FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

sábado, 25 de setembro de 2010

O Craque disse e eu anotei - CAILLAUX (CAIÔ)

A historia do futebol não é feita apenas dos grandes jogadores, dos genios dos gramados. Não, ela é feita tambem de  raça, determinação, amor a um clube. Este é o caso de nosso entrevistado desta semana. Silvio Caillaux jogou apenas no America MG em sua carreira e foi titular por 8 anos enfrentando algumas das maiores feras do futebol brasileiro.
Vamos conhecer um pouco da sua historia.

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Caillaux com a faixa de campeão juvenil de 1959
 1)  FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Como foi seu inicio de carreira?
CAILLAUX – Eu fui convidado pelo time do Santa Tereza (time amador de BH) para fazer um jogo contra o juvenil do América. Eu fui e me saí muito bem sendo convidado para fazer parte do grupo do América. Isto foi em 1957. Fiquei no juvenil até 59 quando fomos campeões mineiros da categoria. No ano de 60 subi para os profissionais.

2)  FTT - E a base do time de 60 era a do campeão mineiro de 1957?
CAILLAUX – Era sim. Tinha o Jardel, Toledo, Fernando Fantoni, Gilson, Zuca, Ari, Capeta, Vadinho quase todos. Era um grande time

Time do America nos anos 60

3) FTT - Você chegou a ver Tostão no America?
CAILLAUX – Eu vi ele jogar no juvenil porque ele não jogou no profissional.

FTT - Êle já demonstrava que seria o genio que foi?
Demonstrava pois o jogador que nasce pro futebol já nasce sabendo e ele já era genial

Tostão é o segundo agachado da esquerda para a direita.


4)  FTT - E logo que você subiu para o profissional o América fez uma excursão a Europa . Conte como foi.
CAILLAUX – Nós fomos direto para a Grécia. Lá fizemos três partidas , uma delas contra o Olimpiakos. Nesta partida perdemos de 4x1 mas mesmo assim fui agraciado por uma família grega por eu ter sido um dos melhores em campo.Depois seguimos para a Turquia. Neste país fizemos quatro partidas mas acabamos ficando lá por 30 dias pois teve extourou uma revolução, ficou estado de sitio lá e ninguém podia sair do país. Durante este periodo nós ficamos rodando pelo pais, fazendo jogos. Um deles foi contra o Fenerbahce. Quando finalmente liberou nós fomos para Israel. Porem antes fizemos escala na Ilha de Chipre e tivemos de jogar lá também. Jogamos em Israel em Telaviv e Haifa.

Estadio Nacional da Turquia - 07 de Agosto de 1960
America 1 X 0 Fenerbahce . Caillaux é o segundo em pé da esquerda para a direita.
A delegação do America desembarcando da excursão realizada na Europa em 1960.


5) FTT - No ultimo ano antes da inauguração do Mineirão em 1964 o America disputou a final contra o Siderurgica na Alameda (estádio do América) e perdeu. Você se lembra desta partida?
CAILLAUX – Me lembro sim. Apesar que eu não joguei por causa de uma contusão. Eu estava afastado. Agora a partida foi dramática para o América. Nós estávamos com a faca e o queijo na mão mas o Yustrich acabou ganhando.



6) FTT – Podemos dizer que foi o revide porque em 57 a final também foi entre América e Siderúrgica e  o time americano acabou campeão.
CAILLAUX – É foi o revide sim. Agora o time do Siderúrgica era muito bom também. Era um excelente time com Djair, Silvestre, Geraldino e bem armado pelo yustrich.

Bruno e Caillaux


7) FTT - E o Jair Bala foi o artilheiro absoluto deste campeonato com 25 gols.
Era um craque fora de serie?
CAILLAUX – Fora de serie. Excelente jogador e um grande companheiro. Jair jogava do meio campo pra frente .Ajudava a marcar também mas quando ele estava lá na frente era impossível. Era um autentico ponta de lança, um cracaço.



8) FTT - Voce pegou o surgimento de um dos maiores times do futebol brasileiro, o Cruzeiro de Piazza, Natal, Tostão, Dirceu e cia em 65. Como era enfrentar este time?
CAILLAUX – Olha eu achava mais fácil marcar um grande jogador do que um jogador mediano. Até hoje as pessoas admiram quando eu digo que preferia marcar um Tostão ou um Pelé do que o Dario. Eu sabia que o craque ia pegar a bola e tentar passar por você. Então você já ficava precavido esperando a hora certa de dar o bote. Ele vai tentar e depende de você , da sua visão de desarma-lo, o momento certo. O time do Cruzeiro era muito bom , tinha muita qualidade e você tinha que ficar de olho em varios.

Caillaux em um jogo contra o Cruzeiro


Jardel o Cavalerio Negro , grande goleiro americano e Caillaux parando o ataque do Cruzeiro.



9) FTT - Era mais dificil marcar o Tostão ou o Dario?
CAILLAUX – O Dario. Não me esqueço um jogo em que o Mineirão estava lotado. Eu fui tentar antecipar uma bola do Dario e ela bateu no meu calcanhar e foi parar lá na frente. Quando eu pensei em voltar , vi que nem adiantava porque o Dario já veio na corrida e não tinha jeito de pega-lo mais. Você nunca sabia o que ele iria fazer com a bola.(risadas)

10) FTT - E entre os dois craques do Cruzeiro, Tostão ou Dirceu Lopes?
CAILLAUX – Ambos eram dificeis. O baixinho (Dirceu Lopes) era muito rápido e Tostão também não era facil. Tinha ainda o Evaldo , o Natal mas todos jogavam limpo, sem pontapé.

11) FTT - Você era um lider no grupo do America?
CAILLAUX - Sim . Eu fui capitão da equipe por muitos anos e o pessoal me respeitava. Pela minha maneira de jogar e por minha conduta.
Caillaux o capitão americano com uma camisa toda verde do America cumprimenta seu adversario.
Caillaux cumprimenta Vavá do Cruzeiro antes de uma partida em 1961.

12) FTT - Quais foram os atacantes mais dificeis que você enfrentou?
CAILLAUX – Olha um difícil que eu peguei foi logo no começo de carreira. Fizemos um jogo na Alameda contra o Corinthians e eles tinham um atacante chamado Zague. Este deu trabalho. (Com a camisa do Corinthians, entre 1956 e 1961, Zague fez 241 partidas  e marcou 127 gols – a cada dois jogos um gol) . O Gerson do Botafogo e o Rivelino tambem era "fogo".. Eles alem de bons eram catimbeiros. Já o Dirceu lopes e o Tostão eram craques mas não tinham esta catimba. Aliás os jogadores mineiros da época não eram catimbeiros.


O goleiro Valdo se antecipa a Caillaux e o atacante do Botafogo e segura firme a bola.
 13) FTT - Em 1963 voces fizeram uma partida contra o Cruzeiro e venceram por 1x0 com um gol de Luisinho no finzinho. Estava em campo o Abelardo que jogava desde 1946. Era dificil marca-lo?
CAILLAUX – Era muito difícil. Ele era muito rápido, franzino mas alto. Tinha uma mobilidade fora do comum e jogava realmente muito bem. Eu já peguei o no final de carreira.




14) FTT - Qual foi seu grande treinador?
CAILLAUX – Yustrich. Eu aprendi muita coisa com ele. Me deu muitos ensinamentos e acho que treinador de futebol tem que ter o perfil dele. Tem de se impor porque jogador de futebol não é fácil e ele tem de ser líder e ter autonomia. Não pode permitir intromissão de diretoria em escalação e o Yustrich não admitia. Ele tem de ter moral sobre o jogador e sobre a diretoria também.

Caillaux protegendo o goleiro Valdo

15) FTT - E quem foi seu grande parceiro de zaga?
CAILLAUX – Todos os três com quem joguei. Eu entrei na zaga em 60 no lugar do Fernando Fantoni. A defesa era Jardel, Toledo, Eu, Mirim e Gilson. Depois joguei com o Zé Horta com quem me dava muito bem. Foi com quem eu joguei mais tempo. Mais tarde teve o Café. Todos alem de excelentes jogadores eram ótimas pessoas, grandes amigos que encontramos até hoje

16) FTT - Qual America foi melhor:o campeão de 57 ou o de 71?
CAILLAUX – Difícil dizer. O de 57 era mais técnico e o de 71 alem de ser tecnico tambem , tinha mais conjunto. Os dois foram muito bons. Talvez os melhores na historia do América.

17) FTT - Cite um momento marcante em sua carreira.
CAILLAUX – Teve um que foi minha convocação para a Seleção Mineira que jogou na inauguração do Mineirão. Eu fui convocado pois tinha ganhado o Troféu Guará como melhor quarto zagueiro neste ano e no primeiro treino joguei como titular. Ai tive um problema com carne de porco que eu comi e acabei ficando de fora da partida contra o River Plate.


A Seleção do Campeonato Mineiro de 1965.
Helio (Atletico); Pedro Paulo (Cruzeiro), Vander (Atletico), Caillaux (América) e Vanderlei (Cruzeiro); Vanderlei Paiva (Atletico), Dirceu Lopes (Cruzeiro); Natal (Cruzeiro), Tostão (Cruzeiro), Evaldo (Cruzeiro) e Silvinho (Renascença)


16)FTT - Geralmente os jornais escreviam seu nome aportuguesado para Caiô.
Isto te incomodava?
CAILLAUX - Me incomodava muito. Eu brigava sempre . Falava que meu nome era um sobrenome e que portanto gostaria de ser chamado por ele. Mas não adiantava, a maior parte escrevia errado.(risos)

Caillaux levanta a Taça Jules Rimet original antes de ser derretida. Ela fez parte de uma promoção e divulgação da Copa de 70.


18) FTT - Você acredita que com o Novo Independência e o Shopping o América poderá agora se reerguer de vez?
CAILLAUX – Claro! O time precisa de suporte para manter os jogadores aqui. Agora eu acho que o Independência deveria ser construído nos moldes de antigamente , com a torcida perto do campo. Era assim no Independência antigo e na Alameda. No Mineirão você tem muita profundidade e a torcida fica muito longe.
Vamos aguardar e ver o independência como vai ficar

Caillaux se antecipa e rouba a bola do atacante do Siderurgica.

13 comentários:

  1. Esta é uma entrevista diferente,pois trata-se de um jogador que não é tão conhecido como os outros entrevistados e mesmo assim tem uma história riquíssima,jogou contra grandes astros de sua época e seu depoimento tem outro ângulo de visão ao meu entender,por ex:Para Caiô era mais fácil marcar Tostão,Pelé do que um jogador mediano...(pergunta 8).Interessante essa opinião.Mais uma ótima entrevista.

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  2. Muita boa esta entrevista. Confesso que não conhecia este jogador, além de conhecer pouco a história do América-MG, mas percebe-se que ambos tem histórias interessantes. Existem muitos clubes atualmente que são mencionados com nenhuma tradição internacional. Gramde engano! Muitas equipes (inclusive o Madureira) faziam excelentes excursões, como comprova este depoimento do Caillaux, que enfrentou boas equipes do exterior.

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  3. Super legal a entrevista.
    É maneiro a gente ver que o verdadeiro futebol não é feito apenas dos medalhões.
    O caso do Caiô que dedicou sua vida ao America e jogou contra muita geeente conhecida é a prova disto.
    Parabens pela materia!

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  4. Adorei reencontrar o Caillaux, da inesquecível zaga Capellani, Luisinho, Caiô, Zé Horta e Murilo. Timaço do coelho, base da seleção mineira, que além dessa defesa tinha os grandes marco Antônio, Amaury e Ari. Parabéns.

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  5. Esta entrevista foi extremamente importante e enriquece muito a história do futebol mineiro, notadamente a do América Futebol Clube, devendo-se ressaltar por oportuno que o Caillaux foi um dos maiores jogadores deste time, cuja raça e gana de vencer eram constantes em sua vida futebolística.Agradeço a D'us pela existência deste grande homem que alegra a família Caillaux e principalmente o grande time amado por ela, qual seja, o MECÃO!!!

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  6. Muito boa a entrevista.

    E confesso que nao conhecia o jogador.


    Caillaux e Bougleaux, dois descendentes de franceses no futebol mineiro.
    Interessante, pq se tem conheimento de poucos descendentes de francês no Brasil, inclusive no futebol.

    Lembro que a imprensa tb aportuguesava o nome do Bougleaux, chamando-o de Buglê. Imagino que ele tb nao gostava disso. Rs.

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  7. Meu nome é Daniel Bastos,sou sobrinho de Gilson Bastos, companheiro de Caillaux...gostaria muito de obter fotos de meu tio.Grande abraço.

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  8. por acaso alguem conhece o Eliot que jogou no america?

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  9. Excelente jogador, foi um filho maravilhoso para seus pais, um marido excepcional e um grande pai. Além de ser o eterno "galã" do America.... Imagino os suspiros que ele arrancou das torcedoras... rs... Te amo Pai!!!

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  10. Sou americano e saudosista, gostei muito da entrevista. Pois engradece a história do Anerica e de seus idolos. O Caillaux foi sem dúvida um excelente atleta.

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  11. Sou americano e saudosista, gostei muito da entrevista com o Caillaux; pois engrandeceu a historia do America e de seus idolos.

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  12. Eu sou o Ildon. Joguei com o Caillaux como zagueiro nos anos 58 e 59. Em 59 fomos campeões. Nosso time teve vários outros jogadores que fizeram época no America (Eduardo, Geraldo, Amaury, Zuca, Decio Teixeira, Haroldo, Paulinho Japão (hoje médico), Carlos Alberto (chegou a Presidente do America). Caillaux foi realmente um lider e um grande amigo,

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  13. Muito bom este post sobre o Caillaux. Alguém teria o contato dele? Apenas uma correção: a final do campeonato mineiro de 1957 foi contra o Democrata e não contra o Siderúrgica. Contra este foi a decisão do segundo turno.

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