. Este time era melhor do que o de 97?
RICARDINHO – Olha este time de 98 jogava mais bonito. Agora time que ganha para mim é o melhor. Veja que o Cruzeiro até hoje não ganhou outra Libertadores, é muito difícil. Ganhou em 76, depois este time de 97. É uma competição extremanente difícil. Eu inclusive lamento que até hoje eu ouço nas ruas sobre o time de 97 e vejo que não é tão valorizado como deveria. Veja que são os dois títulos mais importantes na historia do Cruzeiro. Por isto que acho que devemos valorizar o que ganha. O de 98 jogava muito bonito mas não ganhou.


FTT - Mas aquele Corinthians era muito forte tambem. Gamarra, Silvinho, Vampeta, Ricardinho, Rincon, Edilson e Marcelinho Carioca. Foi um dos melhores times que você enfrentou em sua carreira?
RICARDINHO – Sensacional. Um dos melhores que vi. O nosso erro maior foi aqui no Mineirão quando vencíamos por 2x0 e permitimos o empate. Se ganhássemos aqui jogaríamos por empate em São Paulo e este time sabia tocar a bola muito bem.

FTT – Falando em grandes times você enfrentou timaços nos anos 90. Quais foram os melhores ?
RICARDINHO – Corinthians de 98, o Palmeiras de 96, o Vasco de 97, o São Paulo com Serginho, Denilson, França e Dodô


FTT - E a rivalidade com o Palmeiras nos anos 90. Só em 98 foram 8 partidas com 4 vitorias para cada lado.
RICARDINHO – Era grande a rivalidade. Muitos jogadores bons dos dois lados. Decidimos duas copas do Brasil com uma vitoria para cada lado, semifinais do Brasileiro, final de Mercosul. Foram grandes jogos realmente.

FTT – Como companheiro de time você jogou com alguns dos melhores zagueiros do nosso futebol:  Wilson Gottardo, Luisinho, Marcelo Djian , Cleber e Cris.Qual seria sua zaga?
RICARDINHO – Todos citados foram muito bons. O Luisinho não tem jeito Bruno;o Luisinho e o Toninho Cerezo são acima deste pessoal todo. O que eles jogavam você ficava até com vergonha. Eu ficava pensando como é que eu vou conseguir jogar no meio destes caras? Eles jogam bola com simplicidade, parece muito fácil para eles. O Clebão foi muito bom também. O Cris um xerifão, Todos foram grandes zagueiros.

RICARDINHO – Foi uma delas. Acho que a de 96 contra o Palmeiras foi mais. A de 2000 , o Cruzeiro tinha condições de ganhar, um time melhor, jogando em casa, com o apoio da nossa torcida. Apesar que fomos fazer dois gols nos últimos minutos e quase tomamos outro gol nos descontos. Foi uma virada historica. Mas a de 96 superamos tudo. Era como se jogássemos contra o atual Barcelona na casa deles, guardada as devidas proporções. Vencer aquele time do Palmeiras e de virada foi emocionante e marcante.
FTT - A final da Copa do Brasil em 2000 foi a partida mais emocionante na sua carreira?

FTT - A final da Copa do Brasil em 2000 foi a partida mais emocionante na sua carreira?



No video alem dos lances , Geovani e André do Cruzeiro e Rogerio Ceni do São Paulo falam sobre esta emocionante decisão.


FTT - A  Copa Sul Minas existiu por apenas 3 anos. Era um grande torneio com times como Grêmio, Inter, Atletico, Cruzeiro , America, Coritiba, Atletico Pr, Figueirense e Avai. Você preferia disputar este torneio ou o campeonato mineiro?
RICARDINHO – Não tem nem chances de comentar. Sou muito mais a Sul Minas. Lá você pegava times do mesmo nível, times grandes, jogos difíceis. Lá você jogava com vontade de ser campeão mesmo. Agora no campeonato mineiro, não desmerecendo os times do interior o nível é muito distante. Os times não recebem apoio, investimento nenhum. Desde a época em que eu jogava não melhorou nada.

O Cruzeiro venceu duas vezes , o America uma e travaram bons jogos na Copa Sul Minas.


FTT - O Cruzeiro teve inumeros craques vitoriosos ao longo destes anos. Piazza, Raul, Dirceu Lopes, Palhinha e Nonato são alguns destes. Porem o maior ganhador de titulos na historia do clube é você com 15 titulos conquistados. O que isto representa?
RICARDINHO – Para mim representa um trabalho muito bem feito dentro do clube. Lógico que este pessoal que você citou, jogou muito melhor do que eu . São ídolos eternos do clube. Eu vivi um momento muito bom do Cruzeiro com vários jogadores vitoriosos e que me ajudaram bastante a conseguir estes títulos. Então eu me orgulho bastante. Escrevi meu nome na historia do clube e até hoje saio na rua e sou reconhecido por isto. Ficou aquela sensação de dever cumprido.


FTT - Você jogou ao lado de dois dos maiores laterais esquerdos na historia do Cruzeiro: Sorin e Nonato. Na sua seleção do Cruzeiro de todos os tempos qual seria o titular?
RICARDINHO – É dificil. Sorin foi muito bom com reconhecimento internacional. O Nonato também jogava muita bola. Porque tem o seguinte: não é só o cara jogar. O cara ajuda você jogar. O Nonato era assim, queria o jogo, te orientava, te ajudava em campo entendeu? Este pessoal que depois foi parando , como o Cerezo, Douglas, Nonato eles sabiam ler o jogo. Veja aquele jogo da final de 96. Me lembro direitinho do Palhinha e o Fabinho logo que nós tomamos o gol eles disseram: "calma! Vamos continuar tocando a bola. Nada de apavorar. Se os caras notarem que estamos desesperados eles vão vir pra cima." Então, os caras liam o jogo. Então de 2000 pra cima quando este pessoal aprou eu sentia muita falta disto. Não tinha mais aquele jogador que sabia ler o jogo. Você vê hoje em dia por exemplo. O Diego Renan que é um cara que sabe jogar. Mas vem pressionado pela torcida e acaba jogando mal. Nesta hora tinha de ter aquele jogador para orientar, dar confiança. Não é aquele líder que quer aparecer para a torcida que fica fazendo gestos para aparecer. Não é xingar. É ler o jogo, orientar o time, os jogadores, passar tranquilidade e confiança.


FTT – E aquele time de 97 era bem assim?
RICARDINHO – Era. Nonato, Gottardo, Fabinho , Vitor lateral direito. O Vitor foi campeão de tudo isto, sabia os atalhos. No vestiário todo mundo falava, não ficava somente o treinador falando. Porem o torcedor não vê isto. A gente se unia e resolvia estas coisas que são importantes demais. Jogadores tem de analisar o adversário, saber o que vão enfrentar. Eu e Fabinho conversavamos muito. Tinha time que a gente sabia que era muito difícil e combinávamos de parar o jogo. Faziamos muitas faltas, não violentas mas para parar mesmo. Acaba que saíamos ganhando, a gente era campeão.

FTT – Quantas Bolas de Prata da Placar você ganhou?
RICARDINHO – Duas, uma em 96 e outra em 2000.

FTT – Aponte os sete maiores jogadores que você viu em campo.
RICARDINHO – Palhinha, Dida, Djalminha, França foi muito bom, Edilson , Muller e. Marcelinho Carioca que jogava demais. Aliás aquele time do Corinthians era sensacional.


FTT – E o Marcelinho Carioca sempre passou uma imagem de provocador. Era assim em campo?
RICARDINHO – Era. Ele provocava, era irritante mas isto era do jogo. Era um cara inteligente. Sabia jogar e tirar proveito.

FTT – Como companheiro de time você jogou com alguns dos melhores zagueiros do nosso futebol:  Wilson Gottardo, Luisinho, Marcelo Djian , Cleber e Cris.Qual seria sua zaga?
RICARDINHO – Todos citados foram muito bons. O Luisinho não tem jeito Bruno;o Luisinho e o Toninho Cerezo são acima deste pessoal todo. O que eles jogavam você ficava até com vergonha. Eu ficava pensando como é que eu vou conseguir jogar no meio destes caras? Eles jogam bola com simplicidade, parece muito fácil para eles. O Clebão foi muito bom também. O Cris um xerifão,



FTT – Qual foi a partida que te marcou ?
RICARDINHO – Foram as três finais. Copa do Brasil 96, Libertadores 97 e Copa do Brasil 2000. Não te  como não ser .

FTT – E qual foi o melhor arbitro do futebol brasileiro para você?
RICARDINHO - Paulo Cesar de Oliveira. Ele te passava firmeza, segurança. Para ele não importava fator campo, pressão de torcida. Apitava da mesma maneira em qualquer lugar.

FTT – Nós temos vista cada vez com mais frequência jogadores brasileiros indo jogar na Ucrania, Russia, Japão, e mesmo nos grandes centros da Europa. Porem pouco tempo depois eles voltam e nem sequer são sombra daquele jogador que se destacou aqui. O que acontece, é readapatação?
RICARDINHO – Acho que hoje depois que este tanto de empresários invadiu o futebol eles acabam levando os jogadores para atuar em qualquer lugar somente para ganhar dinheiro. Jogar lá fora é dificil . Tem adaptação, o jeito de jogar, esquema tático, clima, os amigos. É totalmente diferente. Lá fora você não segura a bola como aqui, você faz lançamentos toda hora. O jogo é mais rápido. Porem quando você volta nota a diferença pois aqui mesmo que o pessoal diga que hoje não temos grandes jogadores no Brasil, mas o pessoal sabe jogar bola, tem habilidade.É mais inteligente. Para readaptar ,ocupar os espaços no campo é diferente. Necessita de tempo. Tem também o lado financeiro porque o cara acaba ganhando muito dinheiro lá fora e as vezes volta acomodado, tipo “eu não preciso mais tanto” e aí acaba não rendendo o que devia. Acomodação atrapalha demais o jogador.


FTT – Porque você não deu certo no Corinthians?
RICARDINHO – Eu tive problema serio no tornozelo.Nos meus dois últimos anos no Japão eu já tinha que tomar medicamento diariamente. Até para treinar. Eu tinha que usar uma palmilha para jogar pra corrigir o tornozelo mas mesmo assim eu sofria demais . Quando eu voltei do Japão para o Cruzeiro eu tive propostas até melhores do São Paulo e do Santos. Porem eu quis voltar para o Cruzeiro porque o pessoal aqui , os fisoterapeutas já conheciam meu problema, facilitava o tratamento. Eu tinha medo de acertar com o São Paulo e nem ser aprovado no exame medico.Eu já tinha feito duas cirurgias na época. Para você ter ideia eu tomava injeções todos os jogos. Tinha intervalos das partidas que enquanto o pessoal estava ouvindo a preleção eu estava no departamento médico tomando infiltração.Tudo isto para aguentar o segundo tempo.E você tinha que aguentar porque se fala começava aquela historia de “você está bichado” e coisas do tipo.Fui tentando prolongar. Cheguei então para o Alvimar Perrela que era o presidente e falei que seria bom rescindir o contrato porque eu não estava conseguindo corresponder e por tudo que eu fiz aqui acho que não conseguirei jogar como eu jogava. Apareceu a proposta do Corinthians e de repente sería bom , novos ares, tentar alguma coisa por lá. Acabou que eu fui, consegui jogar 5 partidas. Meu tornozelo doía demais, eu acabava tendo outros problemas por causa desta contusão, como estiramento na perna. Você parado vai perdendo preparo físico e compromete seu futebol. Me indicaram então um medico, Dr. Moisés Cohen e fiz uma ressonância magnética. Chegou no dia do resultado e fui todo esperançoso de que o doutor me daria uma noticia boa , do que poderíamos fazer para curar o tornozelo. ele acabou me dizendo: “Eu se fosse você parava de jogar bola. A melhor coisa para você no momento é para de jogar. Você corre o risco de acabar ficando manco. Vendo sua ressonancia aqui vejo que não dá para se fazer nada pois já tem quatro cirurgias feitas.Sem chance de você continuar com o futebol.” Foi um baque para mim.Acabei rescindindo com o Corinthians e voltei ao Cruzeiro. Tentei novamente seguir a carreira mas sentia muitas dores e resolvi parar. Foi um alivio para mim.

Hoje Ricardinho possui uma representação de calçados da marca Grendene chamada Planeta dos Calçados e está iniciando um novo ramo com a agencia R8. Será destinada ao marketing esportivo. Negociarão por exemplo patrocinios para clubes de futebol ou volei nas mangas das camisas. Publicidade envolvendo jogadores tambem será um foco da empresa.


Entrevista : Bruno Steinberg