FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sábado, 25 de setembro de 2010

O Craque disse e eu anotei - CAILLAUX (CAIÔ)

A historia do futebol não é feita apenas dos grandes jogadores, dos genios dos gramados. Não, ela é feita tambem de  raça, determinação, amor a um clube. Este é o caso de nosso entrevistado desta semana. Silvio Caillaux jogou apenas no America MG em sua carreira e foi titular por 8 anos enfrentando algumas das maiores feras do futebol brasileiro.
Vamos conhecer um pouco da sua historia.

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Caillaux com a faixa de campeão juvenil de 1959
 1)  FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Como foi seu inicio de carreira?
CAILLAUX – Eu fui convidado pelo time do Santa Tereza (time amador de BH) para fazer um jogo contra o juvenil do América. Eu fui e me saí muito bem sendo convidado para fazer parte do grupo do América. Isto foi em 1957. Fiquei no juvenil até 59 quando fomos campeões mineiros da categoria. No ano de 60 subi para os profissionais.

2)  FTT - E a base do time de 60 era a do campeão mineiro de 1957?
CAILLAUX – Era sim. Tinha o Jardel, Toledo, Fernando Fantoni, Gilson, Zuca, Ari, Capeta, Vadinho quase todos. Era um grande time

Time do America nos anos 60

3) FTT - Você chegou a ver Tostão no America?
CAILLAUX – Eu vi ele jogar no juvenil porque ele não jogou no profissional.

FTT - Êle já demonstrava que seria o genio que foi?
Demonstrava pois o jogador que nasce pro futebol já nasce sabendo e ele já era genial

Tostão é o segundo agachado da esquerda para a direita.


4)  FTT - E logo que você subiu para o profissional o América fez uma excursão a Europa . Conte como foi.
CAILLAUX – Nós fomos direto para a Grécia. Lá fizemos três partidas , uma delas contra o Olimpiakos. Nesta partida perdemos de 4x1 mas mesmo assim fui agraciado por uma família grega por eu ter sido um dos melhores em campo.Depois seguimos para a Turquia. Neste país fizemos quatro partidas mas acabamos ficando lá por 30 dias pois teve extourou uma revolução, ficou estado de sitio lá e ninguém podia sair do país. Durante este periodo nós ficamos rodando pelo pais, fazendo jogos. Um deles foi contra o Fenerbahce. Quando finalmente liberou nós fomos para Israel. Porem antes fizemos escala na Ilha de Chipre e tivemos de jogar lá também. Jogamos em Israel em Telaviv e Haifa.

Estadio Nacional da Turquia - 07 de Agosto de 1960
America 1 X 0 Fenerbahce . Caillaux é o segundo em pé da esquerda para a direita.
A delegação do America desembarcando da excursão realizada na Europa em 1960.


5) FTT - No ultimo ano antes da inauguração do Mineirão em 1964 o America disputou a final contra o Siderurgica na Alameda (estádio do América) e perdeu. Você se lembra desta partida?
CAILLAUX – Me lembro sim. Apesar que eu não joguei por causa de uma contusão. Eu estava afastado. Agora a partida foi dramática para o América. Nós estávamos com a faca e o queijo na mão mas o Yustrich acabou ganhando.



6) FTT – Podemos dizer que foi o revide porque em 57 a final também foi entre América e Siderúrgica e  o time americano acabou campeão.
CAILLAUX – É foi o revide sim. Agora o time do Siderúrgica era muito bom também. Era um excelente time com Djair, Silvestre, Geraldino e bem armado pelo yustrich.

Bruno e Caillaux


7) FTT - E o Jair Bala foi o artilheiro absoluto deste campeonato com 25 gols.
Era um craque fora de serie?
CAILLAUX – Fora de serie. Excelente jogador e um grande companheiro. Jair jogava do meio campo pra frente .Ajudava a marcar também mas quando ele estava lá na frente era impossível. Era um autentico ponta de lança, um cracaço.



8) FTT - Voce pegou o surgimento de um dos maiores times do futebol brasileiro, o Cruzeiro de Piazza, Natal, Tostão, Dirceu e cia em 65. Como era enfrentar este time?
CAILLAUX – Olha eu achava mais fácil marcar um grande jogador do que um jogador mediano. Até hoje as pessoas admiram quando eu digo que preferia marcar um Tostão ou um Pelé do que o Dario. Eu sabia que o craque ia pegar a bola e tentar passar por você. Então você já ficava precavido esperando a hora certa de dar o bote. Ele vai tentar e depende de você , da sua visão de desarma-lo, o momento certo. O time do Cruzeiro era muito bom , tinha muita qualidade e você tinha que ficar de olho em varios.

Caillaux em um jogo contra o Cruzeiro


Jardel o Cavalerio Negro , grande goleiro americano e Caillaux parando o ataque do Cruzeiro.



9) FTT - Era mais dificil marcar o Tostão ou o Dario?
CAILLAUX – O Dario. Não me esqueço um jogo em que o Mineirão estava lotado. Eu fui tentar antecipar uma bola do Dario e ela bateu no meu calcanhar e foi parar lá na frente. Quando eu pensei em voltar , vi que nem adiantava porque o Dario já veio na corrida e não tinha jeito de pega-lo mais. Você nunca sabia o que ele iria fazer com a bola.(risadas)

10) FTT - E entre os dois craques do Cruzeiro, Tostão ou Dirceu Lopes?
CAILLAUX – Ambos eram dificeis. O baixinho (Dirceu Lopes) era muito rápido e Tostão também não era facil. Tinha ainda o Evaldo , o Natal mas todos jogavam limpo, sem pontapé.

11) FTT - Você era um lider no grupo do America?
CAILLAUX - Sim . Eu fui capitão da equipe por muitos anos e o pessoal me respeitava. Pela minha maneira de jogar e por minha conduta.
Caillaux o capitão americano com uma camisa toda verde do America cumprimenta seu adversario.
Caillaux cumprimenta Vavá do Cruzeiro antes de uma partida em 1961.

12) FTT - Quais foram os atacantes mais dificeis que você enfrentou?
CAILLAUX – Olha um difícil que eu peguei foi logo no começo de carreira. Fizemos um jogo na Alameda contra o Corinthians e eles tinham um atacante chamado Zague. Este deu trabalho. (Com a camisa do Corinthians, entre 1956 e 1961, Zague fez 241 partidas  e marcou 127 gols – a cada dois jogos um gol) . O Gerson do Botafogo e o Rivelino tambem era "fogo".. Eles alem de bons eram catimbeiros. Já o Dirceu lopes e o Tostão eram craques mas não tinham esta catimba. Aliás os jogadores mineiros da época não eram catimbeiros.


O goleiro Valdo se antecipa a Caillaux e o atacante do Botafogo e segura firme a bola.
 13) FTT - Em 1963 voces fizeram uma partida contra o Cruzeiro e venceram por 1x0 com um gol de Luisinho no finzinho. Estava em campo o Abelardo que jogava desde 1946. Era dificil marca-lo?
CAILLAUX – Era muito difícil. Ele era muito rápido, franzino mas alto. Tinha uma mobilidade fora do comum e jogava realmente muito bem. Eu já peguei o no final de carreira.




14) FTT - Qual foi seu grande treinador?
CAILLAUX – Yustrich. Eu aprendi muita coisa com ele. Me deu muitos ensinamentos e acho que treinador de futebol tem que ter o perfil dele. Tem de se impor porque jogador de futebol não é fácil e ele tem de ser líder e ter autonomia. Não pode permitir intromissão de diretoria em escalação e o Yustrich não admitia. Ele tem de ter moral sobre o jogador e sobre a diretoria também.

Caillaux protegendo o goleiro Valdo

15) FTT - E quem foi seu grande parceiro de zaga?
CAILLAUX – Todos os três com quem joguei. Eu entrei na zaga em 60 no lugar do Fernando Fantoni. A defesa era Jardel, Toledo, Eu, Mirim e Gilson. Depois joguei com o Zé Horta com quem me dava muito bem. Foi com quem eu joguei mais tempo. Mais tarde teve o Café. Todos alem de excelentes jogadores eram ótimas pessoas, grandes amigos que encontramos até hoje

16) FTT - Qual America foi melhor:o campeão de 57 ou o de 71?
CAILLAUX – Difícil dizer. O de 57 era mais técnico e o de 71 alem de ser tecnico tambem , tinha mais conjunto. Os dois foram muito bons. Talvez os melhores na historia do América.

17) FTT - Cite um momento marcante em sua carreira.
CAILLAUX – Teve um que foi minha convocação para a Seleção Mineira que jogou na inauguração do Mineirão. Eu fui convocado pois tinha ganhado o Troféu Guará como melhor quarto zagueiro neste ano e no primeiro treino joguei como titular. Ai tive um problema com carne de porco que eu comi e acabei ficando de fora da partida contra o River Plate.


A Seleção do Campeonato Mineiro de 1965.
Helio (Atletico); Pedro Paulo (Cruzeiro), Vander (Atletico), Caillaux (América) e Vanderlei (Cruzeiro); Vanderlei Paiva (Atletico), Dirceu Lopes (Cruzeiro); Natal (Cruzeiro), Tostão (Cruzeiro), Evaldo (Cruzeiro) e Silvinho (Renascença)


16)FTT - Geralmente os jornais escreviam seu nome aportuguesado para Caiô.
Isto te incomodava?
CAILLAUX - Me incomodava muito. Eu brigava sempre . Falava que meu nome era um sobrenome e que portanto gostaria de ser chamado por ele. Mas não adiantava, a maior parte escrevia errado.(risos)

Caillaux levanta a Taça Jules Rimet original antes de ser derretida. Ela fez parte de uma promoção e divulgação da Copa de 70.


18) FTT - Você acredita que com o Novo Independência e o Shopping o América poderá agora se reerguer de vez?
CAILLAUX – Claro! O time precisa de suporte para manter os jogadores aqui. Agora eu acho que o Independência deveria ser construído nos moldes de antigamente , com a torcida perto do campo. Era assim no Independência antigo e na Alameda. No Mineirão você tem muita profundidade e a torcida fica muito longe.
Vamos aguardar e ver o independência como vai ficar

Caillaux se antecipa e rouba a bola do atacante do Siderurgica.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Encontros eternizados - FALCÃO & ZICO

Falcão entrega a faixa de Supercampeão Carioca de 1979 a Zico. Neste ano o volante do Inter se consagraría ao conquistar o Tricampeonato Brasileiro pelo Inter. Tres anos depois os dois encantaram o mundo na Copa da Espanha de 1982.

Revista do Dia - REVISTA DO ESPORTE 1965



Na edição de 9 de Outubro de 1965 a foto de capa da REVISTA DO ESPORTE traz o encontro de dois grandes goleiros do futebol brasileiro, Cabeção do Corinthians e Marcial do Flamengo.

sábado, 18 de setembro de 2010

O Craque disse e eu anotei - PALHINHA

O encontro com Palhinha foi daqueles que mais se parece  uma visita a um velho amigo. Extremamente simpático ele conversou por quase duas horas comigo, contando varias passagens sua pelo futebol. Durante a entrevista o telefone tocou e era um jornalista da Folha de São Paulo querendo algumas informações sobre a Libertadores de 76 pelo Cruzeiro e a de 81 pelo Atletico. O jornal está preparando uma materia scom a historia da libertadores. Educadamente Palhinha me pediu licença e atendeu ao jornalista. Vi o seu prazer em narrar sua vida esportiva.

1) FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS -  De onde veio este apelido Palhinha?
 PALHINHA - Eu estudava em um colégio de BH, o Liceu Salesiano e meu irmão mais velho também estudava lá  e jogava na seleção do colégio. Ele era muito bom de bola e seu apelido era “Palha de Aço”, por causa do seu cabelo muito crespo. Depois eu também comecei a jogar na seleção e o pessoal falava: olha o irmão do Palha aí. Daí passaram a me chamar de Palhinha.

 2) FTT - Voce começou no futebol de salão e depois foi para o juvenil no futebol de campo. Com quantos anos você estreou no time profissional e qual tecnico te lançou?
 PALHINHA - Eu comecei a disputar algumas partidas ainda em 1967 com o Airton Moreira com 17 anos e logo depois dei continuidade com o Gerson dos Santos.

 3)FTT - Como era ser um jovem atacante , olhar para o time principal e ver que a concorrencia era dificil pois lá estavam Tostão e Evaldo?
 PALHINHA - Pois é quando eu tinha meus 17 anos eu nem queria jogar no time de cima. O meu negocio era jogar e eu dizia ao treinador que preferia ficar no juvenil do que não jogar no time titular. Lá tinham o Natal, Evaldo, Tostão, Marco Antonio, Dirceu Lopes, Hilton Oliveira e então dificilmente eu iria jogar. A parte ofensiva do Cruzeiro era muito boa. Veio então o Furletti (Carmine Furletti diretor de futebol) e me disse pra aceitar e ir me acostumando com os jogadores de cima mas eu queria era jogar.(risos).
Meu problema não era nem saber que os titulares eram Evaldo e Tostão pois isto me dava até mais disposição pra disputar a posição pois me espelhava nestes jogadores.

Bruno e Palhinha na frente dos trofeus conquistados pelo craque 


4) FTT -  Evaldo então se contundiu seriamente e Tostão foi vendido ao Vasco. Você então aproveitou bem a chance .
 PALHINHA - Foi . Na verdade quando eu comecei a subir , eu jogava de centro avante e meia ponta de lança. Porem se pintasse oportunidade na ponta direita, ponta esquerda eu jogava também, porque o meu negocio era jogar, era estar em campo (risos). Mas eu fui me firmar mesmo em 72 quando o Yustrich me deu esta oportunidade em substituir o Evaldo e o Tostão. Veio a final do Mineiro e eu tive a felicidade de fazer os dois gols na vitória sobre o Atlético e então passei a ser o titular definitivo.

Foto tirada de um grande quadro na casa de Palhinha - Nele o primeiro gol no clássico contra o Atletico. Na foto estão Oldair, Vantuir e o goleiro uruguaio Mazurkiewics.

O segundo gol de Palhinha na prorrogação. Vitoria por 2x1 com dois gols dele.

5) FTT - Você participou de 3 finais de brasileiros jogando em  grandes times e por ironia do destino perdeu as 3: Cruzeiro x Vasco em 74, Cruzeiro x Inter em 75 e Atletico x Flamengo em 80.
Qual foi a mais dolorida ?
PALHINHA - Todas foram A que menos doeu foi a do Inter. O Dulcidio Boschila estava longe do lance e deu uma falta que não existiu do Piazza no Valdomiro que resultou no gol do Inter. Mas eu não culpo ele porque foi um jogão lá e cá. Qualquer um poderia ter vencido.
Agora 74 foi uma vergonha. Armando Marques nos meteu a mão, anulou um gol legitimo do Zé Carlos onde o bandeirinha já tinha corrido para o meio campo validando o gol. O jogo era para ser em Belo Horizonte mas a CBF forçou o Cruzeiro a aceitar e jogar no Rio. Para vocês terem uma idéia, quando eu entrei em campo o Armando Marques falou comigo: eu não vou marcar nenhuma falta em você. O Moisés e o Miguel me atropelavam e ele ao invés de marcar falta a meu favor, marcava contra. Então o Armando teve uma participação fundamental na conquista do Vasco, que tinha um time bom  mas foi beneficiado pelos erros deste arbitro.
A outra que me marcou muito e até hoje eu fico engasgado foi esta de 80. O Jose Assis Aragão pressionou os jogadores do Atlético o tempo todo, até expulsar o Reinaldo que já tinha feito dois gols. Então eu fico triste porque foram três decisões e eu perdi. Não tenho nenhum brasileiro.

 Palhinha e Dirceu Lopes contra Miguel e Moisés em 1974

6)FTT -  Você atuou ao lado de excelentes zagueiros como Perfumo e Procopio no Cruzeiro, Luisinho e Osmar Guarnelli no Atletico e Amaral no Corinthians. Qual deles te impressionou mais?
 PALHINHA - Olha, um dos maiores jogadores que conheci na posição se chama Luisinho. A qualidade técnica e a elegância com que ele jogava, sabia sair jogando muito bem e não era  violento. Eu tive a felicidade de jogar com o Luisinho e ser seu treinador. Então posso falar  e digo que ele conheceia muito.


7) FTT - E sua rivalidade com o Figueroa. Todo clássico Cruzeiro x Inter voces dois davam trabalho ao juiz.
PALHINHA - Olha, eu fico até honrado e orgulhoso pois ele que foi escolhido duas vezes como o melhor zagueiro na seleção do mundo, numa entrevista recente perguntaram: qual foi o  atacante mais difícil que você marcou em sua vida Figueroa? Ele falou que não tinha sido o Pelé, nem Tostão, nem Dirceu........foi o Palhinha ! Disse que eu dava muito trabalho  porque eu saia pros dois lados e era muito veloz. Realmente travamos grandes duelos.

FTT - Ele quebrou seu nariz ?
 PALHINHA - É quebrou e eu tentei ir para o revide aqui e acabei expulso.

Agora a pouco tempo atrás, nós dois estivemos em uma homenagem em Porto Alegre, a gente se encontrou,  nos abraçamos, nos beijamos e tudo aquilo que passou foi esquecido. Muitas vezes a gente faz a guerra e não tem oportunidade de encontrar com estas pessoas depois que a gente encerra a carreira. Cada um toma um rumo, cidades diferentes. Então foi uma oportunidade muito bacana, nós brincamos muito e hoje ele está muito bem.


8) FTT - Se fosse para escolher qual dos dois gringos foi melhor: Perfumo ou Figueroa?
PALHINHA - Os dois. Não dá para escolher. Perfumo era muito técnico, chegava junto também sem ser desleal. Então não dá pra optar por um.

9) FTT - Quais seriam os melhores zagueiros contra quem você jogou?
PALHINHA - Eu sempre tive mais dificuldade com zagueiros técnicos. Aquele que dava o bote certo na bola como o Luisinho, o Figueroa estes eram os mais difíceis. Os zagueiros mais violentos que queriam me acertar, como Miguel, Moisés, Marcio Paulada , estes eu adorava jogar contra. Imagine que eu com 15 anos treinava contra Procópio, William, Vavá, Benito , Pedro Paulo e aprontava aquela correria. Eles me davam porrada e eu revidava. Eles falavam: poxa este menino de 15 anos é louco (risadas) e eu não era louco, eu não tinha era medo deles. Eles me batiam e eu revidava.


10) FTT - Você foi artilheiro da Libertadores com 13 gols e Jairzinho vice com um gol a menos. Foi uma dupla inesquecivel ?
PALHINHA - Inesquecível. Não foi somente eu e Jairzinho. O ataque todo com Batata , Joãozinho e o Eduardo contribuiu para isto. Eu não faria o gol sozinho , eu tive ajuda dos meus colegas. Nós fizemos na libertadores mais de 40 gols numa media de 3,5 gols por jogo. (Foram 46 gols)

FTT - Só no jogo contra o Alianza voces dois fizeram sete gols.
PALHINHA - Foi, 4 do Jair e 3 meu



11)FTT - Libertadores antigamente era mais difícil ?
 PALHINHA - Muito mais. Os times eram tradicionais como o Independiente, Peñarol, Nacional, Boca, River . Eles mantinham seus craques que raramente saiam para a Europa. Eram grandes times e ainda por cima não tinham os exames de antidoping e as TVs não transmitiam as partidas. A pressão era muito grande. Hoje jogam times sem tradição alguma pois os grandes times perderam seus craques para o mercado europeu.
Você vê que ganhamos do River que tinha uma seleção Argentina com Passarela, Perfumo, Fillol, Alonso, Luque, JJ Lopes. Hoje tem time que a gente nunca ouviu falar.
Outra coisa, antigamente a gente jogava de cara contra o outro time brasileiro e só iam dois, o campeão e o vice. Um matava o outro.

 Ronaldo, Palhinha e Jairzinho contra o River Plate na primeira partida da final em 76.

12) FT T- Nos jogos de 75 o Cruzeiro poderia perder por ate 4 gols nas duas partidas que faria na Argentina que estaria classifcado para a final. Perdeu para o Rosário (1x3) e depois Independiente(0x3) . Foi muita pressão ou o que aconteceu?
 PALHINHA - Principalmente no jogo de Rosário foi uma enorma pressão. A noite jogavam bombas na frente do hotel, tocavam buzinas e não nos deixavam dormir. Na entrada do nosso time em campo a torcida do Rosário jogou bomba no corredor de acesso ao gramado e o clima da partida não foi fácil. Perdemos de 3x1. Já contra o Independiente também teve pressão mas menos do que em Rosário. O time deles era muito bom com Pavoni, Bertoni, Bochini. Como jogava bola este Bochini, foi um dos grandes jogadores que vi atuar.

13) FTT - Você pegou as duas gerações do Cruzeiro. A dos anos 60 com Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Natal, Evaldo e a dos anos 70 com Nelinho, Perfumo, Roberto Batata, Eduardo, Joãozinho. Alguma comparação?
PALHINHA - Olha, a dos anos 60 tinha muita qualidade técnica. Jogava o fino. A de 70 tambem tinha muita qualidade mas já tinha mais competitividade. Um futebol mais combativo.

14) FTT - Como foi jogar na neve contra o Bayern de Munique? O time nunca havia enfrentado uma situação como aquela.
PALHINHA - A gente nunca tinha passado pó uma experiência daquelas. O jogo começou e aneve caindo cada vez mais. A neve para quem está costumado é normal mas para gente foi sofrido. Você corre e o frio vem nos ossos. Quando você cai, leva um tombo, parece que está caindo em caco de vidro.
Tivemos a infelicidade d levarmos dois gols no finzinho do jogo.



15) FTT - E no jogo de volta no Mineirão um espetaculo. Como foi jogar contra Mayer, Beckenbauer, Rummenigge, Gerd Muller e Hoeness, todos titulares da seleção alemã?
PALHINHA - Aqui tivemos muito azar porque na noite anterior choveu demais em Belo Horizonte e o campo ficou pesado, fofo demais. Para eles que estavam acostumados foi ótimo. Acho que faltou maldade da nossa diretoria também. Deveriam ter feito como eles e marcado o jogo para as 3 horas da tarde, com o sol bem quente e não a noite. este time do Bayern era a seleção alemã mas o Cruzeiro tambem com Piazza, Nelinho, Eu, Joãozinho, Raul que passaram pela seleção brasileira.


PALHINHA NA SELEÇÃO BRASILEIRA

Palhinha estreou na seleção brasileira em 27 de Maio de 1973 em um amistoso no Maracanã. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Leivinha. O Brasil venceu por 5x0. Eis a escalação da partida:

Leão [Palmeiras]
Zé Maria I [Corinthians]
Chiquinho Pastor [Flamengo]
Piazza [Cruzeiro] - cap
Marco Antônio [Fluminense]
Clodoaldo [Santos]
Rivellino [Corinthians]
Valdomiro [Internacional]
Leivinha [Palmeiras]
(Palhinha I) [Cruzeiro]
Paulo César Caju [Flamengo]
Edu [Santos]

15) FTT - Você se sentiu frustrado por não ir a Copa de 78?
PALHINHA - Fiquei não só com a de 78 mas com a de 74 tambem. Na de 74 eu estava muito bem no Cruzeiro e no ano seguinte fui inclusive artilheiro do mineiro. Na de 78 eu tambem estava muito bem no Corinthians.Fiquei na relação dos 30 convocados e já me honrou muito mas ficou aquela frustração de nunca ter participado de uma copa.
FTT - Grandes jogadores não tiveram a felicidade de disputar uma copa, como você e Dirceu Lopes.
PALHINHA - Eu até que menos , mas o Dirceu Lopes foi um absurdo. O Zé Carlos era outro que merecia, o Joãozinho foi outro absurdo. Eu nunca vi na minha vida um ponta esquerda como o Joãozinho.
Outros tiveram problemas como o Reinaldo. Ele teve sérios problemas de contusão e teve comprometida sua carreira. Ele teve sua carreira no auge curta. Ele começou com 16 pra 17 anos anos em 76 e em 80 quando nós jogamos juntos, ele sofria com as contusões do joelho. Se fosse hoje com a evolução da medicina ele faria a operação no joelho e voltaria a jogar poucas semanas depois.



 
Camisa da seleção emoldurada na casa de Palhinha


PALHINHA É VENDIDO AO CORINTHIANS E RECEBIDO COM FESTA PELA FIEL

16) FTT - O Cruzeiro então te vende ao Corinthians naquela que foi a maior transação do futebol brasileiro na época. Era um desafio e tanto ir para um clube que não vencia um campeonato a 23 anos?
PALHINHA - Foram 1 milhão de dólares o que equivalia na época a 7 milhões de cruzeiros.Era um desafio mas eu sempre gostei de desafios pessoais. Eu cheguei a São Paulo e fui muito bem recebido pela torcida corintiana. Uma coisa que eu jamais me esquecerei foi quando eu fui apresentado antes de um jogo no Pacaembu e eu estava com meu pai. Eu dei uma volta olímpica e fui ovacionado pela torcida de ponta a ponta.

17) FTT - Foi difícil adaptar ao estilos tão diferentes do toque de bola, cadenciado do Cruzeiro para o de garra e velocidade do Corinthians?
PALHINHA - Não. Eu sempre aliei a tecnica ao futebol de raça e velocidade quando jogava no Cruzeiro e então minha adaptação no Corinthians foi rápida.

Palhinha comemora um de seus inumeros gols pelo Corinthians.

18) FTT - Logo no seu primeiro campeonato o titulo tão esperado. Dá para descrever o que foi aquele titulo?
PALHINHA - Eu tive a felicidade junto dos meus companheiros de ganhar este titulo que a torcida tanto esperava. A expectativa era grande. O mais importante foi a união daquele time.


19) FTT - A Ponte Preta tinha um grande time também e valorizou demais a conquista.
PALHINHA - Como time a Ponte tinha mais qualidade do que o Corinthians mas como eu disse, a união do nosso grupo fez a diferença. Nosso time teve mais determinação, coragem, vontade. A Ponte tinha um grande time com Dica, Marco Aurélio, Vanderley Paiva, Odirlei mas no futebol nem sempre apenas técnica resolve. A vontade muitas vezes supera e foi o que aconteceu.


Palhinha com o trofeu de campeão paulista de 77.
20) FTT - Porque você não jogou no terceiro jogo?
PALHINHA - Eu tive uma distensão no segundo jogo.
No primeiro eu fiz um gol que eu chutei e a bola voltou na minha cara.
Agora veja como é o destino. Em 1979 novamente a Ponte Preta contra agente. Só que aí já tínhamos um time mais técnico. Contrataram o Sócrates, Amaral e o Biro Biro. Na primeira partida eu fiz um gol, na segunda empatamos e na terceira eu fiz um gol e o Sócrates fez outro.

Palhinha e Socrates uma dupla inesquecivel para os corintianos.

Gol de Palhinha contra o São Paulo. Valdir Peres só ve a bola entrando em sua meta.


PALHINHA VAI JOGAR NO VELHO RIVAL: O TIMAÇO DO ATLETICO MINEIRO

21) FTT - Do Corinthians para o Atletico. Era um supertime com varios craques. Na final do brasileiro no Maracanã com mais de 150 mil espectadores, o time tinha jogadores experientes como você, Osmar Guarnelli e Chicão . Faltou alguma coisa para o titulo ou o Flamengo foi melhor?
PALHINHA - O José de Assis Aragão teve uma participação direta no resultado do jogo. Não só pela expulsão do Reinaldo mas ele ia minando o nosso time com ameaças e cartões. Faltas contra o Flamengo eram marcadas e as mesmas faltas a nosso favor não. Porque o Atlético quando encontrava com o Flamengo faziam grandes jogos porque os dois do meio campo pra frente eram muito bons. O Atlético levava vantagem no miolo de zaga(Luisinho e Osmar) que era melhor do que a deles e eles levavam vantagem nos laterais o Junior e o Toninho. Neste jogo qualquer um dos dois poderia vencer porque o Flamengo tinha um time muito bom assim como o nosso e não precisava disto.

Reinaldo e Palhinha deram muito trabalho a zaga rubro negra. Na foto Junior, Marinho e Adilio.

22) FTT - E no jogo da Libertadores. Conte o que realmente aconteceu na celebre partida do Serra Dourada.
PALHINHA - O Wright entrou em campo para nos prejudicar. Expulsou o Reinaldo numa jogada que não era para expulsão. Logo a seguir o Eder foi expulso , alegando agressão sendo que o Eder trombou com o Wright.
Pensamos que com nove em campo ainda dava pra encarar mas quando cheguei no meio campo vi que ele expulsou o Chicão tambem , eu não aguentei e mandei o Wright pra aquele lugar e falei que se ele queria prejudicar o Atletico era para me expulsar tambem. Me expulsou e então não teve mais jogo.



23) FTT - Em um jogo hipotético entre este Atlético de 80 e o Cruzeiro de 76 quem levaria a melhor?
PALHINHA - Daría um empate em 3x3. Dois timaços. O Cruzeiro nem se fala , um time excelente que ganhou muitos títulos de 72 a 76 e o Atlético era muito bom, um timaço. Chegamos eu ,o Chicão e o Osmar Guarnelli mais experientes e o time cheio de meninos no seus 21, 22 anos como o Luisinho, Eder, Reinaldo o Cerezo. Então misturamos experiência com juventude. Nós ganhamos mais com os bichos do que com o nosso salário



PALHINHA VAI JOGAR NO SANTOS  COM CHICÃO

Depois de quase dois anos no Atletico, Palhinha vai jogar no Santos com Chicão seu companheiro no ex clube.

Em pé: Paulinho, Marcio, Chicão, Marolla, Neto e Washington
Agachados: Claudinho, Eloi, Palhinha, Pita e Nilson Dias
 
 
 
PALHINHA VAI PARA O VASCO E É CAMPEÃO CARIOCA
 DE 1982
 
24) FTT - E então você foi para o Vasco .
PALHINHA - É , eu tive a felicidade de jogar e ser campeão no vasco. Fizemos um belo campeonato e ganhamos do Flamengo na final.
 


25) FTT - Qual foi seu grande parceiro, aquele que te completava . Jairzinho ,Socrates , Reinaldo ou outro qualquer?
PALHINHA - Olha Jairzinho foi o principal. Eu e ele nos entendíamos perfeitamente. Nós fizemos gols de todo jeito. Na Libertadores ele fez 12 gols e eu 13. A gente combinava tanto que até pra dar porrada a gente revezava (risadas). Naquela época os argentinos e uruguaios davam muita pancada. Então , aquele beque que dava no Jaizinho, ele não revidava mas eu ia lá e dava nele. O outro beque que dava em mim, eu não revidava mas o Jaizrinho ia e dava nele. Então nó dois trabalhavamos assim porque naquela época era uma guerra. Os caras davam cutuvelada, pontapé, cuspiam na cara da gente.
O outro parceiro que eu tive foi o Sócrates. Era um jogador mais inteligente do que o Jairzinho e eu acompanhava a inteligência dele. Em 78 e 79 a gente fez uma dupla de relembrar Pelé e Coutinho. Fizemos grandes tabelas desde o meio campo e muito gols.
 
Socrates e Palhinha se reencontram no bar São Cristovão em São Paulo. Lá lembraram dos bons tempos de Corinthians e este encontro foi registrado e faz parte do filme : Todo Poderoso - 100 anos de Corinthians.
 

26) FTT -  Você jogou com alguns dos maiores genios do futebol brasileiro como Tostão ,Dirceu Lopes, Jairzinho e Joãozinho no Cruzeiro, Socrates no Corinthians, Pita no Santos, Cerezo, Reinaldo e Eder no Atletico, Geovani  no Vasco alem de Zico , Falcão, Rivelino na seleção. Dá pra apontar os 6 melhores com quem você jogou?

PALHINHA - Era muita fartura nesta época mas eu acho que seriam: Rivelino, Dirceu Lopes, Sócrates,  Pelé este nem se fala né, Tostão e Joãozinho.
 
27) FTT - Qual foi sua partida inesquecível. Aquela que você desequilibrou e jogou muito.
PALHINHA - O que realmente marcou como espetáculo e nenhum torcedor esquece foi aqule Cruzeiro 5x4 Internacional. Eu já tinha feito dois gols e vencíamos por 3x1 com o outro gol feito pelo Joãozinho. Aí eu tentei revidar aquela cotovelada no Figueroa e acabei expulso. Aí ficou 3x2, 3x3, 4x3, 4x4 até o Nelinho marcar no finzinho.
O outro jogo foi a primeira partida da final pelo Corinthians contra a Ponte. Eu fiz um gol de cara .A bolada foi tão forte que nem um soco do Mike Tayson doeria tanto. Fiquei com o nariz e a cara inchados uma semana.(risos). Então foi um jogo histórico.

Palhinha sai comemorando seu segundo gol com a camisa 9 e Jairzinho com a 7 e Joãozinho com a 10 correm para abraça-lo. Manga está desolado. No final Cruzeiro 5x4 Interncaional  


 28) FTT - Você sempre teve fama de catimbeiro, cavador de pênaltis e azucrinava a vida dos árbitros. Você acredita que acabava sendo prejudicado quando realmente sofria faltas e os juizes acabavam não marcando? 
PALHINHA - Vou te dar uma explicação . Quando o Pelé cavava as faltas ele era um gênio. Quando era o Palhinha ele era catimbeiro (risos). O que acontece é que eu era um atacante muito rápido e quando tocado acabava perdendo o equilibrio. Então as pessoas falavam que eu era catimbeiro. Catimbeiro eu era sim, porque quando eu entrava em campo, todas as artimanhas que eu podia usar pra ganhar uma partida, eu usava. Nunca de deslealdade. Agora eu entrava em campo e usava de todas as malicias para ganhar uma partida de futebol. Era o meu prato de comida. Era muita luta, muita garra , a  catimba......e destas catimbas surgiram muitas situações que o Nelinho fez gols de falta e de pênalti (risadas gerais)

29) FTT - O Kleber do Palmeiras também é um jogador marcado pela arbitragem?
PALHINHA - Olha, outro dia eu fiz uma defesa do Kleber. O beque, está acostumado em bater , bater e quando pega um atacante que revida ele vai pensar duas vezes antes de bater. Porque? Porque ele está acostumado a bater mas não em apanhar. E eu também não levava desaforo pra casa. O Kleber apanha o jogo todo e o juiz não dá nada. Na hora que ele revida ou reclama é expulso.

Palhinha com a Bola de Prata de 1975. Ele venceu na categoria centro avante.


30) FTT - E o Neymar o que pensa dele?
PALHINHA - Olha eu já vi inúmeras criticas a sua pessoa. Eu acho que ele tem de mudar. Chegou o poder, chegou a fama, o dinheiro e ele não está sabendo lhe dar com isto. Se a cabeça for ruim ele não vai longe.

31) FTT - Está gostando dos times do Cruzeiro e do Corinthians neste brasileirão?
PALHINHA - Estou. No Corinthians eu fico muito feliz pelo Adilson que é um treinador honesto, que trabalha duro e não tem esquemas com empresários. Ele vive o futebol e armou muito bem o time. Melhorou o posicionamento e o toque de bola.
Quanto ao Cruzeiro vem muito bem depois que trouxe os reforços, principalmente o Montillo. Deu uma sacudida no time todo e jogadores que estavam acomodados como o Roger passaram a render muito mais.

O livro de André Kfouri com Os 100 Melhores Jogadores Brasileiros de Todos os Tempos onde eestá Palhinha.