FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - YESO AMALFI

Em 2010 foi lançado o livro de Yeso Amalfi. Como fã do futebol do passado, comprei esta obra. Nela pude ler a gloriosa história de Yeso, jogador revelado pelo São Paulo de Leônidas da Silva, que jogou no Boca Juniors ao lado de Heleno de Freitas, fez parte do time do Peñarol com os futuros campeões de 1950, atuando também no Torino e com grande passagem pelo futebol francês. Conheci o filho dele (Fabio Amalfi) que me autorizou a entrevista. Confiram a matéria.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O seu início foi na Várzea, jogando pelo Éden do bairro da Liberdade. Depois você foi para o São Paulo.
YESO AMALFI: Teve dois São Paulo’s. O da Floresta, onde jogava o Friedenreich. E o São Paulo Futebol Clube pobre, do meu tio, próximo à Avenida São João. A sede do Palestra-Itália era no Ponto Chic onde inventaram o Bauru. Quando jogavam São Paulo e Palestra, saía briga. Era tudo lá na esquina da Avenida Ipiranga com a São João, com os teatros, cinemas, ou seja, São Paulo era concentrado ali, na Rua Barão de Itapetininga, Praça do Patriarca e Largo São Bento. Antes de estrear nos Aspirantes do São Paulo, eu era interno no colégio Mackenzie. Eles me aceitaram pra disputar a Olimpíada Mackemedia (Mackenzie X Medicina), sendo que eu sempre ganhava os jogos. Um diretor do São Paulo, me vendo jogar, me levou pra lá, quando o estádio era o Canindé, que pertencia a um clube alemão, no início dos anos 40.
FTT: No São Paulo, em 1946, você atuou em algumas partidas do time do São Paulo que foi Bicampeão Paulista invicto num grande ataque, formado por Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Teixeirinha.
YESO: E tinha a defesa, com Gijo, Piolim e Renganeschi, completando a linha média com Bauer, Ruy e Noronha. Quando o Sastre voltou pra Argentina, fui pro lugar dele. Mas, na ocasião em que eu estava jogando bem, o Sastre veio aqui e me levou pra jogar no Boca Juniors em 1948, logo após o torneio Quintela de Ouro, com Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Boca e River Plate.

Jogadores do São Paulo de 1945, quando o clube conquistou pela segunda vez o Campeonato Paulista em sua história. Na primeira fileira, da esquerda para a direita e de cima para baixo, estão Bauer, Renganeschi, Barrios, Leônidas, Rui, Virgílio, Luizinho e André; na segunda fileira vemos Gijo, Sastre, Noronha, Zarzur, Teixeirinha, Remo, Piolim e Fernando; na terceira fileira estão Leopoldo, Savério, Hélio, Alfredo, Ministro, Jacob, Américo e Yeso Amalfi; sozinho na última fileira está Armando


FTT: Voltando ao São Paulo, o que você lembra do Leônidas da Silva?
YESO: O Leônidas era o grande ídolo do Rio de Janeiro, centroavante do Flamengo, o clube mais popular da cidade e que tinha um timaço. Quando ele chegou no São Paulo, em 1942, estava gordo, por isso era chamado de Bonde (jogador em final de carreira). Depois entrou em forma, nunca deu trabalho ao clube, jogador correto, ajudava a todos e um dos maiores craques que vi jogar. Era muito amigo meu e me ajudou muito quando comecei a jogar nos Profissionais. Outro que eu gostava era o Tim, o melhor meia do Brasil. E tinha o Domingos da Guia, o grande zagueiro brasileiro que vi jogar. O melhor time do Brasil, nesta época, era o Vasco da Gama.

YESO AMALFI CONQUISTA OS ARGENTINOS

Yeso Amalfi e Heleno de Freitas uma grande dupla no Boca Juniors


FTT: No Boca Juniors você jogou com o Heleno de Freitas.
YESO: Ele era o melhor centroavante do Brasil e da América do Sul naquela época (1948). Muito amigo meu, formado em Advocacia e jogava no Botafogo do Rio. No Boca Juniors eu estava jogando muito bem, sendo que o time precisava de um centroavante e o presidente me pediu pra buscá-lo. Na estréia dele, contra o Banfield, ganhamos de 3 a 0 e ele marcou dois gols.
Yeso Amalfi um idolo brasileiro no Boca Juniors

 Boyé, Negri, Heleno, Yeso Amalfi e Pin


FTT: Na Argentina você jogou contra o River Plate de Moreno, Pedernera, Labruna, Di Stefano, e Lostau.
YESO: Eu vi estes craques em ação. O futebol argentino era o melhor daquela época. A equipe do River Plate era formada por Carrizo, Vaghi e Ferreira; Yacono, Nestor Rossi e Ramos; Muñoz, Moreno, Pedernera (Di Stefano), Labruna e Loustau. Era um timaço. O time do Boca Juniors tinha Vaca, Marante e De Sorzi; Carlos Sosa, Lazarti e Pescia; Boyé, Negri, Heleno de Freitas, Eu e Gomes Sanches. O Heleno, com saudades do Rio de Janeiro, quis voltar logo.

Yeso Amalfi com a camisa azul do Boca Juniors.
FTT: Depois do Boca, você foi jogar no Peñarol do Uruguai, em 1949.
YESO: Fui campeão invicto com o Peñarol. Joguei depois alguns meses no Palmeiras, em 1950, sendo campeão da Taça Cidade de São Paulo. Eu assisti a Copa do Mundo no Brasil. Vinha do Peñarol, grande time da época, base da Seleção Uruguaia que ganhou o título no Rio de Janeiro em cima dos brasileiros, era o melhor jogador e por tudo isso merecia estar na Seleção Brasileira. Tirando eu, o time do Peñarol era a Seleção Uruguaia, com Máspoli, Obdulio Varela, Andrade, Migues, Vidal, Ghigghia e Schiaffino. Na final, quando perdemos por 2 a 1, estava viajando de navio no litoral de Pernambuco pra jogar no Olympique de Nice. Fui com um cartaz violento pra França.


 
No Nice da França um grande momento de sua carreira

Yeso Amalfi está agachado ao centro segurando a bola. Campeão frances pelo Nice em 51.



FTT: No Nice você também participou da Copa Rio de 1951, vencida pelo Palmeiras.
YESO: Este time havia subido pra Primeira Divisão e ganhamos o Campeonato Francês. Na Copa Rio só joguei um jogo, que foi justamente contra o Palmeiras, com craques como Jair Rosa Pinto, Oberdan Cattani, Waldemar Fiúme, Lima, Rodrigues e Canhotinho. Perdemos a partida.
Na França eu conheci Brigite Bardot, Sophia Loren e Gina Lolobrigida. Adorava andar ao lado de mulheres bonitas. Eu era mulherengo, mas não bebia. Frequentei muito o Festival de Cannes.
Yeso Amalfi fez muito sucesso na França. Era convidado para festas e apresentações pois se tratava de figura importante e querida .

FTT: Após a Copa Rio você foi jogar no Torino da Itália, dois anos depois da tragédia de avião que matou todo aquele grande time.
YESO: Esta equipe havia jogado uma partida amistosa na Inglaterra e, na volta, o avião passou atrás de uma igreja, a ponta dele pegou na torre, explodiu, morrendo todo o time do Torino, que era o melhor do mundo, sendo que ganharam vários títulos seguidos na Itália. Eu também ganhei um campeonato com eles.
Yeso Amalfi e Mauricio Sabará.

FTT: Em 1952 você teve uma rápida passagem por Mônaco, conhecendo inclusive a Grace Kelly. No mesmo ano foi contratado pelo Racing da França, onde viveu os melhores momentos da sua carreira.
YESO: Eu era um ídolo na França. Muitos queriam que me naturalizasse francês pra jogar na Seleção do país, mas, por amor ao Brasil, nunca aceitei. O Canhotinho também jogou comigo lá. Divulguei o futebol brasileiro, era rápido, tocava bem a bola, marcava muitos gols, tinha técnica, enfim, os franceses me idolatravam. Não era somente elogiado por torcedores, mas também muitos artistas gostavam de mim.
Na Europa a Hungria era a grande Seleção da época, principalmente depois que os húngaros venceram os ingleses por 6 a 3 em Wembley. Certa vez enfrentamos os alemães em Berlim, ganhamos por 2 a 1, mas percebemos que já se tratavam de fortes candidatos pra Copa do Mundo de 1954, com jogadores como Fritz Walter, Rahm, Turek e Posipal.
Anos depois, o time que nos dava mais trabalho na França era o Reims, que formava uma equipe com jogadores que se consagrariam anos depois no Mundial da Suécia, como Piantoni, Just Fontaine e Kopa, que era o meu grande rival.



Red Star Campeão 1955/56 - Em pé a partir da esquerda estão: Bohée, Hugues, Pasik, Lamy, Lapoire e Loubiére. Agachados: Just Fontaine, Yeso Amalfi, Melbergue, Quenolle e Gondouin.

FTT: Em 1956 você foi jogar no Red Star de Paris e no ano seguinte transferiu-se para o Olympique de Marselha, onde encerrou a carreira em 59.
YESO: Isso mesmo. Também foram boas passagens. E depois voltei para o Brasil.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.

FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Encontros eternizados - PELÉ & REINALDO


Pelé faz uma visita a Reinaldo em Belo Horizonte quando o craque atleticano se submeteu a mais uma cirurgia para retirada dos meniscos em 1978.

Revista do Dia - GAZETA ESPORTIVA 1958


A capa da Gazeta Espotiva d e1958 traz na capa o atacante corinthiano Tite.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - AMAURY de CASTRO

O Doutor Amaury de  Castro , medico pediatra conceituado em Belo Horizonte, demonstrou toda sua simpatia e simplicidade ao atender me gentilmente em sua residencia para esta entrevista. Liguei em um dia e no dia seguinte sem maiores problemas fizemos esta materia em sua casa  decorada com muito bom gosto 


FTT - FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Como foi o seu começo no futebol?

AMAURY de CASTRO - Eu comecei nos juvenis do América. Depois fiz cursinho para medicina e como minha familia era toda de médicos resolvi largar e me dedicar aos estudos . Fiquei jogando no Paissandu um time amador de Belo Horizonte. Foi quando o presidente do Sete de Setembro, o Raimundo Sampaio veio me procurar. Eu disse a eles que como eu iria fazer para conciliar meus estudos de medicina com o futebol. Eles me propuseram jogar amadoramente pelo clube, sem receber praticamente nada mas por outro lado quando tivessemos de viajar ou se eu precisasse faltar a algum treino por causa dos estudos eu poderia faze-lo. Nem concentração eu precisava freuentar . Acertei com eles mas eu nunca precisei usar dos direitos que me ofereceram pois fui a todos os treinos e jogos rigorosamente.

FTT - E este seu começo no Sete de Setembro foi quando?

AMAURY de CASTRO - 1954.


Amauri ao centro no inicio de carreira jogando pelo Sete de Setembro.


FTT - E como o Cruzeiro despertou interesse em compra-lo?

AMAURY de CASTRO - No final do segundo turno do campeonato mineiro de 1956 nós jogamos contra o Cruzeiro no estadio Independencia (Campo do Sete de Setembro). Nós empatamos a partida em 2x2 e eu fiz um gol de cabeça. Fiz uma partida muito boa e a torcida do Cruzeiro ficou brava comigo ,muitos até me xingaram no alambrado pois se o Cruzeiro ganhasse seria campeão direto. Falaram comigo...."o que você ganhou com isto" referindo-se ao meu gol. Oras eu era jogador e visava o melhor para o meu time sempre.
O Cruzeiro tinha um time bom e teve uma hora que o Lazzarotti passou por mim e me falou com aquela voz rouca: "É dificil me marcar né menino". Pois então eu virei para o Murilo Silva, aquele mesmo que jogou no Atletico e Corinthians e falei: Murilo eu vou adiantar um pouco, vou marcar o Guerino lá na frente. O Murilo falou que eu podia ir que ele tambem iria adiantar a marcação. Fizemos isto e anulamos o ataque do Cruzeiro.

FTT - Depois deste jogo então o Cruzeiro te procurou?

AMAURY de CASTRO -  Foi. Eles foram  lá em casa e disseram que queriam me contratar. Perguntaram quanto eu queria ganhar. Eu pedi a eles um minuto enquanto fui lá dentro conversar com meu pai .Ele não entendia nada de futebol pois tambem era medico mas me disse: pede o dobro do que você ganha. Pois eu voltei para a sala e disse que queria ganhar o dobro. Eles toparam imediatamente. Porem os diretores do Sete ficaram sabendo e me procuraram. Eu marquei então uma reunião para as duas diretorias se acertarem. Foi no apartamento do diretor do Sete , sr. Americo Tunes. Fala de lá, fala de cá e nada deles se acertarem. Foi quando eu disse o que aconteceu. Falei que o Sete não queria me pagar nada a mais e que o Cruzeiro me propos o dobro do salario e que apesar de não ter assinado nada já tinha apalavrado com eles e queria jogar lá. Foi então que um dirigente do Cruzeiro falou que devia uma grande contratação a torcida cruzeirense e que por sinal tinham diversos torcedores na portaria do predio esperando. E era verdade mesmo. Então os diretores do Sete aceitaram e eu fui para o Cruzeiro.

Manchete do Jornal Estado de Minas no dia seguinte ao acerto com o Cruzeiro - Acertada a transferencia do magnifico medio do Sete de Setembro - Passe barato e luvas de 60 mil cruzeiros

FTT - Depois de dois anos no Sete de Setembro chegou a vez de disputar o mineiro pelo Cruzeiro.

Amaury de Castro - Foi. Cheguei no Cruzeiro quase no fim de 57 e fui entrando no time. Antes de terminar o campeonato eu já era titular.
Neste ano entretanto, não ganhamos o mineiro pois o America é que venceu.

FTT - Aí você passou a render cada vez mais?

Amaury de Castro - Na verdade eu comecei a jogar cada vez melhor mas aí em 58 eu passei no vestibular. Você imagina o que isto representava para uma familia toda de medicos, do meu pai aos meus tios. Ficava muito dividido entre os estudos e o futebol.

FTT - E neste time do Cruzeiro jogava tambem o Abelardo .

Amaury Castro - O Abelardo foi um grande amigo. Ele jogou muito tempo comigo no Sete de Setembro e o Cruzeiro o trouxe de volta em 59 já no final da carreira. Jogamos juntos sim. Ele sempre foi um tremendo gozador. Chegava nos clássicos contra o Atletico e falava pro Murilo que iria enfiar a bola debaixo das pernas dele.

No encontro a tres anos atrás quando o Cruzeiro lançou camisas retros Amauri Castro e Abelardo voltaram a lembrar de casos engraçados. Amizade que perdura até hoje. Na foto Abelardo conta sua histroia enquanto Amauri dá boas risadas.




Eleito na seleção dos melhores do ano recebendo a medalha de prata em 1958.

FTT - É verdade que em 1958 o Zizinho jogou um amistoso pelo Cruzeiro?

Amaury de Castro - Jogou sim e eu tenho foto ao lado dele. Jogamos juntos. Foi um jogo contra o Santos no Independencia.

FTT - E o Zizinho era este craque mesmo?

Amaury de Castro - Jogava demais. Orientava todos como se fosse jogador veterano do Cruzeiro. "Toca ali, toca aqui"

 - FICHA TECNICA DESTE AMISTOSO -
Data: 23/12/1958
Estadio Independencia
Arbitro: Francisco Moreno (SP)

Gols: Pelé 4; Pelé 13, Nivio 15, Pepe 32, Pelé 37, Amaury 27 do segundo tempo.

Cruzeiro: Rossi, Leston, Massinha, Adelino, Clever, Amauri, Emerson, Pelau, Dirceu Pantera, Zizinho e Nivio - Tec. Gerson dos Santos

Santos: Manga (Laercio) Helvio, Dalmo (Feijó), Getulio, Ramiro, Zito (Urubatão), Dorval, Afonsinho, (Hélio), Pagão, Pelé (Coutinho) e Pepe - Tec. Lula

FTT - Este Nivio era aquele mesmo que fez sucesso no Atlético e Bangu?

Amaury de Castro - Ele mesmo, o Nivio Gabrich. Era um excelente pónta esquerda e como jogou muito tempo com o Zizinho no Bangu o convidou para fazer esta partida no Cruzeiro.


FTT - O Cruzeiro então chegou ao tricampeonato começando com o titulo de 59.

Amaury de Castro - O time engrenou. O time já tinha o Massinha , Guerino , Vavá , Dirceu Pantera , Raimundinho e o Abelardo.


Cruzeiro campeão mineiro de 1959 - Amaury é o segundo em pé da direita para esquerda.


FTT - Em 60 o bi

Amaury de Castro - É, ai o time já ganhou novos reforços. O Procopio começou a ser titular formando zaga com Massinha, o Hilton Oliveira na ponta esquerda, o Rossi que veio do Botafogo. Depois chegou o Geraldino que veio do Siderurgica e foi convocado pra seleção brasileira.

A partir do ultimo: Procopio, Amauri, Emerson, Hilton Oliveira, Nilsinho, Massinha, Clever, Nelsinho, Dirceu, Raimundinho e Genivaldo.


FTT - E o senhor chegou a ver então o surgimento daquele time que veio substituir esta geração tricampeã.

Amaury de Castro - Vi nos juvenis o Pedro Paulo, Dirceu Lopes, Natal, Tostão. Vi esta turma treinando varias vezes. Não cheguei a jogar com eles.

FTT - Nesta época era muito dificil os times mineiros enfrentarem os paulistas e cariocas. O senhor se lembra de algum jogo em especial?

Amaury de Castro - Nesta época não tinham estes intercambios entre os estados. Era realmente muito dificil a gente jogar contra os grandes de lá e acabava que ficávamos em desvantagem pois eles estavam sempre se enfrentando. Mas teve um jogo contra o Fluminense que não me esqueço. O Castilho fechou o gol. Nós estavamos ganhando de 1x0 e ele pegando bola de todo jeito. Teve uma que o Hilton Oliveira chutou rasteiro cruzado e ele buscou numa defesa incrivel. O Fluminense era muito forte, tinha o Pinheiro, Tele, Altair, Valdo.
(Este jogo terminou empatado em 1x1 pela Taça Brasil de 60 no Independencia)



Amauri é o segundo em pé a partir da esquerda. Procopio é o ultimo a direita e Hilton Oliveira o ultimo agachado tambem a direita.


FTT - O America nesta epoca estava sempre brigando com Cruzeiro e Atletico pelo titulo.

Amaury de Castro - Eles tinham um time muito bom. Bons jogadores e era deles  o melhor estadio da época que era a Alameda.


FTT - Lembre de alguns grandes jogadores do futebol mineiro.

Amaury de Castro - O Murilo Silva  foi o maior zagueiro que eu vi. Ele me impressionava pelo jeito de jogar. Quando rebatia a bola não dava chutão de qualquer jeito não. A bola ia certinha pro companheiro. Outro em quem eu me inspirei foi o Zé do Monte que jogou no Atlético. No Cruzeiro teve o Guerino um meia esquerda que jogava muito. Chutava muito bem e era um cruzeirense doente. O Procopio quando chegou , assumiu a vaga na zaga porque era muito bom. Nossa Procopio jogava muito. Teve o Hilton Oliveira que driblava rápido demais e quando jogava a bola na frente ninguem segurava.


FTT - E como eram os jogos contra o Villa Nova e Siderurgica ?

Amaury de Castro - Puxa vida, eram durissimos. O Villa Nova até que eu tive sorte porque ganhar deles lá dentro era quase impossivel e eu nunca perdi no Alçapão. O Siderurgica tinha um grande time tambem. Brigava sempre com os grandes.

Amauri Castro aguradando o sorteio da moedinha do arbitro Cidinho Bola Nossa na partida contra o Siderurgica.

FTT - Qual foi seu melhor treinador?

Amaury de Castro - Niginho sem duvida. Ele tinha dificuldades para falar pois falava pouco e meio italianado mas tinha muita visão e sabia passar o que queria aos jogadores.
(Niginho é até hoje o terceiro tecnico que mais vezes dirigiu o Cruzeiro com otimo aproveitamento - Foram 247 jogos com140 v e 51 d.)

Bruno e o Dr.Amauri Castro

FTT - Afinal qual era a segunda maior torcida  nesta epoca do fim dos anos 50 e inicio dos 60 em Belo Horizonte?

Amaury de Castro - A do America ia muito ao estadio porque eles tinham acabado de ganhar um campeonato (57). Eram mais ou menos iguais a deles com a do Cruzeiro. Mas depois ,nos anos 60 o Cruzeiro foi ganhando e a nossa torcida foi crescendo sem parar e ultrapassou em muito.


FTT - E exatamente quando o senhor estava no auge, tricampeão resolveu parar com o futebol?

Amaury de Castro - Na verdade eu tinha acabado de me formar e não estava conseguindo conciliar os plantões e as consultas com o futebol. Resolvi que era hora de parar para me dedicar a medicina. Segui então os passos de meu pai.



Para se ter ideia da importancia e da qualidade do futebol de Amauri Castro vejam que seu nome está nas listas de dois dos dez escolhidos para elegerem os 10 Mais do Cruzeiro em Todos os Tempos, um belo livro escrito por Claudio Arreguy. Imaginem quanta gente boa ficou de fora e ele teve seu nome lembrado.