FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sábado, 27 de agosto de 2011

O craque disse e eu anotei - JAIR DA COSTA

Através do meu amigo Wanderley (Memofut), pude entrar em contato com o Jair da Costa por intermédio do seu filho. A entrevista foi realizada no Centro Esportivo do Jair em Osasco, na Grande São Paulo, onde os seus muros são pintados com as cores da Inter de Milão, contando também com a participação do Alexandre Soares, membro bem participativo da FTT. Confiram a matéria.

MAURÍCIO SABARÁ: Você nasceu na cidade de Santo André, mas veio novo morar aqui em Osasco.
JAIR DA COSTA: Exatamente, nasci em Santo André, no ano de 1940. Fui pra Osasco em 1948, começando aí a minha carreira de jogador de futebol.

MAURÍCIO SABARÁ: E no caso você começou a jogar na várzea. Qual foi o seu primeiro time?
JAIR DA COSTA: Em Osasco foi o Zé Mota. Depois joguei no Duque de Caxias e na Cobrasma.

MAURÍCIO SABARÁ: Nessa época já jogava na posição de ponta-direita?
JAIR DA COSTA: Eu era meia-esquerda na época. O Tony Marchetti, um rapaz que jogava comigo, foi pra Portuguesa de Desportos, me convidou, porque lá estava faltando um ponta-direita. Disse que não jogava nesta posição. Ele respondeu pra mim fazer um teste, pois quem sabe desse certo. Foi o que aconteceu, realizei uns quatro treinos e o técnico Nena (ex-zagueiro) me inscreveu no time juvenil, sendo campeão em 1958.
Portuguesa em 1961 - A partir da esq. em pé estão - Carlos Alberto. Juths. Herminio. Ditão. Vilela
e Mario Ferreira. Agachados: Jair da Costa. Ocimar. Servilio. Ipojucan e Melão.

MAURÍCIO SABARÁ: No seu início de carreira havia algum jogador como referência para o seu estilo de jogo?
JAIR DA COSTA: Não tinha nenhuma referência, aprendi tudo na várzea e também na rua, jogando com bolas de meia e de capotão.

MAURÍCIO SABARÁ: Na época da Portuguesa, você jogou com Servílio, Ipojucan e Sílvio. Era um time muito bom.
JAIR DA COSTA: Chegamos a ser Vice-Campeões Paulistas. Tinha Carlos Alberto, Nélson, Ditão, Jutis, Odorico, Vilela, Sílvio, Servílio, Ocimar e Nílson. Era um grande time, fizemos bastante sucesso e foi daí que saí pra Seleção Paulista e Brasileira.
Jair da Costa, Didi, Nardo, Servílio e Melão

MAURÍCIO SABARÁ: Na Seleção Brasileira, você jogou apenas uma partida, que foi Brasil 3 X 1 País de Gales, no dia 16 de Maio de 1962 (Pacaembu). Por sinal foi o último jogo antes de ir pra Copa do Mundo.
JAIR DA COSTA: Isso mesmo. Foi um jogo-treino, começando a minha carreira na Seleção Brasileira, indo logo em seguida pra Itália.

MAURÍCIO SABARÁ: Quando você foi convocado para esta Copa, parece que era pra ser o Garrincha e o Julinho, que foi cortado e parece que ele te indicou pra fazer parte da Seleção.
JAIR DA COSTA: O Julinho não me indicou, porque antigamente eram convocados 40 a 42 jogadores, com o treinador cortando aqueles que se machucavam, que não podiam ir ou outros quando haviam melhores atletas.

MAURÍCIO SABARÁ: Qual é a sua lembrança da Seleção Brasileira de 1962? Foi uma grande conquista, com você sendo reserva do genial Mané Garrincha, que jogou uma Copa do Mundo como poucos na história.
JAIR DA COSTA: O particular que houve nesta Copa, além da amizade que tinha entre todos os jogadores, o que era muito importante para o futebol, foi o jogo final, que eu deveria jogar, já que o Garrrincha havia sido expulso, me prepararam a semana toda, mas depois ele foi perdoado e foi o titular. Ainda bem que isso tenha acontecido, pois ele só não fez chover na Seleção Brasileira.
Jair da Costa é o terceiro a partir da esq. na primeira fila embaixo ao lado de Mario Américo e Coutinho
.


MAURÍCIO SABARÁ: Justamente nesta ocasião do Mundial, você, como reserva nos treinos, era muito elogiado na sua performance, tanto que parece que o Milan queria contratá-lo a princípio. Isso é verdade, Jair?
JAIR DA COSTA: Eu ouvi dizer que o Milan me sondou. Mas acabei, graças a Deus, indo pra Inter. Tive muita sorte, pois fui quatro vezes Campeão Italiano, Bicampeão Europeu e Mundial. Em dez anos na Itália, ganhei praticamente tudo.

MAURÍCIO SABARÁ: A sua contratação foi uma surpresa pra você? Como foi a adaptação no futebol italiano, em um país tão diferente do Brasil?
JAIR DA COSTA: A minha ida para o futebol italiano aconteceu porque na quarta-feira faziam jogos amistosos com o time reserva da Seleção Brasileira. Foi aí que o Helenio Herrera, que era treinador da Seleção Espanhola, além de treinar também a Inter de Milão, me viu e contratou-me. Depois de um mês é que tive a notícia que estava sendo contratado.

MAURÍCIO SABARÁ: Na Inter de Milão, quem eram os jogadores que atuavam contigo? Parece que jogavam o Mazzola e o Facchetti.
JAIR DA COSTA: O Facchetti e o Mazzola haviam subido das equipes de base. Mas o time principal era composto por Sarti, Burgnich, Guarneri e Facchetti; Tagnin e Picchi; Jair, Mazzola, Milani, Suárez e Corso. Era um time de seleção.

MAURÍCIO SABARÁ: Coincidentemente nesta época, o Milan também tinha uma equipe muito boa. Como eram os clássicos?
JAIR DA COSTA: Os clássicos são sempre importantes, era o clássico de Milão ou Derby Della Madonnina. Eram jogos difíceis, que poderia ganhar de 1, 2, 3 ou 4 para ambos os lados. Eram partidas maravilhosas.
Jair da Costa driblando o goleiro e fazendo mais um gol pela Internazionale. Até hoje Jair é muito querido por todos no clube italiano.


MAURÍCIO SABARÁ: Você foi quatro vezes Campeão Italiano pela Internazionale.
JAIR DA COSTA: Fui quatro vezes Campeão Italiano, fora os vices. Depois fomos Bicampeões Europeus e Mundiais, sendo que um destes torneios atualmente é chamado de Champions League.

MAURÍCIO SABARÁ: Duas finais deste Campeonato Europeu foram contra times muito bons na época. Na primeira, em 1964, foi com o Real Madrid.
JAIR DA COSTA: O Real Madrid tinha Di Stefano, Puskas e Gento. Era um timaço, com alguns jogadores da Copa do Mundo de 1962.
O timaço da Inter campeão europeu em 1964 - Em pé a partir da esq. Giuliano Sarti, Facchetti , Guarneri, Gianfranco Bedin, Burgnich, Armando Picchi - Agachados: Jair Da Costa, Sandro Mazzola, Joaquim Peirò, Luis Suarez, Mario Corso.


MAURÍCIO SABARÁ: Acredito que na final de 1965, você tenha feito o gol mais importante da sua carreira, do título contra o Benfica de Eusébio, Coluna e Costa Pereira.
JAIR DA COSTA: O gol foi no Costa Pereira, que era um dos melhores goleiros do mundo e jogava na Seleção Portuguesa. Choveu muito neste dia antes do jogo, com a bola e o campo estando muito escorregadios. Teve um contra-ataque, com o Mazzola me lançando, sendo que, quando chutei, acabei escorregando, com ele tentando encaixar a bola, com ela passando no vão do braço e da perna, caindo o Costa Pereira com a bola dentro do gol. Foi 1 a 0.

MAURÍCIO SABARÁ: Título esse que você guarda com tanta recordação.
JAIR DA COSTA: Lógico, tanto que você vê o painel que tenho, com este gol estando lá. Todo mundo que vem aqui me pergunta como foi esse gol. Eu respondo que aconteceu em 1965, num dos maiores goleiros do mundo, que se chamava Costa Pereira.

MAURÍCIO SABARÁ: Você também jogou uma temporada no Roma da Itália.
JAIR DA COSTA: Joguei uma temporada em 1967/68, se não me engano. Foi bom também, fiquei um ano lá, sendo que, logo em seguida, a Inter me recomprou. Ao voltar, fui novamente Campeão Italiano e Vice-Campeão Europeu.

Jair da Costa atualmente com as suas recordações


JAIR DA COSTA VOLTA AO BRASIL PARA JOGAR NO SANTOS

ALEXANDRE SOARES: Em 1972 você foi para o Santos. Como foi a sensação de jogar com o Pelé?
JAIR DA COSTA: A sensação foi de felicidade, satisfação e honra, por jogar com o maior jogador de futebol do mundo.

ALEXANDRE SOARES: O Santos, naquela época, também tinha um grande time.
JAIR DA COSTA: Já estava em decadência, mas ainda era um grande time, tanto que fomos Campeões Paulistas, em 1973.
Santos 1973 - A partir da esq. em pé - Cejas. Marinho Perez. Zé Carlos. Vicente. Clodoaldo e Turcão.
Agachados: Jair da Costa. Brecha, Eusébio. Pelé e Edu

ALEXANDRE SOARES: Falando dessa final, jogando contra a Portuguesa, o time que te lançou. Qual foi a sua sensação de jogar contra o seu ex-time?
JAIR DA COSTA: Foi maravilhoso, acontecendo aquele negócio dos pênaltis com o juiz Armando Marques errando na contagem, o título saindo dividido, sendo que o único que saiu campeão completo fui eu, pois jogava no Santos e havia começado na Portuguesa.

ALEXANDRE SOARES: Passado o período no Santos. Encerrou a carreira no futebol canadense.
JAIR DA COSTA: Fiquei seis meses lá, em uma colônia italiana que havia montado um time (Windsor Star), perguntaram-me se eu aceitaria jogar pra eles. Aceitei e fui passear um pouco com a minha senhora.
Alexandre Soares, Jair da Costa e Mauricio Sabará

ALEXANDRE SOARES: Em 2008 você recebeu uma homenagem da Inter, no ano do seu centenário, no estádio Giuseppe Meazza. Qual foi a sua sensação de ser ainda reconhecido como ídolo depois de tanto tempo, sendo ainda ovacionado?
JAIR DA COSTA: De fato foi uma surpresa boa, porque a torcida italiana da Inter de Milão, não me esqueceram até hoje, tanto é que de vez em quando converso com os meus amigos. Hoje mesmo conversei com uma família de amigos da Itália, dizendo-me que toda a hora na televisão falam do Jair da Costa, Suárez e Mazzola, aquele time que joguei. A Inter virou o meu time de coração.

REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz e Alexandre Júnior Soares.

FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

Encontros Eternizados - Didi & JK

O craque Didi é recebido pelo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek em 1958 logo após a conquista da primeira Copa do Mundo pelos brasileiros.

Revista do Dia - Esporte Ilustrado 1950

A revista Esporte Ilustrado trás em sua capa de 12 de Dezembro de 1950 o atacante Carlyle do Fluminense recem contratado ao Atlético Mineiro.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Craque disse e eu anotei - TOSTÃO

Consegui o telefone do Tostão através do seu primo Ronaldo Drummond que foi meu ultimo entrevistado. Estrela de primeira grandeza do futebol mundial e comentarista conhecedor do futebol, confesso que Tostão me passava pela primeira vez um certo temor em ligar e sequer ser atendido. Ledo engano. Educadamente o Mineirinho de Ouro me atendeu e pediu que lhe enviasse o link do blog. Depois de algumas conversas,  Tostão resolveu aceitar responder as perguntas via e-mail. Bastante ocupado me propos lhe enviar as perguntas que me responderia . Não exitei pois sabia que não é todo dia que se consegue conhecer um pouco do passado deste extraordinario jogador. Portanto pela primeira vez na historia do blog fazemos uma entrevista sem ser "InLoco" mas certamente aumentará o prestigio do FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS e muito nos orgulha ter aqui registrado um pouco da carreira de Eduardo Gonçalves Andrade, Tostão para o mundo.

1 - FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Afinal você começou no Cruzeiro ou America?
TOSTÃO – Antes de ser profissional pelo Cruzeiro, joguei nas categorias de base do próprio Cruzeiro e, depois, do América-MG.

2 -  FTT - Chegou a jogar no profissional do America?
TOSTÃO – Não. Fiz apenas um jogo amistoso, mas ainda era do juvenil.

Tostão o segundo a partir da direita no juvenil do America

TOSTÃO O MAIOR JOGADOR NA HISTORIA  DO CRUZEIRO

3 - FTT - Chegou ao Cruzeiro em 1963 e passou a jogar no meio campo. Sua posição de origem era armador ou ponta de lança?
TOSTÃO – No Cruzeiro, fui ponta de lança e, depois, centroavante. Nunca joguei no meio-campo.

4- FTT - Pouco a pouco Dirceu Lopes foi entrando no time de cima e logo passou a ser titular. Como voces dois passaram a jogar?
TOSTÃO – Eu e ele éramos dois meias ofensivos. Eu, um pouco mais à frente (ponta de lança).


Tostão e Dirceu Lopes - Uma das maiores duplas que o futebol brasileiro pode assistir


5 - FTT - Depois você atuou ainda de centroavante para a entrada do Ze Carlos no meio campo. Onde você acha que rendia melhor?
TOSTÃO – De centroavante, passei a jogar pior. Nessa posição, atuei, pelo Brasil, na Copa de 1970.

6 - FTT - Veio a final da Taça Brasil de 66. Na segunda partida quando o Santos vencia por 2x0 você perdeu um penalti. Como foi para um jovem de 19 anos lidar com aquele momento?
TOSTÃO – Reagi e passei a jogar melhor. Logo, fiz um gol de falta.

Tostão brilhou no segundo jogo da Taça Brasil 66 no Pacaembu.


7 - FTT - Foi a maior partida de sua vida?
TOSTÃO – Foi a mais importante no Cruzeiro.

8 - FTT - Você foi então convocado para a Copa de 66. Na partida em que a Hungria venceu o Brasil por 3x1 eles foram realmente melhores ou a seleção brasileira é que não se encontrou?
TOSTÃO – A Hungria foi muito melhor. E não foi surpresa.

9 - FTT - A Hungria mesmo não sendo mais aquela maquina de 54 ainda jogava um futebol bonito ou havia mudado o estilo?
TOSTÃO – A Hungria era uma forte seleção, o que não acontece mais, há muito tempo.

 

10 - FTT - Voltando, você foi artilheiro quatro anos seguidos do campeonato mineiro e da Taça Brasil de 1970. A maior parte jogando como ponta de lança. Depois de Zico não vimos mais artilheiros jogando no meio campo. O futebol mudou ou os camisas 10 estão escassos?
TOSTÃO – Os grandes pontas de lança, que se parecem com os meias ofensivos de hoje, quase sempre foram artilheiros, no passado e no presente.


Tostão e Dirceu Lopes


11 - FTT - Nas eliminatorias em 69 você foi o artilheiro se entendendo maravilhosamente com Pelé. Quem foi seu grande parceiro no futebol? Dirceu Lopes ou Pelé?
TOSTÃO – Os dois, um no Cruzeiro e outro na Seleção.

Tostão e Pelé


12 - FTT - Você acha que Dirceu Lopes e Pelé tinham estilos parecidos de jogar?
TOSTÃO – Não. Pelé era um atacante, ponta de lança, artilheiro, que voltava para receber a bola. Dirceu era um meia mais armador, que também chegava à frente.

13 - FTT - Você viu muita diferença entre a seleção de Saldanha e a do Zagallo?
TOSTÃO – Havia várias diferenças. Com Saldanha, o time jogava com dois pontas abertos, dois no meio-campo e dois atacantes. Com Zagallo, o time passou a jogar com três no meio-campo e com o ponta-esquerda recuado.

14 - FTT - Muitos dizem que Zagallo foi quem te deslocou para centroavante. Porem com Saldanha você já jogava junto de Pelé. Já não era um centroavante?
TOSTÃO – A diferença é que, com Saldanha, eu e Pelé nos revezávamos. Cada hora, um recuava para receber a bola. Edu era o ponta-esquerda. Com Zagallo, eu era o centroavante, sempre à frente de Pelé. Não havia um ponta-esquerda ofensivo.



15 - FTT - Na Copa de 1970 qual foi a sua grande partida e a masi dificil para o Brasil?
TOSTÃO – Minha melhor partida foi contra o Uruguai. Dei dois passes para os dois primeiros gols. As mais difíceis foram contra o Uruguai e a Inglaterra

TOSTÃO NO VASCO DA GAMA

16 - FTT -  Já no Vasco você passou a atuar no meio ou na frente?
TOSTÃO – Continuei como ponta de lança, como joguei a maior parte de minha carreira.


17 - FTT - Você se adaptou facil a maneira do Vasco jogar ou era parecido com o estilo do Cruzeiro?
TOSTÃO – O Cruzeiro era infinitamente melhor. Isso me prejudicou.



18 - FTT - E que nota você daria para o beque Joel Santana?
TOSTÃO – Era um zagueiro mediano.

COMO TOSTÃO VE O FUTEBOL ATUAL


18 - FTT - Os clubes brasileiros na sua maioria não preservam sua historia e tão pouco valorizam seus idolos.  Cruzeiro e Atletico por exemplo não possuem museus com a historia dos clubes , sequer dando direito aos torcedores de conhecerem um pouco do historico dos clubes. Porque os antigos idolos geralmente não são reconhecidos em vida por diretorias atuais?
TOSTÃO – Cada vez mais, clubes brasileiros constroem seus museus e homenageiam seus ídolos.

19 - FTT - Porque vemos tão poucos idolos antigos envolvidos com os clubes que os projetaram? Temos o Roberto Dinamite que passou mals momentos na presidencia do Vasco, Zico que saiu fora rapidinho do Flamengo e Falcão dispensado recentemente do Inter. O que pensa sobre este assunto?
TOSTÃO – A maioria dos ídolos não se prepara para uma outra atividade, mesmo ligada ao futebol. Há também um preconceito de que o ex-jogador não tem condições para exercer bem outra atividade, mesmo que ele se prepare.

20 - FTT - Hoje jogadores da seleção brasileira perdem partidas e sequer descem no Brasil, já ficam pela Europa mesmo. Você acha que o comprometimento dos jogadores até os anos 90 com a seleção e seus clubes era maior do que o dos jogadores atuais?
TOSTÃO – Não. É igual.


21- FTT - Algum jogador atual jogaria na seleção de 70 ou de 82?
TOSTÃO – Júlio César, Lúcio, Thiago Silva e Neymar, dos jogadores brasileiros.

22 - FTT - Aponte os sete maiores jogadores que você viu atuar.
TOSTÃO – Pelé, Garrincha, Maradona, Beckenbauer, Zidane, Romário, Ronaldo, Cruyff, Didi, Nilton Santos e Messi. Não dá para escolher só sete.

23 - FTT - Seu estilo se assemelhava ao do Cruyff?
TOSTÃO – Em alguma coisa, sim. Jogávamos um futebol mais coletivo que individual. Cruyff era mais veloz.



24 - FTT - Quem foi seu grande treinador?
TOSTÃO – Zagallo.

25 - FTT - Hoje existem tantas formulas como 4-3-3 , 3-5-1-1 , 4-2-3-1 e mais uma porção . Existe este posicionamento mesmo com o jogador ficando restrito aquela area ou os tecnicos estão inventando demais e no meio do jogo tudo se mistura?
TOSTÃO – Os técnicos europeus são muito mais rígidos. Na Europa, é comum um jogador passar anos atuando sempre de um lado, como Beckham, pela direita.


25 - FTT - Cuca, Adilson, Renato Gaucho, Dorival, Mano. Quem te agrada nesta safra recente de treinadores?
TOSTÃO – Os cinco são bons. Não sei qual é o melhor.

26 - FTT - Coloque por ordem do melhor até o sexto colocado; Ronaldo, Romario, Reinaldo, Van Basten, Gerd Muller, Coutinho ou teve algum outro centro avante para entrar nesta lista?
TOSTÃO – São os seis que eu mais gosto. Apenas coloco Romário como o primeiro.

27 - FTT - Pra finalizar quem são ou foram  os melhores cronistas e jornalistas sobre futebol no Brasil?
TOSTÃO – Dos atuais, Juca Kfouri, o mais completo. O maior cronista de todos os tempos foi Nelson Rodrigues. No passado, o melhor analista técnico e crítico foi João Saldanha.

Bruno Steinberg
 

Revista do Dia - Jornal Gazeta Esportiva 1967

O Jornal A Gazeta Esportiva de 30 de Dezembro de 1967 trás um poster em homenagem ao Palmeiras Campeão da Taça Brasil ao vencer na noite anterior o Nautico por 2x0.

Encontros eternizados - ROBERTO DINAMITE & ERASMO CARLOS


Roberto o maior idolo da historia do Vasco da Gama como jogador é empossado presidente do clube. Varios personalidades na epoca estiveram presentes e entre os ilustres vascainos Erasmo Carlos, o Tremendão.

sábado, 13 de agosto de 2011

O Craque disse e eu anotei - JULINHO BOTELHO por Carlos Botelho

Sempre gostei da história do Julinho Botelho. No último mês de julho tive a idéia de tentar fazer uma matéria no colégio Julio Botelho. O entrevistado foi o seu filho (Carlos) e os netos (Beatriz e Rodrigo). Todos conhecem muito bem a história do grande ponta-direita, concedendo-me uma excelente matéria. A Beatriz Bim Botelho tem um blog que homenageia o seu avô, cujo link é http://juliobotelho.blogspot.com/.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O Julinho Botelho nasceu no bairro da Penha, começando a jogar na várzea.
CARLOS BOTELHO: Isso mesmo. Nasceu no dia 29 de julho de 1929 na Penha, começando na várzea, sendo que tinham cinco campos e hoje apenas resiste um, através da força dos moradores do bairro, pois este campo pertence ao Rio Branco da Penha, clube fundado por ele em 1962 e foi aqui que tudo começou, saindo da várzea para o Juventus da Mooca.

FTT: Antes do Juventus, o Julinho fez um teste no Corinthians. Por que não deu certo de jogar no Sport Club Corinthians Paulista?
CARLOS BOTELHO: Ele fez um teste nos Aspirantes do Corinthians  e tinha feito um treino. Já no segundo, teve que enfrentar os Profissionais, mas como ele tinha 1m83 de altura, falaram que não possuía porte de ponta-direita e que iriam escalá-lo como lateral-esquerdo pra marcar o Cláudio. Como ele não jogava nesta posição e era atacante, preferiu sair do treino e foi embora.
FTT: Depois do Corinthians, parece que ele teve uma rápida passagem pela Sociedade Esportiva Palmeiras.
CARLOS BOTELHO: Exatamente. Ele estava assinando um contrato com os Aspirantes do Palmeiras, mas fez uma partida pelo Stiff (Sindicato dos Tecelões) contra um time do bairro da Mooca, em uma partida preliminar do Juventus. Acho que  presidente do Juventus era o Mário Praviato, acabou vendo-o jogando, convidou ele pra jogar no seu clube, assinou o contrato na terça e no domingo fez a primeira partida já como Profissional, contra o XV de Jaú e, se não me engano, foi 1 a 1, com ele fazendo o gol.

FTT: Depois o Julinho participou do Campeonato Paulista de 1950, formando a ala-direita com o Rodolfo Carbone que, por sinal, foi artilheiro e Campeão Paulista no ano seguinte, já como jogador do Corinthians. Qual era a lembrança que seu pai tinha do Carbone?
CARLOS BOTELHO: Além de jogarem juntos, meu pai tinha uma grande amizade com o Carbone, mesmo depois, já veterano, encontravam-se em festas do Juventus, um clube que sempre homenageava os seus ex-jogadores. Por ser o time que ele começou, tinha muito carinho e apreço.


Começando a fazer sucesso no Juventus
 

FTT: No Juventus ele já era considerado um grande ponta-direita?
CARLOS BOTELHO: Ele teve destaque no Campeonato Paulista, tanto que ficou apenas seis meses, com a Portuguesa contratando-o.

FTT: A estréia dele na Portuguesa foi contra o Flamengo no Maracanã, com uma derrota por 5 a 2, mas já demonstrando pra que veio.
CARLOS BOTELHO: A Portuguesa estava em formação. Na verdade o ponta-direita era o Renato, passando depois para a meia-direita. Neste mesmo ano, o time já ganhou a sua primeira Fita Azul (dez jogos invictos no exterior). O ataque era formado por Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão.


Julinho Botelho, Renato, Nininho, Pinga e Simão
 
FTT: Este time ficou famoso depois do dia 25 de novembro de 1951, quando goleou o Corinthians por 7 a 3. Foi depois desta partida que a equipe começou a ser mais reparada e, consequentemente, o seu pai?
CARLOS BOTELHO: Isso mesmo. A partida estava pra ser desmarcada porque tinha chovido um dia antes e o campo não estava bom. Como o Corinthians tinha um esquadrão, falaram que a Portuguesa estava com medo. Então teve o jogo, foi 7 a 3, com quatro gols do Julinho e, infelizmente, puseram a culpa no grande goleiro Gilmar dos Santos Neves, que foi até proibido de entrar no Parque São Jorge.

FTT: Após o Campeonato Paulista de 1951, teve o Rio-São Paulo no ano seguinte, com a Portuguesa ganhando o seu primeiro título de destaque, apesar de que em 51 conquistou a Taça San Isidro numa grande vitória sobre o Atlético de Madrid.
CARLOS BOTELHO: Nessa Copa San Isidro (nome em homenagem ao santo da cidade), eles sempre colocavam a taça contra algum time que eles sabiam que venceriam, com o troféu continuando lá. Essa vitória de 4 a 3 sobre o Atlético de Madrid foi fantástica, porque o jogo não acabava nunca, mas o Atlético não conseguiu ganhar.

FTT: Retornando ao primeiro Rio-São Paulo, uma vitória contra o Botafogo na final. O que significou para o seu pai esta conquista?

Brandãozinho, Julinho e Djalma Santos

CARLOS BOTELHO: O Rio-São Paulo era o título brasileiro. Ganhar ele com apenas dois anos de carreira, era fantástico. O esquadrão da Portuguesa era muito bom, ninguém precisava olhar para o outro, pois sabiam o que todo mundo ia fazer, ainda mais junto com o Djalma Santos, formando uma ala durante toda a sua carreira.

Lindolfo, Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho. Agachados:  Julinho Botelho, Zé Amaro, Ipojucan, Osvaldinho, Ortega  e o massagista Mário Américo




FTT: 1952 foi um ano muito importante na história do Julinho. Depois de ser campeão do Torneio Rio-São Paulo, foi convocado pela primeira vez à Seleção Brasileira pra disputar e ganhar o Panamericano. Qual era a recordação do Julinho desta  conquista?
CARLOS BOTELHO: A Seleção estava em reformulação. Em 1950 havia perdido, sobrando alguns jogadores e esta derrota ainda estava muito presente na memória do povo. Ganhar este título foi, como o meu pai falava, levantar o futebol, porque o brasileiro estava meio desgostoso, não ganhava, ainda mais perdendo uma final no Brasil. Essa conquista foi como “lavar a alma do brasileiro”. Ele jamais se esqueceu deste Panamericano, destacando como uma das mais importantes do futebol no Brasil, chegando depois ao título mundial de 1958.

FTT: Em 1952 o seu pai foi convocado pra Seleção Paulista, Campeã Brasileira de Seleções neste ano. Como eram essas partidas?
CARLOS BOTELHO: Como não tinha essa mídia, o técnico da Seleção Brasileira tinha a competição como base, com os melhores paulistas e cariocas, as vezes com algum do Rio Grande do Sul. As partidas eram dificílimas, havendo muita rivalidade entre os paulistas, cariocas e mineiros, sendo que meu pai dizia que “era sensacional disputar este tipo de torneio”.
 
Julinho , Djalma Santos, Pinga e Rubens na Seleção Brasileira

FTT: Teve também o Sulamericano de 1953, com o seu pai estando presente e, no ano seguinte, houve a Copa do Mundo, com o Brasil indo bem, mas teve azar de enfrentar a Hungria de Puskas e Kocsis, perdendo de 4 a 2, com o Julinho fazendo um belo gol. O que aconteceu em 1954 pra não ganharmos a competição?
CARLOS BOTELHO: Era uma Seleção que tinha se formado em 1952, o ataque era constituído por Julinho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues, ganhando o Panamericano,  perdendo o Sulamericano de 53 e disputando as Eliminatórias da Copa do Mundo, com os jogadores se conhecendo bem. Na primeira partida, venceu o México por 5 a 0 com este ataque. No segundo jogo, empatou por 1 a 1 com a Iugoslávia, teve prorrogação por causa do empate, com os brasileiro achando que tinham sido eliminados, sendo que o Jô Soares lembrou muito bem que “quando eles foram para o ônibus, todos estavam chorando, por acharem que tinham sido desclassificados, só sabendo na concentração que estavam classificados”. Pra você ver como a organização era fantástica (risos). O meu pai não sabia porque o técnico Zezé Moreira mudou o ataque no jogo contra a Hungria, colocando o Índio no lugar do Baltazar, tirou o Pinga pra colocar o Humberto Tozzi e mudou o Rodrigues pra escalar o Maurinho. Mudou praticamente todo o ataque, ou seja, 70% dele. Pode ser que ali o Brasil tenha perdido esse entrosamento de dois anos, mas meu pai dizia que os brasileiros jogaram de igual pra igual com os húngaros, tomando logo os dois primeiros gols, chegou nos 2 a 1, tomaram o terceiro, encostaram no placar com um gol dele, teve um pênalti em cima do Julinho que rasgaram o seu calção(temos a imagem) com o juiz não apitando e, no quarto gol, com os jogadores sendo atendidos do lado de fora, o jogador húngaro entrou correndo sem pedir permissão ao árbitro, fazendo o seu ultimo gol. O Brasil não fez feio, jogando de igual pra igual. Mas a Hungria tinha um time fantástico, com outro tipo de treinamento, jogando Czibor, Kocsis, Puskas e Hidegkuti. Pena que não ganharam a Copa.

FTT: Depois o Julinho voltou a disputar o Campeonato Paulista, com o Corinthians sendo Campeão do IV Centenário da cidade de São Paulo e em 1955 conquista mais uma vez o Torneio Rio-São Paulo, com uma equipe também muito boa.
CARLOS BOTELHO: Era muito forte este time. Não era o mesmo esquadrão de 1952, mas bem entrosado, com algumas peças que saíram e outras que entraram, dando tudo certo.

FTT: Nesta época, quem era o lateral-esquerdo que seu pai dizia dar mais trabalho na sua marcação?
CARLOS BOTELHO: Nílton Santos, apesar de eu ter uma declaração que ele fala “que o Julinho Botelho me deu vários bailes”. O meu pai sempre o considerou muito leal, não dava pontapés, era marcação mesmo, portanto tratava-se do oponente mais difícil. Aqui em São Paulo, jogando na Portuguesa, era o Alfredo Ramos. Já no Palmeiras, enfrentou muito o Oreco, do Corinthians.

FTT: Na ponta-direita o rival no início era o Cláudio?
CARLOS BOTELHO: Nunca chegaram a disputar a posição na Seleção. Só jogavam juntos no Sulamericano de 1953. Disputou mais com o Garrincha, que foi cortado em 54, porque o Maurinho jogava nas duas pontas, havia também o Telê Santana e o habilidoso Joel. Se formos enumerar os pontas da época, eram muitos. Hoje, infelizmente, acabaram.
JULINHO É CONTRATADO PELA FIORENTINA

FTT: Após o Rio-São Paulo de 1955, Julinho Botelho é contratado pela Fiorentina da Itália, sendo Campeão Italiano em 56 e Vice-Campeão Europeu no ano seguinte. Como esta passagem por este país?
CARLOS BOTELHO: Não existia muita informação. Ele saiu da Portuguesa pra jogar na Fiorentina, sendo uma novidade quando chegou lá, não sabendo muita coisa da cidade. Não é o grande time da Itália, nunca tinha sido Campeão Italiano e, já no primeiro ano, ganhou o primeiro título na temporada 1955/56, com onze pontos na frente do Milan. Foi Vice-Campeão da Copa Européia, perdendo a final para o Real Madrid, que havia sido campeão no ano anterior, portanto tinham direito a disputar uma única final no estádio dele. A Fiorentina teve melhores resultados nos outros jogos, mas na decisão perdeu com um gol de pênalti que havia sido marcado com o jogador estando a um metro fora da área. Voltou a ser Campeã Italiana em 1968, com o brasileiro Amarildo, mas nunca mais teve um esquadrão como esse. A Fiorentina tornou-se grande com o Julinho jogando lá.
Julinho o primeiro agachado a esquerda brilhou intensamente na Fiorentina onde é idolatrado até hoje.

FTT: Por sinal, na Itália, ele teve uma participação significativa, mas diziam que sentia muitas saudades do Brasil, da cidade de São Paulo e do bairro da Penha. Mas, mesmo assim, adaptou-se muito bem no futebol italiano.
CARLOS BOTELHO: Adaptou-se muito bem. No primeiro ano em que ele chegou à Itália, o seu pai estava doente e veio a falecer. Uma das histórias que o Cláudio Carsughi conta muito é que “ele veio ao Brasil e o pai (Francisco Botelho) ainda estava vivo, falecendo depois”. Voltando à Itália, ele iria jogar contra a Inter de Milão, um jogo decisivo pra Fiorentina ganhar o título, pois o Milan estava encostando. O técnico agradeceu a sua presença, querendo dispensá-lo desta partida, mas o Julinho não aceitou, dizendo que “jogaria pelo pai dele”, realizando uma das melhores partidas no time. Quando chegou ao vestiário, de luto, vieram as lágrimas. O “não querer permanecer” na Itália era por amor ao Brasil, por São Paulo, pelo bairro da Penha e pela sua mãe (Maria Teixeira Botelho). Apesar dos irmãos estarem aqui, o filho quer estar sempre presente nesta hora difícil. Quando encerrou o seu contrato de três anos, o treinador colocou o contrato na mesa, perguntando quanto o meu pai queria ganhar. Mas Julinho agradeceu, dizendo que “como o Brasil não existe, como São Paulo não tem e como a Penha não há”.
Julinho Botelho está ao centro em pé . Time da Fiorentina que conquistou o campeonato italianom 1955-56.

Autografos dos jogadores da Fiorentina. Julinho é o quarto a partir da esquerda.

FTT: No dia 29 de maio de 1958 houve uma partida entre a Fiorentina e a Seleção Brasileira. Por sinal considero como “um dos momentos mais bonitos da carreira do seu pai”, porque era pra ser convocado para a Copa do Mundo daquele ano e acabou não aceitando.
CARLOS BOTELHO: Ele jogou em 1954 e foi convocado pra 58. Na ponta-direita iria ele e o Joel. Por estar a três anos na Itália, não achava justo, sendo que havia jogadores no Brasil que estavam lutando por um espaço. Mandou uma carta pra CBD, cujo presidente era o João Havelange, agradeceu a convocação, falando que não aceitava por não ser patriota, mas por amor ao Brasil que estava fazendo isso, queria disputar a Copa do Mundo, mas não achando justo, aparecendo aí o grande Mané Garrincha para o mundo. Ele estava esperando o jogo do Brasil contra a Fiorentina, iria pra Suécia e seria ele o titular, com o Joel na reserva.

FTT: Quando ele veio ao Brasil, teve proposta do Corinthians, Palmeiras e Fluminense. O que fez o Julinho decidir pela Sociedade Esportiva Palmeiras?
CARLOS BOTELHO: Ele não achava justo fazer leilão. Falou para os clubes colocarem o valor dentro de um envelope e, dependendo da proposta, aceitaria. Não falaria de um clube para o outro. E a melhor proposta veio da Sociedade Esportiva Palmeiras.

JULINHO BOTELHO RETORNA AO BRASIL E VAI PARA O PALMEIRAS

FTT: Então Julinho é contratado pelo Palmeiras, faz um bom Campeonato Paulista em 1958 e, provavelmente, o grande ápice da carreira dele foi no dia 13 de maio de 1959, em uma partida da Seleção Brasileira contra a Inglaterra, com vitória do Brasil por 2 a 0. Antes de o jogo acontecer, houve um fato muito curioso que o Carlos contará.
CARLOS BOTELHO: Foi a primeira partida da Seleção Brasileira no Brasil após a conquista do título mundial, em um jogo contra uma equipe que nunca havia vencido (na Copa do Mundo foi 0 a 0) e teve a vaia. A torcida carioca queria ver o Mané Garrincha, que havia jogado a Copa. O meu pai, há uma semana, já sabia que seria o titular e que o Garrincha não estava numa boa fase. O técnico Vicente Feola disse à ele que “receberia uma grande vaia”, com o meu pai dizendo que “não havia importância, porque joga no Palmeiras e quando joga contra o Corinthians, que tem a torcida maior, também é vaiado, portanto não o abalaria”. Essa partida ficou marcada porque havia quase 200 mil pessoas no Maracanã, tropeçou no último degrau do túnel (quase caindo), mas mesmo assim ele comentou com o Nílton Santos e o Djalma Santos que “eles vão engolir essas vaias”. Aos três minutos do primeiro tempo, já fez um gol, estraçalhando com o jogo, sendo considerado o melhor jogador em campo, saindo aplaudido por mais de dez minutos, tanto que o técnico inglês perguntou “quantos Garrinchas vocês têm”?

FTT: Neste mesmo ano, mais precisamente no início de 1960, numa decisão da melhor-de-três, foi decidido o Super Campeonato Paulista de 59, uma final contra o Santos, com o Palmeiras vencendo por 2 a 1, sendo que o Pelé marcou o primeiro gol santista, Julinho empatou e Romeiro fazendo o gol de falta. Deve ter sido uma grande emoção para o seu pai essa conquista por nunca ter vencido esta competição.
CARLOS BOTELHO: Sim. Ele saiu do Juventus, ganhou duas vezes o Rio-São Paulo e a Fita Azul na Portuguesa, mas não conseguiu o título paulista. O Palmeiras já ia faze dez anos que não ganhava, jogando contra aquele timaço do Santos de Pelé e, ser campeão, foi algo marcante na carreira dele.

FTT: No ano de 1960, venceu uma Taça Brasil numa vitória de 8 a 2 contra o Fortaleza, disputando a Libertadores de 61. Em 1962 era pra ir à Copa do Mundo do Chile e também não foi. Por que não foi nesta vez?
CARLOS BOTELHO: Na convocação, uma semana antes do embarque, já estavam na concentração, ele machucou a virilha, quando disputava a posição com o Garrincha. Ao se machucar, o Pelé, Djalma Santos, Nílton Santos e Gilmar vieram conversar com ele, dizendo que “pelo gesto nobre de 1958, abrindo mão de disputar uma Copa do Mundo que estava convocado, deveria desta vez ir com eles, mesmo não jogando, pois se o Brasil ganhar, seria junto com o time”. E mais uma vez ele falou que não iria, porque na cabeça dele “se o a Seleção Brasileira fosse campeã, o Julinho seria também e, se perdesse, levaram o Julinho machucado”. Não achando justo, indicou o Jair da Costa, que era da Portuguesa, sendo que foi o que o técnico Aymoré Moreira fez, levando este jovem jogador.

Julinho e Humberto Tozzi

FTT: No ano seguinte, o Palmeiras foi Campeão Paulista mais uma vez, quebrando aquela sequência do Santos como único time de São Paulo que dava trabalho ao formidável time de Pelé. Dizem que este título foi praticamente ganho pelo seu pai. Claro que o Palmeiras já tinha uma equipe fabulosa, mas praticamente o Julinho foi o responsável por mais essa conquista.
CARLOS BOTELHO: Era a primeira Academia, com o Vavá e o Ademir da Guia começando, portanto já tinha um grande esquadrão. O Palmeiras era mesmo o único time que encarava o Santos de Pelé, não tinha “perder e ganhar”, o jogo era difícil, muito parelho e, com este título de 1963, meu pai comentava que “talvez tenha sido o melhor ano dele, estando em quase todos os jogos e jogando bem”.
A primeira grande Academia tinha entre outros: Picasso, Servilio, Ademir da Guia, Julinho Botelho, Valdemar Carabina, Djalma Dias, Vicente, Vavá, Gilvo, Djalma Santos, Zequinha, Silvio Pirilo

FTT: Em 1964 foi ainda convocado pra Seleção Brasileira. E, no ano seguinte, um grande momento, quando o Palmeiras representa a Seleção, com o eu pai sendo substituído pelo Germano, na vitória de 3 a 0 contra o Uruguai na segunda partida do estádio Mineirão. Boas recordações do Julinho deste jogo?
CARLOS BOTELHO: Boas recordações. Nesta partida, ele estava machucado, não era pra ir por causa de contusão, mas o técnico Filpo Nuñes pediu para que ele fosse, conseguiu se recuperar nas vésperas, jogando meio tempo na Seleção Brasileira e marcou a história dele porque pela primeira vez um técnico que não era brasileiro dirigiu a Seleção, do qual ele tinha muito carinho.

FTT: No ano de 1966, o Palmeiras é novamente Campeão Paulista, quebrando mais uma vez a marca do Santos, com o seu pai praticamente em final de carreira. E no dia 12 de fevereiro de 1967, numa partida no Parque Antártica contra o Náutico, uma vitória de 1 a 0, o Julinho foi substituído aos 32 minutos do primeiro tempo pelo peruano Gallardo, sendo que no primeiro lance que ele erro, a torcida pedia para que seu pai voltasse.

CARLOS BOTELHO: Isso mesmo. Foi o encerramento, sendo que o Gallardo era um grande ponta-direita, mas o Palmeiras tinha muito carinho pelo meu pai, parando no auge, mesmo com 37 anos, ainda tinha muito vigor físico e era bem profissional. Parou porque achava que tinha que parar no auge, encerrando a carreira muito bem fisicamente, sendo por isso que a torcida palmeirense pedia para que ele retornasse. Essa é a história dele.
Julinho e Djalma Santos

Julinho e Valdir



FTT: Não posso deixar de falar do grande companheiro do Julinho Botelho, que foi o Djalma Santos, jogando com ele na Portuguesa, Palmeiras, Seleções Paulista e Brasileira. O que seu pai dizia deste formidável lateral-direito?
CARLOS BOTELHO: O Djalma Santos realmente foi o grande companheiro dele. Só não jogaram juntos no Juventus e quando o meu pai foi pra Fiorentina. Quem trouxe o Djalma para o Palmeiras foi o técnico Oswaldo Brandão e o meu pai. Ele estava pra ir para o Corinthians e, se não me engano, pro Botafogo ou Fluminense. O Julinho foi pra casa dele e disse que “era pra jogar com ele no Palmeiras”. Jogaram praticamente toda a carreira juntos. Acho muito difícil isso voltar a acontecer no futebol. Ambos tinham um carinho muito grande pelo outro. Toda vez que eu me encontro com o Djalma Santos, ele comenta sobre isso.



Carlos (filho) e Beatriz (neta)



Mauricio Sabará entre Neatriz e Carlos Botelho



FTT: Depois da carreira de jogador, o Julinho chegou a ser treinador.

CARLOS BOTELHO: A carreira de treinador foi gloriosa. Ele nunca quis ser profissional, algumas vezes treinou o Palmeiras quando houve troca de técnico, parece que assumiu a Portuguesa por duas vezes, mas não gostava. Quando eu falo de glória, é porque ele sempre quis jogador de base, queria revelar talentos, portanto a vontade dele sempre foi essa, mostrar a experiência que tinha aos mais jovens, tanto como jogador como de vida.

Beatriz e Carlos cuidando e preservando a historia de Julinho Botelho com muito carinho.

FTT: Rodrigo Botelho, neto de Julinho, fale de um grande momento que você passou por causa do seu avô.
RODRIGO BOTELHO: Estive em uma homenagem na Itália e num jogo entre Fiorentina e Inter de Milão, me chamaram no meio de campo pra entregar uma placa no intervalo do jogo, com o estádio inteiro gritando e aplaudindo o nome dele, o que foi muito emocionante pra mim, ficando gravado na minha memória, ainda mais depois de tantos anos que ele jogou lá, o povo não esqueceu do Julinho e os jovens sabendo quem foi. Tive que dar autógrafo na porta do estádio por ser neto dele. Isso foi em 2005, dois anos depois do falecimento do meu avô e foi bacana saber que lá a memória ainda está muito viva.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.