FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Craque disse e eu anotei - CABEÇÃO

Da mesma forma que o Nardo, consegui o telefone do Cabeção com o meu amigo jornalista Celso Unzelte. O ex-goleiro aceitou de imediato a entrevista, me recebendo no seu apartamento. Com uma memória fantástica, Cabeção me concedeu esta excelente entrevista. Confiram a matéria.





FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Como foi o seu início no futebol. Você praticamente começou no próprio Corinthians.
LUIZ MORAIS (CABEÇÃO): Eu nasci praticamente dentro do Corinthians. Comecei nas categorias de base. Mas eu praticamente me criei no próprio Parque São Jorge. Eu vivia lá dentro, fui criado no Corinthians. Então quando começou os infantis eu fui o goleiro por uns tempos. Isto foi em 1942. É uma vida


FTT: Você sempre jogou como goleiro?
CABEÇÃO: No Corinthians sim. Na várzea jogava na linha por brincadeira.


FTT: Houve algum goleiro que te inspirou?
CABEÇÃO: Quando eu era juvenil, quem me orientou muito foi o Jurandir, ex-goleiro do São Paulo, Palmeiras e Flamengo. Ele veio no fim de carreira para o Corinthians e me ensinou muito, pois eu treinava junto com os profissionais. Fora isso, teve um treinador das categorias de base chamado Dante Pietrobon, me ensinando tudo o que eu sei como goleiro. Veio do Maria Zélia e era irmão do Valussi (Anacleto Pietrobon), que foi beque-central do Corinthians e depois juiz de futebol.


FTT: E quando você jogou nos juvenis e aspirantes do Corinthians, foram revelados grandes talentos no time.

CABEÇÃO: Apareceram muitos, Eu, Luizinho, Colombo, Roberto, Rafael, Nardo e muitos outros. A leva que subiu foi muito boa e o Corinthians foi campeão em 1951.


FTT: Mas você começou a jogar nos profissionais entre 1949 e 1950.
CABEÇÃO: Eu substituí o Bino, que era muito amigo meu, em 1950. Eu era suplente dele durante a conquista do Rio-São Paulo daquele ano. Em 51 ele parou e passei à profissional direto.

FTT: Como era aquele time do Corinthians dos anos 50? Era um time somente raçudo ou também tinha os seus talentos?
CABEÇÃO: O time era muito bom. Em um campeonato difícil como o paulista, fez 103 gols. Tinha Luizinho, Cláudio, Baltazar e Carbone na frente. Atrás tinha Murilo, Homero, Olavo e Idário. Era um time que impunha respeito.




FTT: O que você tem a dizer sobre o seu companheiro de gol, o Gilmar dos Santos Neves?
Cabeção e Gilmar dois grandes goleiros no Corinthians

CABEÇÃO: Jogamos dez anos juntos. Isso é difícil de acontecer. Não éramos dois titulares, mas um titular e um reserva, um reserva e um titular, porque um ia pra seleção e o outro assumia o posto, portanto quando voltava tinha perdido a posição. O Gilmar jogou uns 350 jogos e eu uns 340. Portanto ficamos dez anos juntos e sem brigas, como amigos. Hoje infelizmente não nos vemos, pois houve alguns problemas, mas gostaria de saber como está atualmente o Gilmar.

Cabeção exibe orgulhoso a sua foto na seleção brasileira a Mauricio Sabará.

FTT: Quando vocês treinavam, um corrigia o outro?
CABEÇÃO: Na nossa época não tinha treinador de goleiros. Quem treinava os goleiros éramos nós mesmos. Um treinava o outro, pegando o vício de cada. Treinávamos só nós dois. Hoje é bom, pois o goleiro tem que treine ele.


FTT: Ambos eram grandes goleiros, de nível de seleção.
CABEÇÃO: Nós éramos completamente diferentes. Eu jogava mais parado, pois era mais pesado. Ele era mais fino de corpo, um pouco mais alto, era mais ágil e voava mais. O Gilmar deu mais sorte, pois foi campeão do mundo de 1958. Eu fui em 54 e não consegui ser campeão.



FTT: Teve algum título do Corinthians que você guardou com mais recordação?
CABEÇÃO: Títulos sempre recordamos com saudades. O Infantil, que foi no começo de carreira. Juvenis e aspirantes, que fomos tricampeões. E nos profissionais, quando temos mais prestígio, chegando ao auge da carreira.


FTT: E a Seleção Paulista?
CABEÇÃO: Fomos campeões brasileiros em 1952. Disputamos a final no Rio de Janeiro, sendo nesta última partida eu não joguei, jogando o Muca, sendo que eu havia disputado as três partidas anteriores. Aymoré Moreira era o treinador.


FTT: Havia algum zagueiro que você sentia mais confiança na cobertura da defesa?
CABEÇÃO: Os três zagueiros que tive aqui pela frente no Corinthians foram muito bons. Teve o Murilo, Homero e Olavo. Jogavam com seriedade e não brincavam. Na Seleção Paulista tinha o Mauro, sendo que o time era formado com os melhores jogadores de São Paulo.

Homero, Cabeção e Rosalem no Corinthians

FTT: E a Copa de 54? Você e o Veludo eram os reservas do Castilho.

CABEÇÃO: No começo foi também o Oswaldo Baliza. O Castilho quebrou o pé e convocaram o Veludo. O médico e o treinador eram do Fluminense, sendo que no exame barraram o Oswaldo e eu, alegando que estávamos sem pressão, sendo que não tínhamos, pois não éramos escalados. Isso foi feito só pra colocarem o Veludo. E ele se superou, sendo um dos melhores jogadores da seleção nas Eliminatórias, contra o Paraguai e o Chile, sendo que ele defendia e o Baltazar fazia os gols, sendo que era 1 a 0 todos os jogos. Na Copa o Castilho voltou e cortaram o Oswaldo. Pelo menos disputei uma Copa.

FTT: Mas vocês perderam para uma grande seleção, que era a Hungria.
CABEÇÃO: Na época era o melhor time que apareceu, mas no fim perdeu para a Alemanha.


Seleção Brasileira com Cabeção no gol

FTT: Depois da Copa, você voltou para o Corinthians e foi campeão do Rio-São Paulo.

CABEÇÃO: Entrei na última partida contra o Palmeiras. Defendi uma penalidade do Rodrigues. Eu que tinha feito o pênalti no Liminha. E fomos campeões.


FTT: Você chegou a disputar algumas partidas do título do Quarto Centenário e depois foi emprestado para o Bangu.

CABEÇÃO: Houve um problema muito sério. Joguei as primeiras partidas e o treinador cismou em me tirar sem nenhuma justificativa. Entrou o Gilmar e achei que eles não agido certo comigo. Fui para o Bangu e fui vice-campeão carioca.


CABEÇÃO É VENDIDO E FAZ PARTE DE OUTRO GRANDE TIME: A PORTUGUESA CAMPEÃ DO RIO-SP EM 55
FTT: Logo depois você foi contratado pela Portuguesa.
CABEÇÃO: O Corinthians me vendeu para a Portuguesa por 550 mil. Fui campeão do Rio-São Paulo em 1955. Era um timaço. Era eu, Nena, Floriano, Djalma Santos, Brandãozinho, Ceci, Julinho, Ipojucan, Edmur, Aílton e Ortega. Fiquei mais dois anos na Portuguesa. Depois tive uma discussão muito séria com o treinador Flávio Costa. Ele sempre gostava de jogar a culpa em algum jogador. Me suspenderam e voltei para o Corinthians.


FTT: Você conheceu o Félix na Portuguesa? 

CABEÇÃO: O Félix veio do Juventus e foi reserva nosso. Era ele e o Lindolfo. Quando eu saí, virou titular. Conheço-o desde garoto, quando morava no Tatuapé. Faz tempo que não o vejo.


A VOLTA AO CORINTHIANS E O ENCERRAMENTO DA CARREIRA
FTT: Quando você voltou para o Corinthians, teve que continuar disputando a posição com o Gilmar.

CABEÇÃO: Ficamos um tempo jogando juntos, até que o Gilmar foi embora para o Santos. Fiquei jogando uma temporada. Depois contrataram o Heitor e depois o Marcial do Atlético Mineiro. Fiquei até 1968, quando fui embora para o Juventus. Depois fui para o Bragantino disputar a Segunda Divisão, no tempo do Nabi, que era o dono do time. Fomos vice-campeões em 1968, perdendo a decisão para o Paulista de Jundiaí. Depois fui para a Portuguesa Santista, onde encerrei a carreira, tinha 39 anos pra 40, estava aborrecido com viagens e ginástica. Teve um jogo contra o Santos na Vila Belmiro que defendi dois pênaltis do Pelé.



Grande defesa de Cabeção no classico contra o Palmeiras.

FTT: Mas depois que você parou de jogar, fez uma boa carreira como técnico.
CABEÇÃO: Eu passei a treinar a categoria de base do Corinthians. Comecei no Dente de Leite, onde apareceu Casagrande, Wladimir, Solito, Solitinho, Rafael (goleiro do Coritiba), Carlinhos e Ronaldo. Fiquei durante vinte anos. E no fim ganhei um pé no traseiro. Hoje faz trinta anos que não vou lá. Desde que o Matheus me mandou embora sem motivo nenhum, não quis ir mais lá. Eu que vivi cinqüenta anos lá dentro. A minha tosse comprida fui curada na bica quando eu era pequeno. Meu avô me levava lá pra tomar água na bica quando eu tinha cinco anos. Ele era italiano, mas gostava do Corinthians. Fui criado lá dentro.

Corinthians nos anos 50  com Cabeção .

FTT: Quem era o seu ídolo nesta época no Corinthians?
CABEÇÃO: Quando eu tinha uns sete anos, eu ia pelo fundo do clube, não existia a Marginal, tinha um barranco e uma ponte, passava uma cerca e entrava no campo pra ver os profissionais. Tempo de Lopes, Servílio, Teleco, Joane e Carlinhos. Ficava no gol e eles batiam a bola pra mim. Eles moravam perto do Parque São Jorge. Depois veio o Domingos da Guia e o Norival. Pagavam o cinema pra mim e o Luizinho, no Cine São Jorge. Era uma época boa. É sempre bom recordar pra não esquecer.


FTT: Quem foram os goleiros que você gostou na sua época e depois?
CABEÇÃO: Hoje assisto mais pela televisão, que é diferente pra se analisar. Teve o Oberdan na minha época que estava parando, que foi um baita goleiro. O Barbosa que foi sacrificado, sendo que era excepcional. Vi ele jogar no Ypiranga e joguei contra ele quando estava no Vasco. Mas foi crucificado quando tomou um gol na Copa que não podia tomar. Mas outros foram aparecendo. Teve o Leão e o Rogério Ceni. Não sei o que deu na cabeça deste goleiro do Corinthians, que estava muito bem e tinha tudo pra ser convocado para a Seleção Brasileira. O Porto queria me contratar em 1960, quando estávamos em uma excursão na Europa, mas o Corinthians não me vendeu, sendo que eu podia ganhar um dinheirão.


FTT: Qual o conselho que você dá para os goleiros atuais?
CABEÇÃO: Hoje está difícil dar conselho porque eles tem treinadores. Quem começou a treinar os goleiros foi o Valdir do Palmeiras. E eu na categoria de base do Corinthians. Começamos a ensinar e a corrigir os defeitos dos goleiros. Os treinadores de goleiros treinam mas não corrigem.

FTT: Como última pergunta, foi você quem introduziu as luvas no Brasil?

CABEÇÃO: Fui eu. A Seleção Brasileira estava na Tchecoslováquia, estava caindo neve e fomos treinar. Estava doendo as mãos e falei para o Gilmar pra comprarmos uma luva, já que aqui eles usam. Trouxe uma da Tchecoslováquia e outra da Inglaterra. Aqui no Brasil pus em um jogo à noite, sendo que o Mário Morais da Tupi me criticou. Depois não usei mais. Havia uma fábrica conhecida como Estádio, o dono dela (Sr. Agostinho) me pediu a luva emprestada e eles começaram a fazer, mas com uma costura muito grossa, sendo que as mãos não fechavam. Depois a Adidas entrou com as luvas que conhecemos.


ENTREVISTA: Maurício Sabará Markiewicz
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Encontros eternizados - LARRY, CHINESINHO & BODINHO


Larry, Chinesinho, Bodinho e Luizinho formaran um dos melhores ataques na historia do futebol brasileiro. Jogaram no Internacional apelidado de "Rolinho Compressor" que ganhou inumeros cameponatos gauchos nos anos 50. Forneceu ainda para a seleção brasileira oito jogadores que acabaram se sagrando campeões do Pan Americano em 1952 .
Na foto vemos numa recente homenagem do Inter a partir da esquerda: Larry, Chinesinho e Bodinho.
Larry e Bodinho formaram uma das maiores duplas de ataque do futebol brasileiro com tabelas que abriam qualquer defesa.

Revista do Dia - PLACAR 1981

A Revista Placar do dia do trabalhador em 1 de Maio de 1981 trazía  na capa a foto da primeira partida entre Grêmio x São Paulo. Esta era a final do Brasileiro naquele ano e a primeira partida disputada no Estadio Olimpico em porto Alegre foi vencida pelo tricolor gaucho. No lance aparecem Oscar e Renato Sá.
A segunda partida foi disputa no Morumbi e nova vittoria gremista, desta vez por 1x0 gol de Baltazar dando assim o titulo de campeão brasileiro ao Grêmio.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Craque disse e eu anotei - MARQUINHOS (Atletico e Inter)


Tenho um amigo de longa data, a mais de 20 anos para ser mais preciso e que joga uma "pelada" todos os sabados com  Marquinhos ex craque do Atletico. Pedi a ele que fizesse um primeiro contato e imediatamente me colocou ao vivo com o ex atleta por telefone. Muito recptivo e simpático, Marquinhos aceitou a entrevista que foi feita em sua maravilhosa casa na região da Pampulha. Numa aconchegante e grande sala , repleta de seus trofeus , faixas e camisas realizei a entrevista , bem descontraída.


1) FTT - Você foi formado nas divisões de base do Atletico, sendo campeão em todos os anos desde o infantil em 80 e 81 , depois no juvenil em 82 e 83 e no junior em 84. Você se inspirou em algum jogador no seu inicio de carreira? Quem foi seu idolo?

MARQUINHOS - Na verdade me inspirar não pois ele foi bem acima daquilo que eu joguei mas sempre me fascinei vendo Reinaldo jogar. Na arquibancada eu torcia demais por ele e depois vendo o nos treinos no Atlético. Reinaldo foi acima da media


Bruno com a camisa vermelha para homenagear o Inter e  Marquinhos


2) FTT - Qual foi seu melhor ano no Atletico?
MARQUINHOS - 87 e 88. Apesar de 87 perdermos o campeonato para o Cruzeiro, o time do Atlético era muito bom. Já em 88 foi excelente e eu fiz um dos gols na partida contra o Democrata fora de casa e que nos deu o titulo antecipado.



3) FTT - O Atletico teve uma sequencia incrivel de 3 anos seguidos saindo nas semifinais do Brasileiro. 85 para o Coritiba, 86 para o Guarani e 87 para o Flamengo? Qual foi a mais frustrante e o que faltou para chegar as finais? 

MARQUINHOS - Sem duvida foi a de 87. Nosso time tinha vencido os dois turnos no campeonato e estava certinho. No jogo do Maracanã jogamos muito bem, melhor até do que o Flamengo mas aí o Bebeto pegou um chute meio sem jeito e encobriu o João Leite fazendo 1x0. Veio o jogo da volta no Mineirão e tinhamos convicção de que poderíamos vencer pois fizemos um excelente campeonato. O time era bom mas perdemos o Paulo Roberto logo no começo e o Flamengo abriu 2x0. Mesmo com 10 jogadores buscamos o empate em 2x2. Aí num contra ataque o Renato Gaúcho fez o gol e decidiu a partida. Mas o Flamengo também era um grande time com Bebeto, Zinho, Leonardo e Renato Gaúcho.


Marquinhos puxando a fila de jogadores na entreda do galo no Mineirão.


4) FTT - Cite 5 jogadores inesqueciveis com quem você jogou nestes seus anos de Atletico.
MARQUINHOS - Eder, Luisinho, João Leite, Renato e Sergio Araújo que na época era muito bom jogador e veloz.

1987 - João Leite, Batista, Luizinho, Chiquinho , Éder Lopes e Paulo Roberto
Agach Sérgio Araújo, Marquinhos, Renato , Wander Luiz e Marquinho Carioca

1987 -  Batista, Luizinho, Luis Cláudio, Éder Lopes, Paulo Roberto e Pereira.
Agach Sérgio Araújo, Wander Luiz, Marquinhos, Zenon e Renato Pé Murcho.

05) FTT - Você teve como companheiro por 3 anos no Atletico e depois no Inter o atacante Gerson que foi inclusive artilheiro das Copa do Brasil em 89 e 91 pelo Atletico e 92 pelo Inter.

Como você recebeu a noticia da sua morte em 94 com apenas 28 anos?

MARQUINHOS - Eu acompanhei tudo cara. Foi como você disse, eu joguei com ele aqui no Atlético e a gente se dava bem dentro e fora de campo. Nossas esposas se conheciam e a gente se encontrava de vez em quando. E então logo depois que eu acertei com o Inter ele também acertou. Lá no sul a gente foi super bem e ganhamos estes titulos e tudo.

Gerson e Marquinhos campeões e amigos no Atletico e depois no Inter.

 Já em 92 ele começou com este problema e foi difícil. Ele fazia aqueles exames e eles demoravam a dizer o que era e a gente sem saber. No começo de ano a gente fazia aquela bateria de exames e o exame dele pediram pra repetir. Poxa, eu lembro que ele ainda continuou jogando , mesmo com os boatos. Não deram a notica de cara não. Ficaram enrolando e ele também desmentindo dizendo que não era nada. E o Gerson continuou jogando. Lembro que no Brasileiro muita gente começou a pegar no pé dele e eu fui acompanhando então o caso todo.

Depois quando a coisa começou a pegar mesmo, ele foi ficando fraco e a coisa foi difícil pra caramba. Você vai vendo o cara acabando ali. Me lembro que numa das ultimas visitas que eu fiz pra ele , foi terrível pois ele já estava pele e osso só. Então foi muito sofrimento pois era um cara que estava junto comigo a um bom tempo e tem o lado da família que sofreu demais. Ele tinha mulher e três filhas. Então foi um acontecimento muito chato e marcante na minha vida.

(Na época a noticia que se dava era que Gerson contraiu o vírus HIV e morreu em consquencia disto. Já a sua família diz até hoje que foi toxoplasmose.

06) FTT - Qual foi seu jogo inesquecivel?
MARQUINHOS - Teve um pelo Atlético contra o Cruzeiro em 88 que eu fiz o gol da vitória por 1x0 de fora da área e inclusive foi o “Gol do Fantástico” . A gente praticamente ganhou o campeonato neste jogo pois aí nós abrimos não me lembro se 3 ou 4 pontos e logo depois jogamos contra o Democrata fora e eu fiz outro gol e neste jogo ficamos campeões antecipados.



07) FTT - Você chegou a ser convocado para a seleção Brasileira?
MARQUINHOS - Fui chamado em 1990 pelo Falcão. Jogeui junto com outros mineiros, o Paulão e Adilson zagueiros do Cruzeiro. alem de Gerson e Moacir do Atletico.
(Jogou como titular contra o Mexico em amistoso de 12-12-90 no empate em 0x0 nos EUA) 




08) FTT - E dos zagueiros contra quem você jogou , apesar de você ser meio campo qual era aquele difícil de passar?
MARQUINHOS - Não era zagueiro mas teve um volante que eu enfrentei varias vezes aqui do Cruzeiro que era o Ademir. Era difícil jogar contra o cara. Marcava em cima , ele era muito forte e acompanhava o campo todo. Teve o Douglas também mas este já era mais técnico. Tinha o Marcio Bittencourt do Corinthians também que era outro volante difícil de passar. Este chegava muito junto.
Faixa e medalha de campeão mineiro em 86.


09) FTT - Qual foi seu melhor treinador ou o grande professor no futebol?

MARQUINHOS - Tele Santana. Como treinador com toda certeza foi ele. Ele tirava o maximo do jogador. A parte técnica pra ele era muito impotante. O jogador tinha que saber cruzar, saber passar. Pra ele isto era fundamental. E eu dei muita sorte porque estava subindo dos juniores e logo no meu primeiro ano de profissional e ele corrigia as deficiências que a gente tinha. Eu por exemplo era o condicionamento físico e ele pegava no meu pé. Me mandava treinar mais. A genet sabe de historias do Tele em que depois do treino ele deixava alguns jogadores treinando por um bom tempo pra corrigir suas deficiências e estes jogadores cresceram com isto.

O Tele era interessante porque o que ele nos ensinava era o que rolava no jogo de verdade. Porque tem treinador que vem com esta de passa pra cá, passa pra lá e situações que não acontecem no jogo e ficam só na teoria. O Tele não, era simples mas treinav os fundamentos necessários de cada um, tipo cruzamento dos laterais e tudo mais que acontecia no jogo.


MARQUINHOS VAI PARA O INTERNACIONAL


10) FTT - No ano de 1991 você é vendido ao Internacional. Não era um time tão tecnico como o do Atletico mas tinha muita força. Como foi sua adaptação?
MARQUINHOS - Nesta época o Brasileiro era no primeiro semestre e o estadual no segundo. No meio do ano após o Brasileiro pelo Atlético eu fui pro Inter.
O pessoal falava muito que lá no sul o futebol era mais de força e eu era mais técnico, mas foi tranqüilo. Logo que eu cheguei o Inter também vivia um momento de transição, trocando vários jogadores. Foi um desafio pois o Grêmio vinha de uma seqüência de títulos gauchos e precisávamos ganhar. Logo na minha primeira temporada conseguimos ser campeões e aí consegui me firmar de vez.

Marquinhos e a camisa do Inter com que foi campeão da Copa do Brasil em 92


9) FTT - Lá você conquistou o campeonato gaucho e a Copa do Brasil no mesmo ano?

MARQUINHOS - Eu conquistei o gaúcho em 91 e o bi em 92 Neste ano ganhamos também a Copa do Brasil. Foi um ano maravilhoso.


Inter campeão da Copa do Brasil em 1992. Marquinhos é o ultimo a direita e ao seu lado Gerson e Mauricio.

10)FTT - Você se lembra da partida final da Copa do Brasil?

MARQUINHOS - Lembro bem. Foi pedreira. O primeiro jogo foi nas Laranjeiras , um estádio para os dias de hoje sem a mínima condição de realizar uma final de Copa do Brasil.Fizeram um caldeirão. A torcida toda em cima fazendo muita pressão e eles acabaram vencendo por 2x1. Mas nós conseguimos fazer um golzinho que foi importante.


No jogo de volta fizemos um gol no finalzinho, num jogo de muita pressão também. Eles disseram que não fo pênalti mas nosso time mereceu o titulo. Fizemos uma bela campanha e eliminamos o Corinthians, o Grêmio nos pênaltis em dois grandes jogos e na semifinal o Palmeiras.

Marquinhos comemora o gol com seus companheiros de Inter.

11) FTT - Você participou de duas das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Atletico x Cruzeiro e o Grenal. Dá para dizer qual rivalidade é maior?

MARQUINHOS - Eu acho que no sul é mais pesado, a rivalidade lá é maior. A gente sentia isto no dia a dia. Você não podia comprar carro azul (jogador do Inter) os do Grêmio não podiam usar carro vermelho, enfim era um negocio meio radical mesmo. Até mesmo amizade entre jogadores rivais era difícil.

Aqui em BH também é pesado mas lá no sul é pior.

http://www.youtube.com/watch?v=Mq54yz2u52Q

O PRIMEIRO DO GOL DO ATLETICO NA VITORIA POR 3X2 SOBRE O CRUZEIRO EM 87 É DE MARQUINHOS.



12) FTT - O atual time do Internacional possui bons jogadores como Renan, Bolivar, Indio, Guinazu, Sandro, D'Alesandro, Giuliano, Andrezinho, Tayson, Rafael Sóbis, Alecsandro entre outros. É o melhor plantel do Brasil?

MARQUINHOS - Para mim antes era o Santos mas com a saída do Robinho eles perderam demais. É um jogador que desequilibra e se perder então o Neymar complica mais ainda.
O Inter tem um plantel forte sim , assim como o Fluminense . Este eu não gosto da defesa mas do meio pra frente é muito bom.

13) FTT - Mas e o Atlético , pelo menos no papel tem um grande plantel também ou não?
MARQUINHOS - O problema do Atlético é apostar em jogadores que deverão se recuperar durante o campeonato. O Diego Sousa por eemplo ainda não apresentou seu melhor futebol. O Mendes não estreou, o Daniel Carvalho quando estava bem se contundiu. O Atlético está pagando um preço alto por pegar jogadores se recuperando de contusões. Agora eu acho que quando os caras se recuperarem o time é bom e vai se engrenar.


Medalha e faixa de campeão da copa do Brasil 92 e ao fundo foto do time junior do Atletico.

A faixa de bicampeão gaúcho com a foto do time campeão.


14) FTT - E O Japão. Como foi sua experiencia por lá no Cerezo Osaka?18) FTT - Você como ex jogador acha que realmente é necessario um tecnico poupar jogadores hoje em dia ? Não é possivel atuar em duas partidas em uma semana?

MARQUINHOS - Foi bacana demais principalmente na parte financeira. Eu joguei no Atlético e no Inter mas nesta época você não juntava muita coisa aqui no Brasil não. Apareceu então a oportunidade e eu fui emprestado pelo Inter. Eu fui em 94 e o Cerezo Osaka era um clube da segunda divisão e eles me disseram que se desse certo me comprariam. Fizemos uma boa campanha e fomos campeões e eles me compraram e eu fiquei lá por mais dois anos.

Marquinhos na area de churrasco de sua casa com as camisas do Cerezo Osaka e do Atletico.



15) FTT - E teve mais algum brasileiro com você lá no Japão?
MARQUINHOS - Teve. Na época que eu fui teve este Toninho Cecílio que hoje é técnico do Vitória e o Moura centro avante do Sport. Fomos nós três. Depois , nos anos seguintes apareceram outros pois eles trocavam e compravam novos jogadores e chegaram o Bernardo ex São Paulo, o goleiro Gilmar, Sergio Manuel, Cuca entre outros.

16) FTT - E a adaptação ao Japão foi fácil?

MARQUINHOS - Bem , no começo foi difícil. Na época não tinha TV como tem hoje a Globo lá. Não tinha net , nem computador como nos dias de hoje pra se comunicar. Então era muito difícil , principalmente pra família como a minha mulher,. Porque eu estava sempre treinando ou viajando mas ela que estava com meus dois filhos pequenos sendo que um tinha acabado de nascer não foi fácil.
Mas lá é muto tranqüilo pra se viver. A cobrança também era pequena. Depois a gente se adaptou bem com a ajuda de outros brasileiros o que também facilita muito.

Marquinhos ajudou o Cerezo Osaka a ser campeão da segunda divisão japonesa e subir a primeira.

A faixa de bicampeão conquistada no Atletico antes de sair para o Japão. Ao fundo foto de Marquinhos no Cerezo Osaka.


17) FTT - E quem foi seu técnico ?
MARQUINHOS - Ele era brasileiro, o Paulo Emilio.

18)  Você como ex jogador acha que realmente é necessario um tecnico poupar jogadores hoje em dia ? Não é possivel atuar em duas partidas em uma semana?

MARQUINHOS - Eu te falar como jogador é difícil pois na minha época a gente sempre jogou quarta e domingo. Agora, hoje o jogador é muito mais exigido, o jogo é mais corrido, mais pegado. Já vi estatísticas de quanto um jogador corria antigamente e quanto corre hoje e é bem mais puxado.
O jogador em si prefere jogar a quarta e o domingo do que ficar treinando poi ninguEm gosta de treinar. Mas o que eu acho é que o cuidado é mais voltado a este desgaste pois a exigência hoje é muito maior. É o caso do inter que está no inicio do Brasileiro e ao mesmo tempo numa final d Libertadores. Está arriscado colocar os titulares eum deles se machucar e fazer falta na final. Portanto é dificil a gente dar um parecer.
19) FTT - Quais jogadores te encantam hoje no futebol brasileiro?
MARQUINHOS - O Ganso que vem se destacando demais. Parte técnica e inteligentíssimo pra jogar bola. O Neymar também apesar da pouca idade vai dar muitas alegrias ainda.
Gosto muito do Hernanes também. Jogador de meio campo completo que joga com as duas pernas, sabe lançar, sair , sabe fazer gols. A gente gost de ver e hoje tem poucos.

20) FTT - Gostou da atuação da nova seleção brasileira?
MARQUINHOS - Gostei. Um time que joga pra frente, que tem bons jogadores como o Ganso que sabe meter a bola na hora certa muito inteligente. Tocaram muito bem a bola.
Tem futuro


sábado, 21 de agosto de 2010

Revista do Dia - REVISTA DO ESPORTE 1968


A Revista do Esporte de  28 de Dezembro de 1968 trazía em sua capa uma foto do jogo entre Santos x Cruzeiro que era um dos maiores clássicos do Brasil na época. Este jogo terminou com a vitoria santista por 2x0 com gols de Pelé e Toninho. Na foto acima vemos Procopio pelo lado esquerdo chegando para dar combate em Pelé e pelo lado direito Pedro Paulo. Neste jogo numa dividida com Pelé , Procopio teve uma lesão gravissima que o afastou do futebol por mais de 3 anos.

Encontros eternizados - COLUNA, CHICO BUARQUE & EUSEBIO


Chico Buarque em visita  a Portugal fez questão de se encontrar com os craques do Benfica e da seleção portuguesa Mario Coluna e Eusebio, talvez os dois maiores jogadores da historia de Portugal. A foto é do final dos anos 60.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Esquadrão Inesquecivel - PALMEIRAS 1996

A série Esquadrão Inesquecivel desta semana relembra a obra-prima de Vanderlei Luxemburgo, o Palmeiras de 1996, equipe que exerceu um domínio avassalador no Campeonato Paulista daquele ano, e que só não fez uma história maior porque foi desmontada de uma forma lastimável, processo que começou com a ida de Muller para o São Paulo na fase final da Copa do Brasil. Sem ele, o alviverde caiu diante do Cruzeiro e ficou fora da Copa Libertadores.


O time começava com Velloso, que vivia uma ótima fase, e contava com dois ótimos laterais – Cafu e Júnior, injustiçado na seleção. A zaga tinha o seguro Cléber, que fez muitos gols naquele ano, e Sandro Blum. No meio, os operários Amaral, Flávio Conceição e, algumas vezes, Galeano, davam suporte para o melhor quarteto ofensivo do futebol brasileiro em muito tempo. Luizão nunca foi um gênio, mas aproveitou bem as chances criadas pelos geniais Djalminha, Muller e Rivaldo.

Era esse o time base do ataque dos 100 gols, que marcou 102 vezes em 30 jogos, uma assombrosa média de 3,4 gols por partida. Luizão foi o artilheiro do time com 22 gols (Giovanni, pelo Santos, fez 23 e foi o artilheiro do campeonato), seguido por Rivaldo (18), Muller e Djalminha (15 cada um) e pelo zagueirão Cléber (7).

Em pé: Velloso, Júnior, Sandro, Rivaldo, Cafú, Flávio Conceição e Cléber

Agachados: Luizão, Amaral, Muller e Elivelton


Foi a melhor campanha na história do Paulistão em todos os tempos, superando até os temidos Santos de Pelé e a Academia de Ademir da Guia. Com uma campanha de 30 jogos, 27 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota( contra o Guarani em Campinas), 19 gols sofridos e espantosos 102 gols marcados, o Palmeiras arrebentou naquele ano, triturando tudo e todos que tiveram o azar de ficar frente a frente com esta verdadeira máquina mortífera, montada por Luxemburgo e pela parceria Palmeiras-Parmalat. 


Era um time rápido, que aterrorizava a todos, com uma artilharia mortal formada por Rivaldo, Djalminha, Muller, e Luisão, um meio campo pegador, com Amaral e Galeano, alas de altíssima qualidade como Cafu e Junior, uma defesa segura com Cleber e Sandro, além de Velloso, segurando tudo lá atrás. O time começou o campeonato metendo 6×1 na Ferroviária e 7×1 no Novorizontino na seqüência, acostumando muito mal a torcida verde, que quando o time ganhava “apenas” de 3×0 ou menos, vaiava os jogadores como se fosse uma derrota. O Paulistão de 96 foi de pontos corridos, e o titulo veio matematicamente em 2 de junho de 96, no Palestra Itália abarrotado por mais de 27 mil torcedores que foram ver outro show daquele timaço.

O jogo foi contra o Santos, e o Palmeiras venceu por 2×0 , com gols de Luisão e Cleber. Naquele ano venceram ainda o São Paulo por 2×0 e 3×2, o Corinthians por 3×1 e empate de 2×2, e o Santos por 6×0 e 2×0, e um inacreditável 8×0 no Botafogo de Ribeirão Preto
 

Ataque dos 100 gols

Rivaldo e Luizão comemorando um gol. Esta foi cena rotineira para este time de 96.
Na verdade não foram 100, mais sim 102 gols na campanha do Campeonato Paulista de 1996, dando uma média de incríveis 3,4 gols por partida. Essa foi a melhor campanha do futebol brasileiro desde que foi implantado o profissionalismo, em 1933.

O Palmeiras possuía uma das melhores equipes já formadas no futebol brasileiro em toda história, a equipe base dessa conquista tinha a seguinte formação: Velloso; Cafu, Sandro, Cléber e Júnior; Galeano, Amaral, Rivaldo e Djalminha; Müller e Luizão
























          


O craque Djalminha, maestro da máquina verde de 1996.

Para se ter idéia do poder dessa equipe, vale lembrar que a maior parte desses jogadores tiveram importantes passagem pela Seleção brasileira, o lateral-direito Cafú, por exemplo, foi o capitão do pentacampeonato brasileiro na Copa de 2002, tendo ainda participado das duas Copas do Mundo anteriores (1994 e 1998). O lateral-esquerdo Júnior e o centro-avante Luizão foram reservas respectivamente de Roberto Carlos e Ronaldo na Copa do Mundo de 2002. Rivaldo que chegou a ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo em 1999 pela FIFA, foi destaque da Seleção vice-campeã do mundo em 1998 e da campeã de 2002. Djalminha, o jogador mais técnico do time do Palmeiras de 1996, só não participou de nenhuma Copa do Mundo devido seu temperamento polêmico, fato que para maioria dos que admiram um futebol bonito foi uma das maiores injustiças cometidas para com um jogador de futebol.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Craque disse e eu anotei - NARDO

Consegui o telefone do Nardo através do meu amigo jornalista Celso Unzelte. Ele ficou muito feliz por ter sido lembrado e deu a entrevista para o blog FTT com muita satisfação e emoção. Confiram a matéria.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Como foi o seu começo no Corinthians?
NARDO: Comecei em 1947 como infantil e fui campeão juvenil em 48. Passei pra profissional de 49 pra 50. Na época a linha era formada por Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário. Eu era reserva do Batata (Baltazar), que era o maior ídolo da época. Quando ele ia pra Seleção Brasileira, eu pegava o lugar dele. Joguei poucas partidas no time campeão de 51.

Corinthians anos 50 : Cabeção, Homero, Idário, Touguinha, Julião e Rosalém. Agach:  Cláudio, Luizinho, Baltazar, Nardo e Colombo


FTT: Como jogava esta linha que fez 103 gols?
NARDO: O ponta-esquerda Mário era o maior driblador que tinha em São Paulo, nunca vi ninguém igual pra driblar. Depois apareceu o Canhoteiro, mas o Mário era mais habilidoso. Ele não queria fazer gols e, quando fazia, dizia que errou, sendo que todos queriam fazer. Cláudio, Luizinho e Roberto Belangero eram os que armavam o jogo. O capitão era o Cláudio, que mandava no time do Corinthians e até no presidente Alfredo Ignácio Trindade, pois tinha uma personalidade extraordinária. O Trindade veio depois do presidente Fló Júnior. Na época o técnico era o José Castelli (Rato) e depois veio o Oswaldo Brandão.


Claudio, Luizinho, Carbone, Mario e Baltzaar - O ataque dos 100 gols em 1953.


FTT: Em 52 você foi emprestado para o Comercial. Fale sobre esta passagem.
NARDO: O presidente era o Rafael Oberdan de Nicola e ele contratou o Dino, Gino e eu. O ataque era Alcir, Gino, eu, Dino e Esquerdinha. Tinha também o Cavani, Pascoal e Lamparina. O Clóvis e o Alan jogaram no Corinthians.


FTT: Como foi a sua passagem pelo futebol italiano?

NARDO: Sinceramente eu não fui feliz, correspondi pouco ao que eles pretendiam na Juventus. A mãe da minha esposa estava doente e resolvemos voltar. Casei em 55, no mesmo ano que fui pra Itália, após o título do IV Centenário.
Mauricio Sabará e Nardo com a faixa da Juventus, clube que defendeu na Italia.


NARDO VAI PARA O RIVAL PALMEIRAS














FTT: Em 56 você veio para o Palmeiras. Fale desta época. Você atuou com o Waldemar Fiúme e o Mazzola?

NARDO: Joguei com eles. Depois teve a linha de 59, quando fomos campeões, com Julinho, Américo, Chinesinho e Romeiro. Tinha também o Ênio Andrade, Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Zequinha, Aldemar e Geraldo Scotto. O Aldemar, que veio do Santa Cruz, era o maior marcador do Pelé, não dava nenhum pontapé.


Nardo o pequeno Mauro Betting e o lendario
goleiro palmeirense Oberdan Cattani


FTT: Mas, antes deste título de 59, houve um jogo histórico do Palmeiras, que foi uma derrota de 7 a 6 para o Santos no Rio-São Paulo de 58. Inclusive você marcou um gol nesta partida. Foi o jogo da sua vida?

NARDO: Não foi. Tive muitas partidas mais vibrantes, como a do gol do Romeiro em 59, sendo campeão em cima do Santos de Pelé. Foi uma melhor de três. No primeiro jogo foi 1 a 1, o segundo 2 a 2 e, no terceiro, ganhamos por 2 a 1 de virada. Vencemos o ataque que tinha Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. O baixinho Pagão era um fora-de-série.

59 - Djalma Santos, Valdir, Valdemar Carabina, Aldemar, Zequinha e Geraldo Scotto.
Agach Julinho Botelho, Nardo, Américo Murolo, Chinesinho e Romeiro.

FTT: Vocês percebiam que o Pelé, antes da Copa do Mundo de 58, já seria esta fera?
NARDO: Ele teve o dom de Deus. Não aparece mais ninguém igual. Jogue contra Puskas e Pedernera, vi jogadores fora-de-série, mas como o Negão nunca apareceu. Foi um escolhido por Deus.

FTT: Houve algum jogador que te influenciou e que você queria imitar?
NARDO: Tinha o Zizinho que era armador, sendo que eu era atacante. Teve muitos jogadores. Não cheguei a ver o Leônidas jogar, pois era muito pequeno, mas sei que foi um fora-de-série. Havia o Pagão, que era muito habilidoso.

FTT: Quem foi o seu grande marcador?
NARDO: Teve muitos. O São Paulo tinha Bauer, Rui e Noronha. O Mauro Ramos de Oliveira foi o maior beque-central que vi jogar, era um craque, tinha muita categoria e habilidade impressionante.

FTT: Como foi o título do Super Campeonato de 59?
NARDO: Foi muito importante, porque vencemos o time do Pelé, que era o maior jogador do mundo. Vencer eles foi motivo de muita alegria. O Palmeiras também tinha uma grande equipe.
O reporter Reali Junior com o microfone da TV Record,
logo a seguir Geraldo Scoto abraçando Nardo,
e Julinho sendo abraçado.

FTT: Você também jogou na Portuguesa?
NARDO: Joguei entre 61 e 62. Atuei com Servílio (filho do Bailarino), Sílvio, Jairzinho, Félix, Nélson, Ditão, Hermínio, Jutis, Vilela. O time da Portuguesa era muito bom. Eram jogadores que já eram formados para serem craques. O único grosso era eu (risos...). No Corinthians eu era reserva do Baltazar, o que era muito orgulho pra mim, porque foi o maior cabeceador que vi jogar, pois era o Cabecinha de Ouro, subia e marcava os gols.


FTT: Qual destas duplas você se entendeu mais: Cláudio e Luizinho ou Julinho e Américo?

NARDO: Cláudio e Luizinho. Um capitão como o Cláudio nunca mais aparecerá. Grande batedor de faltas, era bom em tudo, mandava no time, escalava a equipe, um jogador fora-de-série.

FTT: O que você tem achado do Corinthians e do Palmeiras nestes últimos anos?
NARDO: Caíram muito em questão de time. O futebol de hoje é bem diferente do que se jogava na minha época. Antigamente eram 5 atacantes, sendo que hoje é matemático, com 3 ou 2.